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sexta-feira, 2 de maio de 2014

FILOSOFIA DA LINGUAGEM EM NIETZSCHE


     Em toda filosofia, independente do período e do problema filosófico, o dualismo se faz necessário à comunicação, às relações e aprendizados: branco e preto, bem e mal, certo e errado, alto e baixo, gordo e magro, bonito e feio, físico e metafísico, natural e sobrenatural, grande e pequeno, enfim, sem as dualidades fica difícil para estabelecer relações entre imagens e objetos, para que, efetivamente, o conhecimento cresça surgindo novas visões de mundo, desencadeando assim, o alargamento epistemológico-cognitivo dos indivíduos.
     A filosofia sempre fez uso da linguagem para propor e resolver problemas, porém, somente na idade contemporânea a linguagem se “impôs” como filosofia; isso se deu afim responder aos questionamentos científicos positivistas que afirmavam que: filosofia não era mais necessária, pois, a “verdade empírica” não dependia mais de argumentações a priori, e sim, de comprovações empíricas, e esta, a verdade, somente a ciência era capaz de fornecer com segurança indubitável. Esquecera a ciência que a filosofia é a mãe de todo antropocentrismo filosófico, científico e religioso? Que a filosofia, por opção, preferiu analisar as validades dos argumentos que as verdades empíricas, liberando o empirismo científico como “parceiros” e não como opositores, preferindo a retaguarda a priori, fazendo a humanidade crer da necessidade científica para estabelecer “verdades empíricas”? E, que o ceticismo científico não se sustenta sem o discurso filosófico que lhe dá base, pois, os céticos duvidam sobre “o que não se podem colocar questões”?¹
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¹ O ceticismo não é irrefutável, mas é manifestante desprovido de sentido (consinning), querendo duvidar sobre o que não se pode colocar questões. Granger (1989 apud Wittgenstein, Tractatus, 6. 51) 
     A existência de Deus e de outras metafísicas não dependem das limitações científicas (empíricas), pois, nem tudo o que existe no mundo físico é percebido pelos sentidos, exceto seus fenômenos.
Nietzsche, W. Friedrich e o dualismo verdade e mentira:
     Esse dualismo verdade e mentira, filosoficamente falando, do ponto de vista lógico, não são facilmente percebidos por leitores que não têm conhecimento da literatura filosófica. Por isso, ainda hoje, apesar dos milhares de livros filosóficos e teológicos editados todos os anos, a dúvida ainda perdura quando se tratam de verdades e mentiras filosóficas, políticas e religiosas. O problema se dá, porque, economicamente falando, verdades e mentiras camufladas, além de vender muito, mantém-se o engano milenar sobre a política, a religião e a ciência. Nietzsche, ciente desse mal e inspirado em outros filósofos alemães não populares, a partir dessa dualidade, como nenhum outro, dá ao mundo uma filosofia reveladora das causas das crescentes mentiras tidas como verdades entre os povos; tanto é, que, em vida, não foi reconhecido pela academia, pois sua postura filosófica estava contra os ideais das academias de sua época, no entanto, a partir dos anos cinquenta do século passado, sua filosofia, a do martelo, após muita análise foi reconhecida como obra filosófica merecedora de atenção e útil para um mundo que se perde entre essa dualidade: “verdade e mentira” que “enganam” em nome da verdade.
     Nesse trabalho de conclusão da disciplina “Linguagem e Pós-Modernidade”, analisarei os conceitos verdade e mentira segundo os escritos de Nietzsche em: Os Pensadores; as anotações das aulas expositivas do professor Dr. Eduardo Nasser; Além do Bem e do Mal e O Anticristo – maldição do Cristianismo.
Anotações das aulas expositivas
     Linguagem é metáfora; linguagem e a verdade dos objetos não são compreensões denotativas (significação, simbolização). O caráter próprio da linguagem é a retórica. Cursos apresentados pelo jovem Nietzsche: “Da origem da linguagem” 1896, edição em inglês. “Apresentação da retórica” 1872 edição em francês.    
Regras de leitura dos textos nietzscheanos:
Nietzsche antes de ser filósofo era filólogo, logo, a leitura de seus textos deve ser filológica, leitura interpretativa.
a)      Assim, a hermenêutica psicológica deve ser aplicada, isto é, deve-se buscar perceber as intenções do autor.
b)      Filológica: limita-se a escutar o texto.
Leitura interpretativa no caso dos aforismos: a) escapa do texto; b) se projeta intuitivamente nas intenções do autor.
Hermenêutica para Nietzsche: interpretação é criação, isto é, falsificar o que está chegando através da leitura (NIETZSCHE, p. 175 - 176).
O filósofo serve-se de máscaras. Ele não revela sua verdadeira filosofia; revela apenas o superficial. Sua verdadeira filosofia somente aos iniciados.
Um eremita não crê que um filósofo – supondo que todo filósofo tenha sido antes um eremita – alguma vez tenha expresso num livro suas opiniões genuínas e últimas: não se escrevem livros para esconder precisamente o que traz dentro de si? – ele duvidará inclusive que um filósofo possa ter opiniões “verdadeiras e últimas”, e que nele não haja, não tenha de haver, uma caverna ainda mais profunda por trás de cada caverna – um mundo mais amplo, mais rico, mais estranho além da superfície, um abismo atrás de cada chão, cada razão, por baixo de toda “fundamentação”. – Toda  filosofia é uma filosofia-de-fachada – eis um juízo-de-eremita: “Existe algo de arbitrário no fato de eles se deter aqui, de olhar para trás e em volta, de não cavar mais fundo aqui e pôr de lado a pá – há também algo de suspeito nisso”. Toda filosofia também esconde uma filosofia, toda opinião é também um esconderijo, toda palavra também uma máscara. Todo pensador profundo tem mais receio de ser compreendido que de ser mal compreendido. Nesse caso talvez sofra sua vaidade; mas naquele sofrerá seu coração, sua simpatia que sempre diz: “Oh, por que desejam passar também por essas coisas?” (NIETZSCHE, P. 175 E 176)
     Nietzsche não foi o precursor da filosofia da linguagem. O primeiro a propor uma filosofia da linguagem foi o alemão naturalista Heder. (1789) Na época, duas teorias eram apresentadas quanto à origem da linguagem: Heder X Süssmlich. Para Heder, se os homens fossem deixados com suas faculdades naturais ele inventaria a linguagem, pois, por meio dos instintos, os gritos e gemidos, num certo momento passariam a designar alguma coisa que seria a palavra, que se tornaria na linguagem. Já, para Süssmlich, a linguagem é um dom divino. Segundo Aristóteles e outros filósofos o homem é um animal político, social, logo, a linguagem está ligada à sociedade, sem esta, pra quê linguagem? A única certeza que temos filosoficamente falando é que a origem da linguagem é uma aporia, isto é, até o momento não há certeza filológica de como ela surgiu como instrumento de comunicação. 
     Humboldt (1795) ilustra a linguagem com o “Ato e Potência” de Aristóteles. Potência: pensamento, tipo de matéria disforme. Ato: linguagem. Logo, Pensamento sem linguagem é inconcebível. Linguagem e pensamento são dois extremos; pensamento sem linguagem é o pensamento que não pensa. Ou pensamento vazio. Então, diante dessas teorias, pode-se perguntar: qual a origem da linguagem? Resposta: impossível do ponto de vista antropocêntrico filosófico e científico. Mas, tanto a linguagem, como os pensamentos existem como expressão de certos sentimentos. E, ideias são resíduos da linguagem. – Palavras não são ideias divinas. Mas a linguagem não consegue expressar aquilo que realmente se pensou. Ela fixa o devir (movimento) do pensamento. Por isso, Parmênides disse: “O ser é, e o não ser não é”. Então, se o pensamento é movimento, fixa-lo é mata-lo. (grifo do autor)
Nietzsche desconfia da linguagem:
     Linguagem são signos que tenta atribuir estabilidade à mudança natural, isto é, ao devir. Crenças em coisas iguais herdadas dos unicelulares. “O ser é” não passa de uma visão empobrecida. O único ser que existe é a mudança. Parmênides pensa o mundo das amebas unicelulares. Esta é a inversão platônica de Nietzsche. A linguagem é a grande responsável por esse mundo em si. A linguagem é um mecanismo que influi nesse mundo que nada é, se fixe.
Estudo das fontes:
     Nietzsche como filólogo afirma contextualizando o mundo do conhecimento: O mundo influi a todos. Ninguém começa do zero, tudo estava inserido de algum modo no mundo, logo, o mundo do pensamento deve ser pensado criticamente. Assim sendo, liberdade de expressão é interpretação para manter o devir. Para o iluminismo a linguagem expressa ideias da razão (Locke, John). Fica assim o esquema: 1° ideias; 2° linguagem, ou: signos de ideias.
Para os filósofos da linguagem, é impossível o pensamento sem a linguagem. Fica assim o esquema para a filosofia da linguagem após sua inversão:
1° momento, não há razão sem linguagem; todos os conceitos, causas e efeitos e todos os outros são obtidos pela linguagem. Logo, só se pensa por meio da linguagem. (Herder/Humboldt)
2° momento, utilizando-se das categorias aristotélicas: pensamento é matéria; linguagem é ato. (Hamann, Johann Georg (1780)) A razão não é outra coisa senão a linguagem, e a linguagem é um fenômeno histórico.
Metafísica ao purismo da razão (1780):
Racionalidade e linguagem de Hamann X razão pura de Kant: A razão não é transcendental (Hamann). A priori é transcendental (Kant). Tempo para Kant: O tempo é uma das formas puras de sensibilidade, sendo, portanto, dado a priori, e constituindo uma das condições de possibilidade de nossa experiência do real: “tempo não é outra coisa que a forma do sentido interno, isto é, da intuição de nós mesmos e de nosso estado interior” (crítica da razão pura). Kant é uma readaptação do platonismo contra o empirismo, e ao mesmo tempo um anti-platonismo. Assim, Kant é Hume. A razão não ultrapassa o empirismo. Apenas a priori como categorias. Isto para Hamann não passa de palavras (substantivos), o que permanece na mudança são apenas palavras. A linguagem é som e mudanças de sons; há uma simultaneidade entre sensível e o inteligível. Razão e linguagem possuindo um caráter histórico demole o projeto transcendental de Kant, pois, o projeto do idealismo alemão é acabar com a coisa em si (metafísica ou Deus) de Kant.
Filosofia contemporânea X Cientificismo natural:
     Com a arrogância do cientificismo natural, pensão ter chegado o fim da utilidade da filosofia. Entende-se por ciência natural a observação empírica. Para o materialismo vulgar não existe alma fora do corpo. Só existe o corpo. O caráter (humor) está ligado à alimentação, à medicina. Com a evolução do cientificismo, os cientistas se acharam no direito de indagar questionando: Para o que serve a filosofia, se filosofar é girar em torno de si mesmo, utilizando-se apenas das palavras? Isto se deu por causa da filosofia da natureza de Hegel, pois esta, não passa de delírios. Hegel disse ter descoberto um planeta apenas com a força do pensamento. Isso foi um prato cheio para os cientistas duvidar da utilidade da filosofia. Pois esta, a filosofia especulativa de Hegel, parecia pretender acabar com a própria filosofia.
Resposta da filosofia contemporânea à ciência:
     Não duvideis da utilidade da filosofia, pois, para acabar com o ceticismo científico basta dizermos que duvidais do que não tendes capacidade de comprovar empiricamente, isto é, Deus. Logo, o ateísmo está “fundamentado” em algum tipo de ignorância; diante dessa ameaça filosófica a ciência se conteve às suas limitações empíricas. E daí, é a filosofia uma ciência? A teoria do conhecimento e a lógica estão como resposta à questão.
Segundo Nietzsche, os filósofos do futuro serão criadores de valores, por isso não pode estar envolvidos com as ciências empíricas.
Nascimento da filosofia da linguagem:
      A filosofia da linguagem nasceu no século XVIII com o propósito de aprimorar essa resposta ao empirismo. Na segunda metade do século XIX a questão que surge é: Como filosofar diante do domínio empírico? Nessa época a ciência se aperfeiçoa descobrindo leis que conseguem dominar e transformar a natureza. Porém, o mundo interior não condiz com as ciências naturais. Nasce então, o psicologismo humano (mundo das intencionalidades) que não possui leis conectadas à natureza. O homem é livre. Aqui, hermenêutica é ciência; não se tem acesso à mente, mas pode-se compreendê-la. Logo, o psicologismo e a lógica, embora ajam diferenças no campo de atuação entre ambas, a lógica e a epistemologia são a saída para a filosofia não submeter-se ao empirismo. A hermenêutica passou a designar todo esforço de interpretação científica de um texto difícil que exige uma explicação. No séc. XIX Dilthey, Wilhelm (1833-1911), filósofo alemão, vinculou a “hermenêutica” à sua filosofia da “compreensão vital”: as formas da cultura, no curso da história, devem ser apreendidas através da experiência íntima de um sujeito; cada produção espiritual é somente um reflexo de uma cosmovisão (Weltanschauung) e toda filosofia é uma “filosofia de vida”.
Epistemologia:
     Epistemologia é teoria do conhecimento (estudo do pensamento com fundamentos), domínio que o empirismo não dá conta. Assim, a filosofia renasce com o espírito das ciências do neokantismo (Porta). Resgatar Kant é preciso: O pensamento, os conceitos e o interior. Os filósofos trabalham com elementos obscuros (Uma crítica à linguagem): Mas os termos filosóficos não passam de expressões linguísticas.
Distinção entre lógica e linguagem:
Lógicos: é perigoso reduzir pensamento à linguagem, se tudo fosse linguagem não seria possível as traduções. A linguagem é histórica, cada povo tem sua linguagem. Existe o mesmo conceito para diferentes palavras. Ex: Love em inglês é amor em português, por isso são possíveis traduções às mais diversas línguas. Fica assim: Lógica, são conceitos atemporais e linguagem são palavras temporais.
Mitologia da linguagem:
     Todos nós nos esquecemos das providências linguísticas das palavras (F. Müller). Todas as palavras têm como característica o esquecimento. Lógicos: cada cultura está inserida em sua cultura linguística. O juízo é uma cultura gramatical.
Curso de Nietzsche sobre a “Origem da Linguagem” (1896); lições sobre gramática latina. Recorte de Eduardo Van Hatman – Filosofia do inconsciente, e, “História da Ciência da Linguagem” (Theodor Benfey). Todos os nossos juízos filosóficos são variações das estruturas gramaticais. A linguagem tem sua origem no inconsciente. Segundo Husserl, Edmund (1859-1938) a razão e a linguagem são estruturas circulares, pois há uma interdependência entre ambas. Há linguagem naturalmente imposta pelo inconsciente de Husserl X gritos e gemidos de Herder.
Ensaio sobre a Origem da Linguagem (1772): Antes do pensamento consciente, há o pensamento inconsciente. Juízos e categorias têm sua origem na linguagem inconsciente. Pensamento inconsciente é linguagem; o plano instintivo já é a linguagem posta. Lógica é produto da linguagem. Por instinto, pensamento imediato, claro evidente, comportamento dos irracionais (instintivos), ordem dada sem razão. E, instinto natural, tem ideia universal de homem.
Linguagem em Nietzsche:
     O inconsciente é um tipo de conhecimento instintivo; a origem da linguagem deve ser buscada no instinto. Intuição: algo que se dá de imediato. O animal faz o que tem que fazer instintivamente, sem hesitação, avaliação e sem moral, tudo se dá de imediato. O inconsciente da linguagem é um tipo de metafísica. A constituição do inconsciente já acolhe a linguagem, assim, palavras e gestos se parecem. Linguagem e gestos são constituintes, naturais, cuja procedência é o inconsciente. O instinto é intrínseco do ser, mas, a civilização empobrece a linguagem. Para Nietzsche, cultura é diferente de civilização. Cultura é de natureza metafísica; a operação da linguagem se dá pela racionalidade, só os gritos e gemidos não são suficientes, é preciso de razão, mas esta, a razão, enfraquece a linguagem; logo, o instinto contém toda linguagem sem passar por gritos e gemidos, estes não são linguagens. Civilização é pensamento utilitário (sujeito que obedece as regras), e o pensamento consciente é a decadência da linguagem.
Segundo Schopenhauer, Arthur (1788-1860), “a vontade é desejo cego”. E segundo Hatmam: “A procedência da linguagem é irracional. A razão enfraquece a linguagem. A lógica é um resíduo da linguagem. A linguagem é superior a tudo, é a morada do ser”.
Nietzsche, Wagner e Schopenhauer:
     Nietzsche em sua juventude foi influenciado por Wagner e Shopenhauer, nesse primeiro Nietzsche sua filosofia é metafísica. A causa de Wagner era um projeto cultural anti-civilizatório e anti-racionalista, sua meta era a recuperação do mito através do teatro, propondo uma reeducação mítica do homem, contra os ideais positivistas e do historicismo. O mítico se dá pela representação (tribos), logo, sem história. Essa influência levou Nietzsche filosofar a partir de dois deuses míticos, Dionizio e Apolo. Dionizio representa a razão; e Apolo a paixão. Para Nietzsche, Sócrates foi quem deu início ao racionalismo científico; e as tragédias gregas encenadas nos teatros representa o culto às formas, lugar onde os gregos, influenciados pelos sons conseguiam encontrar forças para continuar lutando diante das perdas de seus muitos jovens que iam às guerras, através da morte “alcançava-se a imortalidade”, tornando-se semelhante aos deuses que eles cultuavam. O teatro grego, através das tragédias tinha essa função, confortar aquela sociedade mítica. Com Sócrates o discurso prevaleceu sobre o pensamento em detrimento dos sentimentos, foi o início da morte do trágico. Assim, Sócrates é o início da decadência; o pensamento ocidental é a história da decadência, perda do espírito apolínio, pois, Dionizio é o impulso natural à razão. Essa visão de Nietzsche e Schopenhariana.
Nietzsche antes de ser filósofo era filólogo, e a função da filologia é estudar os antigos escritos, para detectar fraudes dos copistas e confirmar a originalidade de autorias. Segundo os filólogos Homero é um mito, as Ilíadas e Odisseias, são escritos de diferentes poetas em diferentes épocas. Homero era apenas uma tradição mítica que guiava a cultura grega. O filólogo tem que ser cético, pois, eles são produtos de um presente que busca entender o passado; mas como entender o passado se quem fala é o presente? Através do ceticismo metodológico.
Segundo Friedrich, Albert Lange: precisamos da filosofia de Nietzsche. A metafísica fala do todo e a ciência do particular. A filosofia fala do pensamento e suas leis; já, o objeto da ciência é o externo e o particular. Por isso, segundo Zeller, autor de teatro, filosofia é teoria do conhecimento; e a filosofia não deve abandonar o conhecimento e nem a metafísica, ambas devem ser mantidas sem pretensões científicas, elas são imagéticas (imagem), pois, a coisa em si é apenas um conceito. Poesia conceitual é metafísica preservada fora do horizonte teórico, sua tarefa é inspirar. Nietzsche assimilou a posição de Lange adaptando a metafísica de Shopenhauer à poesia conceitual. Segundo os experimentos de Chladini, os sons provocam figuras, assim, as imagens são os elementos primeiros para o campo do conhecimento. As sensações produzem imagens, e quanto mais imagens, mais chances de se viver (darwinismo epistêmico). E o homem é apenas um tipo de animal sem privilégios.
Nietzsche adulto:
O Nietzsche adulto, ou o segundo Nietzsche, repensa sua primeira filosofia. A metafísica deve ser deixada fora das discussões teóricas da filosofia. Das sensações só percebemos seus efeitos e não das causas (teoria das sensações). Os efeitos das andas sonoras na areia produzem imagens. As sensações no cérebro produzem imagens; as imagens são primeiras e não os conceitos. Todo Nietzsche tardio está em verdade e mentira.
Verdade e mentira em Nietzsche
     Uma obra filosófica editada em forma de aforismo não é fácil de esgotá-la, Nietzsche é um desses filósofos profundos, como filólogo, filósofo e conhecedor do cristianismo protestante herdado de seus pais e avós, seus escritos aforísticos têm sido um desafio para a academia cética. Ele mesmo se considerava extemporâneo, mas, como um tipo de profeta filósofo segundo Zaratustra, predissera que os futuros filósofos o entenderiam. Um dos conceitos cunhado por ele é o niilismo, este significa: nada, vácuo. E, segundo seu entendimento, toda fé cristã indubitavelmente cairia no niilismo. Nietzsche na sua hermenêutica diz que interpretar é criar, ir além do filósofo, portanto, fazendo uso de seu conselho, darei minha interpretação do contexto que levou Nietzsche a criar o conceito niilismo: Porém, antes quero trazer para nossa reflexão o que realmente é o protestantismo da Idade Moderna.
     O protestantismo nasceu como o próprio nome diz, por causa dos protestos de alguns padres doutores do catolicismo que não concordaram com algumas práticas da igreja católica. A rebelião desses doutores, entre eles Martim Lutero, mostrou a todo mundo o espírito do catolicismo àqueles que são contra seus dogmas; Esses protestantes modernos não tinham como meta instituir toda instrução bíblica como meio de fazer a vontade de Deus; eles eram contra apenas algumas barbárie religiosa que a igreja adotara. Por isso, apesar de protestantes continuaram parecidos quanto à obediência às instruções bíblicas. Na verdade, tornaram-se instituições exploradoras da fé em nome da religião semelhante ao medievalismo platônico, agora, separados, mas unidos às intensões filosóficas medievais, continuaram negando a veracidade da lei de Deus e de outras instruções bíblicas como regras de conduta cristã. Na verdade o protestantismo uniu-se ao espírito filosófico do renascimento escolástico criando a filosofia protestante; não é por acaso que os grandes filósofos modernos são oriundos do protestantismo. Agora, pastores e padres trajados de filósofos continuaram em nome da fé enganando o povo através de suas instituições que diz acreditar em Deus, embora, recusam fazer a vontade de Deus segundo expressa na bíblia. Vamos retomar o niilismo de Nietzsche:
     Nietzsche nasceu em 1844; essa década fora muito significativa para a fé cristã. Guilherme Miller foi um deísta que resolveu estudar a bíblia porque o deísmo não lhe dera respostas que fosse capaz de dar-lhe paz de espírito; seu estudo bíblico era metódico, isto é, só prosseguia na leitura quando o que lera estivesse claro em sua mente, e assim, com esse método interpretara uma das profecias do livro de Daniel 8, especificamente o verso 14. Após suas conclusões sobre a profecia apresentou-a aos pastores da igreja batista de seus pais, onde, principalmente sua mãe era sincera devota; convencidos da interpretação de Miller, a igreja deu-lhe autoridade para apresentar suas conclusões ao mundo. Miller entendera, segundo a profecia de Daniel que Cristo voltaria a Terra por volta de 1843 e 1844, chegando, coma ajuda de outros especificaram um dia. E toda a cristandade protestante com seus pastores, todos foram unânimes em afirmar que a interpretação estava correta e todos aguardaram o segundo retorno de Cristo para a data determinada; nos últimos dias que antecediam o evento as lojas foram fechadas e as ferramentas dos agricultores foram postas de lado, enfim, todo trabalho empreendido pelos fieis que acreditaram foram abandonados, pois chegara o Dia D da intervenção divina nos negócios da humanidade. Que grande decepção ocorreu aos cristãos protestantes, sua fé e esperança caíram no niilismo (no nada, no vácuo). Toda América e Europa cristã provaram desse fel; Era a confirmação da decadência do protestantismo religioso, doravante o protestantismo tornara-se protestante cético. Na verdade, tornaram-se instituições exploradoras da fé em nome da religião semelhante ao medievalismo platônico, agora, unidos às intensões filosóficas medievais, continuam negando a veracidade da lei de Deus e de outras instruções bíblicas como regras de conduta cristã. Porém, o equívoco de Miller já fora profetizado no Apocalipse que isso ocorreria para marcar o fim dos tempos; indicando que o último período das igrejas do Apocalipse iniciara; Começara a ação do período de Laodicéia, a última igreja que repararia as brechas que o próprio cristianismo fizera à lei de Deus e alertaria a humanidade quanto à proximidade da segunda volta de Cristo; esse último período teria um (a) profeta para lhe orientar segundo a vontade de Deus, isto se deu através do ministério da profetisa Ellen G. White (1827-11915). O niilismo de Nietzsche não é definitivo, ele se enganara como todos os filósofos racionalistas. Mas, parece que Nietzsche não demonstra, através de sua filosofia, tão ateu como os ateus querem que ele seja. “Cristianismo é platonismo”; o verdadeiro cristão morreu na cruz, a verdadeira religião não está no professar, mas no agir, ser como Ele, Jesus Cristo foi.
Eu condeno o cristianismo, levanto contra a igreja cristã a pior das acusações jamais pronunciada por um acusador. Para mim ele representa a forma mais corrupta já imaginada, ela quis a mais extrema forma possível de corrupção. A igreja cristã não deixou nada intocado com sua podridão, transformou todo valor em não-valor, toda verdade em mentira, toda forma de integridade em vilania de alma. (NIETZSCHE, p. 92)
O cristianismo é portanto a mais niilista de todas as religiões: a sua origem está na tentativa de disfarçar a derrota histórica de Jesus, a sua vergonhosa morte na cruz, para que pareça uma vitória, em algum mundo do “além”. (NIETZSCHE, p. 11)
Desde o século IV o cristianismo é a religião dos vencedores, do poder, do estado e é nesta perspectiva que Nietzsche o ataca. A oposição da moral e do cristianismo ao “mundo” e à política é uma pseudo-oposição que oculta uma básica conivência: a moral é o meio no qual os padres fundamentam o seu poder, “tiranizam as massas e arregimentam as manadas”. O projeto histórico do cristianismo consiste justamente numa gigantesca mistificação graças à qual os mais niilistas, os mais impotentes, os menos capazes de criação, tornam-se donos do mundo em nome de entidades transcendentais que eles mesmos gerem e administram. (NIETZSCHE, p. 12)
A grande tradição filosófica alemã entre os séculos XVIII e XIX nada mais é do que a continuação leiga da teologia protestante: ela é ainda mais hipócrita na medida que esconde o vício secreto, a fraqueza fundamental da qual nasce. Por isto, Nietzsche afirma que é preciso ser mais inflexível com os protestantes do que com os católicos e define o filósofo como “o criminoso dos criminosos”. (NIETZSCHE, p. 15)
Enquanto o padre ainda for tido como homem superior, esse negador, esse difamador envenenador profissional da vida, não existirá respostas para a pergunta: O que é a verdade? A verdade é colocada de cabeça para baixo quando o consciente advogado do nada e da negação passa pelo representante da “verdade”... (NIETZSCHE, p. 32)
Sabe-se, sobretudo, que não importa se algo é verdadeiro, pois o que conta é que se acredite que seja verdadeiro. A verdade é a crença de que algo seja verdadeiro. (NIETZSCHE, p. 44)
É falso até o absurdo ver uma “fé”, por exemplo, fé na redenção de Cristo, o emblema do cristão: somente a prática cristã, uma vida como a dele, que morreu na cruz, é cristã... Ainda hoje uma vida assim é possível, para alguns homens até necessária: o cristianismo verdadeiro, o original, será possível em todas as épocas... Não uma fé, mas um agir, sobretudo não-fazer-muitas-coisas, ser de outra forma... [...] (NIETZSCHE, p. 61)
     Então, não é difícil perceber que o cristianismo a partir do século IV – XIX, liderados por padres e pastores protestantes, são defensores de um mesmo cristianismo: o platônico. Onde a bíblia, como livro revelado, deve ser negada como palavra de Deus; exaltando em seu lugar o antropocentrismo teológico que nega a lei de Deus e o modo de ser cristão como o de Cristo. Porém, a que ressaltar que, após a grande decepção de 1844, se levantou os defensores dos escritos bíblicos como regra de fé e prática, logo, nem tudo está perdido como quer os filósofos seguidores de Nietzsche. O atual cristão tem que ser um investigador, caso contrário, será enganado pelas tradicionais filosofias cristãs que estão inseridas em todas as universidades cristãs, e, o objetivo é único: Mascarar o cristianismo, fazer deste um negócio em nome de Deus. A astúcia do inimigo de Deus é grande, enganam “sábios e ignorantes”, letrados ou não. Nesses últimos dois séculos da história da humanidade, apesar das falsidades religiosas, cada um de nós dizemos crer em Deus, mas independente de nossa crença, o que se quer é fazer um negócio em nome de Deus, e assim, nesse contexto surgem as pseudo-teologias contemporâneas conhecidas como teologia da libertação e teologia da prosperidade, ambas são estratégias para enganar o povo que busca a Deus para aliviar o crescente sofrimento entre os mais carentes e o desespero dos ricos que querem mais do que já têm. Termino esse trabalho de conclusão da disciplina Linguagem e Pós Modernidade citando um trecho dos escritos do Nietzsche tardio.
O que é a verdade, portanto? Um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos, enfim, uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo uso, parece a um povo sólidas, canônicas e obrigatórias: as verdades são ilusões, das quais se esqueceu que são, metáforas que se tornaram gastas e sem força sensível, moedas que perderam sua efígie e agora só entram em consideração como metal, não mais como moedas. (NIETZSCHE, p. 48)
Filósofo Isaías Correia Ribas
REFEÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Além do Bem e do Mal. Friedrich Nietzsche. Ed. SCHWARCZ LTDA, São Paulo, 2007.
Nietzsche, Os pensadores. Ed. Abril Cultural, São Paulo, 1978.
O Anticristo – Maldição do Cristianismo. NIETZSCHE. Clássicos Econômicos Newtin. Rio de Janeiro, 1996.