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domingo, 27 de julho de 2014

FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA


     A filosofia contemporânea é o ápice das pretensões filosóficas Pré-Socrática. Para os Pré-Socráticos, Deus e os deuses mitológicos não eram fundamentos para o conhecimento antropocêntrico. Os primeiros filósofos surgiram com a pretensão de fundar outro conhecimento sem depender dos contos míticos e das proposições elaboradas a partir das revelações e histórias que compunha os escritos bíblicos. Pois, desde aqueles idos os filósofos não viam fundamento algum na metafísica. Logo, deduz-se que os filósofos pensam a partir do que pode ser comprovado empiricamente ou que seja passível de análise lógica. Os Pré-Socráticos dependiam apenas dos sentidos para analisar a natureza e o cosmo, isto é, eles não dispunham de nenhum instrumento técnico para auxiliar os sentidos. O espírito que movia os objetivos dos primeiros filósofos fundava-se no ceticismo ateísta como se encontra nos atuais cientistas e filósofos contemporâneos. Muitas hipóteses foram levantadas para questionar a mitologia e os escritos bíblicos, porém, os filósofos da natureza que iniciavam seus questionamentos à metafísica não foram capazes de concluírem seus estudos afirmando ou negando os fundamentos da metafísica e nem mesmo com relação às suas pretensões hipotéticas científico-filosóficas. Por aproximadamente dois séculos eles buscaram concluir seus estudos e definir sobre suas hipóteses. Suas conclusões foram: tudo o que existe e subsiste não depende de nenhuma força exterior, de Deus ou dos deuses, deduzindo que o movimento (devir) natural é a causa de tudo. Porém, essa conclusão não convenceu as sociedades existentes naqueles idos e nem mesmo os filósofos. O certo é que a dúvida epistemológica fora lançada e a discussão estava aberta a metafísicos e céticos, e, após quase três mil anos de discussão chegou-se ao século XIX, renascendo o mesmo espírito Pré-Socrático com um discurso melhor elaborado para negar todas as pretensões metafísicas já existentes. Para os filósofos que compõe o Círculo de Viena e outros sem estar ligado formalmente à nenhuma escola filosófica (de Baden e Marburg), são unânimes em afirmar que as proposições metafísicas, embora tenham sentido, não oferecem condições a posteriori¹ para definir seu valor de verdade, no caso, Deus, alma e o mundo. Logo, deduzem eles ser um absurdo debruçar sob esses pseudoproblemas que não tem nenhum valor útil à vida mundana. Porém, há filósofos que discordam dessa conclusão do Círculo de Viena e dos “acadêmicos de menor expressão pública”.
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¹ a posteriori significa após a experiência empírica.
História da filosofia
     Os períodos filosóficos podem ser marcados a partir dos eventos históricos, ou dos próprios problemas filosóficos. Para entendermos as pretensões filosóficas o melhor método é analisar os problemas relacionados à filosofia desconectada da história.
     Após o período Pré-socrático ou naturalista, os filósofos perceberam que não era tarefa fácil questionar a metafísica, principalmente as relacionadas aos escritos bíblicos, então, concluíram, se não podemos destruí-los pelo confronto direto, “unamo-nos a eles”, corrompendo por dentro seus valores morais, sua fé e crenças e, se possível for, a existência do próprio Deus. Por isso os estudiosos preferem analisar a filosofia a partir de seus problemas: Metafísico, Epistemológico e Semântico-Hermenêutico. Equivocadamente ou de propósito, inclui-se o período Pré-socrático no Metafísico.
Período metafísico
     Época antiga, medieval e início da moderna. Grandes nomes desse período: Platão, Aristóteles, Sto Tomás e Descartes. Disciplina chave: metafísica (Ontologia), conceito chave: Ser.
Neste primeiro momento o pensamento está dirigido ao “mundo”, se o homem está incluso nesse mundo não tem importância. Os filósofos perguntam o que há e o que não há, ou que tipo de coisas (substância) existem e a partir das quais o mundo se compõe. A disciplina fundamental neste período é a metafísica e o conceito base é o ser. Os nomes representativos deste momento são Platão, Aristóteles, Tomás de Aquino etc.
     O discurso deste período é sobre objetos, mas não o único possível, é que se trata, sobre objetos de um tipo particular (os suprassensíveis ou não empíricos).
Desde de sempre a filosofia se perguntou não apenas o que é, mas o que deve ser, não apenas pelos princípios do ser, mas também da ação, ou mais especificamente, quais os critérios para diferenciar quando ajo bem e quando ajo mal. A disciplina filosófica que se ocupa desta questão é a ética. Neste período a fundamentação da ética está imbricada com a metafísica. Aquilo que devo ou não fazer depende daquilo que é (por exemplo, o como devo me ocupar é estabelecido por Deus). (PORTA, p. 159 e 160)
Período epistemológico transcendental
     Época moderna. Grandes nomes: (Descartes) e Kant. Disciplina chave: Epistemologia (teoria transcendental). Conceitos chaves: Verdade, Objetividade e validez.
Neste período em vez de perguntar pelo “ser”, a filosofia passa a perguntar pelo conhecimento. A epistemologia torna-se a disciplina fundamental e a verdade é o conceito chave. Esta virada, característica da modernidade, começa com Descartes e culmina com Kant, com quem adquire sua forma mais pura. Com Descartes, apesar de toda “subjetividade”, Deus desempenhava um papel essencial na fundamentação do conhecimento. Em Kant o conhecimento não será fundamentado em Deus, mas em si próprio.
     No período epistemológico o discurso dos filósofos deixa de ser sobre objetos, passando a ser um discurso sobre o conhecimento dos objetos. A pergunta já não é mais com respeito ao que há, mas ao saber do que há: se posso conhecer o que há, dentro de que limites, de que forma, sob quais fundamentos (a experiência ou uma fonte não empírica, a razão, a intuição pura, etc.), o que é e como chegar à verdade etc.?
     A mudança do discurso sobre o que há, para se posso conhecer o que há é uma mudança lógica. Pois, “antes” de nos perguntarmos sobre o que há, devemos nos perguntar se podemos conhecer o que há¹.
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¹ Este “antes” não é temporal, mas lógico.
     A mudança que ocorreu no nível teórico da metafísica à epistemologia, deu-se também no nível prático, na relação entre metafísica e ética: a ética deixa de fundar-se em Deus e passa a fundar-se na razão.
E o discurso transcendental procura fundamentar suas aspirações com validez universal, seja no conhecimento, seja na ética, seja com respeito à verdade do que é, seja com respeito à legitimidade do que deve ser. Logo, a filosofia não é mais um discurso sobre objetos, como no período anterior, mas sobre a “objetividade”, ou seja, sobre as condições de possibilidade do “objeto”. (Ibid, p.162)
Período semântico-hermenêutico
     Época contemporânea. Grandes nomes: Husserl, Dilthey, Heidegger, Frege, Wittgentein. Disciplinas chaves: Teoria da significação, Fenomenologia, Hermenêutica, Semântica (análise lógica da linguagem). Conceitos chaves: Significado Semântica: análise lógica da linguagem.
     Estamos na filosofia contemporânea, segunda metade do século XIX e início do século XX. O período contemporâneo é marcado pela divisão entre “analíticos” e “continentais”; a filosofia analítica surgiu na Inglaterra marcada pela reação ao idealismo hegeliano, em sua versão britânica pelas mãos de Husell e Moore, ao incorporarem à sua reflexão aos avanços lógicos realizados por Frege. Os “continentais” tratam sobre hermenêutica e fenomenologia que seria uma criação extemporânea de Husserl, motivadas pelas reflexões brentanianas sobre intencionalidade e pela crítica de Frege ao psicologismo de sua primeira obra sobre os fundamentos da matemática. Definir com clareza o que é filosofia contemporânea como nos períodos anteriores ainda está na ordem do dia. Os românticos da filosofia interpretam a filosofia do século XIX como uma superação heroica dos impasses do iluminismo de Kant, feita através de alguns nomes isolados como Nietzsche, Marx e Kierkegaard. Porém, ela é equivocada tanto como história quanto filosofia, ou, simplesmente, como história da filosofia. Os problemas fundamentais permanecem nesse modelo em última instância não respondidos; quando surgem as questões, o que caracteriza a filosofia contemporânea? Ou, ainda, quando e por que “termina” o período epistemológico? (PORTA p.159)
Pensadores contemporâneo
     São muitos os pensadores contemporâneos preocupados em definir com clareza o que é filosofia contemporânea, autores como Stuart Mill, Bolzano, Herbart, Trendelenburg, Lotze, Brentano, Marty, Stumpf, Fischer, Dilthey, Schleiermacher, Cohen, Natorp, Windelband e Rickert. Os membros do Círculo de Viena são: Schlick, Carnap, Neurath, etc. (AMARAL, Lucas Alessandro Duarte. Prof. Me. Aula I: A filosofia contemporânea do ponto de vista da história da filosofia).
Filosofia contemporânea e Nietzsche     
     A filosofia contemporânea ao criticar a metafísica faz renascer o espirito dos Pré-Socráticos, isto é, o racionalismo tenta outra vez, explicitamente se levantar contra a epistemologia criacionista, negando que existe um Deus Criador balizador da moral e da ética. Desta vez, o aparato epistemológico, científico e lógico existente para negar toda metafísica contemporânea, não se compara aos dos filósofos da natureza que não tinham nem se quer uma luneta para aponta-la para o universo cósmico ajudando-os em suas deduções. 
     Friedrich Nietzsche (1844-1900), adepto da filosofia do pré-socrático Heráclito, embora “não reconhecido como acadêmico engajado”, é o instigador desse “novo” espírito. Se a filosofia contemporânea é semântica, isto é, busca negar a metafísica pelo uso da linguagem é graças ao sucesso de Nietzsche como filólogo. Nos dois primeiros séculos do espírito filosófico, os Pré-Socráticos não deram conta de anular Deus do consciente da humanidade, forçando assim, os filósofos clássicos voltarem a valorizar a metafísica.
     A filosofia contemporânea em sua crítica à impossibilidade da existência de um Deus criador está mudando o comportamento da atual sociedade, pois, sem Deus e as tradições dos bons costumes, a razão pura aliada aos desejos e paixões é barbárie. Se o comportamento da atual sociedade mundial está mudando para pior não é sem causa. Pois, o super-homem de Nietzsche é aquele que valoriza este mundo com todas as suas pulsões em detrimento da moral, do Cristo crucificado, do amor fraterno, do socialismo comunista, da democracia, da negação do Velho Testamento e da vida eterna segundo ensina a bíblia. Mas quem são e onde estão estes super-homens que vivem além do “bem do mal”? Eles estão em todas as instâncias influenciando a sociedade agir como se no mundo não existisse nada superior a eles. No caso, o Deus bíblico (o bem) fundador da moral e da ética que eleva o ser humano. E, antagonizando a Deus, temos Satanás (o mal), “a vontade de potência, causa da transvaloração de todos os valores¹”, que age nesses “super-homens nietzschianos” levando-os contra tudo o que é bom e nobre segundo os princípios bíblicos e os bons costumes. São eles: Políticos, artistas, escritores, filósofos, teólogos, cientistas, universidades seculares e cristãs, empresários, apresentadores de televisão, narcotraficantes, etc., são alguns exemplos de super-homens que negam os princípios bíblicos em nome da fama e pelo desenvolvimento de todas as paixões e sentimentos vis na sociedade, esta, que é educada a valorizar o espírito de rebanho, como se o mundo estivesse naturalmente condenado às barbaridades infames. Por influência desses “super-homens” a criminalidade, a maldade, o homossexualismo, o engano, a promiscuidade, a corrupção política, a ganância capitalista, as falsas crenças em falsos deuses, a pedofilia, a dúvida quanto a veracidade bíblica, a exploração do outro e as guerras são exemplos clássicos contemporâneos que assola tudo e a todos.
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¹ Novos valores significam, também, um novo olhar filosófico, científico e, por que não? Religioso. Religião não mais como fuga deste mundo, não mais como niilismo, o nirvana do budismo, mas como encontro do homem consigo mesmo em sua integralidade. Religião como sentido até diante do sem sentido, isto é, um mundo sem sentido não mais com empecilho para viver intensamente esta vida. Pelo contrário, valerá como estímulo para um “a mais” de vida. (SOUSA, p. 285)
Além do bem e do mal em Nietzsche
     Para Nietzsche, o bem e o mal são frutos da imaginação dos religiosos ocidentais que quer dominar e explorar o outro através do medo de pecar e consequentemente perder o paraíso e a vida eterna. Segundo Nietzsche a verdadeira religião é o Budismo que ensina as pessoas a buscar as respostas à todas as suas indagações em si próprio, sem nenhuma influência externa, pois, no interior de cada um estão as respostas aos problemas que os incomodam².
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² O budismo não promete, mas cumpre, o cristianismo promete tudo, mas não cumpre nada. (NIETZSCHE, p. 352)
     Nietzsche desconsidera toda história narrada nas páginas da bíblia, ele se acha o único digno de crédito, o sábio de todos os tempos, a verdade em pessoa, segundo a bíblia, Satanás tinha o mesmo espírito. Mas, como qualquer outro filósofo, não declara qual o fundamento de tudo, deduzindo que a ‘coisa em si’ é o Deus ordenador de tudo³ (Nietzsche é contraditório). Respondendo a comparação entre budismo e cristianismo: Quem não promete, mas cumpre, fácil, se não prometo, nada tem-se a cumprir.
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³ Como poderia algo nascer de seu oposto? Por exemplo, a verdade, do erro? Ou a vontade de verdade, da vontade de engano? Ou a ação não-egoísta do egoísmo? Ou a pura, solar contemplação do sábio, da concupiscência? Tal gênese é impossível: quem sonha com ela é um parvo, e mesmo pior que isso: as coisas de supremo valor têm uma outra origem, uma origem própria __ desse mundo perecível, aliciante, enganoso, mesquinho, desse emaranhado de ilusão e apetites é impossível deduzi-las! Pelo contrário, é no seio do ser, no imperecível, no Deus escondido, na ‘coisa em si’ __ é ali que tem de estar seu fundamento, ou em nenhuma outra parte. [...] (NIETZSCHE p. 269) 
     Triste é perceber que até mesmo entre aqueles que se dizem detentores das verdades bíblicas há os “pequenos super-homens” imitadores dos costumes mundanos como se Deus precisasse de dar as mãos ao Diabo para terminar sua obra na Terra. São esses os que mantém o espírito desafiador de Eva e Caim nos dias atuais, o assim diz o Senhor para eles é insignificante, e, o mais grave é que eles vivem do evangelho para negar o poder do próprio evangelho. Mas diz a bíblia a esses no Apocalipse: “sois pobres, miseráveis, cegos e nus”. O Espírito de Profecia os repreende: “pensam ser guiados pelo Espírito de Deus, estão na verdade seguindo uma imaginação trabalhada por Satanás”. (WHITE) p. 98)
     No século IV a. C. a filosofia clássica recorreu à metafísica para redirecionar as frustrações do racionalismo dos primeiros filósofos. Que farão os filósofos contemporâneos para redirecionar a barbárie anunciada pelo puro racionalismo que assola todos os princípios que foram fundamentados nos princípios universais contidos na bíblia e nos bons costumes sociais? Ou vamos, de braços cruzados, esperar para ver as últimas consequências do puro racionalismo? Não será essas barbáries o início do apocalipse que culminará com a intervenção de Deus nos negócios da humanidade? Para Nietzsche, toda arquitetura científica-política-filosófica-religiosa contemporânea, reconhecida como verdade universal e regional, é uma grande mentira. O maior argumento de uma pessoa de fé contra o racionalismo em defesa das proposições bíblicas e do Espírito de Profecia é viver segundo a luz desses escritos. Embora, filosoficamente falando, as vivências pessoais não sejam fundamentos para o conhecimento. Porém, é possível defender as proposições bíblicas e do Espírito de Profecia à luz da epistemologia filosófica-política-científica-religiosa contemporânea independentemente de minhas vivências e fé. (Grifo do autor)
Círculo de Viena
     É uma associação fundada na década de vinte por um grupo de lógicos e filósofos da ciência, tendo por objetivo fundamental chegar a uma unificação do saber científico pela eliminação dos conceitos vazios de sentido e dos pseudoproblemas da metafísica e pelo emprego do famoso critério da verificabilidade que distingue a ciência (cujas proposições são verificáveis) da metafísica (cujas proposições inverificáveis devem ser suspensas).     Ao recusar a introdução dos elementos sintéticos a priori do conhecimento, o Círculo, liderado por Rudolf Carnap, visando eliminar definitivamente a metafísica, prega que todos os enunciados científicos devem ser sempre a posteriori, pois não são outra coisa senão simples constatações, ou seja, enunciados protocolares, só tendo significado pelo conjunto lógico, isto é, pelos sistemas das transformações analíticas no qual se integram. Fica questionado, assim, o empreendimento de Kant.
    
Síntese das aulas do prof. Me. Lucas Alessandro Duarte Ama
     No Círculo de Viena há nomes como os de Ernst March, Richard Avenarius e moritz Schlick. Os dois primeiros não foram membros do grupo, mas algumas de suas ideias foram bem aceitas pelos demais membros.
__ Schlick caracterizou Mach e Avenarius como “positivistas da imanência”, (pois, diziam eles: os dados que estão no interior do ser e da natureza, dados imediatos, não devem ser ignorados), sendo que a função da ciência é a de trazer a luz a mais simples descrição da dependência mútua dos elementos qualitativos (sejam cores, odores, sons, etc.). No entanto, para Sclick, ambos estariam equivocados no seguinte aspecto: é errônea a posição que defende a física que trata somente das coisas reais que nos aparecem (daí porque do nome: ‘Positivista da imanência’). O que Schick quer dizer é: precisa-se admitir a existência de coisas e processos que não nos são dados. Enquanto que para Mach e Avenarius o que se encontrava em jogo era tão somente os dados sensíveis.
Paralelos e distanciamentos entre Kant e os empiristas modernos
     Para entendermos o empirismo moderno, precisa-se compreender a relação deste com a filosofia transcendental de Kant. Mesmo que aja uns cem números de distanciamento entre Kant e os empiristas, há ao menos um ponto de convergência entre eles (a coisa em si não é possível conhece-la). Igualmente, aos empiristas modernos, afirmava Kant, é possível o conhecimento daqueles assuntos pretendidos pela metafísica especial como: Deus, alma e Mundo.
Se o anterior representa alguma semelhança, para o Círculo de Viena, as diferenças que podem-se mencionar de início se concentra em um tipo de juízo que para Kant é fundamental e para os membros do círculo é simplesmente rejeitado. Trata-se da classe correspondente aos juízos sintéticos a priori.
Para Kant, todas as ciências (e ele tem em mente especificamente a física, a matemática e, eventualmente, a metafísica) são possuidoras desses tipos de juízos, os sintéticos a priori; ou seja, juízos que nos proporcionam conhecimento novo (acumulativo) e que são universais e necessários. Nesse sentido, toda ciência, e até mesmo uma ciência empírica, repousa sobre um fundamento sintético a priori. Lembremo-nos que isso faz sentido para Kant porque ele tinha em mente o conceito de ciência clássica, (que ciência é conhecimento universal e necessário). Por isso, até Kant, é legítimo admitir se há conhecimento a priori na metafísica e, caso haja, qual o fundamento (ou, em termos aristotélicos: ‘como há’) da sua validade.
Mas os empiristas modernos nem se quer discutiram com Kant se estava certo ou não suas colocações, simplesmente recusaram o ponto de partida de suas reflexões ao dizer, não existe juízos sintéticos a priori. Mais uma vez lembremo-nos que os modernos julgavam ser ‘metafísica’ toda doutrina que pretenda fazer quaisquer afirmações sobre a realidade sem o recurso da experiência¹.
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¹ Kant deve ser lembrado na história da filosofia que ainda está por vir. Filósofos clássicos são aqueles que mudam a maneira de pensar de uma época e Kant, sem a menor dúvida, foi um desses.
     Assim, para os empiristas modernos nem a matemática e nem nas ciências naturais encontramos sentenças do tipo ‘sintéticas a priori’ ².
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² Lembrando que para Kant o termo a priori possui duas acepções, são elas, (1) não-empírico e (2), universal e necessário.
Matemática
     A matemática, diriam eles, é fundamentada na lógica. Porém, se retomarmos Kant essa foi justamente uma de suas mais conhecidas críticas a Leibniz (contra a tese de que a matemática é uma disciplina analítica e, portanto, fundamentada na lógica).
Ciências naturais
     Para Kant, todas as ciências naturais necessitam de fundamentos sintéticos a priori. Isso, aos olhos dos empiristas repousa sobre um falso pressuposto, pois, nem para a formação de conceitos das ciências empíricas, nem para o problema da confirmação de teorias empíricas é preciso recorrer a pressupostos apriorísticos dos tipos que Kant aceita³.
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³ Como por exemplo as intuições puras de espaço e tempo, ou as categorias do entendimento (p. ex. a unidade)
     Assim, a tentativa de Kant de resgatar algum tipo de metafísica ao dizer que para fazer uma ‘boa’ metafísica é preciso que se cumpram as exigências por ele imposta (como está nos prolegômenos), aos olhos dos empiristas não se trata de possível e que se quer tem algum futuro.
Então, em vista de que não há sentença sintética a priori, a pergunta central da epistemologia kantiana, sobre se tais sentenças existam e qual o fundamento de sua validade, carece de sentido; em virtude disso, não faz sentido elaborar toda uma teoria sob os moldes de Kant.
Sendo assim, Schlick coloca novamente em cheque o problema que Kant acreditava ter superado: o problema da coisa-em-si.
Os fenômenos
     Para Kant, o único conhecimento possível aos seres finitos, se restringe aos fenômenos, ou, conhecemos somente o modo como as coisas nos aparece. Simplificando, para ele, os fenômenos, sejam os da experiência interna ou externa, são representações dadas no espaço e no tempo, e no limite do tempo. Logo, para Kant, aquilo que podemos conhecer enquanto sujeitos cognoscíveis é apenas o modo através do qual ele nos aparece, não o que aparece. Para ele, o que é meramente pensável não é conhecimento, mas, mera ilusão; e esse fora o erro de muitos filósofos e escolas filosóficas. Assim sendo, quando o filósofo restringe o conhecimento ao âmbito dos fenômenos não há pretensão de se conhecer assuntos como Deus, Alma e mundo, todos esses, sabidamente, pretendidos pela metafísica.
Porém, para Schlick, contrariando toda tradição, a relação de conhecimento não se trata tão só de uma relação entre sujeito e objeto, e sim, de uma relação de três elementos: (1) sujeito; (2) objeto; (3) aquilo que é objeto tal como reconhecido pelo sujeito. Logo, schlick admite a existência de coisas e processos que não nos são dados. Nesse sentido, não haveria problema em se falar de uma coisa-em-si.
Schlick X Kant
     Para Schlick, a pergunta kantiana sobre a possibilidade de conhecimento dos fenômenos e das coisas-em-si não passava de um pseudoproblema, uma vez que ao existir uma correspondência unívoca entre o fenômeno e a coisa-em-si, por exemplo: a cadeira enquanto fenômeno e a cadeira enquanto coisa-em-si.¹ Se é assim, não há problemas, pois ambos são a mesma coisa.
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¹ Para Kant, para todo fenômeno há uma coisa em si que o corresponde.
Schlick, na contramão de Kant, sustenta que o conhecimento do mundo fenomênico acarretaria no conhecimento da coisa em si, ainda que nos sejam dados, de maneira imediata, somente objetos do mundo fenomênico.
Assim sendo, a posição kantiana no que tange a questão daquilo que conhecemos, que repousa na associação do conceito de conhecimento ao conceito de dado intuitivo, para Schlick, tal associação é falsa.
O propósito do radicalismo de Schlick
     Até mesmo no âmbito científico assumimos certos dados que a experiência não é capaz de explicar suficientemente. Por exemplo: (para cada eleito obtido há uma causa para o mesmo). Pois, para se elaborar as leis da física, tem-se que admitir outras coisas que a experiência sensível não nos dá.
Essa visão realista é extremamente razoável e radical. Enquanto muitos defendiam a tese de que o único fundamento das coisas são os dados sensíveis, para Schlick temos que assumir, na ciência inclusive, certas coisas que não nos são dadas empiricamente. Logo, para Schlick, enquanto filósofo, o passo importante que é preciso ser dado, é distinguir rigorosamente o conceito de conhecimento, daquele de vivência e intuição; pois, conhecer não é intuir.
- Para Sclick, o conhecimento existe quando reconhecemos algo qualquer e encontramos nele certas características correspondente nesse algo. No conhecimento científico ocorre algo parecido: quando um físico reconhece o calor, o que ele faz é reconhecer nele características do movimento molecular próprias do calor. E como ele faz isso? Na medida em que se esclareça de modo claro, adequado e econômico a função dos conceitos científicos. Assim, a diferença entre conceitos científicos e das vagas representações cotidianas se dá pela exatidão e precisão dos conceitos científicos. Logo, a essência dos conceitos científicos consiste em serem eles signos unívocos de objetos. Também, a noção de verdade deve ser reduzida ao conceito de associação unívoca, isto é, os juízos são verdadeiros quando são univocamente associados a fatos, caso contrário, são falsos. No entanto, um sistema de sentenças verdadeiras ainda não é conhecimento científico.
- Para a ciência, não basta apenas o método empírico, é preciso também a comunicação precisa através de conceitos intersubjetivamente inteligíveis. Ela existe na medida em que a discussão é possível, e só pode haver discussão entre mim e outra pessoa na medida em que somos capazes de esclarecer, com suficiente exatidão, o significado das expressões que usamos. Assim, para o moderno empirismo, a filosofia metafísica não fracassa apenas em virtude da falta de comprovação empírica das sentenças por ele expressada, mas fracassa também em virtude da insolubilidade do problema referente à comunicação, relativa, particularmente, aos conceitos metafísicos.
- Para Wittgenstein, os problemas filosóficos, sejam eles quais forem, repousam, em última análise, no mau uso da linguagem. Carnap, foi outro que buscou a solução do problema linguístico criando um sistema de linguagem formalizado para substituir a linguagem cotidiana, sua obra: Construção lógica do mundo (1928)
- Dada a forte atitude científica, os empiristas modernos insistem em uma distinção clara entre ciência de um lado, e a arte e a religião, de outro.
- Em cada um desses dois âmbitos existem características próprias em cada um deles. No âmbito da arte e da religião, a noção de vivência desempenha um papel fundamental; já no âmbito da ciência, esse mesmo conceito pouco ou nada importa.
- Em boa medida por isso, os empiristas modernos insistiram em distinguir os seguintes conceitos:
(I) conhecimento (algo intersubjetivamente válido);
(II) vivência (algo particular que, por definição, não é intersubjetivamente válido).
Reflexão sobre o conhecimento e Deus
     Todos os métodos empíricos, lógicos, epistemológicos, filosóficos (metafísica, epistemologia e linguística/semântica) são convenções da razão. Assim sendo, as invenções antropocêntricas não são autossuficientes para afirmar ou negar a existência de Deus. Os que insistem, achando que esses métodos estão além do bem e do mal, enganam a si mesmos. Isto é, a razão trabalha contra si mesma. Logo, tal metodologia não está à altura de asserir ou negar a existência de Deus, ou seja, são apenas estratégias filosóficas e científicas fundamentadas na razão para enganar a própria razão, ou seja, a humanidade cética e, se possível, aqueles que têm fé.  A grande questão é: quem ou o quê, além de Deus, provocou no homem a busca por uma nova epistemologia lógica, empirista e semântica/analítica? Se prestarmos atenção na história da filosofia e seus problemas, perceberemos que Deus como criador e mantenedor do universo segundo ensina a bíblia por meio da história de Israel, do nascimento de Cristo e de seu evangelho, é O grande instigador de todo saber; seja quando o homem tenta provar a existência de Deus por meios lógicos, ou negando-O pelo método empírico, ou ainda, pela filosofia semântica; alegando que as proposições metafísicas, são carentes de sentido, e, como tais, são apenas pseudoproblemas, por isso, devem ser ignoradas. Assim sendo, parafraseando o apóstolo Paulo, Deus não se deixa escarnecer e nem que seus fiéis seguidores sejam enganados pelas vãs filosofias. (Grifo do autor)

Filósofo Isaías Correia Ribas

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
NIETZSCHE, Wilhelm Friedrich. OS PENSADORES. Ed. Abril Cultural. São Paulo – SP, 1978
PORTA, Mario Ariel Gonzáles. A FILOSOFIA A PARTIR DE SEUS PROBLEMAS. Ed. Loyola. São Paulo – SP, 2002
SOUSA, Mauro Araújo. NIETZSCHE ASCETA. Ed. UNIJUÍ. Ijuí – RS, 2009
WHITE, Ellen Golden. MENSAGEM ESCOLHIDA – II. Ed. Casa Publicadora Brasileira. Tatuí – SP, 1986