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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

REVELAÇÃO, RACIONALISMO E MITOS


     Tratando-se do conhecimento temos duas fontes primárias e uma alegórica. Primeira: O conhecimento revelado está contido na bíblia e esta foi escrita ao longo de mil e seiscentos anos por cerca de quarenta autores; além de conter revelações, é também um compendio histórico. O povo de Israel compõe a parte histórica bíblica. Antes da escrita bíblica, essas mesmas verdades eram eternizadas verbalmente, Moisés apenas registrou-as e deu prosseguimento ao plano segundo as revelações de Deus. Logo, é uma coleção de livros que tem como idealizador e inspirador o Supremo Deus, o Criador do universo. Assim sendo, as partes reveladas são para aqueles que têm fé e as históricas estão registrada para qualquer um analisar segundo seus interesses independentes de fé. O atual Estado de Israel é fruto de um racionalismo político de 1948, esse não faz mais parte do contexto bíblico.
     Segunda: O racionalismo é uma fonte de conhecimento antropocêntrica, isto é, fruto de análise da razão humana, porém, sujeitas as inconstâncias dos sentidos, que, posteriormente, com Aristóteles passou a ser analisada ao rigor metódico, sendo assim, ciência e filosofia sistematizadas; a filosofia surgiu no final século VII e início do VI a. C., gênese e fundamento de todo conhecimento racionalizado existente entre nós até os dias atuais. A sabedoria, segundo os filósofos naturalistas, pertence aos deuses; e filósofos são aqueles que a buscam por meio do conhecimento; como somos seres mortais, jamais alcançaremos a sabedoria dos deuses.
     Os mitos são também de origem humana, são contos alegóricos inventados para preencher algumas lacunas que existiam até que a filosofia se estabelecesse como conhecimento fundamentado na razão ou no empirismo sensível-científico. A mitologia antecede a filosofia e seus criadores foram os poetas, pois estes, segundo a tradição falavam inspirados pelos deuses; Os mitos geralmente são acompanhados de um fundo místico, alegorias inventadas para justificar acontecimentos naturais ou cósmicos que os homens não sabiam explicar como e porque aconteciam. E assim, ao longo da história muitos mitos foram inventados, e estes, ainda servem para ilustrar como se dá o conhecimento. Platão foi o primeiro filósofo a fazer uso dos mitos como metáfora para ilustrar como se dá o conhecimento, a Mito da Caverna é o seu clássico ainda estudado nos dias atuais. E mais, ainda hoje muitos mitos são arquitetados para iludir as pessoas; porém, seus criadores não são mais os poetas e sim “célebres” pensadores a serviço da política e da religião, mas, no decorrer da história filosófica e da política-religiosa, os “mitólogos” sempre estiveram apostos para, como na antiguidade faziam os poetas, ofuscar e mascarar as revelações bíblicas como ensinamentos diferenciados entre a humanidade; é claro que não aparecem mais como mitos, mas como utopias, ideologias políticas; construções antropocêntricas para manter o povo iludido, enganado, e, há também muitas “teologias” antropocêntricas que fazem parte das ideologias políticas para iludir o povo; pasmem! As universidades são as superestruturas que dão legitimidade a esses mitos contemporâneos. Então, entendo eu que não é difícil concluir que filosofias, ciências e mitos têm a mesma origem, isto é, o próprio homem e seus objetivos continuam o mesmo: ofuscar, diminuir e mascarar a influência dos escritos bíblicos à mente das pessoas. Fazendo oposição à toda construção antropocêntrica está o conhecimento revelado, o bíblico; seu objetivo é afirmar e confirmar as verdades de um Deus criador e mantenedor do universo, dizendo a todos em alto e bom som que a história entre o bem e o mal chegará ao fim, e Deus vai restabelecer a ordem cósmica que havia antes da entrada do pecado no universo. E é aqui que entra a fé pessoal mediante a análise dos escritos bíblicos. Ciência e bíblia por princípio é diferente de ciência e religião, assim sendo, ciência e bíblia são antagônicas por princípios; ciência e religião não; logo, é possível encontrar o equilíbrio entre a ciência teológica (hermenêutica) e a ciência pura, empírica. Mas, mesmo aqui há muita relutância pela harmonia, abrir-se-ia um precedente perigoso, pensa os cientistas acadêmicos.
    Logo, os escritos bíblicos não são alegóricos e muito menos filosóficos. Sua origem é Divina, é uma história segundo as intensões de Deus o Criador e mantenedor do universo, uma revelação às pessoas de fé que, embora entendam todas as arquiteturas científicas, filosóficas e míticas não permitem que essas contingências ofusquem sua racionalidade para compreender o plano maior: o interesse do Criador em restabelecer a ordem primeira.
Filon filósofo grego, de origem judaica e cognominado “o Platão judeu”; viveu no século I da era cristã em Alexandria e é um dos principais representantes da chamada escola de *Alexandria. Chefiou uma embaixada de cinco judeus que foram a Roma pedir ao imperador que dispensasse os membros da comunidade judaica de prestarem culto divino à estátua do imperador. Como filósofo, procurou conciliar os ensinamentos do Velho Testamento com as filosofias de Platão e Aristóteles. Foi o inspirador do *neoplatonismo e da literatura cristã. (HILTON Japiassú / DANILO Marcondes. Dicionário Básico de Filosofia. Ed.Zahar, Rio de Janeiro, RJ 1989).
O judeu filon, que nasceu em Alexandria entre 10 e15 a. C., desenvolveu suas atividades na primeira metade do século I d.C., pode ser considerado precursor dos padres, pelo menos em certa medida. Dentre suas numerosas obras, destaca-se a série de tratados que constituem um Comentário alegórico do Pentateuco (devemos recordar sobretudo A criação do mundo, As alegorias das leis, O herdeiro das coisas divinas, A migração de Abraão e A mutação dos nomes, que estão entre as mais belas).
     O mérito de Filon está em ter tentado pela primeira vez na história uma fusão entre a filosofia grega e a teologia mosaica, criando assim uma “filosofia mosaica”. O método com qual Filon operou a mediação foi o da “alegorese”.  Ele sustenta que a bíblia tem a) um significado literal, que, no entanto, não é o mais importante, e b) um significado oculto, segundo o qual as personagens e eventos bíblicos são símbolos de conceitos e verdades morais, espirituais e metafísicas. [...] A interpretação alegórica iria alcançar grande êxito, tornando-se um verdadeiro método de leitura da bíblia para a maioria dos padres da igreja e transformando-se assim por longo tempo numa constante na história da patrística. (GIOVANNI Reale/DARIO Antiseri. HISTÓRIA DA FILOSOFIA. Antiguidade e Idade Média. Vol. I, p. 402. Ed. Paulus. São Paulo. SP, 1990)

     Afirmar que as histórias e as revelações bíblicas são alegarias baseando-se nessa pretensão de Filon, não preenche nem o mínimo de exigências filosóficas para ter isso como verdade, o que parece é que filon estava a serviço de alguma instituição ideológica que tinha a pretensão de fazer desses relatos uma “verdade”, para, posteriormente tentar anular de vez os escritos bíblicos, vã e doce ilusão.


Filósofo Isaías Correia Ribas