Tratando-se do conhecimento temos duas fontes primárias e uma alegórica.
Primeira: O conhecimento revelado está contido na bíblia e esta foi escrita ao
longo de mil e seiscentos anos por cerca de quarenta autores; além de conter
revelações, é também um compendio histórico. O povo de Israel compõe a parte
histórica bíblica. Antes da escrita bíblica, essas mesmas verdades eram
eternizadas verbalmente, Moisés apenas registrou-as e deu prosseguimento ao
plano segundo as revelações de Deus. Logo, é uma coleção de livros que tem como
idealizador e inspirador o Supremo Deus, o Criador do universo. Assim sendo, as
partes reveladas são para aqueles que têm fé e as históricas estão registrada
para qualquer um analisar segundo seus interesses independentes de fé. O atual
Estado de Israel é fruto de um racionalismo político de 1948, esse não faz mais
parte do contexto bíblico.
Segunda: O racionalismo é uma fonte de conhecimento antropocêntrica,
isto é, fruto de análise da razão humana, porém, sujeitas as inconstâncias dos
sentidos, que, posteriormente, com Aristóteles passou a ser analisada ao rigor
metódico, sendo assim, ciência e filosofia sistematizadas; a filosofia surgiu
no final século VII e início do VI a. C., gênese e fundamento de todo
conhecimento racionalizado existente entre nós até os dias atuais. A sabedoria,
segundo os filósofos naturalistas, pertence aos deuses; e filósofos são aqueles
que a buscam por meio do conhecimento; como somos seres mortais, jamais alcançaremos
a sabedoria dos deuses.
Os mitos são também de origem humana, são contos alegóricos inventados
para preencher algumas lacunas que existiam até que a filosofia se estabelecesse
como conhecimento fundamentado na razão ou no empirismo sensível-científico. A
mitologia antecede a filosofia e seus criadores foram os poetas, pois estes,
segundo a tradição falavam inspirados pelos deuses; Os mitos geralmente são
acompanhados de um fundo místico, alegorias inventadas para justificar
acontecimentos naturais ou cósmicos que os homens não sabiam explicar como e
porque aconteciam. E assim, ao longo da história muitos mitos foram inventados,
e estes, ainda servem para ilustrar como se dá o conhecimento. Platão foi o
primeiro filósofo a fazer uso dos mitos como metáfora para ilustrar como se dá o
conhecimento, a Mito da Caverna é o seu clássico ainda estudado nos dias
atuais. E mais, ainda hoje muitos mitos são arquitetados para iludir as
pessoas; porém, seus criadores não são mais os poetas e sim “célebres”
pensadores a serviço da política e da religião, mas, no decorrer da história
filosófica e da política-religiosa, os “mitólogos” sempre estiveram apostos
para, como na antiguidade faziam os poetas, ofuscar e mascarar as revelações
bíblicas como ensinamentos diferenciados entre a humanidade; é claro que não
aparecem mais como mitos, mas como utopias, ideologias políticas; construções
antropocêntricas para manter o povo iludido, enganado, e, há também muitas
“teologias” antropocêntricas que fazem parte das ideologias políticas para
iludir o povo; pasmem! As universidades são as superestruturas que dão
legitimidade a esses mitos contemporâneos. Então, entendo eu que não é difícil
concluir que filosofias, ciências e mitos têm a mesma origem, isto é, o próprio
homem e seus objetivos continuam o mesmo: ofuscar, diminuir e mascarar a
influência dos escritos bíblicos à mente das pessoas. Fazendo oposição à toda
construção antropocêntrica está o conhecimento revelado, o bíblico; seu
objetivo é afirmar e confirmar as verdades de um Deus criador e mantenedor do
universo, dizendo a todos em alto e bom som que a história entre o bem e o mal
chegará ao fim, e Deus vai restabelecer a ordem cósmica que havia antes da
entrada do pecado no universo. E é aqui que entra a fé pessoal mediante a análise
dos escritos bíblicos. Ciência e bíblia por princípio é diferente de ciência e
religião, assim sendo, ciência e bíblia são antagônicas por princípios; ciência
e religião não; logo, é possível encontrar o equilíbrio entre a ciência
teológica (hermenêutica) e a ciência pura, empírica. Mas, mesmo aqui há muita
relutância pela harmonia, abrir-se-ia um precedente perigoso, pensa os
cientistas acadêmicos.
Logo, os escritos bíblicos não são alegóricos e muito menos filosóficos.
Sua origem é Divina, é uma história segundo as intensões de Deus o Criador e
mantenedor do universo, uma revelação às pessoas de fé que, embora entendam todas
as arquiteturas científicas, filosóficas e míticas não permitem que essas
contingências ofusquem sua racionalidade para compreender o plano maior: o interesse do Criador em restabelecer a
ordem primeira.
Filon filósofo grego, de origem judaica
e cognominado “o Platão judeu”; viveu no século I da era cristã em Alexandria e
é um dos principais representantes da chamada escola de *Alexandria. Chefiou
uma embaixada de cinco judeus que foram a Roma pedir ao imperador que
dispensasse os membros da comunidade judaica de prestarem culto divino à
estátua do imperador. Como filósofo, procurou conciliar os ensinamentos do
Velho Testamento com as filosofias de Platão e Aristóteles. Foi o inspirador do
*neoplatonismo e da literatura cristã. (HILTON
Japiassú / DANILO Marcondes. Dicionário
Básico de Filosofia. Ed.Zahar, Rio de Janeiro, RJ 1989).
O judeu filon, que nasceu em Alexandria
entre 10 e15 a. C., desenvolveu suas atividades na primeira metade do século I
d.C., pode ser considerado precursor dos padres, pelo menos em certa medida.
Dentre suas numerosas obras, destaca-se a série de tratados que constituem um Comentário
alegórico do Pentateuco (devemos recordar sobretudo A criação do mundo, As
alegorias das leis, O herdeiro das coisas divinas, A migração de Abraão e A
mutação dos nomes, que estão entre as mais belas).
O mérito de Filon está em ter tentado pela primeira vez na história uma
fusão entre a filosofia grega e a teologia mosaica, criando assim uma “filosofia
mosaica”. O método com qual Filon operou a mediação foi o da “alegorese”. Ele sustenta que a bíblia tem a) um
significado literal, que, no entanto, não é o mais importante, e b) um
significado oculto, segundo o qual as personagens e eventos bíblicos são
símbolos de conceitos e verdades morais, espirituais e metafísicas. [...] A interpretação
alegórica iria alcançar grande êxito, tornando-se um verdadeiro método de
leitura da bíblia para a maioria dos padres da igreja e transformando-se assim
por longo tempo numa constante na história da patrística. (GIOVANNI Reale/DARIO Antiseri. HISTÓRIA DA FILOSOFIA. Antiguidade e Idade Média. Vol. I, p. 402.
Ed. Paulus. São Paulo. SP, 1990)
Afirmar que as
histórias e as revelações bíblicas são alegarias baseando-se nessa pretensão de
Filon, não preenche nem o mínimo de exigências filosóficas para ter isso como
verdade, o que parece é que filon estava a serviço de alguma instituição
ideológica que tinha a pretensão de fazer desses relatos uma “verdade”, para,
posteriormente tentar anular de vez os escritos bíblicos, vã e doce ilusão.
Filósofo Isaías Correia Ribas