Hermenêutica é logos, discurso, uma ferramenta de interpretação e comunicação.
Segundo Heidegger, “a palavra grega “hermeneutike”
(hermenêutica) é formada a partir das palavras gregas que significam interpretar,
interpretação e intérprete. Sua etimologia é obscura, a pesar de acreditarmos
que ela esteja relacionada ao deus mensageiro, Hermes”. (LAWRENCE, K. Schmid. HERMENÊUTICA. Pensamento Moderno. Ed. Vozes.
P. 83, São Paulo 2012) A hermenêutica trata da verdade daquilo que é dito:
“aletheuein [ser verdadeiro] (tornar aquilo que estava encoberto, escondido,
disponível, exposto, lá fora)” Ibid p. 84
Filosofia da Comunicação:
“E falava Moisés face a face, como
qualquer um fala com seu amigo”. (Êxodo, 33: 11) Desse diálogo entre Deus e
Moisés a hermenêutica protestante criou o conceito ‘nós’, questionando a filosofia
de Descartes e de Kant que tratam do ‘Eu’ e do ‘Sujeito’ que não se comunica
com o outro, entendem que superaram esses dois filósofos que marcaram o início
da modernidade e da contemporaneidade. A partir desse diálogo bíblico entre
Deus e Moisés fundou-se a filosofia da comunicação que se resume em emissor e
receptor, mediados por temas, códigos e veículos de comunicação; tudo isso
dentro do seu contexto é possível à hermenêutica bíblica como ciência exegética,
capaz de interpretar qualquer obra escrita através da análise linguística e
psicológica, entendem assim, que o interprete pode superar o próprio autor da
obra, seja esse de que período for. Assim sendo, a hermenêutica protestante, por
meio da validade do discurso tornou-se a maior questionadora dos escritos bíblicos,
semelhante ao puro racionalismo filosófico, fazendo dos escritos bíblicos uma
mera produção antropocêntrica, sujeita a mudanças segundo a interpretação da
hermenêutica contemporânea. Assim, nega a inspiração divino-humana dos escritos
bíblicos, alimentando o ateísmo, o agnosticismo e a dúvida nos escritos
bíblicos; consequentemente em Deus como Criador e mantenedor do universo.
Depois da reviravolta linguística, a
filosofia só pode ser reflexão sobre a comunicação, esse é o ponto comum entre
Scannone, Apel e Olivetti, mas para Scannone tal reflexão tem de ser reflexão
“da” comunicação e, enquanto tal, ela não pode entender nem como redução
transcendental, nem como outomediação dialética, mas reflexão analógica da
liberdade e da gratuidade. (P. 415) Então, filosofia é uma atividade
“simbólica”, ou seja, aquela que tematiza a “conciliação dialética” do a priori
e do a posteriori, do necessário e do contingente, do transcendental e do
empírico, do universal e do histórico, do incondicionado e do condicionado, da
razão funcional e da razão histórica. [...] Nas palavras de M Müller, a tarefa
fundamental da filosofia hoje é efetivar o encontro entre metafísica e
filosofia, isso entendido nem como conjuntivo nem como adversário. O que
importa é entender a metafísica como história e a verdadeira história como
metafísica. (P. 420) (OLIVEIRA, Manfredo
de Araújo. REVIRAVOLTA LINGUÍSTICO-PRAGUIMÁTICA NA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA. Ed.
Loyla, São Paulo, 1996)
Bíblia:
A
bíblia é uma biblioteca composta por sessenta e seis livros. Está dividida em
duas partes: antigo e novo testamento. O antigo contém trinta e nove livros e o
novo vinte e sete. Cerca de quarenta autores a escreveram no período de mil e
seiscentos anos; destes, mil e quinhentos foram dedicados à escrita do Velho e
os outros cem ao Novo. Moisés, líder hebreu criado na corte do Egito, fugindo
de lá por causa de uma briga e do assassinato de um egípcio, instalou-se em
Midiã, sob inspiração do Espírito que pairava sobre as águas que cobria o
planeta antes de ser adaptado à vida, é o autor dos cinco primeiros livros;
segue–o: patriarcas, profetas, reis, juízes, rainhas, lavradores, boiadeiros,
pescadores, médico, funcionários públicos intelectuais e outros profissionais.
A escrita bíblica originou-se de quatro fontes primárias. 01. Revelação através
de sonhos e visões aos profetas, 02. Fatos históricos do povo hebreu,
israelitas e judeus com outros povos, 03. A biografia e ações de Cristo quando
vivera por aqui e 04. A história dos cristãos primitivos e seus perseguidores
pagãos. A bíblia está aberta a pesquisadores de diferentes ciências exatas e
humanas. Atualmente a bíblia é tida como o livro sagrado dos judeus e cristãos,
porém, se pensarmos na geografia do mundo antigo, quando a divisão dava-se
entre orientais e ocidentais, conclui-se, que, a origem de seus escritos deu-se
no Oriente e seu final no Ocidente, logo, a bíblia é universal e não regional.
Fato é que muitos povos atuais das mais diversas regiões do planeta têm como
exemplo de fidelidade a Deus, o patriarca da fé, Abraão.
A filosofia, para alguns filósofos, tem sua origem análoga aos escritos
bíblicos, nascendo no Oriente e sendo sistematizada no Ocidente. Diferente dos
escritos bíblicos que já findou sua produção epistemológica, a filosofia
continua em plena produção intelectual. Assim, ambas são universais. Porém,
seus propósitos epistemológicos diferem-se. A epistemologia bíblica busca
conscientizar a humanidade da origem de tudo o que há no universo em um Deus
criador e mantenedor; que o mal é um elemento estranho ao cosmo, mas, que, as
devidas providências já foram tomadas para sana-las. A epistemologia
filosófica, diferente da bíblia, é antropocêntrica. Logo, razão pura. Sendo
assim, essas epistemologias são antagônicas, busca anular uma a outra. Os dois
conceitos fundamentais que promovem esse antagonismo são: razão e fé. Grandes produções
literárias e acalorados debates teológicos originam-se desse antagonismo
filosófico-bíblico.
A bíblia, apesar de ser escrita em um longo período por diversos autores
de diferentes culturas, se completa, não é contraditória, está escrita numa
linguagem acessível a qualquer leitor mediano, porém, apesar de ser um livro
também histórico muitos de seus escritos só são compreendidos e aceitos aos
olhos da fé; segundo Apocalipse 1:3 até mesmo aqueles que não sabem ler, mas
estão dispostos a entender e guardam o que ouvem serão bem aventurados; e a
mesma benção está à disposição dos que leem e guardam suas palavras. Quando
algum escrito é mais “complexo”, como são algumas profecias, a própria bíblia
dá as chaves para sua interpretação; e ela nos dá também a chave geral para a
compreensão de seus escritos: “Pois é
preceito sobre preceito, preceitos e mais preceitos; regra sobre regra, regras
e mais regras; um pouco aqui, um pouco ali”. (Isaías 28: 10) Os escritos
bíblicos precisam ser compreendidos e interpretados, diferente de muitas
produções literárias cujo autores não se preocuparam em dar as chaves para
compreensão do todo de sua obra, a bíblia tem seu método (hermenêutica) próprio
para sua compreensão e interpretação.
Então, minha indagação é: Para que hermenêutica e exegese aplicáveis aos
escritos bíblicos se os mesmos são autossuficientes, se bastão a si mesmos?
Todas as dúvidas postas aos escritos bíblicos, das mais simples às complexas,
são postas pelos próprios protestantes que não se contentam em serem pessoas de
fé, mas pretensos filósofos-cientistas do sagrado, e assim, se enganam e destrói
a fé dos simples crentes, sob a capa da filosofia e da ciência, prestam um
desserviço à verdadeira fé, estão de mãos dadas ao espírito medieval.
Qualquer pessoa e/ou instituição ligadas a qualquer doutrina religiosa,
que pretendem filosofar a partir de conceitos bíblicos, são filósofos
frustrados, falaciosos da filosofia e da bíblia, demonstram ser incapazes de um
filosofar a partir do mundo e seus problemas, sendo apenas criadores de
problemas metafísicos. Logo, inúteis à fé bíblica.
Princípio Básico da Ética Cristã:
Ético: Eu _______________ Tu.
Antiético: Eu _______________
Coisas.
Amor não é sentimento, é valor. Amor
como sentimento é romantismo.
Persona é teatro (mascara).
Pessoa, para o cristianismo, é aquele que age sem mascara. Maior exemplo
da história: Cristo em pessoa demonstrando o amor de Deus pela humanidade.
Na ordem do ser, Deus tem a primazia. Na ordem do conhecer, o homem é o
centro. João e Paulo foram os primeiros filósofos do cristianismo. (Marilena
Chauí) Será?
Se parto do princípio de que a filosofia está em busca da verdade,
realmente eles foram os principais defensores da verdade. Para João, Cristo é o
agente criador que trouxe tudo à existência no planeta Terra, pois, “Sem Ele nada do que foi feito se fez”.
E, segundo está escrito no Apocalipse, livro de sua autoria, Jesus voltará a
esse mundo para restabelecer a perfeição edênica que havia antes do pecado;
para que isso aconteça, Satanás, seus anjos e todas as pessoas que rejeitaram a
salvação em Cristo provarão da morte eterna. (São João 01 e Apocalipse 20)
Para Paulo, por ocasião da 2ª vinda de Cristo, os fieis aos princípios
bíblicos serão ressuscitados para a vida eterna e, em uma segunda ressurreição,
após mil anos de sua segunda vinda, todos os ímpios mortos ressuscitarão para a
perdição eterna. Pergunto: Qual filósofo, cristão ou não, defende os escritos
bíblicos como João e Paulo defenderam? Então, se eles são filósofos segundo a
visão da filosofia, os filósofos que negam a epistemologia bíblica são o que,
se não filósofos falaciosos? (I tessalonicenses, 04: 13-18; Apocalipse 20: 5 e
6)
Quanto mais estudo filosofia, mais me convenço de sua astúcia em negar a
origem divino-humana da bíblia. As próprias instituições religiosas não falam
mais de princípios bíblicos e sim filosóficos, quando tudo for filosofia chegou
o fim das religiões, tudo não passará de teatro, espetáculo religioso-medieval.
A sociedade atual, independente de cultura e religiosidade, valoriza
mais as coisas que o outro, seu igual; toda afetividade humana está sendo
direcionada às coisas e aos animais em detrimento de pessoas que são apenas
alvo de exploração e subjugação. E aí, você acha que essa lógica filosófica é
capaz de criar pessoas melhores, mais éticas? A realidade social-mundial atesta
que não. E daí, que fará a filosofia, a priori e a posteriori para redirecionar
a ignorância generalizada que ela idealiza e propaga às massas em nome do
conhecimento antropocêntrico?
Conclusão
Hermenêutica, um processo interpretativo que vai do todo para às partes
e das partes para o todo. (círculo hermenêutico) A verdade do filósofo, ou de
outro intelectual qualquer está expressa em sua obra. A hermenêutica como
ferramenta de análise linguística e psicológica, seguindo um método, colabora
para a compreensão e interpretação de obras literárias.
Filósofo Isaías Correia Ribas
Filósofo Isaías Correia Ribas