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domingo, 15 de dezembro de 2013

HERMENÊUTICA FILOSÓFICA E BÍBLICA


     Hermenêutica é logos, discurso, uma ferramenta de interpretação e comunicação. Segundo Heidegger, “a palavra grega “hermeneutike” (hermenêutica) é formada a partir das palavras gregas que significam interpretar, interpretação e intérprete. Sua etimologia é obscura, a pesar de acreditarmos que ela esteja relacionada ao deus mensageiro, Hermes”. (LAWRENCE, K. Schmid. HERMENÊUTICA. Pensamento Moderno. Ed. Vozes. P. 83, São Paulo 2012) A hermenêutica trata da verdade daquilo que é dito: “aletheuein [ser verdadeiro] (tornar aquilo que estava encoberto, escondido, disponível, exposto, lá fora)” Ibid p. 84
Filosofia da Comunicação:
          “E falava Moisés face a face, como qualquer um fala com seu amigo”. (Êxodo, 33: 11) Desse diálogo entre Deus e Moisés a hermenêutica protestante criou o conceito ‘nós’, questionando a filosofia de Descartes e de Kant que tratam do ‘Eu’ e do ‘Sujeito’ que não se comunica com o outro, entendem que superaram esses dois filósofos que marcaram o início da modernidade e da contemporaneidade. A partir desse diálogo bíblico entre Deus e Moisés fundou-se a filosofia da comunicação que se resume em emissor e receptor, mediados por temas, códigos e veículos de comunicação; tudo isso dentro do seu contexto é possível à hermenêutica bíblica como ciência exegética, capaz de interpretar qualquer obra escrita através da análise linguística e psicológica, entendem assim, que o interprete pode superar o próprio autor da obra, seja esse de que período for. Assim sendo, a hermenêutica protestante, por meio da validade do discurso tornou-se a maior questionadora dos escritos bíblicos, semelhante ao puro racionalismo filosófico, fazendo dos escritos bíblicos uma mera produção antropocêntrica, sujeita a mudanças segundo a interpretação da hermenêutica contemporânea. Assim, nega a inspiração divino-humana dos escritos bíblicos, alimentando o ateísmo, o agnosticismo e a dúvida nos escritos bíblicos; consequentemente em Deus como Criador e mantenedor do universo.
Depois da reviravolta linguística, a filosofia só pode ser reflexão sobre a comunicação, esse é o ponto comum entre Scannone, Apel e Olivetti, mas para Scannone tal reflexão tem de ser reflexão “da” comunicação e, enquanto tal, ela não pode entender nem como redução transcendental, nem como outomediação dialética, mas reflexão analógica da liberdade e da gratuidade. (P. 415) Então, filosofia é uma atividade “simbólica”, ou seja, aquela que tematiza a “conciliação dialética” do a priori e do a posteriori, do necessário e do contingente, do transcendental e do empírico, do universal e do histórico, do incondicionado e do condicionado, da razão funcional e da razão histórica. [...] Nas palavras de M Müller, a tarefa fundamental da filosofia hoje é efetivar o encontro entre metafísica e filosofia, isso entendido nem como conjuntivo nem como adversário. O que importa é entender a metafísica como história e a verdadeira história como metafísica. (P. 420) (OLIVEIRA, Manfredo de Araújo. REVIRAVOLTA LINGUÍSTICO-PRAGUIMÁTICA NA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA. Ed. Loyla, São Paulo, 1996)

Bíblia:
     A bíblia é uma biblioteca composta por sessenta e seis livros. Está dividida em duas partes: antigo e novo testamento. O antigo contém trinta e nove livros e o novo vinte e sete. Cerca de quarenta autores a escreveram no período de mil e seiscentos anos; destes, mil e quinhentos foram dedicados à escrita do Velho e os outros cem ao Novo. Moisés, líder hebreu criado na corte do Egito, fugindo de lá por causa de uma briga e do assassinato de um egípcio, instalou-se em Midiã, sob inspiração do Espírito que pairava sobre as águas que cobria o planeta antes de ser adaptado à vida, é o autor dos cinco primeiros livros; segue–o: patriarcas, profetas, reis, juízes, rainhas, lavradores, boiadeiros, pescadores, médico, funcionários públicos intelectuais e outros profissionais. A escrita bíblica originou-se de quatro fontes primárias. 01. Revelação através de sonhos e visões aos profetas, 02. Fatos históricos do povo hebreu, israelitas e judeus com outros povos, 03. A biografia e ações de Cristo quando vivera por aqui e 04. A história dos cristãos primitivos e seus perseguidores pagãos. A bíblia está aberta a pesquisadores de diferentes ciências exatas e humanas. Atualmente a bíblia é tida como o livro sagrado dos judeus e cristãos, porém, se pensarmos na geografia do mundo antigo, quando a divisão dava-se entre orientais e ocidentais, conclui-se, que, a origem de seus escritos deu-se no Oriente e seu final no Ocidente, logo, a bíblia é universal e não regional. Fato é que muitos povos atuais das mais diversas regiões do planeta têm como exemplo de fidelidade a Deus, o patriarca da fé, Abraão.
     A filosofia, para alguns filósofos, tem sua origem análoga aos escritos bíblicos, nascendo no Oriente e sendo sistematizada no Ocidente. Diferente dos escritos bíblicos que já findou sua produção epistemológica, a filosofia continua em plena produção intelectual. Assim, ambas são universais. Porém, seus propósitos epistemológicos diferem-se. A epistemologia bíblica busca conscientizar a humanidade da origem de tudo o que há no universo em um Deus criador e mantenedor; que o mal é um elemento estranho ao cosmo, mas, que, as devidas providências já foram tomadas para sana-las. A epistemologia filosófica, diferente da bíblia, é antropocêntrica. Logo, razão pura. Sendo assim, essas epistemologias são antagônicas, busca anular uma a outra. Os dois conceitos fundamentais que promovem esse antagonismo são: razão e fé. Grandes produções literárias e acalorados debates teológicos originam-se desse antagonismo filosófico-bíblico.   
     A bíblia, apesar de ser escrita em um longo período por diversos autores de diferentes culturas, se completa, não é contraditória, está escrita numa linguagem acessível a qualquer leitor mediano, porém, apesar de ser um livro também histórico muitos de seus escritos só são compreendidos e aceitos aos olhos da fé; segundo Apocalipse 1:3 até mesmo aqueles que não sabem ler, mas estão dispostos a entender e guardam o que ouvem serão bem aventurados; e a mesma benção está à disposição dos que leem e guardam suas palavras. Quando algum escrito é mais “complexo”, como são algumas profecias, a própria bíblia dá as chaves para sua interpretação; e ela nos dá também a chave geral para a compreensão de seus escritos: “Pois é preceito sobre preceito, preceitos e mais preceitos; regra sobre regra, regras e mais regras; um pouco aqui, um pouco ali”. (Isaías 28: 10) Os escritos bíblicos precisam ser compreendidos e interpretados, diferente de muitas produções literárias cujo autores não se preocuparam em dar as chaves para compreensão do todo de sua obra, a bíblia tem seu método (hermenêutica) próprio para sua compreensão e interpretação. 
     Então, minha indagação é: Para que hermenêutica e exegese aplicáveis aos escritos bíblicos se os mesmos são autossuficientes, se bastão a si mesmos? Todas as dúvidas postas aos escritos bíblicos, das mais simples às complexas, são postas pelos próprios protestantes que não se contentam em serem pessoas de fé, mas pretensos filósofos-cientistas do sagrado, e assim, se enganam e destrói a fé dos simples crentes, sob a capa da filosofia e da ciência, prestam um desserviço à verdadeira fé, estão de mãos dadas ao espírito medieval.
     Qualquer pessoa e/ou instituição ligadas a qualquer doutrina religiosa, que pretendem filosofar a partir de conceitos bíblicos, são filósofos frustrados, falaciosos da filosofia e da bíblia, demonstram ser incapazes de um filosofar a partir do mundo e seus problemas, sendo apenas criadores de problemas metafísicos. Logo, inúteis à fé bíblica.
Princípio Básico da Ética Cristã:
Ético: Eu _______________ Tu.
Antiético: Eu ­­­­­­­­­_______________ Coisas.
Amor não é sentimento, é valor. Amor como sentimento é romantismo.
Persona é teatro (mascara).
     Pessoa, para o cristianismo, é aquele que age sem mascara. Maior exemplo da história: Cristo em pessoa demonstrando o amor de Deus pela humanidade.
     Na ordem do ser, Deus tem a primazia. Na ordem do conhecer, o homem é o centro. João e Paulo foram os primeiros filósofos do cristianismo. (Marilena Chauí) Será?
     Se parto do princípio de que a filosofia está em busca da verdade, realmente eles foram os principais defensores da verdade. Para João, Cristo é o agente criador que trouxe tudo à existência no planeta Terra, pois, “Sem Ele nada do que foi feito se fez”. E, segundo está escrito no Apocalipse, livro de sua autoria, Jesus voltará a esse mundo para restabelecer a perfeição edênica que havia antes do pecado; para que isso aconteça, Satanás, seus anjos e todas as pessoas que rejeitaram a salvação em Cristo provarão da morte eterna. (São João 01 e Apocalipse 20)
     Para Paulo, por ocasião da 2ª vinda de Cristo, os fieis aos princípios bíblicos serão ressuscitados para a vida eterna e, em uma segunda ressurreição, após mil anos de sua segunda vinda, todos os ímpios mortos ressuscitarão para a perdição eterna. Pergunto: Qual filósofo, cristão ou não, defende os escritos bíblicos como João e Paulo defenderam? Então, se eles são filósofos segundo a visão da filosofia, os filósofos que negam a epistemologia bíblica são o que, se não filósofos falaciosos? (I tessalonicenses, 04: 13-18; Apocalipse 20: 5 e 6)
     Quanto mais estudo filosofia, mais me convenço de sua astúcia em negar a origem divino-humana da bíblia. As próprias instituições religiosas não falam mais de princípios bíblicos e sim filosóficos, quando tudo for filosofia chegou o fim das religiões, tudo não passará de teatro, espetáculo religioso-medieval.
     A sociedade atual, independente de cultura e religiosidade, valoriza mais as coisas que o outro, seu igual; toda afetividade humana está sendo direcionada às coisas e aos animais em detrimento de pessoas que são apenas alvo de exploração e subjugação. E aí, você acha que essa lógica filosófica é capaz de criar pessoas melhores, mais éticas? A realidade social-mundial atesta que não. E daí, que fará a filosofia, a priori e a posteriori para redirecionar a ignorância generalizada que ela idealiza e propaga às massas em nome do conhecimento antropocêntrico?
Conclusão
     Hermenêutica, um processo interpretativo que vai do todo para às partes e das partes para o todo. (círculo hermenêutico) A verdade do filósofo, ou de outro intelectual qualquer está expressa em sua obra. A hermenêutica como ferramenta de análise linguística e psicológica, seguindo um método, colabora para a compreensão e interpretação de obras literárias.

Filósofo Isaías Correia Ribas