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terça-feira, 20 de novembro de 2012

RELIGIÃO: SÃO INVENÇÕES HUMANAS? – III


          Do início da Idade Média até mais ou menos a século XII a Patrística (escola dos padres) imperou. Toda educação estava sob a tutela da igreja. O conhecimento era apenas às elites religiosas. À população, ignorância generalizada. Todo ditador sabe que o único meio para dominar sem maiores problemas é manter as pessoas na ignorância, alienadas, inconscientes das estruturas políticos-religiosas. Seguindo essa lógica, a igreja Medieval conseguiu por mil anos manter as trevas cognitivas no Ocidente.
          Os filósofos Avicena (980 – 1037) e Averróis (1121 – 1198), foram os dois principais filósofos do mundo árabe que, não conseguindo adaptar a filosofia aristotélica à religião mulçumana; trouxeram para o Ocidente as ideias filosóficas de Aristóteles. São Tomás de Aquino (1225 – 1274) teólogo, filósofo e padre dominicano, professor na Universidade de Paris, analisou a filosofia de Aristóteles segundo a visão dos filósofos acima, entendeu o método, procurou harmonizar Aristóteles ao cristianismo formulando hipóteses racionais para provar a existência de Deus, e nessa mesma perspectiva outros grandes cientistas se fizeram conhecidos e descobriram muitas técnicas úteis à melhora da vida, nessa busca para provar racionalmente a existência de Deus, Galileu Galilei (1564 – 1642) foi mais um deles. Tomás de Aquino questionou a Patrística, e, segundo o silogismo aristotélico e o método, abriu as portas aos questionamentos laicos (pessoas não religiosas), nasceu nesse contexto o Humanismo e o Renascimento bases para a Modernidade e a Escolástica (ensino universitário); em Bolonha e Paris surgiram as duas primeiras universidades ocidentais voltadas às ciências, política, direito e o aprofundamento da discussão entre razão e fé. O racionalismo antropocêntrico Pré-Socrático, a teologia platônica se moldava para novas investidas; a filosofia natural renascera com novas aparências, discursos mais bem elaborados, agora sob a batuta do método científico e da metafísica.
          O cristianismo platônico sofrera grande abalo cognitivo, filosófico, político e religioso, era o espírito antropocêntrico Pré-Socrático assumindo novamente à busca de teorias e elementos para fundamentar a existência orgânica e inorgânica do Universo, principalmente em nosso habitat, a Terra, que não fosse o Deus criador do Antigo Testamento, representado agora na pessoa de Jesus Cristo, O verbo que se fizera carne. Renascimento (retorno aos clássicos greco-romanos), para compreender os fundamentos antigos e reativar o antigo espírito antagônico ao Deus criador sem a interferência da religião, se possível fosse.
Mas como o homem, genericamente falando, é religioso por natureza e existe um livro milenar, a bíblia, que não deixa essa religiosidade, a fé num Deus criador morrer, o antropocentrismo vestido de Humanismo; Renascimento e Modernidade não iria executar sua obra funesta sem questionamentos religiosos, mesmo que esses também fossem falaciosos, melhor dizendo: mesmo que esses questionadores não tivessem toda a luz para as interpretações bíblicas.
O cristianismo platônico chegou ao poder político como igreja com muita astúcia, logo, a perda desse poder não seria algo simples, fácil; e a história comprova que isso ocorreu mediante muitas batalhas bélicas e intelectuais, envolvendo todos os seguimentos religioso-político do Ocidente e do Oriente. Os dois conceitos ou os paradigmas principais dessa batalha foram em torno de *“Razão e Fé”.
BÍBLIA
          Diz a bíblia por meio do profeta escatológico Daniel e confirmado pelo filho de Deus, Jesus Cristo, falando sobre a ruína da igreja platônica: “E desde o tempo em que o holocausto contínuo for tirado, e estabelecida a abominação desoladora, haverá mil duzentos e noventa dias. Bem aventurado é o que espera e chega aos mil e trezentos e trinta e cinco dias”. Daniel 12: 11 e 12
“Quando, pois, virdes estar no lugar santo a abominação da desolação predita pelo profeta Daniel (quem lê entenda)” [...] Mateus 24: 15...
Segundo a profecia de Daniel, o marco principal dos fins dos tempos seria a evolução científica: “Tu, porém, Daniel, cerra as palavras e sela o livro, até o fim do tempo; muitos correrão de uma parte para outra, e a ciência se multiplicará”. Daniel 12: 04
Em cumprimento à profecia de Daniel e Jesus, a abominação desoladora acorreu no ano setenta, quando o general romano, Tito, destruiu o templo de Jerusalém, não deixando pedra sobre pedra. Se somarmos 70+1290= 1360; ou 70+1335= 1405; ou então, podemos partir também de 476, ano em que o cristianismo platônico assumiu o poder político-religioso, assim sendo: 1290+476= 1766 ou 1335+476= 1811; chega-se ao fim da Idade Média e ao fim da Modernidade, transição da modernidade para o Pós-Moderno. O nascimento do Humanismo e o Renascimento, é a volta ao racionalismo antropocêntrico Pré-Socrático. E o que restou dos fieis ao Deus bíblico como instituição? O racionalismo teológico Medieval-Renascente-Moderno suplantou-os; restando apenas a fenomenologia da fé. Isto é, a manifestação mística, transcendental, sem o compromisso de praticar as leis divinas e a moral explicitadas na bíblia. Por isso disse o profeta: bem aventurado é o que espera, referindo-se às pessoas e não às instituições religiosas, igrejas.
          Segundo Nietzsche (1844 – 1900), o verdadeiro espírito renascentista está exemplificado em: “Cesare Borgia como papa... Podem imaginar? Pois bem, esta seria a única vitória que eu realmente desejaria: com isso o cristianismo teria acabado! O que aconteceu? Um monge alemão; Lutero, foi para Roma. Esse monge com o corpo tomado de todos os instintos de vingança de um padre falido indignou-se em Roma contra a Renascença... Ao invés de compreender com um profundo agradecimento aquele prodígio, a superação do cristianismo na sua cidade-sede, seu ódio não soube retirar desse espetáculo senão seu alimento; um homem religioso pensa apenas em si. Lutero enxergou a perversão do papado, enquanto exatamente o contrário era indubitavelmente óbvio: a podridão, o *peccatun original, o cristianismo já não estavam sentados na cadeira do papa! Mas sim a vida! O triunfo da vida! O sonoro sim a tudo que é elevado, belo, audaz!... E Lutero restabeleceu a igreja: atacou-a... a Renascença; um acontecimento sem sentido, um grande movimento em vão! Ah, esses alemães, o que já nos custaram! Em vão, isso sempre foi obra dos alemães. A Reforma; Leibnitz; Kant e a tal da filosofia alemã; a guerra da libertação; o reich, cada vez um “em vão” para alguma coisa já existente, para algo irrecuperável... São meus inimigos, confesso, esses alemães: eu desprezo neles toda forma de impureza de conceitos e valores, toda forma de covardia frente a todo “sim” e “não” íntegros. Por quase um milênio intrigaram e distorceram tudo que é tocado com seus dedos, pesam na sua consciência a metade, três-oitavos de todas as enfermidades da Europa! Pesa-lhes na consciência também a espécie mais imunda, incurável e irrefutável do cristianismo, o protestantismo... Se não conseguirmos acabar com o cristianismo, será por culpa dos alemães”... (NIETZSCHE; O Anticristo; Maldição do Cristianismo. CLÁSSICOS ECONÔMICOS NEWTON, PÁG.91 (Aforismo 61) 1992.
 Reafirmo: o cristianismo atacado por Nietzsche é o platônico e o protestantismo é o que se alinha à teologia Medieval, logo, platônico, que é contrário ao original, bíblico, exemplificado na pessoa de Cristo e dos cristãos primitivos. O Protestantismo criticado por Nietzsche é o fenomenológico, sem compromisso, coerência com os ensinamentos bíblicos e com a lei dos judeus e a moral cristã, que é, na verdade, um prolongamento do judaísmo bíblico. Esse, segundo o próprio Nietzsche, ficou apenas no discurso da fé sem as obras da lei.
O “Evangelho” morreu na cruz. O que passou a se chamar “Evangelho” desde então é o oposto do que ele viveu: uma “má nova”, desevangelho. É falso até o absurdo ver numa “fé”, por exemplo, na fé na redenção de Cristo, o emblema do cristão: somente a prática cristã, uma vida como a dele, que morreu na cruz, é cristã... Ainda hoje uma vida assim é possível, para alguns homens até necessário: o cristianismo verdadeiro, o original, será possível em todas as épocas... Não uma fé, mas um agir, sobretudo não-fazer-muitas coisas, ser de outra forma... Estados de consciência, uma fé qualquer, ter-algo-por-verdadeiro, por exemplo (qualquer psicólogo sabe disso) são coisas completamente irrelevantes, e de quinta categoria se comparadas com o valor dos instintos: de forma mais rigorosa, toda noção de causalidade intelectual é falsa. Reduzir o ser cristão à cristandade, ao ter por verdadeiro, a uma fenomenologia da consciência significa negar o cristianismo. ([...]) A fé foi chamada de verdadeira astúcia cristã, pois sempre falou-se em “fé”, mas agia-se a partir dos instintos” (Idem, Aforismo 39)
Então, conclui-se, a profecia de Daniel e de Jesus cumpriram-se. “Muitos se purificarão, e se embranquecerão, e serão acrisolados (santificados); mas os ímpios procederão impiamente; e nenhum deles entenderá; mas os sábios entenderão. Tu, porém, vai-te, até que chegue o fim; pois descansarás no teu quinhão ao fim dos dias”. (Daniel 12: 10 e 13) A Daniel foi garantida a salvação e à certeza de que nos últimos dias os sábios compreenderiam a profecia e distinguiriam o falso do verdadeiro!
RAZÃO E FÉ
FÉ E RAZÃO: CARA E COROA DE UMA MESMA MOEDA. A MAIOR MENTIRA EM DISCUSÃO ACADÊMICA CATÓLICO-PROTESTANTE DE TODOS OS TEMPOS; MENTIRA RACIONALISTA-TEOLÓGICA.
René Descartes (1596 – 1650), considerado o pai do racionalismo Moderno, base de sua filosofia: “Cogito ergo sum” (penso, logo existo); *“eu dubito”, (eu duvido), logo penso, logo existo. Descartes parte da dúvida de sua existência, mas ao perceber que pode pensar, então, como ser pensante existe indubitavelmente.  O mundo orgânico e o cosmo funcionam como uma máquina, um relógio. Deus os fez perfeitos e como tal se mantêm fieis às leis da física. O deus de Descartes, o mecânico relojoeiro, é apenas um conceito.
Baruch Espinoza (1632 – 1677) e o seu *Panteísmo, nada mais é que a releitura, “plagiada” interpretação da filosofia de Aristóteles: a alma está em todos os animais e vegetais, como esta vem de Deus, tudo que têm vida é uma extensão de Deus.
Charles Darwin (1809 – 1882), com a teoria da evolução, é, mais um espírito filosófico Pré-Socrático que vai contra o criador, e coloca a natureza como a genitora da evolução, “eliminando” hipoteticamente o poder criador e mantenedor de Deus. Atualmente há seitas religiosas que a defende como sendo obra, opção de Deus; um *desaine inteligente, por exemplo.
Outra proposta hipotética, o *Big Bang (grande explosão) é outro marco científico que tenta eliminar o Deus bíblico do processo de criação; esta foi primeiramente defendida pelo padre e cosmólogo georges Lemaítre (1894 – 1966). Hoje, nos laboratórios avançados de física já ilustraram com vídeos essa hipótese, tentando, através da ilusão ótica transformar a mentira em verdade absoluta.
E assim, a *Razão e a fenomenologia da fé sem as obras da lei, vigoraram até meados do século XIX. E há centenas, milhares de cientistas, filósofos e teólogos que tentam, ainda hoje, fazer valer a fenomenologia da fé e os rituais que a envolvem, sem às práticas da lei e da moral do Criador, ignorando-as como o único caminho à salvação prometida na bíblia. Lamentável, mas, é essa a verdade teológica em vigor nos seguimentos católicos e protestantes atuais.
Não vou dar mais exemplos senão vira um livro.
No próximo artigo (texto), mostrarei que católicos e protestantes são os extremos de uma mesma lógica político-filosófica-católico-protestante.

Professor e filósofo Isaías Correia Ribas.