Do início da Idade Média até mais ou
menos a século XII a Patrística (escola dos padres) imperou. Toda educação
estava sob a tutela da igreja. O conhecimento era apenas às elites religiosas.
À população, ignorância generalizada. Todo ditador sabe que o único meio para
dominar sem maiores problemas é manter as pessoas na ignorância, alienadas,
inconscientes das estruturas políticos-religiosas. Seguindo essa lógica, a
igreja Medieval conseguiu por mil anos manter as trevas cognitivas no Ocidente.
Os filósofos Avicena (980 – 1037) e
Averróis (1121 – 1198), foram os dois principais filósofos do mundo árabe que, não
conseguindo adaptar a filosofia aristotélica à religião mulçumana; trouxeram
para o Ocidente as ideias filosóficas de Aristóteles. São Tomás de Aquino (1225
– 1274) teólogo, filósofo e padre dominicano, professor na Universidade de
Paris, analisou a filosofia de Aristóteles segundo a visão dos filósofos acima,
entendeu o método, procurou harmonizar Aristóteles ao cristianismo formulando
hipóteses racionais para provar a existência de Deus, e nessa mesma perspectiva
outros grandes cientistas se fizeram conhecidos e descobriram muitas técnicas
úteis à melhora da vida, nessa busca para provar racionalmente a existência de
Deus, Galileu Galilei (1564 – 1642) foi mais um deles. Tomás de Aquino questionou
a Patrística, e, segundo o silogismo aristotélico e o método, abriu as portas
aos questionamentos laicos (pessoas não religiosas), nasceu nesse contexto o
Humanismo e o Renascimento bases para a Modernidade e a Escolástica (ensino
universitário); em Bolonha e Paris surgiram as duas primeiras universidades ocidentais
voltadas às ciências, política, direito e o aprofundamento da discussão entre razão
e fé. O racionalismo antropocêntrico Pré-Socrático, a teologia platônica se
moldava para novas investidas; a filosofia natural renascera com novas
aparências, discursos mais bem elaborados, agora sob a batuta do método
científico e da metafísica.
O cristianismo platônico
sofrera grande abalo cognitivo, filosófico, político e religioso, era o
espírito antropocêntrico Pré-Socrático assumindo novamente à busca de teorias e
elementos para fundamentar a existência orgânica e inorgânica do Universo,
principalmente em nosso habitat, a Terra, que não fosse o Deus criador do
Antigo Testamento, representado agora na pessoa de Jesus Cristo, O verbo que se
fizera carne. Renascimento (retorno aos clássicos greco-romanos), para
compreender os fundamentos antigos e reativar o antigo espírito antagônico ao
Deus criador sem a interferência da religião, se possível fosse.
Mas como o homem, genericamente
falando, é religioso por natureza e existe um livro milenar, a bíblia, que não
deixa essa religiosidade, a fé num Deus criador morrer, o antropocentrismo
vestido de Humanismo; Renascimento e Modernidade não iria executar sua obra
funesta sem questionamentos religiosos, mesmo que esses também fossem
falaciosos, melhor dizendo: mesmo que esses questionadores não tivessem toda a
luz para as interpretações bíblicas.
O cristianismo platônico chegou
ao poder político como igreja com muita astúcia, logo, a perda desse poder não
seria algo simples, fácil; e a história comprova que isso ocorreu mediante
muitas batalhas bélicas e intelectuais, envolvendo todos os seguimentos
religioso-político do Ocidente e do Oriente. Os dois conceitos ou os paradigmas
principais dessa batalha foram em torno de *“Razão e Fé”.
BÍBLIA
Diz a bíblia por meio do profeta escatológico
Daniel e confirmado pelo filho de Deus, Jesus Cristo, falando sobre a ruína da
igreja platônica: “E desde o tempo em que o holocausto contínuo for tirado, e
estabelecida a abominação desoladora, haverá mil duzentos e noventa dias. Bem
aventurado é o que espera e chega aos mil e trezentos e trinta e cinco dias”.
Daniel 12: 11 e 12
“Quando, pois, virdes estar no
lugar santo a abominação da desolação predita pelo profeta Daniel (quem lê
entenda)” [...] Mateus 24: 15...
Segundo a profecia de Daniel, o
marco principal dos fins dos tempos seria a evolução científica: “Tu,
porém, Daniel, cerra as palavras e sela o livro, até o fim do tempo; muitos
correrão de uma parte para outra, e a ciência se multiplicará”. Daniel
12: 04
Em cumprimento à profecia de
Daniel e Jesus, a abominação desoladora acorreu no ano setenta, quando o
general romano, Tito, destruiu o templo de Jerusalém, não deixando pedra sobre
pedra. Se somarmos 70+1290= 1360; ou 70+1335= 1405; ou então, podemos partir
também de 476, ano em que o cristianismo platônico assumiu o poder político-religioso,
assim sendo: 1290+476= 1766 ou 1335+476= 1811; chega-se ao fim da Idade Média e
ao fim da Modernidade, transição da modernidade para o Pós-Moderno. O nascimento
do Humanismo e o Renascimento, é a volta ao racionalismo antropocêntrico Pré-Socrático. E
o que restou dos fieis ao Deus bíblico como instituição? O racionalismo teológico
Medieval-Renascente-Moderno suplantou-os; restando apenas a fenomenologia da
fé. Isto é, a manifestação mística, transcendental, sem o compromisso de
praticar as leis divinas e a moral explicitadas na bíblia. Por isso disse o
profeta: bem aventurado é o que espera, referindo-se às pessoas e não às
instituições religiosas, igrejas.
Segundo Nietzsche (1844 – 1900), o
verdadeiro espírito renascentista está exemplificado em: “Cesare Borgia como papa... Podem
imaginar? Pois bem, esta seria a única vitória que eu realmente desejaria: com
isso o cristianismo teria acabado! O que aconteceu? Um monge alemão; Lutero,
foi para Roma. Esse monge com o corpo tomado de todos os instintos de vingança
de um padre falido indignou-se em Roma contra a Renascença... Ao invés de
compreender com um profundo agradecimento aquele prodígio, a superação do cristianismo
na sua cidade-sede, seu ódio não soube retirar desse espetáculo senão seu
alimento; um homem religioso pensa apenas em si. Lutero enxergou a perversão do
papado, enquanto exatamente o contrário era indubitavelmente óbvio: a podridão,
o *peccatun original, o cristianismo já não estavam sentados na cadeira do
papa! Mas sim a vida! O triunfo da vida! O sonoro sim a tudo que é elevado,
belo, audaz!... E Lutero restabeleceu a igreja: atacou-a... a Renascença; um
acontecimento sem sentido, um grande movimento em vão! Ah, esses alemães, o que
já nos custaram! Em vão, isso sempre foi obra dos alemães. A Reforma; Leibnitz;
Kant e a tal da filosofia alemã; a guerra da libertação; o reich, cada vez um
“em vão” para alguma coisa já existente, para algo irrecuperável... São meus
inimigos, confesso, esses alemães: eu desprezo neles toda forma de impureza de
conceitos e valores, toda forma de covardia frente a todo “sim” e “não”
íntegros. Por quase um milênio intrigaram e distorceram tudo que é tocado com
seus dedos, pesam na sua consciência a metade, três-oitavos de todas as
enfermidades da Europa! Pesa-lhes na consciência também a espécie mais imunda,
incurável e irrefutável do cristianismo, o protestantismo... Se não
conseguirmos acabar com o cristianismo, será por culpa dos alemães”... (NIETZSCHE;
O Anticristo; Maldição do Cristianismo. CLÁSSICOS ECONÔMICOS NEWTON, PÁG.91
(Aforismo 61) 1992.
Reafirmo: o cristianismo atacado por Nietzsche
é o platônico e o protestantismo é o que se alinha à teologia Medieval, logo,
platônico, que é contrário ao original, bíblico, exemplificado na pessoa de
Cristo e dos cristãos primitivos. O Protestantismo criticado por Nietzsche é o
fenomenológico, sem compromisso, coerência com os ensinamentos bíblicos e com a
lei dos judeus e a moral cristã, que é, na verdade, um prolongamento do
judaísmo bíblico. Esse, segundo o próprio Nietzsche, ficou apenas no discurso
da fé sem as obras da lei.
O “Evangelho” morreu na cruz. O que
passou a se chamar “Evangelho” desde então é o oposto do que ele viveu: uma “má
nova”, desevangelho. É falso até o absurdo ver numa “fé”, por exemplo, na fé na
redenção de Cristo, o emblema do cristão: somente a prática cristã, uma vida
como a dele, que morreu na cruz, é cristã... Ainda hoje uma vida assim é
possível, para alguns homens até necessário: o cristianismo verdadeiro, o
original, será possível em todas as épocas... Não uma fé, mas um agir,
sobretudo não-fazer-muitas coisas, ser de outra forma... Estados de
consciência, uma fé qualquer, ter-algo-por-verdadeiro, por exemplo (qualquer
psicólogo sabe disso) são coisas completamente irrelevantes, e de quinta
categoria se comparadas com o valor dos instintos: de forma mais rigorosa, toda
noção de causalidade intelectual é falsa. Reduzir o ser cristão à cristandade,
ao ter por verdadeiro, a uma fenomenologia da consciência significa negar o
cristianismo. ([...]) A fé foi chamada de verdadeira astúcia
cristã, pois sempre falou-se em “fé”, mas agia-se a partir dos instintos” (Idem,
Aforismo 39)
Então, conclui-se, a profecia de
Daniel e de Jesus cumpriram-se. “Muitos se purificarão, e se embranquecerão, e
serão acrisolados (santificados); mas os ímpios procederão impiamente; e nenhum
deles entenderá; mas os sábios entenderão. Tu, porém, vai-te, até que chegue o
fim; pois descansarás no teu quinhão ao fim dos dias”. (Daniel 12: 10 e 13) A
Daniel foi garantida a salvação e à certeza de que nos últimos dias os sábios
compreenderiam a profecia e distinguiriam o falso do verdadeiro!
RAZÃO E FÉ
FÉ E RAZÃO: CARA E COROA DE UMA
MESMA MOEDA. A MAIOR MENTIRA EM DISCUSÃO ACADÊMICA CATÓLICO-PROTESTANTE DE
TODOS OS TEMPOS; MENTIRA RACIONALISTA-TEOLÓGICA.
René Descartes (1596 – 1650),
considerado o pai do racionalismo Moderno, base de sua filosofia: “Cogito
ergo sum” (penso, logo existo); *“eu dubito”, (eu duvido), logo
penso, logo existo. Descartes parte da dúvida de sua existência, mas ao
perceber que pode pensar, então, como ser pensante existe indubitavelmente. O mundo orgânico e o cosmo funcionam como uma
máquina, um relógio. Deus os fez perfeitos e como tal se mantêm fieis às leis
da física. O deus de Descartes, o mecânico relojoeiro, é apenas um conceito.
Baruch Espinoza (1632 – 1677) e o
seu *Panteísmo,
nada mais é que a releitura, “plagiada” interpretação da filosofia de
Aristóteles: a alma está em todos os animais e vegetais, como esta vem de Deus,
tudo que têm vida é uma extensão de Deus.
Charles Darwin (1809 – 1882), com
a teoria da evolução, é, mais um espírito filosófico Pré-Socrático que vai
contra o criador, e coloca a natureza como a genitora da evolução, “eliminando”
hipoteticamente o poder criador e mantenedor de Deus. Atualmente há seitas
religiosas que a defende como sendo obra, opção de Deus; um *desaine
inteligente, por exemplo.
Outra proposta hipotética, o *Big
Bang (grande explosão) é outro marco científico que tenta eliminar o
Deus bíblico do processo de criação; esta foi primeiramente defendida pelo padre
e cosmólogo georges Lemaítre (1894 – 1966). Hoje, nos laboratórios avançados de
física já ilustraram com vídeos essa hipótese, tentando, através da ilusão
ótica transformar a mentira em verdade absoluta.
E assim, a *Razão e a fenomenologia da fé
sem as obras da lei, vigoraram até meados do século XIX. E há centenas,
milhares de cientistas, filósofos e teólogos que tentam, ainda hoje, fazer
valer a fenomenologia da fé e os rituais que a envolvem, sem às práticas da lei
e da moral do Criador, ignorando-as como o único caminho à salvação prometida
na bíblia. Lamentável, mas, é essa a verdade teológica em vigor nos
seguimentos católicos e protestantes atuais.
Não vou dar mais exemplos senão
vira um livro.
No próximo artigo (texto),
mostrarei que católicos e protestantes são os extremos de uma mesma lógica
político-filosófica-católico-protestante.
Professor e filósofo Isaías
Correia Ribas.