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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Um breve contraponto acerca do Funk

Basta gastar algum tempo em uma rede social para rapidamente presenciar ataques e gozações acerca do ritmo e da cultura do funk. Espera aí, cultura? Desde quando funk é cultura? Muitos, contrários ao funk podem perguntar. Mas sim, por mais estranho que isso possa parecer, funk é cultura, pois é uma criação social humana, como a própria definição da palavra cultura prevê. Provavelmente não a mais genial musical e artisticamente falando. Nem tão pouco transmissora de valores tradicionais aos quais a sociedade moderna aprendeu a se pautar. Mas ainda assim é cultura. A meu ver, subproduto de valores da chamada globalização. Valores que pregam o consumismo e o imediatismo da satisfação dos prazeres e desejos humanos.
Só que aqui, chegamos a um ponto crucial; os valores consumistas e imediatistas da globalização, não chega igual para todos, pois ele pode ser caro em sua plenitude. Para as classes mais pobres, o modo de vida globalizado é oferecido, ou melhor, “jogado em sua cara” constantemente pela mídia, através de anúncios de bens e produtos que “devem” consumir para serem felizes. Já que não podem consumir tais bens e sonhos, acredito que tais camadas sociais se adaptaram ao seu modo, para também serem felizes com as migalhas que o governo e a globalização lhes oferecem. Creio que uma dessas adaptações seja o funk, que afastado de suas raízes de décadas anteriores, reflete o imediatismo da cultura global, pregando na maioria de suas letras e batidas, a sensualidade, o sexo fácil e muitas vezes a apologia ao crime para a obtenção de bens. Já parou para pensar, que aquele irritante jovem que insiste em ouvir na “viva-voz” de seu aparelho, o seu funk, dentro de um coletivo, esteja querendo mostrar que pôde comprar o tal aparelho, (consumismo) e que também possui uma identidade (cuja qual não vê refletida na mídia)?
Enfim, não gosto de funk, mas também não concordo com criticas e gozações infundadas, baseadas pura e simplesmente no senso comum e na covardia do preconceito cibernético. Uma brincadeira ou outra é natural e até saudável, mas excessos, podem ser sinais do nascimento de uma sociedade cada vez mais intolerante e preconceituosa que prefere focar suas criticas nos sintomas e não nas reais causas do problema, que estão com certeza em esferas bem maiores.


Renato Campos