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terça-feira, 1 de abril de 2014

ESCOLAS FILOSÓFICAS HELENÍSTICAS



     Após a conquista de Alexandre magno (o grande), da Macedônia, sobre os Medos e Persas findou-se também o projeto de homem-cidadão, iniciando o projeto de homem indivíduo. Alexandre pretendia fundar uma monarquia divina universal, que deveria reunir não só as diversas cidades, mas também países e raças diversas; deu um golpe mortal na antiga concepção de cidade-estado. Alexandre não conseguiu realizar seu projeto por causa de sua morte precoce ocorrida em 323 a. C., e talvez também porque os tempos ainda não estavam maduros para tal projeto. No entanto, depois de 323 a. C., formaram-se os novos reinos do Egito, Síria, Macedônia e Pérgamo. Os novos monarcas concentraram o poder em suas mãos e as cidades-estados perderam pouco a pouco sua liberdade e autonomia, deixaram de fazer história como haviam feito no passado.
     As novas escolas filosóficas da época helenísticas são: cinismo, epicurismo, estoicismo, ceticismo e ecletismo. Aconteceu também nessa época o grande florescimento das ciências particulares. Essas escolas queriam findar com o ideal de cidadão ateniense para formar cidadãos-indivíduos do mundo, por isso as atitudes dos filósofos eram chocantes, e nem poderia ser diferente, pois, para quebrar paradigmas faz-se necessário chocar a cultura estabelecida. Nesse texto analisarei três dessas escolas.
     Já disse, não poucas vezes, que o projeto primordial da filosofia é criticar os deuses mitológicos e o Deus bíblico. Porém, os filósofos naturalistas ou Pré-Socráticos, não conseguiram concluir seu ideal, mas, a filosofia com seu projeto epistemológico antropocêntrico, aliada à mitologia e ao conceito de deus continuam firmes em seu projeto peculiar: eliminar do consciente da humanidade a revelação bíblica de que há um Deus criador e mantenedor de tudo o que há no universo. Digo também, que sua estratégia não é simples de ser diagnosticada, por isso, ainda hoje, a humanidade continua sendo enganada pelo discurso filosófico.
Os gregos consideravam os bárbaros, “por natureza”, incapazes de cultura e de atividades livres, por isso eram considerados escravos por natureza. Aristóteles defendia essas ideias. Alexandre provou que essa teoria estava errada educando milhares de jovens “bárbaros” nas técnicas gregas e autorizou-os a casarem com mulheres persas. Os filósofos dessas novas escolas também contestaram essa antiga visão grega. Os estoicos ensinaram que a verdadeira escravidão é a da ignorância e que a liberdade do saber pode libertar quer o escravo, quer o seu senhor, pois, aquele que escraviza também é escravo da ignorância.
Cinismo:
     O principal cínico foi Diógenes. Segundo seus escritos, o homem, para ser feliz tem que viver sem metas impostas pela sociedade como sendo necessárias, sem morada fixa e sem conforto oferecido pelo progresso; viver conforme a natureza, como vivem os animais. Certa vez durante um banquete alguns lhe jogaram ossos como a um cão; Diógenes andando por ali urinou sobre os ossos como fazem os cães quando estão sem fome. Outra vez alguém o introduziu numa casa suntuosa e proibiu-lhe de escarrar, ele limpou bem forte a garganta e escarrou-lhe no rosto, dizendo não ter encontrado lugar pior. Os cínicos desprezavam os prazeres. Liberdade e virtude são: exercício e fadiga. Eles proclamavam-se cidadãos do mundo. Certa vez Alexandre Magno disse-lhe: pede-me o que quiseres e eu lhe darei, respondeu Diógenes: afasta-te do meu sol que estás a fazer-me sombra; para que trabalhar para construir novas cidades se outro Alexandre irá destruí-las. Para que guardar dinheiro para educação dos filhos, se eles se tornarem filósofos iria distribuir ao povo, pois filósofos não têm necessidade de nada. Nos últimos dois séculos da era pagã (III e IV d. C.), o cinismo enfraqueceu por opressão social e imposição da política romana que repugnavam a doutrina e a vida cínica, pois, para eles nada pode ser reto e nada é honesto.
Os índios, habitantes das Américas são exemplos incontestáveis de que eles descenderam da vida cínica, motivo pelos quais eles não se deixaram escravizar pelos europeus, amantes de uma sociedade construída à luz do antropocentrismo que escraviza em nome do viver em sociedade organizada (grifo do autor).
Epicurismo:
     A felicidade dá-se na falta de dor e perturbação; Para atingir a felicidade e a paz, o homem só precisa de si mesmo; não lhe serve absolutamente de nada as cidades, as instituições, os nobres, as riquezas, todas as coisas e nem mesmo os deuses; o homem é perfeitamente “autárquico”, autônomo, livre. O homem deixou de ser homem-cidadão para tornar-se homem-indivíduo. “De todas as coisas que a sabedoria busca, em vista de uma vida feliz, o maior bem é a conquista da amizade”; “a amizade anda pela terra anunciando a todos que devemos acordar para dar alegria uns aos outros”.
Os quatro remédios e o ideal do sábio:
1)      Que são vãos os temores em relação aos deuses e ao além;
2)      Que o pavor em relação à morte é absurdo, pois ela não é nada;
3)      Que o prazer, quando o entendemos corretamente, está à disposição de todos;
4)      Que o mal dura pouco, ou, é facilmente suportável.
Sócrates e Epicuro:
Ambos são paradigmas de duas grandes fés, duas religiões leigas: Sócrates, a fé e a religião da “justiça”; Epicuro, a fé e a religião da vida.
Os epicuristas e os cínicos são naturalistas, isto é, mundanos. Para eles o mundo e todo que o compõe se basta; e o homem sábio busca viver segundo essa lógica, sem os deuses e sem fé no que está além mundo, e, religião é ligar-se à justiça segundo ensinou Sócrates, ou, à vida segundo Epicuro.
Estoicismo:
     Principal filósofo, o estoico Zenão, o semita. Ele ignorava toda metafísica e qualquer tipo de transcendência. Os estoicos e epicuristas, de modos diferentes, eram materialistas. Os estoicos foram os fundadores do Panteísmo. Spinoza, Baruch (1632-1677), de família judia portuguesa, de Amsterdã, Holanda, foi quem “refez” o panteísmo e divulgou-o à modernidade.
“Segundo os estoicos são dois os princípios do universo: um ativo e um passivo; o passivo é a substância sem qualidade, a matéria. O ativo é a razão na matéria, isto é, Deus. É Deus quem é demiurgo criador de todas as coisas no processo da matéria.” Os discípulos de Zenão concordaram em sustentar que Deus penetra em toda realidade, que ora é inteligência, ora alma, ora natureza [...]. O Deus dos estoicos era Deus- Physis-Logos, como o fogo artífice, segundo filosofou Heráclito, “raio que tudo governa” ou ainda como o pneuma, que é “sopro ardente”, ou seja, ar dotado de calor. O fogo, com efeito, é a origem de todo nascimento, crescimento e, em geral, de toda forma de vida. O logos é como o sêmem de todas as coisas. Uma fonte antiga diz: Os estoicos afirmam que Deus é inteligente, fogo artífice, que metodicamente procede a geração do cosmo e que inclui em si todas as razões seminais, segundo as quais as coisas são geradas segundo o fado (destino). Deus é [...] a razão seminal do cosmo.
A providência estoica afirma: nada tem a ver com a providência de um Deus pessoal. É o finalismo universal que faz com que cada coisa (mesmo a menor das coisas) seja feita como é bom e como é melhor que seja. É uma providência imanente e não transcendente, que coincide com o artífice imanente (o que pertence ao interior do ser), como a alma do mundo.
Segundo Sêneca (4 a.C.- 65 d.C.), fado, ou destino: “conduz quem quer e arrasta quem não quer”. Para os estoicos a alma sobrevive à morte do corpo, pelo menos por certo período; segundo alguns estoicos, as almas dos sábios sobrevivem até a próxima conflagração (guerra, conflito). Para os estoicos e epicuristas: “a felicidade se dá vivendo conforme a natureza”. O bem verdadeiro é a virtude e mal o vício.
     Pois bem, analisando os fundamentos filosóficos dessas três escolas já é possível perceber que o objetivo da filosofia é enaltecer a natureza e eliminar a ideia bíblica de que existe um Deus criador e mantenedor de toda ordem cosmológica. Suas conclusões filosóficas estão fundamentadas em Heráclito e no mundo das ideias de Platão. (grifo do autor) (REALE, Giovanni\ANTISERI, Dario. História da Filosofia, Antiguidade e Idade Média. V. I. Ed. Paulus, São Paulo).

Filósofo Isaías Correia Ribas