O neocriticismo é o retorno a Kant em busca de fundamentos sobre os
métodos e limites da ciência; pretendendo também combater o fetichismo
positivista do ‘fato’ e a ideia de ciência metafisicamente absoluta. Logo, o
neocriticismo é contrário a qualquer metafísica, tanto do tipo espiritualista
como idealista. Para o neocriticismo, a filosofia deve voltar a ser o que era
em Kant: análise das condições de validade da ciência e dos outros produtos
humanos, como a moral, a arte ou a religião. Assim, ao neokantiano não
interessam as situações de fato (psicológicas, institucionais ou econômicas)
que podem se entrelaçar com a produção e difusão de uma teoria científica: só
lhe interessa a validade da teoria, isto é, as condições dessa validade.
A escola de Marburgo
Principais expoentes hermeneutas-fenomenológos da filosofia crítica de
Marburgo: Hermann Cohen (1842-1918), Paul Natorp (1854-1924) e Ernest Cassirer
(1874-1945).
Hermann Cohen foi defensor de um socialismo não
materialista. A ciência, física matemática, assume papel de máxima importância
na concepção de Cohen; ele aceita a ciência como válida e concebe a filosofia
exatamente como estudo das condições de validade da ciência. Para os
positivistas o valor da ciência é um fato sagrado, absoluto e intocável. Em
suma, objetivo é o fato, objetiva é a sensação, isto é, o a posteriori. Cohen
retorna a Kant para subverter a concepção positivista. Como escreve ele em A teoria de Kant da experiência pura, o
fundamento da objetividade está no a priori. Portanto, a interpretação lógica
de Kant prevalece: a crítica é metodologia da ciência. É essa a condição para
que a filosofia conserve seu caráter rigoroso sem ceder às tentações da
metafísica idealista (que, segundo Cohen, reconduziu a filosofia à Idade
Média), das reduções psicologistas ou dos erros positivistas.
Paul Natorp, a exemplo de Cohen, afirma que a
filosofia não é a ciência das coisas: das coisas falam precisamente as
ciências, ao passo que a filosofia é a teoria do conhecimento. Natorp recorda a
frase do Fausto, de Goethe, “Im Anfang war die Tat” (“no princípio era a ação”)
e escreve: O processo e o método são tudo. Por conseguinte, o ‘fato’ da ciência
deve ser entendido somente como ‘fazer’. O que importa é o que se vai fazendo,
não o que é fato. Cohen, platônico, conclui: A ideia é ideal normativo.
Ernst Cassirer relaciona substância e função: os
conhecimentos matemático, geométrico, físico e químico não buscam o comum, isto
é, a substância, e sim a lei, a relação, isto é, a função. Em suma, o
desenvolvimento do pensamento científico nos leva a passar do conceito de
substância ao de função. Cassirer observa que as ciências progrediram porque se
matematizaram (na matemática não entra o conceito substância, senão o de
função): progrediram porque deixaram de buscar substâncias e voltaram-se à
busca de relações funcionais entre os objetos. As relações funcionais que
instituem e vinculam objetos do conhecimento científico é produto do
pensamento, que o torna “possível a priori”, estabelecendo suas condições de
possibilidade.
As formas simbólicas
Além de submeter às ciências à
análise filosófica, Cassirer pretendeu compreender o mundo por meio das formas
simbólicas como o mito, a arte, a linguagem e também o conhecimento. Somos nós
que plasmamos o mundo com nossa atividade simbólica, criando e fazendo mundos
de experiências, pois, o homem, além de viver a realidade, produz símbolos,
culturas, vamos além dos sinais comuns aos animais. A linguagem, o mito, a arte
e a religião são partes integrantes desse universo, os fios que constituem o
tecido simbólico, a intricada trama da experiência humana. Todo progresso no
campo do pensamento e da experiência fortalece e adensa essa rede. “Todas as funções se completam e se
integram mutuamente. Cada qual descerra novo horizonte e mostra novo aspecto da
humanidade. O dissonante está em harmonia consigo mesmo; os contrários não se
excluem reciprocamente, mas dependem um do outro; é a ‘harmonia no contraste,
como entre o plectro e a lira’.” Geovanni Reale/Dario Antiseri. História da filosofia. Vol.
III; pág. 446 – Paulus – São Paulo, 1991.
A filosofia é antropocentrismo puro. Os filósofos são preparados,
conscientes ou não, para dominar e influenciar a sociedade nos propósitos cognitivos-antropocêntricos.
Os religiosos, como instituições e pessoas dos dias atuais, têm sua fé abalada
pelo ensino filosófico imposto a todos os estudantes do ensino médio e superior.
A fé e a religião, segundo a visão filosófica, são apenas fenômenos universais
e necessários de controle, domínio e exploração. Analise o comportamento moral
e religioso dos atuais pretensos seguidores de Cristo, não há mais distinção
entre crentes e descrentes, todos buscam a unidade entre os dissonantes, os
contrários não se excluem, mas dependem um do outro, buscam a harmonia pelos
mesmos princípios filosóficos. Por ventura quando vier o filho do homem achará
fé na terra? Fé na palavra revelada e em seus ensinamentos? Por acaso
salvaram-se muitos no dilúvio e em Sodoma e Gomorra? Assim será também nos
últimos dias. Nesses dias finais nenhuma segurança institucional garantirá a
minha e sua salvação. Pessoas que exercitam a fé em Deus sob quaisquer circunstâncias
e seguem o Cordeiro serão selados, separados para a vida eterna. Pertencer a
uma igreja e por meio dela colaborar para a pregação do evangelho não tem
nenhum mal, mas isso não nos garante a salvação, então, é bom que cada um
compreenda o plano de salvação e seja um autêntico representante de Jesus nestes
últimos dias, pois a luta será indescritível. A saída é: além de conhecer o
plano de salvação, não subestime Satanás, ele conhece e é através do
conhecimento que ele está enganando a todos. A dissertação filosófica, de
propósito, é para filósofos. Embora a filosofia disserte sobre conceitos
populares, isto é, do senso comum, sua linguagem é idealista, transcendental,
tornando-se difícil para o leitor comum detectar seu verdadeiro propósito. 1º, O
conhecimento filosófico é antropocêntrico; 2°, a filosofia nasceu para
descartar e se possível, anular do consciente humano a ideia de um Deus criador
do universo. Nestes quase três mil anos essa batalha intelectual não foi fácil,
porém, nesses últimos dois séculos a filosofia está concretizando seu objetivo
primeiro, a saber, eliminar Deus e Seu plano de salvação do consciente da
humanidade, e ele, Satanás, está conseguindo seu objetivo, se possível for,
enganar os próprios escolhidos.
A escola de Baden
Expoentes mais prestigiosos e críticos foram Wilhelm Windelband
(1848-1915) e Heinrich Rickert (1863-1936). Ambos trataram também do
historicismo, no que se refere às suas reflexões sobre a fundação da história
como ciência. Veremos, a propósito, da filosofia
dos valores, que, embora sendo expoentes de primeiro plano do
neocriticismo, os diferencia, porém, da escola de Marburgo.
Windelband em seu retorno a Kant atribui à filosofia a
função de buscar os princípios a priori que garantem a validade do
conhecimento. Para Wildelband, a filosofia pesquisa se existe ciência, ou seja,
pensamento, que possua o valor de verdade com validade universal e necessária;
pesquisa se existe moral, isto é, valor e agir, que possua o valor de bem com
validade universal e necessária; pesquisa se existe arte, vale dizer, intuir e
sentir, que possua valor de beleza com validade universal e necessária. Em
todas essas três partes, a filosofia não se coloca diante de seus objetos como
faz as outras ciências que se colocam diante de seus objetos particulares, mas
sim, criticamente, isto é, de modo a comprovar o material objetivo do
pensamento, da vontade e do sentimento diante do objetivo da validade universal
e necessária e de modo a separar e rejeitar aquilo que não consegue passar por
essa prova. Então, conclui-se: a filosofia não tem por objetivo os juízos de
fato, mas valorativo do tipo, “esta coisa é verdadeira”, “esta coisa é boa”,
”esta coisa é bela”. E é assim que os valores – que têm precisamente validade
normativa – distinguem-se das leis naturais é a validade de Müssen, a validade
empírica de não poder ser de outro modo; a validade das normas ou valores é a
de Sollen, isto é, do dever ser.
Algumas afirmações de Wildelband: “Por meio das leis naturais nós
apreendemos os fatos, ao passo que segundo as normas devemos aprová-los ou
desaprová-los. A norma nunca é princípio de explicação, como, ademais, a lei
natural nunca é princípio de avaliação. O sol da necessidade natural brilha
igualmente sobre justo e injusto, mas a necessidade que percebemos na validade
das determinações lógicas, éticas e estéticas é necessidade ideal”.
Heinrich Rickert: conhecer é julgar
com base no valor de verdade.
Conhecer quer dizer julgar, isto é, aceitar ou rejeitar, aprovar ou
reprovar, o que implica no reconhecimento de um dever ser que está na base do
conhecimento. Negar o dever ser, isto é, a norma, equivaleria a ratificar a
impossibilidade de qualquer juízo, inclusive daquele que nega. Um juízo não é
verdadeiro porque expressa aquilo que é; pode-se afirmar muito mais que algo é
somente que o juízo que o expressa é verdadeiro por força de seu dever ser. E o
dever ser, isto é, os valores, ou seja, as normas são transcendentes em relação
às simples consciência empírica.
Filósofo Isaías Correia Ribas
Filósofo Isaías Correia Ribas
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA:
Giovanni Reale / Dario Antiseri.
História da filosofia, vol. III. Ed. PAULUS. São Paulo, 1986.