Granger, neste capítulo, “Filosofar Sobre a
Filosofia”, do livro: Por um Conhecimento filosófico, busca
mostrar-nos que esse esforço é fazer filosofia. Para isso faz sua argumentação
em quatro tópicos.
1)
Filosofar Sobre a Filosofia
2)
A Filosofia não é uma Ciência
3)
A Filosofia não é uma das Belas-Artes
4)
Como Determinar Critérios de Validade em Filosofia?
Filosofar sobre a filosofia
Para muitos, filosofar é andar em círculo,
como alguém que quer fugir da realidade. Porém, não esqueçamos que filosofar é
pensar, pensar o que é possível apreender do Universo pela observação,
construindo assim, um conhecimento geral-antropocêntrico. Pensar contrário a
isso só é possível aos que não pensão com o propósito de entender a vida e como
buscar meios para vivê-la melhor. Mesmo o pensar para a ciência, exige-se o
retrocesso, o (“andar em círculo”) não à gênese, mas até definir, cada um em sua
área, quando parar sem cometer erros. Logo, se para a ciência que busca o
conhecimento específico, baseado no empirismo (experiência), exige-se o rigor
metódico, quanto mais para a filosofia que tem a perspectiva do conhecimento
geral. Então, pensar sobre a filosofia metodicamente, é filosofar.
Não há “metafilosofia”. A filosofia é
“metadisciplina”. A metafísica seria “o estudo do método filosófico”, isso,
segundo alguns pensam e dão à filosofia o status de ciência. Mas, o objeto da
filosofia é a própria filosofia. Porém, entre os métodos científico e
filosófico há semelhanças, ambos são: exegéticos, hipotéticos, dedutivos,
interativos e cumulativos. Então, em relação à ciência, a filosofia pode ser
modos de conhecimentos válidos e verdadeiros, permanecendo irredutível e
insubstituível; pois ambas desenvolvem seu metaconhecimento, suas metodologias:
a ciência é empírica, baseia-se na experiência, e a base da filosofia é o
raciocínio lógico a priori, o que não depende da experiência, logo, razão pura.
Não se pretende provar como a ciência é
possível, mas reconhecer como é possível a filosofia ser um conhecimento
racional sem ser uma ciência e sem cair no transcendentalismo da razão. Os
dados filosóficos, considerados como sendo os fenômenos culturais de um tempo
histórico, produtos do pensamento de pessoas em ato, estão condicionados à
complexidade do meio, logo, é possível uma sociologia, uma psicologia e uma
história concreta dos fatos filosóficos. Tal conhecimento, quando alcançável,
seria um conhecimento científico. Porém, o propósito dessa pesquisa é mostrar
essa diferença entre ciência e filosofia. Para tanto, primeiro, veremos o que a
filosofia não é.
A filosofia não é uma ciência
Se partirmos de
uma visão escolástica, a filosofia seria a mais científica das ciências. Não
existe nenhuma regra linguística que se oponha a denominação de ciência à
produção filosófica. Toda produção racional é conhecimento, contudo, o
denominar ciência a essa produção, não tem a finalidade de causar um paradoxo e
nem de destruir a linha limite entre o cientificismo e a filosofia.
Previamente, parece-nos, que a filosofia distingue-se irremediavelmente dos
outros conhecimentos que têm o nome de ciência.
As ciências buscam construir modelos
abstratos dos fenômenos. Porém, nem todo conhecimento da natureza tem a capacidade
de representa-los, principalmente quando estes estão distante do vivido. Assim,
nem toda área do conhecimento “científico”, embora busque esse ideal, conseguem
tal status. A filosofia, ao contrário, nunca chegou a propor verdadeiros
modelos de fenômenos, pela simples razão de que este não pode ser seu objetivo.
Todos os que tentaram fracassaram, então, está aberta a vaga para esse gênio.
A filosofia, contrária às diversas
ciências, não pretende explicar “fatos”. Para a ciência não há uma definição
universal do “fato”. Então, o conhecimento científico limita-se a uma determinação
regional do “fato”, e este, está em constante evolução, porque a cada momento
histórico, cada ramo da ciência delimita a classe de “fato” que quer explicar
segundo os meios materiais e conceituais que possa dispor. Por contraste, a
filosofia diante de um “fato”, apenas indaga: o que é um “fato”? Mesmo que
algum filósofo determinasse a noção dum “fato”, não teria determinado “fato”
algum que pudesse explorar como faz os cientistas.
A filosofia não tem um objeto à análise. Não
há objetos filosóficos. A crença difundida de que a filosofia fala de tudo é
perfeitamente correta. O campo de aplicação de seu exercício é o conjunto da
experiência humana.
A filosofia não é uma das belas-artes
No subtítulo está claro: “a filosofia não
é uma das belas-artes”. Porém, muitos oponentes e adeptos invocam Platão,
Nietzsche e as vezes Bergson, como defensores de uma filosofia obra de arte,
mas, trata-se de erros de interpretação das obras filosóficas desses autores. A
arte apenas cria objetos. Há artes com suporte material (esculturas), e outras
criadas no tempo (a música), mas todas são obras concretas, criações de
artistas que as pensou e materializou-as. Uma das belas-artes que poderia
parecer filosófica seria a arte da linguagem como são as dos poetas e romancistas.
Porém, a filosofia não se utiliza da linguagem para criar diretamente
conceitos. A atividade do filósofo se aproxima mais do matemático, no entanto,
os conceitos filosóficos não produzem fenômenos sentimentais e nem imagens.
Logo, são irredutíveis aos de qualquer ciência, mesmo aos da matemática. Então,
se existe um conhecimento filosófico, este só pode se manifestar nas próprias
obras filosóficas.
Como determinar critérios de validade em filosofia?
A conclusão de Granger neste capítulo passa
a ideia de que a verdade possa ser corretamente aplicada em filosofia. Em
ciência sim, mesmo que essa verdade seja temporal, pois a mesma é passível de
verificação, certificação empírica, logo, possível ampliação. Então, as
verdades científicas são passíveis de evoluções clarificantes e significantes
dos conceitos.
Em filosofia não é
possível verificação empírica. As teses filosóficas não são provisórias, pois
as mesmas partem da perspectiva que o filósofo tem de sua própria experiência
com e do mundo. Assim sendo, tudo é válido em filosofia, ou quase tudo, é
justamente nesse quase que se encontra a gênese de toda atividade filosófica.
Em filosofia só é possível validade. Granger,
ciente de que sua argumentação neste capítulo não oferece uma resposta
plausível, termina-o com a indagação: Enfim, que é verdade, em filosofia? Como
outro mortal qualquer, suas proposições estão sob os critérios de validade e
verdade, logo, pode estar certo ou errado.
Particularmente não
concordo com algumas de suas afirmações, mas não vou explicitá-las porque o
espaço em páginas para esse trabalho de conclusão de disciplina é limitado. Porém,
em poucas linhas sintetizarei o que é validade e verdade em filosofia.
A verdade filosófica e
científica são verdades temporais, e não há como ser diferente, uma vez que seus
criadores são entes finitos, mortais. Então, a ideia de uma verdade absoluta e
dogmática está descartada. Uma das fontes de verdades absolutas é a bíblia. No
entanto, as verdades bíblicas são alvos de interpretações de diversas
instituições religiosas, essas, geralmente buscam submeter o que é absoluto à
visão do temporal; tais conclusões devem ser submetidas aos critérios de
verdades científico-filosóficas. Logo, as produções literárias antropocêntricas
são passíveis de críticas e análises filosóficas. Para Kant, Immanuel (1724-1804),
“a
metafísica não é possível como ciência, ele não tem dúvida alguma de que os
problemas que ela levanta são importantes e, inclusive, muito mais importantes
que os da física (ciência). Se os corpos caem a 9,8 ou 9,9 metros por
segundo nada muda, porém, muda muito se existe ou não existe Deus, [...]
Contudo, as questões colocadas pela metafísica não são para Kant unicamente
relevantes, elas são necessárias”.
Critérios de validade e verdade em
filosofia:
A validade lógica não implica,
necessariamente, uma verdade. Mas, às vezes, coincide que um argumento válido
possa ser verdadeiro; e, outras vezes, argumentos válidos podem ser falsos. Então,
toda proposição, ou afirmação, tem valor de verdade, podendo ser verdadeira ou
falsa. Mas de que verdade ou falsidade está-se falando? Da sentença, do afirmado
e escrito, nada mais que isso. A proposição chama-se, em lógica, premissa,
logo, as premissas podem ser falsas ou verdadeiras. Então, o que interessa à
filosofia é a validade e veracidade do raciocínio lógico e sua coerência.
Se as premissas de um enunciado são
verdadeiras, a conclusão certamente será verdadeira. Exemplo clássico: Todo
homem é mortal; Sócrates é homem. Logo, Sócrates é mortal. Todo
silogismo são compostos de duas premissas e uma conclusão. Na lógica Moderna
não há limites de premissas, porém, a regra é a mesma. Se entre milhares de
premissas verdadeiras houver uma falsa, todo argumento pode ser falacioso.
Exemplo de argumento válido
falacioso: Todo animal que come capim é uma vaca; o cavalo come capim. Logo, o
cavalo é uma vaca. Como verificar se esse argumento é verdadeiro ou
falso? Indo a um pasto e perceber que cavalo, apesar de comer capim, não é uma
vaca. E por que ele é válido? Por causa de sua estrutura lógica: a premissa
dois deriva da primeira e a conclusão dá-se dessa derivação. Então, quando se
busca a verdade lógica baseando-se apenas na validade do argumento, pode cair-se
em falácias. Advogados geralmente usam essa argumentação para defender os fora
da lei.
Só há uma condição para um argumento
ser inválido: Quando as premissas são verdadeiras e a conclusão for falsa.
As verdades absolutas e o juízo final
No dia do juízo, quem se salvará? Os
que guardam os mandamentos de Deus segundo estão na bíblia; aceitam a Jesus
como seu salvador pessoal e fazem o bem, esses, serão salvos. João, esposo de
Maria e pai de Francisco; guarda os mandamentos; faz o bem, mas não aceita a
Jesus como seu salvador. Logo, João está perdido. Maria só faz o bem. Logo,
Maria está perdida. Francisco guarda os mandamentos segundo as escrituras,
aceita a Jesus como seu salvador pessoal e faz o bem. Logo, Francisco será
salvo. Este argumento é válido e verdadeiro segundo sua estrutura
lógica. Quando a argumentação parte de verdades absolutas contidas na bíblia, é
fácil detectar as falácias religiosas e teológicas. Por isso Cristo não teve
problemas para rejeitar as instituições de seus dias. Como verificar a
veracidade desse argumento no presente mundo? Impossível, por isso, as atitudes
de fé devem ser verdadeiras, honestas. Segundo as verdades bíblicas, após o
juízo final não haverá outra oportunidade.
Filósofo Isaías Correia Ribas.