Pesquisar este blog

sexta-feira, 17 de maio de 2013

OS FILÓSOFOS E SUAS FRUSTRAÇÕES I



     A filosofia ocidental nasceu na Grécia antiga por volta do século VII a. C., para fundar um conhecimento desmistificado, logo, antropocêntrico. O conhecimento mítico e bíblico judaico, até então, eram os fundamentos que orientava todo conhecimento. Insatisfeitos com esse fundamento místico, os primeiros filósofos decidiram construir um conhecimento fundamentado na Physis (natureza), segundo as percepções sensíveis do homem, questionando assim, o politeísmo mítico-místico e o monoteísmo bíblico. Para tanto, iniciaram a busca de um elemento natural que fosse a causa de tudo o que existe na Terra, seja animados (que tem vida) e inanimados (que não tem vida).
Problemas fundamentais da filosofia antiga
     No começo, a totalidade do real era vista como Physis e como cosmos. Assim, o problema filosófico por excelência era a questão cosmológica. Os primeiros filósofos chamados precisamente de “físicos”, “naturalistas” ou cosmólogos, propuseram-se os seguintes problemas: Como surgiu o cosmos? Quais são as fases e os momentos de sua geração? Quais são as forças originárias que agem no processo?
O princípio de todas as coisas à luz da filosofia
     Tales de Mileto, da região jônica, viveu nas últimas décadas do século VII a primeira metade do VI a. C., além de filósofo, foi cientista político destacado. Foi o iniciador da filosofia da Physis, o primeiro a afirmar a existência de um princípio originário único, causa de todas as coisas que existem, sustentando que esse princípio é a água. Por princípio (arché), entende-se: a) a fonte de todas as coisas; b) a foz ou termo último de todas as coisas; c) o sustentáculo permanente que mantém todas as coisas (a “substância”, usando um termo posterior). Em suma, o “princípio” pode ser definido como aquilo do qual provêm, aquilo no qual se concluem e aquilo pelo qual existem e subsistem todas as coisas.
     Giovanni Reale, “Mas não se deve acreditar que a água de Tales seja o elemento físico-químico que bebemos. A água de Tales deve ser pensada em termos totalizantes, ou seja, como a Physis líquida originária da qual tudo deriva e da qual a água que bebemos é apenas uma das manifestações. Tales é “naturalista” no sentido antigo do termo e não “materialista” no sentido moderno e contemporâneo. Com efeito, a sua “água” coincidia com o divino: dizia ele que “Deus é a coisa mais antiga, porque incriada”, ou seja, porque princípio. Desse modo, se introduz no pensamento uma nova concepção de Deus: trata-se de uma concepção na qual predomina a razão, destinada, enquanto tal, a logo eliminar todos os deuses do politeísmo fantástico-poético dos gregos”.  
     “Com Tales, o logos humano rumou com segurança pelo caminho da conquista da realidade em seu todo (a questão do princípio de todas as coisas) e em algumas de suas partes (as que constituem o objeto as “ciências particulares”, como hoje as chamamos)”.
    Anaximandro de Mileto, provável discípulo de Tales, logo, seu contemporâneo, organizou um tratado sobre a natureza, dele chegou-nos um fragmento. Neste, percebe-se que a problemática do princípio se aprofundou: ele sustenta que a água já é algo derivado e que, ao contrário, o “princípio” (arché) é o infinito, ou seja, uma natureza (phiysis) infinita e in-definida da qual provêm todas as coisas que existem.
O que é privado de limites, Anaximandro denominou-o a-peiron. Assim sendo, esse princípio abarca, governa e sustenta todas as coisas, nele con-sistindo e sendo. Esse infinito parece com o divino, pois é imortal e indestrutível, logo, sustentador e governador de tudo.
     Anaxímenes de Mileto (VI a. C.), discípulo de Anaximandro, pensa que o “princípio” deve ser infinito, mas que deve ser pensado como ar infinito; substância aérea ilimitada. Exatamente como a "nossa alma", ou seja, o princípio que dá a vida, que é ar, se sustenta e se governa, assim também o sopro e o ar abarcam o cosmos inteiro, e mais, ele é sem forma e sem limites, diferente dos corpos, é invisível.
     Heráclito de Éfeso (VI e V a. C.) também escreveu um tratado sobre a natureza, deste chegou-nos vários fragmentos. Para ele, o fogo é o princípio fundamental, pois, à ação deste, tudo se transforma. Por isso, tudo está em movimento, são e não são concomitantemente. Tudo está no devir, destinado à contínua passagem de um contrário ao outro: Deus é dia-noite, é inverno verão, é guerra e paz, é saciedade e fome.
     Os pitagóricos atribuíram ao número o “princípio” de tudo.  Nenhum filósofo naturalista pensou a terra como o princípio de tudo. Chegaram a pensar na união de vários elementos, entre esses, a terra, para compor a argamassa como princípio de tudo.
     Nos dois séculos da filosofia da natureza, percebemos o embate filosófico para determinar a arché de todas as coisas naturais e cosmológicas, mas não passou de pretensões racionalistas, logo, o logos, a palavra ou o raciocínio lógico não passou de hipóteses para estabelecer o deus filosófico, que assumiria, se tudo desse certo, o lugar do Deus criador, segundo as escrituras bíblicas.
Porém, nem tudo foi perdido, dessa busca frustrada para estabelecer um deus à visão-lógica racional, fundou-se o princípio e o rigor que passou a orientar o espírito filosófico e científico.
A prova de que nada mudou com a investida filosófica naturalista é que, ainda hoje, a mitologia, o politeísmo, o misticismo e o monoteísmo bíblico estão vivos como nunca.
Filósofo Isaías Correia Ribas.