Folha (pesquisa-cientifica@uol.com.br) 10/03/2013; 08:18
Muitos têm uma visão demasiada sensível no tocante
à pessoa de Jesus Cristo.
O Próprio Jesus antagonizou esse paradigma ao declarar:
[...] Este povo
honra-me com os lábios, mas o seu coração está muito longe de mim. (Mateus 15: 8)
É notório a todo estudante de Teologia ou
ao singelo apreciador das Sagradas Escrituras que desde as invasões helênicas,
tendo como seu expoente maior a figura de Alexandre o Grande, a forma primitiva
de judaísmo elencado no Pentateuco fui esvaída em seu cerne. Os judeus
partidários de Alexandre abandonaram a proteção dos persas por entenderem que o
advento de Alexandre se coadunava com profecias que estavam assentadas ao livro
profético de Daniel. Flavio Josefo, historiador do primeiro século, e testemunha
ocular das celeradas facções judaicas contra o domínio romano. É honesto fazer
aventar que, por sua vez, tem valor de verdade por outros historiadores do
período. Veja alguns exemplos!
Saduceus:
[...] O
tempo exato do aparecimento dos saduceus como seita religiosa não é conhecido.
A primeira menção histórica deles por nome ocorre nos escritos de Josefo,
indicando que se opunham aos fariseus na última metade do segundo
século AEC. (Jewish Antiquities) [Antiguidades Judaicas], XIII, 293
[x, 6]) Josefo fornece também informações sobre os ensinos deles. Todavia,
há dúvida se a apresentação dele é inteiramente segundo os fatos. Dessemelhantes
dos fariseus, diz Josefo: os saduceus negavam os caprichos do destino,
sustentando que a própria pessoa, pelas suas ações, era a única responsável
pelo que lhe sobrevinha. (Jewish Antiquities, XIII, 172, 173 [v, 9])
Rejeitavam as muitas tradições orais observadas pelos fariseus e também a
crença farisaica na imortalidade da alma e em punições ou recompensas após a
morte. Nos seus tratos entre si, os saduceus eram um tanto rudes. Dizia-se que
eram litigiosos. Segundo Josefo, seus ensinos agradavam aos ricos.
— Jewish Antiquities, XIII, 298 (x, 6); XVIII, 16, 17
(i, 4); The Jewish War (A Guerra Judaica), II, 162-166 (viii, 14).
Fariseus:
[...] Destacada
seita religiosa do judaísmo, que existia no primeiro século EC. Segundo
alguns peritos, o nome significa literalmente “(Separados; Separatistas)”,
referindo-se talvez a se evitar impureza cerimonial ou a manter-se separado dos
gentios. Não se sabe com exatidão quando os fariseus tiveram início. Os
escritos do historiador judeu Josefo indicam que no tempo de João
Hircano I (da segunda metade do segundo século AEC) os fariseus já
constituíam um corpo influente. Josefo escreveu: “E sua influência é tão grande
junto às massas, que até mesmo quando falam contra um rei ou um sumo sacerdote,
imediatamente são cridos.” — Jewish Antiquities (Antiguidades Judaicas),
XIII, 288 (x, 5).
Josefo
fornece também pormenores sobre as crenças dos fariseus. Ele observa: “Eles creem
que almas têm poder de sobreviver à morte e que há recompensas e punições
debaixo da terra para os que levaram uma vida de virtude ou uma de vício:
encarceramento eterno é o destino das almas más, ao passo que as almas boas
recebem passagem fácil para uma nova vida.” (Jewish Antiquities, XVIII, 14
[i, 3]) “Eles sustentam que toda alma é imperecível, mas que só a alma dos
bons passa para outro corpo, ao passo que a alma dos iníquos sofre punição
eterna.” Sobre as ideias deles a respeito do destino ou da providência, Josefo
relata: “[Eles] atribuem tudo ao Destino e a Deus; acreditam que agir
corretamente ou de outro modo depende, na realidade, na maior parte dos homens,
mas que em cada ação o Destino coopera.” — The Jewish War (A Guerra
Judaica), II, 162, 163 (viii, 14).
Escribas:
[...]
Jesus declarou que os escribas, assim como os fariseus, haviam acrescentado
muitas coisas, tornando a Lei penosa para o povo cumprir, sobrecarregando as
pessoas. Além disso, como classe, eles não tinham genuíno amor às pessoas, nem
desejavam ajudá-las, não estando dispostos nem mesmo a mover um dedo para
aliviar as cargas sobre o povo. Gostavam das aclamações do povo e dos títulos
altissonantes. Sua religião era uma fachada, um rito, e eles eram hipócritas.
Jesus mostrou quão difícil sua atitude e suas práticas tinham tornado eles
obterem o favor de Deus, dizendo-lhes: “Serpentes, descendência de víboras,
como haveis de fugir do julgamento da Geena?” (Mat. 23: 1-33) Os escribas
tinham grande responsabilidade, porque conheciam a Lei. Mas, tiravam a chave do
conhecimento. Não se contentavam de negar-se a reconhecer Jesus, de quem as
cópias das Escrituras que usavam davam testemunho, mas aumentavam sua condição
repreensível por lutar implacavelmente para impedir que outros o reconhecessem,
sim, que escutassem Jesus. — Luc. 11: 52; Mat. 23: 13; João 5: 39; I Tim.
2: 14-16.
Os
escribas, como “rabis”, no seu cargo, não somente eram responsáveis pelo
desenvolvimento teorético da Lei e pelo ensino dela, mas tinham também
autoridade jurídica, proferindo sentenças nos tribunais de justiça. Havia escribas
na alta corte judaica, Sinédrio. (Mat. 26: 57; Mar. 15:1) Não deviam receber
nenhuma remuneração pelos julgamentos, porque a Lei proibia presentes ou
subornos. Alguns rabinos talvez tivessem herdado sua riqueza; quase todos
tinham um ofício, do qual se orgulhavam, por serem capazes de se sustentar à
parte do seu cargo rabínico. Embora não pudessem corretamente receber nada por
trabalharem como juízes, eles talvez esperassem receber e recebessem
remuneração por ensinar a Lei. Isto talvez possa ser inferido das palavras de
Jesus, quando advertiu as multidões sobre a ganância dos escribas, também
quando falou sobre o empregado que não se importava com as ovelhas. (Mar. 12: 37-40;
João 10: 12 e 13) Pedro advertiu os pastores cristãos contra tirarem lucro
do seu cargo. — I Ped. 5: 2 e 3.
Essa dita
sensibilidade não se coaduna com a personalidade de Jesus Cristo que abandonou
todo o tipo de invectivas e adulações para se tornar membro de alguma casta
dominante que supostamente ostentavam defender os interesses do povo simples da
Galileia e da Judéia.
Em suas
menções finais, poucos momentos de sua morte, Jesus vociferou contra toda
hipocrisia religiosa que figurava em seus dias.
Ele argumentou em termos claros:
[...]
Jesus falou então às multidões e aos seus discípulos, dizendo: “Os escribas e
os fariseus sentaram-se no assento de Moisés. Portanto, todas as coisas que
eles vos dizem, fazei e observai, mas não façais segundo as ações deles, pois
dizem, mas não realizam. Amarram cargas pesadas e as põem nos ombros dos
homens, mas eles mesmos não estão dispostos nem a movê-las com o dedo. Fazem
todas as suas obras para serem observados pelos homens; pois ampliam as suas
caixinhas [com textos], que usam como proteção, e alargam as orlas [de suas
vestes]. Gostam dos lugares mais destacados nas refeições noturnas e dos
primeiros assentos nas sinagogas, e dos cumprimentos nas feiras, e de ser
chamado Rabi pelos homens. Mas vós, não sejas chamado Rabi, pois um só é o vosso
instrutor, ao passo que todos vós sois irmãos. Além disso, não chameis a
ninguém na terra de vosso pai, pois um só é o vosso Pai, o Celestial.
Tampouco sejais chamados ‘líderes’, pois o vosso Líder é um só, o
Cristo. Mas o maior dentre vós tem de ser o vosso ministro. Quem se
enaltecer, será humilhado, e quem se humilhar, será enaltecido.
[...]
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque fechais o reino dos céus
diante dos homens; pois, vós mesmos não entrais, nem deixais entrar os que
estão em caminho para entrar”. “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas”! Por
que percorreis o mar e a terra seca para fazer um prosélito, e, quando se torna
tal, fazeis dele objeto para a Geena duas vezes mais do que vós mesmos”? “Ai
de vós, guias cegos, que dizeis: ‘Se alguém jurar pelo templo, isto não é nada;
mas, se alguém jurar pelo ouro do templo, ele está sob obrigação.’ Tolos
e cegos! O que, de fato, é maior, o ouro ou o templo que santifica o ouro?
Também: ‘Se alguém jurar pelo altar, isso não é nada; mas, se alguém
jurar pela dádiva nele, ele está sob obrigação.’ Cegos! O que, de fato, é
maior, a dádiva ou o altar que santifica a dádiva? Portanto, quem jurar
pelo altar, está jurando por ele e por todas as coisas sobre ele; e quem
jurar pelo templo, está jurando por ele e por aquele que habita nele; e quem
jurar pelo céu, está jurando pelo trono de Deus e por aquele que está sentado
nele. “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque dais o décimo
da hortelã, e do endro, e do cominho, mas desconsiderastes os assuntos mais
importantes da Lei, a saber, a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Estas
eram as coisas obrigatórias a fazer, sem, contudo, desconsiderar as
outras. Guias cegos, que coais o mosquito, mas engolis o camelo! “Ai de
vós, escribas e fariseus, hipócritas”! Porque limpais por fora o copo e o
prato, mas por dentro estão cheios de saque e de intemperança. Fariseu cego,
limpa primeiro por dentro o copo e o prato, para que também por fora se torne
limpo. “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas”! Porque vos assemelhais a
sepulcros caiados, que por fora, deveras, parecem belos, mas que por dentro
estão cheios de ossos de mortos e de toda sorte de impureza. Do mesmo
modo, vós também, deveras, pareceis por fora justos aos homens, mas por dentro
estais cheios de hipocrisia e do que é contra a lei”. “Ai de vós, escribas e
fariseus, hipócritas”! Porque construís os sepulcros dos profetas e decorais os
túmulos memoriais dos justos, 30 e dizeis: ‘Se nós estivéssemos nos dias
de nossos antepassados, não seríamos parceiros deles no sangue dos profetas.’
Portanto dais testemunho contra vós mesmos de que sois filhos daqueles que
assassinaram os profetas. Pois bem, enchei a medida de vossos
antepassados. “Serpentes, descendência de víboras, como haveis de fugir do
julgamento da Geena? Por esta razão eu vos estou enviando profetas, e
sábios, e instrutores públicos. A alguns deles matareis e pregareis em estacas,
e a outros deles açoitareis nas vossas sinagogas e perseguireis de cidade em
cidade; para que venha sobre vós todo o sangue justo derramado na terra, desde
o sangue do justo Abel até o sangue de Zacarias, filho de Baraquías, a quem
assassinastes entre o santuário e o altar. Deveras, eu vos digo: Todas
essas coisas virão sobre esta geração. “Jerusalém, Jerusalém, matadora dos
profetas e apedrejadora dos que lhe são enviados — quantas vezes quis eu
ajuntar os teus filhos, assim como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo
de suas asas”! “Mas vós não o quisestes. Eis que a vossa casa vos fica
abandonada”. (Mateus 23: 1: 38)
Essa
minha argumentação não tem por fito regimentar um antissemitismo estupido,
tacanho e ordinário que se arrolou durante milênios ao longo da historia
eclesiástica e, mais recentemente, pelo fervor descabido por protestantes.
Os apontamentos feitos mostram em um imperativo categórico que Jesus se
absteve de qualquer ranço politico dos seus dias. E, portanto, é perfeitamente
possível que um homem ordenado possa se abster desse mesmo alvitre virulento
que contamina e oxida todo o tecido da fé e da caridade cristã.
[...] O
Sinédrio era o supremo tribunal judaico. Estava situado em Jerusalém. Este
supremo tribunal constituía-se de 71 membros e era chamado de Grande Sinédrio.
Na época do ministério terrestre de Jesus, os 71 membros incluíam o sumo
sacerdote e outros que haviam detido o cargo de sumo sacerdote (é possível que
vários destes ainda vivessem numa mesma época, pois o cargo, sob o governo
romano, passara a ser ocupado por nomeação). Também incluía membros das
famílias dos sumos sacerdotes, anciãos, chefes de tribos e de famílias, e escribas,
homens versados na Lei. (Atos 4: 5 e 6) Tais homens eram membros das
seitas dos fariseus e dos saduceus. — Atos 23: 6.
As
premissas históricas dão conta que Jesus não quis fazer parte de uma elite
corrupta e nociva aos interesses dos mais pobres. É inconcebível imaginar
conceber Jesus Cristo, portando uma bandeira de cunho partidário das múltiplas
facções politicas e religiosas de seus dias. O sinédrio- corte judaica de 71
membros- ao vilipendiar a Cristo com seus escárnios pejorativos e tendenciosos
era sabedor da resolução de Jesus frente a tantas disparidades politicas e
religiosas.
[...] No
ínterim, os principais sacerdotes e todo o Sinédrio estavam procurando
testemunho contra Jesus, para o entregarem à morte, mas não encontravam nenhum.
Muitos, de fato, davam testemunho falso contra ele, mas os seus
testemunhos não estavam em acordo. (Marcos 14: 55-56)
[...]
Consequentemente, os principais sacerdotes e os fariseus ajuntaram o Sinédrio e
começaram a dizer: “Que devemos fazer, visto que este homem realiza muitos
sinais? Se o deixarmos assim, todos depositarão fé nele, e virão os romanos e
tirarão tanto o nosso lugar como a nossa nação.” Mas um deles, Caifás, que
era sumo sacerdote naquele ano, disse-lhes: “Vós não sabeis nada e não
deduzis logicamente que é para o vosso proveito que um só homem morra a favor
do povo e não que toda a nação seja destruída.” Isto, porém, não dizia de
sua própria iniciativa; mas, porque era sumo sacerdote naquele ano, profetizava
que Jesus estava destinado a morrer pela nação, e não só pela nação, mas, a fim
de que os filhos de Deus, que se acham espalhados, fossem também por ele ajuntados
numa unidade. Portanto, daquele dia em diante deliberaram matá-lo. (João
11: 47-53)
[...]
Naquela ocasião, portanto, Pilatos tomou Jesus e o açoitou. E os soldados
trançaram uma coroa de espinhos e a puseram na cabeça dele, e vestiram-no com
uma roupa exterior de púrpura; e começaram a chegar-se a ele e a dizer: “Bom
dia, ó Rei dos judeus!” Davam-lhe também bofetadas. (João 19:1-3)
Curiosidade:
Todos os
envolvidos no processo fraudulento que levou a condenação e morte de Jesus
Cristo tiveram julgamentos adversos pelas autoridades romanas. Punição Divina?
Deixo que a subjetividade e o livre-arbítrio de cada leitor responda a si essa questão.
[...]
Escritores judeus, tais como Filo, retratam Pilatos como homem inflexível e
arrogante. (The Embassy to Gaius, XXXVIII, 301) No entanto, é possível que as
ações dos próprios judeus fossem grandemente responsáveis pelas fortes medidas
tomadas pelo governador contra eles. Seja como for, os Evangelhos fornecem
certa medida exata do perfil de tal homem. Sua maneira de enfocar os assuntos
era típica dum governante romano, com sua linguagem sucinta e direta.
Exteriorizando a atitude céptica dum cínico, como ao dizer: “Que é verdade?”,
Pilatos, não obstante, mostrou temor, provavelmente do tipo supersticioso, ao
ouvir dizer que estava lidando com alguém que dizia ser filho de Deus. Embora
obviamente não fosse do tipo aquiescente, ele demonstrava a falta de
integridade dum político. Preocupava-se primariamente com a sua posição, com o
que diriam seus superiores se ouvissem falar de distúrbios adicionais em sua
província, receando parecer leniente demais para com os acusados de sedição.
Pilatos reconheceu a inocência de Jesus e a inveja que motivava seus
acusadores. Todavia, cedeu aos desejos da multidão e entregou-lhes uma vítima
inocente para que fosse morta, em vez de arriscar-se a prejudicar a sua
carreira política.
[...] Josefo
relata que Pilatos foi posteriormente removido do cargo em resultado de queixas
apresentadas pelos samaritanos ao superior imediato de Pilatos, o governador da
Síria, Vitélio. A queixa foi de que Pilatos matara vários samaritanos, que
haviam sido iludidos por um impostor a se reunirem no monte Gerizim, na
esperança de descobrirem tesouros sagrados, supostamente escondidos ali por
Moisés. Vitélio ordenou que Pilatos fosse a Roma, para apresentar-se perante
Tibério, e colocou Marcelo em seu lugar. Tibério morreu em 37 EC, enquanto
Pilatos se dirigia a Roma. (Jewish Antiquities, XVIII, 85-87 [iv, 1];
XVIII, 88, 89 [iv, 2]) A história não fornece dados confiáveis a respeito
dos resultados finais do seu julgamento. O historiador Eusébio, de fins do
terceiro e início do quarto século, diz que Pilatos viu-se obrigado a
suicidar-se durante o reinado de Caio (Calígula), sucessor de Tibério.
— The Ecclesiastical History (A História Eclesiástica), II, VII,
Atenciosamente,
"E você corre e corre atrás do sol, mas ele está se pondo. Fazendo
a volta para nascer outra vez atrás de você, de uma maneira relativa o sol é o
mesmo, mas você está mais velho. Com menos fôlego e um dia mais perto da
morte”...