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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

MITOS E UTOPIAS; PERSPECTIVAS DO NADA.


          “Mito (gr. mythos: narrativa, lenda) 1. Narrativa lendária, pertencente à tradição cultural de um povo, que explica através do apelo ao sobrenatural, ao divino e ao misterioso, a origem do universo, o funcionamento da natureza e a origem e os valores básicos do próprio povo. Ex.: o mito de Ísis e Osíres, o mito de Prometeu etc. O surgimento do pensamento filosófico-científico na Grécia antiga (séc. VI a.C.) é visto como uma ruptura com o pensamento mítico, já que a realidade passa a ser explicada a partir da consideração da natureza pela própria, a qual pode ser conhecida racionalmente pelo homem, podendo essa explicação ser objeto de crítica e reformulação; daí a oposição tradicional entre mito e *logos.
          2. Por extensão, crença não justificada, comumente aceita e que, no entanto, pode e deve ser questionada do ponto de vista filosófico. Ex.: o mito da neutralidade científica, o mito do bom selvagem, o mito da superioridade da raça branca etc. a crítica ao mito, nesse sentido, produziria uma desmistificação dessas crenças.
          3. Discurso alegórico que visa transmitir uma doutrina através de uma representação simbólica. Ex.: o mito ou alegoria da caverna e o mito do sol, na República de Platão. Ver caverna, alegoria da.
          Utopia 1. Termo criado por tomas *Morus em sua obra Utopia (1516), significando literalmente “lugar nenhum” (gr. ou: negação, topos: lugar), para designar uma ilha perfeita onde existia uma sociedade imaginária na qual todos os cidadãos seriam iguais e viveriam em harmonia. A alegoria de Tomas Morus serviu de contraponto através do qual ele criticou a sociedade de sua época, formulando um ideal político-social inspirado nos princípios do humanismo renascentista.
          2. Em sentido mais amplo, designa todo projeto de uma sociedade ideal perfeita. O termo adquire um sentido pejorativo ao se considerar esse ideal como irrealizável e portanto fantasioso. Por outro lado, possui um sentido positivo quando se defende que esse ideal contém o germe do progresso social e da transformação da sociedade. No período moderno são formuladas várias utopias como as de *Campanella e*Fourier”. (DICIONÁRIO BÁSICO DE FILOSOFIA; HILTON JAPIASSÚ/ DANILO MARCONDES; Ed. ZAHAR. RIO DE JANEIRO 2008).
          Santo Agostinho (1354-1430) criou duas utopias: a cidade dos homens e a cidade de deus; ironicamente, o bairro onde está instalada a sede administrativa do banco Bradesco na cidade de Osasco, SP, recebeu o nome cidade de deus.
          É prática nas universidades fazer os graduandos pensar que idealizar utopias e mitos continua sendo a saída para criar perspectivas para a sociedade; por isso, ainda hoje, mestres e doutores debruçam-se sobre livros à busca de conhecimento para manter viva essa mentira social. Parece que os doutos, presos em seus gabinetes e egos, vivem num mundo à parte da atual realidade do poder da mídia, que, à velocidade nunca vista, desmistifica a massa em pouco tempo; o progresso que demorava cem anos a partir do renascimento, atualmente dá-se em quatro dias.
Outro engano utópico é a prática da péssima educação do ensino público para manter a exploração dos pobres e desafortunados, prática estendida aos religiosos e donos das escolas privadas que enriquecem na exploração da educação daqueles que podem comprá-la, marginalizando os pobres. Se o ministério da educação e secretarias não mudar suas políticas para o ensino público, e fazer com que as instituições educacionais particulares se interessem mais pela educação dos pobres que querem estudar, todos, independentemente de boa ou má educação, estão, através da mídia popular se conscientizando que foram, por séculos e milênios, apenas massa de manobra em benefício dessa elite espertalhona, que continua entendendo que podem manter essa prática sem sofrer consequência alguma; enganam-se, todos os seguimentos sociais estão em busca das “benesses” capitalistas, e vão a qualquer custo tentar desfrutar da lógica consumista que embala o mundo, nem que para isso tenham que aderir ao engano, aliar-se ao narcotráfico, desafiar o Estado legal, roubar e matar. Estamos assistindo e sendo alvos dessa nova lógica onde, não apenas as elites políticas, religiosos e ricos de modo geral vivem da exploração, mas, todos os seguimentos sociais querem e agem na mesma lógica de desconsideração pelo outro. Isto é, a lei do mais “forte e/ou esperto” vai dominar.
O “pensador” brasileiro está sendo formado, direcionado a reproduzir o discurso dos alienadores e dominadores do passado, toda sua formação é engessada para aliená-lo de uma leitura pessoal, nova, revolucionária; é a superestrutura acadêmica a serviço da alienação dos graduandos, mestres e doutores. Assim sendo, a massa popular continuará à mercê das elites escravocratas, todo descendente de estrangeiro que aqui nasce é brasileiro nato, porém, se chega ao poder e continua nesse ideal, tem índole escravocrata, e se insistirem nesse ideal do engano o século XXI vai ser turbulento. Logo, a barbárie instalar-se-á.
Pensam as elites que podem initerruptamente enganar a todos através do assistencialismo barato, mendicante, e o natal é o marco histórico do engano, da mentira; durante 364 dias do ano exploramos e ignoramos o outro, e queremos em apenas um dia sob o manto de um espirito religioso apagar todos os nossos pecados, “acalmar a consciência”, mas mesmo assim, aos embalos sentimentais do Papai-Noel, exploramos o máximo o pobre para arrancar dele o 13º salário, para que este continue serviçal, dependente. Para mim, o Natal deveria comemorar o dia mundial da hipocrisia.
Nietzsche (1844-1900) indaga: “como poderia algo nascer do seu oposto? Por exemplo, a verdade do erro? Ou a vontade de verdade da vontade de engano? Ou a ação desinteressada do egoísmo? Ou a pura e radiante contemplação do sábio da concupiscência? Semelhante gênese é impossível; quem com ela sonha é um tolo, ou algo pior; as coisas de valor mais elevado devem ter uma origem que seja outra, *própria__ não podem derivar desse fugaz, enganador, sedutor, mesquinho mundo, desse turbilhão de insânia e cobiça! Devem vir do seio do ser, do intransitório, do deus oculto, da *“coisa em si” __ nisso e nada mais, deve estar sua causa!” (FRIEDRICH NIETZSCHE__ Além do bem e do mal__ Companhia De Bolso_ SP- 2007). Aforismo 02.
          A Microfísica do Poder de Michel Foucault (1926-1984): judiciário, legislativo, partidos políticos, universidades, gestão escolar, ministérios, secretarias, autarquias, igrejas católicas e protestantes, espíritas e outras seitas ocultas, o próprio crime organizado, o comércio, a indústria, o sistema bancário [...] são o que dá sustentabilidade ao poder político central. Com o apoio dessa rede estendida, a sociedade pode ser boa ou má, justa ou injusta, altruísta ou egoísta, então, tudo depende do comportamento humano. Será? Se assim fosse haveria sociedades perfeitas, mas como toda organização social é imperfeita, exploradora do outro, seu semelhante; fica comprovado que não estamos sozinhos nesse planeta, mas forças opostas lutam para o bem ou para o mal, logo, Deus e Satanás existem e são suas influências sobre os homens que faz com que nossas atitudes sejam boas ou más. Então, amigo leitor, nossas atitudes diz a quem servimos, de quem somos ferramentas de Deus ou do Diabo.
          Quando a elite dominadora vai entender que, de premissas falaciosas não se chega à verdade; que nem todo discurso, por ser lógico é verdadeiro, pode até ser válido, mas o que é válido nem sempre é verdadeiro, então, se a antiga perspectiva utópica, mítica e mística continuar sendo a lógica para a evolução da sociedade, começou, a pesar da evolução cognitiva e tecnológica, o regresso à ignorância Medieval, com um diferencial: a massa não é passiva. A sociedade mundial está alicerçada sobre a mentira política, teológica, filosófica e técnica, logo, é impossível chegar à verdade, à honestidade, à justiça e ao altruísmo. Então, se assim continuarem os místicos, os mitológicos-utópicos-políticos, os cristãos, outros religiosos e ateus; temos que concordar com a máxima nietzschiana: “é melhor querer o nada a nada querer”.

Filósofo e professor Isaías Correia Ribas.