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segunda-feira, 16 de novembro de 2015

RACIONALISMO FRANCÊS ISLÂMICO X BÍBLIA



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O Homem e a Ciência

Do nascimento da filosofia e seu espírito crítico, até os dias atuais, muita coisa aconteceu nesses dois mil e seiscentos de críticas à nação e ao conhecimento teocêntrico até então estabelecidos por Deus. Estamos, nesta pesquisa, nos dias do rei de Babilônia, Nabucodonosor. Nesta época ele invade Jerusalém, capital do reino dos judeus, destrói a cidade, o templo construído por Salomão e leva os judeus cativos para Babilônia.
O Império babilônico e os feitos de Nabucodonosor coincidem com o nascimento da filosofia, VI-V a. C., os filósofos surgem para construir outros fundamentos para o conhecimento; porém, para isso se concretizar, a que destruir toda epistemologia construída em nome de Deus e dos deuses. O que interessava ao espírito filosófico era encontrar fundamentos naturais para a gênese do cosmo e da vida no planeta Terra isentos de fé e crenças. Então, coube a filosofia esse desafio. Porém, antes de entrarmos nesse antagonismo entre filosofia e bíblia, é bom entendermos os fundamentos sobre os quais a filosofia e posteriormente a ciência se sustentariam para criticarem e, se possível fosse, anular o poder de Deus e da fé na mente humana, formando uma sociedade cética; onde, crentes e ateus, por caminhos diversos, se enquadrariam em nome do conhecimento aos ideais antropocêntricos. São três os passos que os pesquisadores dão para estabelecer o conhecimento formal: a priori, empírico e a posteriori.  
Primeiro passo
A priori (antes da experiência). “É aquele conhecimento que não pode ser adequada e suficientemente fundado na experiência” (PORTA). O princípio se dá através de uma opinião (doxa); em seguida, a opinião gera suposições e desconfianças que se dão na concretização de uma hipótese que desencadeia vários problemas que precisam de respostas. Assim, as hipóteses alcança o status de tese (teoria) que precisam ser justificadas. Feito isto através de argumentos consistentes, que justifique investimentos, recebe-se autorização, tempo e verbas da comunidade política e científica para buscar respostas positivas ou negativas às hipóteses e seus problemas.  
O princípio básico que rege a explicação da possibilidade do conhecimento a priori é que o sujeito só pode conhecer a priori aquilo que ele “produz” e que, em consequência, depende dele de algum modo ou, na perspectiva inversa, que o sujeito não pode conhecer a priori aquilo que não dependa dele de modo algum. (PORTA. A Filosofia a Partir de seus Problemas. p, 124)
A filosofia é a fundadora do conhecimento antropocêntrico. Mas, para ter sucesso em estabelecer o antropocentrismo filosófico teriam que destruir os fundamentos do teocentrismo que norteava todo comportamento das sociedades até então estabelecidas. O fundamento do conhecimento absoluto se dá através do monoteísmo bíblico, a mesma bíblia esclarece que seu opositor é o politeísmo que surgira através daqueles que não se enquadravam nos ideais monoteístas. Logo, Deus e seu opositor Satanás se sustentavam através dessas duas culturas antagônicas. No primeiro período filosófico os filósofos da natureza queriam encontrar um elemento natural que fosse a origem da vida e do cosmo; porém, após duzentos anos de busca seus ideais não de concretizou frustrando-os. Diante disso, o segundo desafio passou a ser eliminar as pessoas de Deus e Satanás dessa trama antagônica que definia quem se enquadrava nos princípios divinos e nos satânicos. Logo, toda teoria do conhecimento antropocêntrico, tem, entre outros objetivos, negar a existência literal de Deus e Satanás.
Antes da filosofia, o conhecimento teocêntrico se dava entre a palavra e o objeto referido, era objetivo. Com os primeiros filósofos da natureza tentou-se negar o teocentrismo analisando a natureza, isto é, que o fundamento do conhecimento antropocêntrico também fosse objetivo. Porém, tal objetividade não foi possível, pois, não encontraram nenhum elemento natural que fosse definido como gênese da vida e do universo; assim, com Heráclito e Parmênides, as intensões filosóficas se voltam à análise da palavra, onde, algumas obtiveram o status de conceito; possibilitando-lhes ir além dos objetos concretos através da dialética abstrata, discurso metafísico; ou seja, as criações mentais passaram a representar realidades objetivas e conceitos vazios de significado literal. Pois, a criação do conceito possibilitou-lhes a ampliação do movimento epistemológico; onde, além de apreender o objeto ou a coisa, através da razão pura criaram aritmética, geometria, álgebra e sistemas filosóficos passíveis de comprovação empírica e lógica. As primeiras palavras a perderem a objetividade e passar à categoria de conceitos filosóficos foram o ser e a alma que alcançaram o status de seres metafísicos, passando a ser o fundamento dos primeiros sistemas filosóficos.       
Principais filósofos metafísico-céticos
          Após o debate entre Heráclito e Parmênides sobre o ser e o não ser, a virada do objetivo para o subjetivo-metafísico aconteceu. Nesse contexto aparece Sócrates exigindo daqueles que diziam saber, clareza nos discursos e na definição conceitual: ele questionou os deuses, defendeu a existência de um único Deus originador da moral que deveria ser internalizada pelos políticos e cidadãos comuns de Atenas e tentou conscientizar os jovens da falsidade do politeísmo grego; por isso o condenaram à morte. Futuramente Platão, enquanto fugia da mesma condenação de seu mestre, aprendera com os pitagóricos, os babilônios, os assírios e os egípcios outros conhecimentos, novos deuses e novos modos de cultuá-los. De volta à Atenas fundou sua Academia, primeira universidade a difundir os novos ideais filosóficos com relação às ciências exatas dos pitagóricos, suas crenças na imortalidade da alma e suas próprias criações filosóficas, como: O mundo das ideias e a alegoria da Caverna que tinha o deus sol como o supremo bem. Para os babilônios e assírios o deus sol chamava-se Shamash, e para os egípcios, Rá, a luz suprema, o verdadeiro bem, e ele, Platão, o iluminado que saíra da caverna das ilusões mundanas, guiaria a todos à realidade do mundo das ideias, das formas perfeitas, onde, através do pensamento poderia contemplar o supremo bem; no entanto, “não percebera” que, com seus ideais metafísicos ampliava a caverna da ignorância religiosa. Aristóteles, seu principal discípulo percebera o engano de seu mestre, questionou suas conclusões redirecionando a sociedade à verdadeira realidade das substâncias, onde, o homem de ciência eficiente a transformaria em seu benefício desprovido de ilusões religiosas.
Com os filósofos maniqueístas, os fundamentos antropocêntricos estavam definidos: o bem Deus, e o mal, Satanás, perderam suas personalidades sendo apenas luz e trevas, forças antagônicas que sustentam a harmonia universal. Com Santo Agostinho, o neoplatonismo e o maniqueísmo se fundem à teologia de Paulo fazendo os cristãos medievais, através do absolutismo da igreja Católica Apostólica Romana fechar-se dentro da caverna da ignorância religiosa, política e epistemológica por mil anos. Porém, novamente Aristóteles se agiganta diante irracionalidade religiosa medieval que chegara ao Ocidente através dos orientais muçulmanos que, através de Santo Tomás de Aquino põe fim a Idade Média e seus abusos religiosos e políticos; onde, a sociedade medieval é retirada da caverna platônica agostiniana.
          Com René Descartes e sua teoria do conhecimento, através do Método, o cientificismo começa se desvincular da metafísica vinculando-se ao sujeito que pensa, é o renascimento da teoria do conhecimento antropocêntrico. Logo, com o francês René Descartes, mesmo sendo um metafísico, a transição metafísica para o racionalismo científico-filosófico renasce. E, com o Neerlandês Baruch Spinoza, o capitalismo passa a ser o bem; onde, bem é o útil e o mal o que impede sua utilidade; portanto, livre é aquele que busca o bem e evita a mal. Daí, deduz-se que, com Spinoza a ganância capitalista, a escravidão e a exploração generalizada adotada pelos que detêm o poder e o capital fora justificada.
          O escocês David Hume critica a existência da substância eu de Descartes; pois, não há na natureza nenhuma substância que impacte a mente do sujeito pensante, para, através da experiência chegar-se ao conhecimento, logo, o eu que pensa continua sendo objeto de crença. Hume, através de sua teoria do conhecimento leva os pensadores a deduzir que Deus não existe além de um conceito vazio de significado literal, pois, não há nada na natureza como sendo a substância Deus para dele derivarmos o conhecimento, seja a priori ou empírico; logo, segundo o ceticismo de Hume, Deus não existe.
          Com a teoria do esclarecimento ou iluminismo de Immanuel Kant; da coisa em si, ou seja, de Deus como substância primeira, nada podemos deduzir a priori e empiricamente, logo, Deus é apenas um conceito destituído de qualquer significado literal. Isto é, se ele existe, existe apenas como conceito. E, com o alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), que teve sua filosofia rejeitada em sua terra natal, encontrou nos ideais franceses um terreno fértil à divulgação de suas ideias céticas para todo o Ocidente. O niilismo construído a partir da frustração religiosa de Guilherme Miller e os protestantes da época foi sua inspiração para a elaboração da filosofia da desconstrução, onde, segundo dedução do próprio Nietzsche, tudo que fora construído pelo antropocentrismo filosófico-político-e-religiosos até o presente como sendo verdade, representa a arquitetura da mentira. Para Nietzsche, esta vida é o único momento que os homens e mulheres têm para viver intensamente, pois, segundo suas conclusões, a vida no além, ou seja, o plano de salvação contido na bíblia é uma utopia; logo, leis e morais religiosas que buscam orientar o comportamento humano devem ser ignoradas. Nietzsche se arrisca a profetizar a vinda de super-homens, onde, pessoas ousadas, na categoria de ateus, religiosos e políticos, viveriam além do bem e do mal metafísico; isto é, princípios morais, éticos e religiosos nada significariam para eles. Então, as causas das degradações morais, éticas, políticas, religiosas e a crescente criminalidade da sociedade contemporânea em todo o planeta Terra, se dão porque o Deus bíblico não existe mais como meio de salvação e Satanás da perdição. Logo, deduz-se que Satanás, em nome do ateísmo filosófico, do fanatismo religioso e da política está conduzindo a maioria da população mundial a ter o mesmo fim que ele, a perdição eterna.  
Segundo passo
Empírico, método de análise prático; além dos sentidos, meio imediato de comprovar ou negar afirmações, há o empirismo científico, onde, através de equipamentos de precisão, amplia-se a capacidade de análise sobre o que está sendo pesquisando. Em um segundo momento, dependendo do que se está produzindo, aplica-se o produto para verificar sua eficácia, isto é, se na prática, acontece segundo a tese levantada. Neste segundo passo toda opinião e desconfianças hipotéticas têm que passar pelo crivo da experiência aplicada. Isto é, na prática, são feitas simulações várias vezes para garantir que as conclusões sejam ou não, verdadeiras. Nesta fase, opiniões e hipóteses não têm nenhum valor de verdade. Caso as opiniões e hipóteses passem pelo crivo empírico, deixam o campo das opiniões hipotéticas passando para o campo epistêmico, conhecimento cientificamente comprovado.
Segundo Kant, existem dois tipos de conhecimento: o empírico e o a priori. Conhecimento empírico é aquele que se “funda” na experiência. Entendemos por experiência um conhecimento baseado, em última instância, nos sentidos. Se eu dissesse agora que esta parede é branca, isto seria um conhecimento empírico, pois a verdade desta minha afirmação está suficiente fundada nos dados que os sentidos me proporcionam. Para saber se o que eu digo é verdade, a única coisa a ser feita é olhar para a parede. Conhecimento a priori é aquele conhecimento que não pode ser adequada e suficientemente fundado na experiência. (Ibid, p, 110)
          De modo simples, empirismo é o caminho para se chagar a verdade ou negá-la. O empirismo se dá por um caminho de duas mãos, o sensível e o científico. O sensível é o uso dos sentidos sem auxílio de instrumentos técnicos para conferir o que foi afirmado. (se digo que esta parede é branca, basta olhar para conferir, se afirmo que esta fruta é azeda, basta experimentá-la para comprovar, enfim, tudo que depende apenas dos sentidos pode-se afirmar ou negar de imediato). O empirismo científico é mais complexo, é o uso de instrumentos para auxiliar os sentidos; por isso, com a invenção de uma simples luneta foi o suficiente para derrubar conclusões falaciosas sobre nosso sistema solar, com a invenção do microscópio foi possível conhecer o universo dos micro-organismos, tornando possível a fabricação de vacinas e outros remédios para combater doenças que assolam milhares de pessoas, com o desenvolvimento dos telescópios o universo continua sendo desvelado. Muitos aparelhos de precisam foram inventados para auxiliar o homem na busca e ampliação do conhecimento como seu aferimento, confirmando ou negando opiniões e teses hipotéticas.
Terceiro passo
A posteriori ou após a experiência. Assim, terminada a fase empírica, o cientista tem condições de dizer a verdade sobre a opinião e desconfiança inicial negando ou confirmando a hipótese. Logo, toda opinião hipotética não comprovada empiricamente, seja lá por que motivo for, continua sendo apenas opiniões hipotéticas, pois, não atingiu o status epistêmico, conhecimento cientificamente comprovado.

A distinção fundamental entre os dois caminhos está em que, no primeiro, o homem se deixa conduzir apenas pela razão e é então levado à evidência de que “o que é, é – e não pode deixar de ser” (primeira formulação explícita do princípio lógico-ontológico de identidade). Já na segunda via, “os mortais de duas cabeças”, pelo fato de atentarem para os dados empíricos, as informações dos sentidos, não chegariam ao desenvolvimento da verdade (aletheia) e à certeza, permanecendo no nível instável das opiniões e das convenções de linguagem. (PARMÊNIDES. Os Pensadores. Pré-Socráticos, p. XXVI)

Filósofo Isaías Correia Ribas