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O Homem e a Ciência
Do nascimento da filosofia e seu
espírito crítico, até os dias atuais, muita coisa aconteceu nesses dois mil e
seiscentos de críticas à nação e ao conhecimento teocêntrico até então
estabelecidos por Deus. Estamos, nesta pesquisa, nos dias do rei de Babilônia,
Nabucodonosor. Nesta época ele invade Jerusalém, capital do reino dos judeus,
destrói a cidade, o templo construído por Salomão e leva os judeus cativos para
Babilônia.
O Império babilônico e os feitos de
Nabucodonosor coincidem com o nascimento da filosofia, VI-V a. C., os filósofos
surgem para construir outros fundamentos para o conhecimento; porém, para isso
se concretizar, a que destruir toda epistemologia construída em nome de Deus e
dos deuses. O que interessava ao espírito filosófico era encontrar fundamentos naturais
para a gênese do cosmo e da vida no planeta Terra isentos de fé e crenças. Então,
coube a filosofia esse desafio. Porém, antes de entrarmos nesse antagonismo
entre filosofia e bíblia, é bom entendermos os fundamentos sobre os quais a filosofia
e posteriormente a ciência se sustentariam para criticarem e, se possível fosse,
anular o poder de Deus e da fé na mente humana, formando uma sociedade cética;
onde, crentes e ateus, por caminhos diversos, se enquadrariam em nome do
conhecimento aos ideais antropocêntricos. São três os passos que os pesquisadores
dão para estabelecer o conhecimento formal: a
priori, empírico e a posteriori.
Primeiro passo
A priori (antes da experiência). “É
aquele conhecimento que não pode ser adequada e suficientemente fundado na
experiência” (PORTA). O princípio se dá através de uma opinião (doxa); em seguida,
a opinião gera suposições e desconfianças que se dão na concretização de uma
hipótese que desencadeia vários problemas que precisam de respostas. Assim, as hipóteses
alcança o status de tese (teoria) que precisam ser justificadas. Feito isto
através de argumentos consistentes, que justifique investimentos, recebe-se
autorização, tempo e verbas da comunidade política e científica para buscar
respostas positivas ou negativas às hipóteses e seus problemas.
O princípio básico que rege a
explicação da possibilidade do conhecimento a priori é que o sujeito só pode
conhecer a priori aquilo que ele “produz” e que, em consequência, depende dele
de algum modo ou, na perspectiva inversa, que o sujeito não pode conhecer a priori
aquilo que não dependa dele de modo algum. (PORTA. A Filosofia a Partir de seus
Problemas. p, 124)
A filosofia é a fundadora do
conhecimento antropocêntrico. Mas, para ter sucesso em estabelecer o
antropocentrismo filosófico teriam que destruir os fundamentos do teocentrismo
que norteava todo comportamento das sociedades até então estabelecidas. O
fundamento do conhecimento absoluto se dá através do monoteísmo bíblico, a
mesma bíblia esclarece que seu opositor é o politeísmo que surgira através
daqueles que não se enquadravam nos ideais monoteístas. Logo, Deus e seu
opositor Satanás se sustentavam através dessas duas culturas antagônicas. No
primeiro período filosófico os filósofos da natureza queriam encontrar um
elemento natural que fosse a origem da vida e do cosmo; porém, após duzentos
anos de busca seus ideais não de concretizou frustrando-os. Diante disso, o
segundo desafio passou a ser eliminar as pessoas de Deus e Satanás dessa trama
antagônica que definia quem se enquadrava nos princípios divinos e nos
satânicos. Logo, toda teoria do conhecimento antropocêntrico, tem, entre outros
objetivos, negar a existência literal de Deus e Satanás.
Antes da filosofia, o conhecimento teocêntrico
se dava entre a palavra e o objeto referido, era objetivo. Com os primeiros
filósofos da natureza tentou-se negar o teocentrismo analisando a natureza, isto
é, que o fundamento do conhecimento antropocêntrico também fosse objetivo.
Porém, tal objetividade não foi possível, pois, não encontraram nenhum elemento
natural que fosse definido como gênese da vida e do universo; assim, com
Heráclito e Parmênides, as intensões filosóficas se voltam à análise da palavra,
onde, algumas obtiveram o status de conceito;
possibilitando-lhes ir além dos objetos concretos através da dialética abstrata,
discurso metafísico; ou seja, as criações mentais passaram a representar
realidades objetivas e conceitos vazios de significado literal. Pois, a criação
do conceito possibilitou-lhes a ampliação do movimento epistemológico; onde,
além de apreender o objeto ou a coisa, através da razão pura criaram aritmética,
geometria, álgebra e sistemas filosóficos passíveis de comprovação empírica e lógica.
As primeiras palavras a perderem a objetividade e passar à categoria de
conceitos filosóficos foram o ser
e a alma que alcançaram o
status de seres metafísicos, passando a ser o fundamento dos primeiros sistemas
filosóficos.
Principais filósofos
metafísico-céticos
Após o
debate entre Heráclito e Parmênides sobre o ser e o não ser, a virada do
objetivo para o subjetivo-metafísico aconteceu. Nesse contexto aparece Sócrates
exigindo daqueles que diziam saber, clareza nos discursos e na definição
conceitual: ele questionou os deuses, defendeu a existência de um único Deus
originador da moral que deveria ser internalizada pelos políticos e cidadãos
comuns de Atenas e tentou conscientizar os jovens da falsidade do politeísmo
grego; por isso o condenaram à morte. Futuramente Platão, enquanto fugia da
mesma condenação de seu mestre, aprendera com os pitagóricos, os babilônios, os
assírios e os egípcios outros conhecimentos, novos deuses e novos modos de
cultuá-los. De volta à Atenas fundou sua Academia, primeira universidade a
difundir os novos ideais filosóficos com relação às ciências exatas dos
pitagóricos, suas crenças na imortalidade da alma e suas próprias criações filosóficas,
como: O mundo das ideias e a alegoria da Caverna que tinha o deus sol como o
supremo bem. Para os babilônios e assírios o deus sol chamava-se Shamash, e para
os egípcios, Rá, a luz suprema, o verdadeiro bem, e ele, Platão, o iluminado que
saíra da caverna das ilusões mundanas, guiaria a todos à realidade do mundo das
ideias, das formas perfeitas, onde, através do pensamento poderia contemplar o supremo
bem; no entanto, “não percebera” que, com seus ideais metafísicos ampliava a
caverna da ignorância religiosa. Aristóteles, seu principal discípulo percebera
o engano de seu mestre, questionou suas conclusões redirecionando a sociedade à
verdadeira realidade das substâncias, onde, o homem de ciência eficiente a
transformaria em seu benefício desprovido de ilusões religiosas.
Com os filósofos maniqueístas, os fundamentos
antropocêntricos estavam definidos: o bem Deus, e o mal, Satanás, perderam suas
personalidades sendo apenas luz e trevas, forças antagônicas que sustentam a
harmonia universal. Com Santo Agostinho, o neoplatonismo e o maniqueísmo se
fundem à teologia de Paulo fazendo os cristãos medievais, através do
absolutismo da igreja Católica Apostólica Romana fechar-se dentro da caverna da
ignorância religiosa, política e epistemológica por mil anos. Porém, novamente
Aristóteles se agiganta diante irracionalidade religiosa medieval que chegara
ao Ocidente através dos orientais muçulmanos que, através de Santo Tomás de
Aquino põe fim a Idade Média e seus abusos religiosos e políticos; onde, a sociedade
medieval é retirada da caverna platônica agostiniana.
Com René
Descartes e sua teoria do conhecimento, através do Método, o cientificismo começa se desvincular da metafísica
vinculando-se ao sujeito que pensa, é o renascimento da teoria do conhecimento
antropocêntrico. Logo, com o francês René Descartes, mesmo sendo um metafísico,
a transição metafísica para o racionalismo científico-filosófico renasce. E, com
o Neerlandês Baruch Spinoza, o capitalismo passa a ser o bem; onde, bem é o útil e o mal o que impede sua utilidade;
portanto, livre é aquele que busca o bem
e evita a mal. Daí, deduz-se
que, com Spinoza a ganância capitalista, a escravidão e a exploração
generalizada adotada pelos que detêm o poder e o capital fora justificada.
O escocês
David Hume critica a existência da substância eu de Descartes; pois, não há na
natureza nenhuma substância que impacte a mente do sujeito pensante, para,
através da experiência chegar-se ao conhecimento, logo, o eu que pensa continua
sendo objeto de crença. Hume, através de sua teoria do conhecimento leva os
pensadores a deduzir que Deus não existe além de um conceito vazio de
significado literal, pois, não há nada na natureza como sendo a substância Deus
para dele derivarmos o conhecimento, seja a priori ou empírico; logo, segundo o
ceticismo de Hume, Deus não existe.
Com a
teoria do esclarecimento ou iluminismo de Immanuel Kant; da coisa em si, ou
seja, de Deus como substância primeira, nada podemos deduzir a priori e
empiricamente, logo, Deus é apenas um conceito destituído de qualquer
significado literal. Isto é, se ele existe, existe apenas como conceito. E, com
o alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), que teve sua filosofia rejeitada em
sua terra natal, encontrou nos ideais franceses um terreno fértil à divulgação
de suas ideias céticas para todo o Ocidente. O niilismo construído a partir da
frustração religiosa de Guilherme Miller e os protestantes da época foi sua
inspiração para a elaboração da filosofia da desconstrução, onde, segundo
dedução do próprio Nietzsche, tudo que fora construído pelo antropocentrismo
filosófico-político-e-religiosos até o presente como sendo verdade, representa
a arquitetura da mentira. Para Nietzsche, esta vida é o único momento que os
homens e mulheres têm para viver intensamente, pois, segundo suas conclusões, a
vida no além, ou seja, o plano de salvação contido na bíblia é uma utopia;
logo, leis e morais religiosas que buscam orientar o comportamento humano devem
ser ignoradas. Nietzsche se arrisca a profetizar a vinda de super-homens, onde,
pessoas ousadas, na categoria de ateus, religiosos e políticos, viveriam além
do bem e do mal metafísico; isto é, princípios morais, éticos e religiosos nada
significariam para eles. Então, as causas das degradações morais, éticas,
políticas, religiosas e a crescente criminalidade da sociedade contemporânea em
todo o planeta Terra, se dão porque o Deus bíblico não existe mais como meio de
salvação e Satanás da perdição. Logo, deduz-se que Satanás, em nome do ateísmo
filosófico, do fanatismo religioso e da política está conduzindo a maioria da
população mundial a ter o mesmo fim que ele, a perdição eterna.
Segundo passo
Empírico, método de análise prático;
além dos sentidos, meio imediato de comprovar ou negar afirmações, há o
empirismo científico, onde, através de equipamentos de precisão, amplia-se a
capacidade de análise sobre o que está sendo pesquisando. Em um segundo
momento, dependendo do que se está produzindo, aplica-se o produto para verificar
sua eficácia, isto é, se na prática, acontece segundo a tese levantada. Neste
segundo passo toda opinião e desconfianças hipotéticas têm que passar pelo
crivo da experiência aplicada. Isto é, na prática, são feitas simulações várias
vezes para garantir que as conclusões sejam ou não, verdadeiras. Nesta fase,
opiniões e hipóteses não têm nenhum valor de verdade. Caso as opiniões e
hipóteses passem pelo crivo empírico, deixam o campo das opiniões hipotéticas
passando para o campo epistêmico, conhecimento cientificamente comprovado.
Segundo Kant, existem dois tipos de
conhecimento: o empírico e o a priori. Conhecimento empírico é aquele que se “funda” na
experiência. Entendemos por experiência um
conhecimento baseado, em última instância, nos sentidos. Se eu dissesse agora
que esta parede é branca, isto seria um conhecimento empírico, pois a verdade
desta minha afirmação está suficiente fundada nos dados que os sentidos me
proporcionam. Para saber se o que eu digo é verdade, a única coisa a ser feita
é olhar para a parede. Conhecimento a priori é aquele conhecimento que não pode ser adequada e suficientemente
fundado na experiência. (Ibid, p, 110)
De modo
simples, empirismo é o caminho para se chagar a verdade ou negá-la. O empirismo
se dá por um caminho de duas mãos, o sensível e o científico. O sensível é o
uso dos sentidos sem auxílio de instrumentos técnicos para conferir o que foi
afirmado. (se digo que esta parede é branca, basta olhar para conferir, se
afirmo que esta fruta é azeda, basta experimentá-la para comprovar, enfim, tudo
que depende apenas dos sentidos pode-se afirmar ou negar de imediato). O
empirismo científico é mais complexo, é o uso de instrumentos para auxiliar os
sentidos; por isso, com a invenção de uma simples luneta foi o suficiente para
derrubar conclusões falaciosas sobre nosso sistema solar, com a invenção do
microscópio foi possível conhecer o universo dos micro-organismos, tornando
possível a fabricação de vacinas e outros remédios para combater doenças que
assolam milhares de pessoas, com o desenvolvimento dos telescópios o universo
continua sendo desvelado. Muitos aparelhos de precisam foram inventados para
auxiliar o homem na busca e ampliação do conhecimento como seu aferimento,
confirmando ou negando opiniões e teses hipotéticas.
Terceiro passo
A posteriori ou após a experiência.
Assim, terminada a fase empírica, o cientista tem condições de dizer a verdade
sobre a opinião e desconfiança inicial negando ou confirmando a hipótese. Logo,
toda opinião hipotética não comprovada empiricamente, seja lá por que motivo
for, continua sendo apenas opiniões hipotéticas, pois, não atingiu o status
epistêmico, conhecimento cientificamente comprovado.
A
distinção fundamental entre os dois caminhos está em que, no primeiro, o homem
se deixa conduzir apenas pela razão e é então levado à evidência de que “o que
é, é – e não pode deixar de ser” (primeira formulação explícita do princípio
lógico-ontológico de identidade). Já na segunda via, “os mortais de duas
cabeças”, pelo fato de atentarem para os dados empíricos, as informações dos
sentidos, não chegariam ao desenvolvimento da verdade (aletheia) e à certeza,
permanecendo no nível instável das opiniões e das convenções de linguagem.
(PARMÊNIDES. Os Pensadores. Pré-Socráticos, p. XXVI)
Filósofo Isaías Correia Ribas