Pesquisar este blog

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

ESCOLÁSTICA E O NASCIMENTO DAS UNIVERSIDADES OCIDENTAIS


     
     Escolástica é um movimento epistêmico responsável pelo nascimento de universidades em várias regiões do planeta. A Patrística (escola dos padres) estava fundamentada na fusão da filosofia de Platão e a dos maniqueístas que Santo Agostinho fundira com os escritos de Paulo compondo, assim, a teologia medieval; já, a Escolástica, nasceu fundamentada na filosofia científica de Aristóteles e outros pensadores gregos. No ano 800 d. C., os árabes, estudando Aristóteles e outros filósofos gregos possibilitou-lhes a criação de escolas superiores, as universidades para o mundo Islâmico do Oriente Médio. Entre os séculos XI e XIII com as cruzadas militares (guerra santa) de caráter parcialmente cristão, que partira da Europa Ocidental com objetivo de colocar a terra santa (Palestina e Jerusalém) que eram controladas pelos turcos muçulmanos, sob a soberania dos cristãos, foi a responsável pelo movimento de pessoas entre o Oriente Médio e o Ocidente europeu da época. Nesse contexto, através dos filósofos Avicena (980-1037) e Averroes (1126-1198), a filosofia de Aristóteles e outros pensadores gregos chegaram ao Ocidente europeu.   
Esse precioso legado chegou à Europa cristã por meio de um complexo intercâmbio cultural, que as Cruzadas favoreceram em vez de dificultar. Foi ele que revitalizou o pensamento europeu e, direta ou indiretamente, criou condições para a intensa fermentação intelectual e espiritual do século XIII, ei que brilharam as figuras de Francisco de Assis e São Boaventura, Robert Grosseteste e Roger Bacon, Alberto Magno, e Tomás de Aquino, Raimundo Lúlio e Mestre Eckhart. Quase quatrocentos anos depois, a revolução científica do século XVII, que deu à luz a ciência moderna, foi fruto tardio, e um tanto desvirtuado, dessa exuberante árvore do conhecimento. (ARANTES. O maior perigo do Islã: não conhecê-lo, p. 68)
     Conhecendo a filosofia de Aristóteles, Tomás de Aquino (1221-1247), fez com que a Escolástica se agigantasse diante da Patrística medieval platônica de Santo Agostinho. Das críticas de Tomás e outros, desencadeou o espírito renascentista humanista na Itália do século XIV; derrubando o domínio da igreja medieval pondo o fim a Idade Média no século XV; dando início à reforma Protestante do século XVI; possibilitando a Revolução científica do século XVII e o racionalismo iluminista do XVIII; tendo a França como a nação mais cética, aquela que procurou mobilizar a razão a fim de reformar a sociedade e o conhecimento herdado da cultura medieval, acabando com várias tendências através do conhecimento da natureza a fim de torná-la útil ao homem moderno e progressista, promovendo o intercâmbio intelectual, indo contra a intolerância da igreja e do Estado; onde, vários príncipes governistas tentaram impor as ideias dos filósofos iluministas Baruch Spinoza (1632-1704), John Locke (1632-1704), Pierre Bayle (1647-1706) e o matemático Isaac Newton (1643-1727) aos governos. O grande centro iluminista aconteceu na França que culminou com a edição da enciclopédia (1751- 1772) editada por Denis Diderot (1713-1784) com a contribuição de centenas de outros líderes filosóficos. A teoria da evolução do inglês Charles Darwin (1809- 1882) é a expressão máxima do ceticismo ou ateísmo que busca, ainda hoje, desqualificar o criacionismo bíblico.
O iluminismo representa a saída dos seres humanos de uma tutelagem que estes mesmos se impuseram a si. Tutelados são aqueles que se encontram incapazes de fazer uso da própria razão independentemente da direção de outrem. É-se culpado da própria tutelagem quando esta resulta não de uma deficiência do entendimento, mas da falta de resolução e coragem para se fazer uso do entendimento independentemente da direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem para fazer uso da tua própria razão! - esse é o lema do iluminismo. (KANT, Immanuel, 1724-1804)
Filosofia e os protestantes
     O espírito crítico filosófico ao medievalismo fez nascer o espírito protestante, foram os de dentro da própria igreja Católica Apostólica Romana, agora, conhecedores de outras ideias além das de Platão e Santo Agostinho que denunciaram os abusos que a igreja praticava em nome de Deus e do Estado. Da pena desses doutores escolásticos surgem as teologias protestantes que os príncipes europeus abraçaram para reformar os novos Estados ou nações que nasciam da queda do domínio da igreja medieval. O que devemos perceber é, que, essa nova postura filosófica protestante surgira dentro de um ideal religioso-político capitalista, contrário à exploração totalitária da igreja medieval que valorizava a pobreza dos plebeus como meio de alcançar o perdão e salvação da alma, logo, o que estava mudando era o modo de exploração, onde, cada indivíduo, fazendo uso de sua inteligência estava livre para explorar o outro em nome do acúmulo de capital particular, nesse embalo, algumas nações preferiram seguir o modelo medieval de exploração através do Estado, são as nações socialistas, que defendiam a utopia de um Estado comunista. Logo, o protestantismo que surgira não estava preocupado em enaltecer os escritos bíblicos que foram alterados ou desqualificados pela igreja medieval como meios de ser fiel a Deus, alcançando assim, a salvação prometida aos fiéis, pois, a única mudança que os protestantes fizeram em sua teologia referia-se à adoração de imagens de esculturas e a venda de indulgências ou perdão dos pecados e nada mais; os outros princípios bíblicos continuaram sendo transgredidos segundo as interpretações e orientações da igreja medieval.  
Filósofos fundadores do protestantismo tradicional
     João Calvino, Ulrich Zwingli, John Huss, Jerônimo de Praga, John Wycliffe, Guilherme Farel, Teodoro de Beza, John Knox, entre tantos outros, culminando com Martinho Lutero. Logo, o protestantismo primitivo ou tradicional fora fundado por filósofos conhecedores da patrística e da Escolástica, a bíblia, para eles, não era a regra de fé cristã, mas os princípios filosóficos fundamentados em algumas citações paulinas como fizera Santo Agostinho.
     Há milhares de denominações religiosas existentes atualmente; elas são derivadas das tradicionais, isso acontece quando membros mais espertos abandona a igreja criando  uma nova, como se fosse uma empresa onde se negocia com a boa fé do outro; isso, sem falar no movimento pentecostal que seguem a mesma lógica, não valorizar os escritos bíblicos, fazendo da fé e de Deus um grande negócio como fez e faz a igreja medieval.
    A religiosidade voltada às práticas de todos os ensinamentos bíblicos se deu com o deísta Guilherme Miller (1782-1849) que desafiara os escritos bíblicos como sendo revelação de Deus, pois, como deísta, não encontrara a paz e esperança além da morte; caso a bíblia fosse revelação divina suas desesperanças teriam fim; com esse intuito começara examinar a bíblia sistematicamente, tornando-se  o principal personagem contemporâneo que fez da bíblia o único livro como regra de fé que nos conduz à salvação por meio de Jesus Cristo. Foi este o homem que interpretara as profecias de Daniel que haviam sido seladas desde o século VI antes de Cristo e, que, seriam interpretadas e compreendidas no início do fim dos tempos. Juntamente com o mesmo espírito de Miller, Deus suscitou o espírito de profecia dado à jovem Ellen Gould Harmon/White (1827-1915) que aceitara o chamado divino de redirecionar os novos religiosos aos escritos bíblicos como um todo, sendo o norteador do comportamento cristão segundo a vontade divina, isto é, destituídos dos ideais políticos e filosóficos que até então dominara a religiosidade dos povos.    
      Desse contexto, em 1863 foi organizada a igreja Adventista do Sétimo Dia que adotara toda bíblia como orientadora de suas práticas religiosas e o Espírito de Profecia dado à Ellen G. White como revelação divina que ajudaria a nova igreja a se apegar aos escritos bíblicos como única regra de fé e prática enquanto se prega a proximidade da segunda vinda de Cristo para pôr fim à lógica do pecado que domina e destrói o que há de bom no ser humano, levando-o a se autodestruir através das práticas contrárias aos conselhos bíblicos e do Espírito de Profecia. No entanto, nem por isso, os adventistas estão isentos de cair nas mesmas estratégias do astuto inimigo de Cristo, Satanás, com sua arte de enganar, principalmente em nome do conhecimento filosófico-científico-religioso. Do meio dos adventistas já surgiram os fanáticos adventistas da reforma e os liberais adventistas da promessa.
      Através da Andrews University, a igreja Adventista do Sétimo Dia abriu suas portas à entrada dos ideais do racionalismo que sempre destruiu os ideais bíblicos através do conhecimento antropocêntrico. O método utilizado pela filosofia é o da dúvida, pois esta, uma vez posta na mente do indivíduo, a própria dúvida se encarrega de corromper qualquer princípio contrário aos ideais antropocêntricos. Logo, não é por acaso o declínio religioso no meio dos adventistas que preferem se assemelhar ao mundanismo que agir contrário, assim, novas divisões dentro da igreja não estão descartados, até porque, com a televisão, as divergências de ideias e comportamentos, chegam rapidamente a todos, é o caso da nova semente que contrata artistas que não têm nenhuma ligação com a fé adventista para fazer shows em seu templo para tornar-se popular, e do caixa de música que banaliza os princípios bíblicos da postura cristã aos se apresentar como cristãos que não fazem mais distinções entre trajes mundanos e cristãos; é claro que os adventistas tradicionais vão se levantar contra essa banalização da fé dos pioneiros. Será que a fé dos pioneiros era utópica ou são as novas condutas antropocêntricas que, através das universidades estão sendo utópicas? Mas nada disso é surpresa aos que conhecem a bíblia e o Espírito de Profecia que, deixa claro que tudo está acontecendo segundo está profetizado, onde, próximo aos últimos dias, o verdadeiro espírito dos que buscam a salvação se levantarão contra a banalização do sagrado, terminando a obra em alto clamor, enaltecendo as práticas bíblicas como única regra de fé sem as ilusões do racionalismo acadêmico que chegara à igreja que se tornara morna. À medida que abandonam o ideal dos pioneiros que tinham como única regra de fé os escritos bíblicos e conselhos do Espírito de Profecia, a modéstia cristã apresentada através dos trajes cristãos fora substituída pelos que se assemelham ao mundanismo; como se Deus dependesse desses subterfúgios para terminar sua obra e atrair pessoas à verdade eterna. Creio que, especialmente aqueles que vivem do evangelho, ao apresentar a mensagem falada ou cantada através dos meios de comunicação deve se vestir à altura de um representante de Cristo e não da moda mundana.


Filósofo Isaías Correia Ribas