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domingo, 14 de dezembro de 2014

A VERDADE E O CAOS


     É comum ouvirmos a afirmação: “a verdade não existe”.  Mas como isso é possível se a filosofia, desde os gregos até o fim da Idade Média sempre estiveram em busca da verdade? Temos também a afirmação “científica-filosófica” sobre a origem da vida e do universo baseadas em algumas hipóteses cosmológicas aparentemente indubitáveis. Ah! Não posso esquecer dos pastores, padres e outros religiosos que, de pronto se lembram de uma citação bíblica dizendo: Está escrito no livro M, capítulo N, versículo P, isto é isto e aquilo é aquilo, é a palavra de Deus, confirmada pelos profetas e apóstolos, assim, não podemos duvidar, é a verdade! Outros mais cuidadosos fundamentam suas falas, está escrito no livro X do Dr. Y que a verdade sobre as origens se deu assim e assado, segundo a teoria defendida pelo pesquisador X ou Y. Mas mesmo diante de todos esses detentores da verdade, o povo em geral demonstra não confiar mais nas conclusões desses defensores, dizendo em alto e bom som: “A verdade não existe”. Nas últimas décadas, para o senso comum e estudantes graduandos que reproduzem as falas de seus professores sem nenhum questionamento, esse jargão está se firmando como verdade absoluta. A questão é, por que essa dúvida só acontece com o conceito “verdade”? Vamos desfazer esse mito ou ditado de que a verdade não existe refletindo e pondo-a em questão. Primeiro, para todo existir conceitual, tem que haver seu opositor, seu amigo/inimigo antagônico; então, se não existe a verdade, a mentira também não existe. No entanto, a mentira existe. Logo, se a mentira existe, é necessário que a verdade exista. Assim sendo, a verdade existe. A segunda questão para entendermos a origem deste problema é perguntar, de que verdade estamos falando? Este é o X da questão. A verdade é um conceito que abrange todos os mundos. Tanto o mundo natural, este que existe independente da vontade humana, quanto o mundo estabelecido pelos homens e animais irracionais. Então, o conceito de verdade não é um conceito simples, mas composto, e, como tal, é complexo. Quando uma pessoa é honesta, ela diz a verdade. Porém, se alguém duvida da verdade dita por essa pessoa, é possível, por meio de investigações, comprovar se essa pessoa disse ou não a verdade; uma vez confirmada a veracidade do dito, a verdade existe. Então, entende-se que a verdade com relação ao mundo estabelecido, é passível de ser verificada, comprovando-a ou negando-a. Logo, tanto a verdade como a mentira existem, como existem também a pessoa verdadeira e a mentirosa.
     As causas do problema sobre a verdade são as generalizações, isto é, quando generalizamos, não separamos os alhos dos bugalhos; aí, saímos falando besteiras, posando de intelectual, quando, na verdade, a ignorância reina em nosso modo de pensar. Esse jargão, “a verdade não existe”, é uma conclusão precipitada sobre as origens da vida no planeta Terra e do cosmos (ordem universal). Por ser muito antiga essa intriga das origens entre religiosos e opositores, o povo, por generalização, prefere viver sem a expectativa sobre essa verdade. Pois, todas as hipóteses levantadas para investiga-la, e os bilhões de dólares investidos sem nenhuma conclusão, induz-nos todos a duvidar da capacidade do homem e seus meios para dizer-nos a verdade sobre, principalmente, a origem das diversas formas vida na Terra. Por isso, o ditado popular, “a verdade não existe”. Assim, mantém-se até hoje a intriga sobre as afirmações bíblicas de que tudo fora criado e é mantido por um Deus Onipotente, Onisciente e Onipresente e as afirmações do poeta Hesíodo (VIII a.C.) que afirmara em seu mito Caos, que este, o próprio Caos, é o originador de tudo. A filosofia, a ciência e as artes, partem da premissa de que o Mito de Hesíodo seja o fundamento verdadeiro para justificar tantos investimentos financeiros, intelectuais, científicos e filosóficos em busca da verdade cosmológica. Como já afirmei a cima, esses três mil anos é muito tempo para questionar e investigar sem chegar a nenhuma conclusão ratificada pelo racionalismo. Por isso esse descrédito na capacidade do homem desprovido de fé chegar à verdade das origens. Logo, entende-se, que a verdade sobre as origens existe. E ela existe porque a existência de tudo é patente aos nossos sentidos. Assim, até o presente, crentes e ateus agem pela fé; a diferença está no axioma que fundamentam suas premissas, em um Deus Criador ou em um mito.
 Daniel, Nabucodonosor e seus sonhos
     No capítulo dois do livro de Daniel temos o sonho que sonhara Nabucodonosor e no capítulo oito registra um dos sonhos de Daniel. Ambos os sonhos têm o mesmo significado. Segundo a bíblia, são sonhos dados por Deus para revelar aos habitantes do planeta Terra a sucessão de reinos de Babilônia até a segunda volta de Cristo. Os sonhos impressionaram tanto o rei Nabucodonosor quanto o cativo Daniel, ambos ficaram atônitos diante ao que sonharam e os dois buscaram entender aqueles aparentes enigmas. Pela fé, através da oração, Daniel buscara respostas em Deus e Este O atendeu confortando o rei e ele. A estátua presente no sonho de Nabucodonosor estava dividida em, cabeça de ouro que representava o reino de Babilônia; o peito e os braços de prata simbolizavam o futuro reino dos Medos e Persas; o ventre e as coxas de bronze eram uma alusão ao reino da Grécia conquistado pelo macedônio Alexandre Magno; as pernas de ferro refere-se ao poderio de Rama Pagã; e os pés em parte de barro e parte de ferro representa Roma Cristã e o fim do absolutismo medieval que impunham seus ideais ao mundo, desfazendo-se em nações independentes e democráticas; a pedra cortada sem auxílio de mãos ferindo os pés da estátua e quebrando-a em pedaços todos os metais, é uma referência a segunda vinda de Cristo para pôr fim à história do pecado, fundando seu reino eterno!
     Daniel sonhara com um carneiro que tinha dois chifres, (o carneiro representava o reino e os chifres os reis Dario e Ciro) um dos chifres era mais alto que o outro, ele dava marradas para o ocidente, para o norte e para o sul onde nenhum animal podia lhe resistir e livrar-se de seu poder, ele fazia o que tinha vontade e se engrandecia. Enquanto considerava sobre o poder do carneiro, viu um bode vindo do ocidente sobre a face de toda Terra, mas ele não tocava no chão e ele tinha um chifre notável entre os olhos. O bode dirigiu-se ao carneiro e a briga começou, furioso o bode quebrou os dois chifres do carneiro ferindo-o até a morte. O bode engrandeceu-se, estando ele confiante em si, aquele grande chifre entre seus olhos foi quebrado, nascendo em seu lugar quatro chifres também notáveis que apontavam para os quatro cantos da Terra. (O bode é uma representação do reinado da Grécia, o chifre entre os olhos é uma referência ao principal rei, Alexandre Magno; o arrancar do chifre refere-se a sua morte e os quatro chifres que surgiram em seu lugar aponta os generais que dividiriam seu reino) De um daqueles quatro chifres saiu um chifre pequeno que cresceu muito para o sul, para o oriente e para a terra formosa, engrandecendo-se até o exército do céu lançando por terra algumas das estrelas desse exército, e as pisou; engrandeceu-se até o príncipe do exército tirando-lhe o holocausto contínuo, e o lugar de seu santuário foi deitado abaixo.
     Segundo Flavio Josefo, historiador judeu, após a morte de Alexandre, seu reino foi dividido entre seus generais, ficando configurado, no início, assim: Antígono governou a Ásia Menor; Seleuco a Babilônia e nações vizinhas; Lisímaco, o Helesponto; Cassandro a Macedônia e Ptolomeu, o Egito; Como de cinco reduziu-se a quatro? Antígono era General sátrapa ou governador, com a morte de Alexandre ele fez-se rei tornando-se inimigo dos outros, governou por dezoito anos a Ásia Menor. Os quatro generais, Seleuco, Cassandro, Lisímaco e Ptolomeu se uniram e destronaram Antígono, fazendo Lisímaco rei da Ásia Menor. (JOSEFO, p. 385)
Porém, diz a profecia: de um desses chifres surgiria um pequeno chifre que cresceria para o sul, para o oriente e para a terra formosa. Ou seja, de uma daquelas regiões que estavam em constantes guerras, desenvolveria um outro chifre, pequeno no início, mas, com o passar do tempo se engrandeceria subjugando todos os outros quatros. Esse novo chifre começou desenvolver-se no século VIII a.C. era a Itália, futura Roma Pagã, Cristã e Papal (atual Vaticano) que se desenvolvia em baixo do nariz de Cassandro da Macedônia, rei da região ocidental que não percebera que um de seus dominados tinham outra estratégia de conquistar que agradava aqueles que eles conquistavam, os italianos ou romanos não subjugavam seus conquistados como era costume grego, pelo contrário, assimilavam suas culturas e fazia deles soldados aliados, concedendo-lhes alguns direitos, assim, pela “benevolência” conseguira conquistar a todos. (CAMPOS/CLARO, p. 129) Os que deram mais trabalho foram os de Cartago, que precisou de três batalhas para conquista-los; depois, conquistou a Macedônia assimilando sua cultura politeísta e filosófica, a Pérsia babilônica, o Egito, Jerusalém e todos que tentavam resistir seu avanço. Assim, Roma se colocara como dona da verdade, senhora do mundo político, científico, filosófico, religioso e das artes; era o Ocidente, na linguagem de Jacques Derrida, abrindo um grande guarda-chuva para proteger todos que se curvassem ao seu discurso solipsista. Isto é, um Ocidente desprovido de alteridade, que não considera o outro, semelhante ou diferente, vendo-os apenas como inimigos a serem combatidos. A data escolhida para o início do império romano pagão foi 168 a.C., esse imperialismo pagão estendeu-se até 476 d.C.; quando foi substituída por Roma Cristã, que, como igreja Católica Apostólica Romana se tornara senhora da religião e do Estado, período conhecido como Idade Média. Atualmente o Vaticano representa esse espírito solipsista, onde, continua se achando representante de Deus e dona da verdade. Aos poucos, em outros textos, analisarei o que esse poder fez aos que tentaram rasgar o guarda-chuva que a cultura ocidental elaborara como verdade absoluta para impor ao mundo.
Segundo a profecia de Daniel, Roma era entendida em enigmas; grande será seu poder, mas esse poder não vem de si mesma fazendo com que destrua os poderosos e o povo santo; (reis, judeus e cristãos) se levantará contra o príncipe dos príncipes (matando Jesus Cristo), mas será quebrado sem intervir mão de homem. (Ressurreição de Cristo pelo anjo enviado do céu). E o lugar do santuário foi deitado abaixo. (Destruição do templo de Jerusalém no ano setenta pelo General Tito)
Lançará as verdades bíblicas por terra. (Alterou os dez mandamentos bíblicos autorizando a adoração de imagens de esculturas e mudando a santidade do sábado para o domingo) e Roma Cristã 476 – 1500 (período medieval) deu continuidade aos ideais de Roma Pagã, perseguindo aqueles que tentassem rasgar seu guarda-chuva, fosse em nome de seguir princípios bíblicos ou de um novo ideal filosófico.
Quanto as duas mil e trezentas tardes e manhãs disse o anjo: cerra a visão, porque se refere a dias mui distantes. Daniel adoeceu, sarou e foi tratar dos negócios do rei, pois não havia quem entendesse a visão das duas mil trezentas tardes e manhãs.
Filosofia Clássica e Deus
     O Deus bíblico fez-se presente na antiguidade através dos Hebreus-Israel-e-Judá. Ele, pelo seu poder impressionou reis de tal forma que não tiveram outra saída a não ser confirmar Sua existência metafísica. O próprio Alexandre Magno Também O reconheceu como o Deus do universo.¹
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¹ Então os judeus reuniram-se em redor de Alexandre e elevaram a voz, para desejar-lhe toda sorte e felicidade e de prosperidade. Mas os reis da Síria e os outros grandes, que o acompanhavam ficaram surpresos, de tal espanto que julgaram que ele tinha perdido o juízo. Parmênio, que gozava de grande prestígio, perguntou-lhe como ele, que era adorado em todo o mundo, adorava o grão-Sacrificador dos judeus. Não é a ele, respondeu Alexandre, ao Grão-Sacrificador, que eu adoro, mas é a Deus de quem ele é ministro. [...] antes desse encontro, segundo o próprio Alexandre, também tivera um sonho da parte de Deus que o animara a continuar em suas conquistas. (JOSEFO, p. 380)
     Como os filósofos da natureza não chegaram e nenhuma conclusão sobre as origens pelas hipóteses propostas na época, a própria filosofia viu-se obrigada a mudar de estratégia para continuar questionando o Deus bíblico. Foi esse o motivo que levaram Sócrates, Platão e Aristóteles elegerem uma forma conceitual de deus para fechar a lógica de seus ideais filosóficos.
     Para Sócrates, mestre em definir, pela maiêutica, um conceito, isolando-o de seus atributos e adjetivos; Deus era uma Inteligência superior, estava acima do politeísmo grego; por isso Sócrates falava contra os deuses gregos, corrompendo, assim, a juventude. Tentou moralizar os políticos de Atenas, cobrando deles postura ética, justiça ao tratar com o outro e com os negócios da Polis. Por esse zelo moralizante em nome desse Deus, foi condenado a morte, o que se concretizou ao tomar cicuta.
     Para Platão, discípulo de Sócrates, Deus era o demiurgo, aquele que cria através da manipulação da matéria existente, não por meio do Logos, Sua palavra. Após a morte de Sócrates Platão fugiu de Atenas temendo a mesma condenação. Fugindo, passou pelo Ocidente e chegando ao Oriente, conheceu o espiritualismo desenvolvido através da imortalidade da alma em relação à morte do corpo que os pitagóricos acreditavam; após doze anos voltou para Atenas, fundou sua Academia e filosofou através das ideias místicas dos pitagóricos; para isso ele criou o mundo das ideias, mundo das formas perfeitas, das quais, nosso mundo é uma cópia. Para Platão, o mundo das ideias é o lugar para onde as almas vão após a morte, lá, elas passam mil anos e depois reencarnam em outro corpo, meio pelo qual a alma faz o novo corpo relembrar o que há no mundo das formas perfeitas, por isso, para Platão, aprender é relembrar (reminiscência). Assim, por meio de Platão, a filosofia oriental chegou ao ocidente, foi adaptada ao cristianismo e muitos crentes católicos espíritas e protestantes acreditam que a imortalidade da alma é uma doutrina bíblica ou religiosa, mas, são apenas ideias filosóficas orientais adaptadas ao cristianismo.
     Aristóteles, discípulo de Platão, não concordou com o mundo das ideias desenvolvido por seu mestre, ele preferiu repensar a filosofia da natureza que representava a realidade que se iludir com ideais místicos. Mesmo assim, racionalizou o conceito de alma platônico defendendo que existe a alma vegetal, a irracional e a racional. Para Aristóteles Deus é um motor imóvel. Isto é, um Ser que colocou tudo em movimento, assim que acabara, abandonou-o à estabilidade das leis naturais. Logo, Deus é um motor imóvel que moveu tudo sem se mover. Aristóteles preferiu continuar na análise do mundo elaborando o método científico, que, como seu mestre, ficar preso à metafísica filosófica-religiosa. O que precisamos ter consciência é, que, os filósofos clássicos, apesar de admitir a existência de Deus, não significa que eles tinham fé nesse Deus, era apenas um conceito para fechar o raciocínio lógico, não fugindo da máxima que influenciava as massas e os governantes da época. Em nome de Deus, a filosofia desenvolveu sua metafísica fundamentando-a em um conceito de “Ser ontológico”; não é por acaso que a metafísica é o maior período filosófico, estendo dos clássicos até René Descartes; quando ela abandona a Deus e se volta para o sujeito que pode conhecer independente desse Deus, Ser supremo apresentado na bíblia.
     A literatura bíblica, principalmente a profética, é a prova incontestável de que Deus é Onisciente. Para os que a estudam, é a luz que guia entre as trevas espirituais, morais, políticas, filosóficas e religiosas de todas as épocas. Por isso, “Não havendo profecia, o povo se corrompe”.  Os filósofos e cientistas que se gabam de defender a verdade baseados na visão do todo ou pela empiria, se eles não conhecem as profecias bíblicas, o porquê e para quê delas, jamais concluirão suas hipóteses, confirmando ou negando as verdades sobre as origens. Logo, terão, necessariamente, que eleger um filósofo ou cientista para admira-lo e defender seus pontos de vistas, sendo, como os religiosos, apenas um cordeiro de rebanho. E os religiosos que não fazem questão de estudar para compreender o mundo, achando que a fé cega é o caminho da salvação, correm o mesmo risco; pois, tanto o que conhece como o ignorante que não quer conhecer se fecha em si, desenvolvendo um solilóquio, discurso próprio, como se ele fosse a própria verdade; impossibilitando assim, até mesmo a ação do Espírito Santo em sua mente.
Nada é fácil e simples neste mundo de pecado. “Se ficar, o bicho pega; se correr, o bicho come”. Então, seja um sábio!            

Filósofo Isaías Correia Ribas

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BÍBLIA, João Ferreira de Almeida, Ed. Imprensa Bíblica Brasileira. Daniel capítulos 2 e 8
FLAVIO JOSEFO, HISTÓRIA DOS HEBREUS. V. III, Ed. Das Américas – São Paulo, 1956
FLAVIO DE CAMPOS E REGINA CLARO. A Escrita da História V I. Ed. Escala – São Paulo 2010