É comum ouvirmos a afirmação: “a verdade não existe”. Mas como isso é possível se a filosofia,
desde os gregos até o fim da Idade Média sempre estiveram em busca da verdade? Temos
também a afirmação “científica-filosófica” sobre a origem da vida e do universo
baseadas em algumas hipóteses cosmológicas aparentemente indubitáveis. Ah! Não
posso esquecer dos pastores, padres e outros religiosos que, de pronto se
lembram de uma citação bíblica dizendo: Está escrito no livro M, capítulo N,
versículo P, isto é isto e aquilo é aquilo, é a palavra de Deus, confirmada
pelos profetas e apóstolos, assim, não podemos duvidar, é a verdade! Outros
mais cuidadosos fundamentam suas falas, está escrito no livro X do Dr. Y que a
verdade sobre as origens se deu assim e assado, segundo a teoria defendida pelo
pesquisador X ou Y. Mas mesmo diante de todos esses detentores da verdade, o
povo em geral demonstra não confiar mais nas conclusões desses defensores,
dizendo em alto e bom som: “A verdade não existe”. Nas últimas décadas, para o
senso comum e estudantes graduandos que reproduzem as falas de seus professores
sem nenhum questionamento, esse jargão está se firmando como verdade absoluta.
A questão é, por que essa dúvida só acontece com o conceito “verdade”? Vamos
desfazer esse mito ou ditado de que a verdade não existe refletindo e pondo-a
em questão. Primeiro, para todo existir conceitual, tem que haver seu opositor,
seu amigo/inimigo antagônico; então, se não existe a verdade, a mentira também
não existe. No entanto, a mentira existe. Logo, se a mentira existe, é
necessário que a verdade exista. Assim sendo, a verdade existe. A segunda
questão para entendermos a origem deste problema é perguntar, de que verdade
estamos falando? Este é o X da questão.
A verdade é um conceito que abrange todos os mundos. Tanto o mundo natural,
este que existe independente da vontade humana, quanto o mundo estabelecido
pelos homens e animais irracionais. Então, o conceito de verdade não é um conceito
simples, mas composto, e, como tal, é complexo. Quando uma pessoa é honesta,
ela diz a verdade. Porém, se alguém duvida da verdade dita por essa pessoa, é
possível, por meio de investigações, comprovar se essa pessoa disse ou não a
verdade; uma vez confirmada a veracidade do dito, a verdade existe. Então, entende-se
que a verdade com relação ao mundo estabelecido, é passível de ser verificada,
comprovando-a ou negando-a. Logo, tanto a verdade como a mentira existem, como
existem também a pessoa verdadeira e a mentirosa.
As causas do problema sobre a verdade são as generalizações, isto é,
quando generalizamos, não separamos os alhos dos bugalhos; aí, saímos falando
besteiras, posando de intelectual, quando, na verdade, a ignorância reina em
nosso modo de pensar. Esse jargão, “a verdade não existe”, é uma conclusão
precipitada sobre as origens da vida no planeta Terra e do cosmos (ordem
universal). Por ser muito antiga essa intriga das origens entre religiosos e
opositores, o povo, por generalização, prefere viver sem a expectativa sobre
essa verdade. Pois, todas as hipóteses levantadas para investiga-la, e os
bilhões de dólares investidos sem nenhuma conclusão, induz-nos todos a duvidar
da capacidade do homem e seus meios para dizer-nos a verdade sobre,
principalmente, a origem das diversas formas vida na Terra. Por isso, o ditado
popular, “a verdade não existe”. Assim, mantém-se até hoje a intriga sobre as
afirmações bíblicas de que tudo fora criado e é mantido por um Deus Onipotente,
Onisciente e Onipresente e as afirmações do poeta Hesíodo (VIII a.C.) que
afirmara em seu mito Caos, que este, o próprio Caos, é o originador de tudo. A
filosofia, a ciência e as artes, partem da premissa de que o Mito de Hesíodo
seja o fundamento verdadeiro para justificar tantos investimentos financeiros,
intelectuais, científicos e filosóficos em busca da verdade cosmológica. Como
já afirmei a cima, esses três mil anos é muito tempo para questionar e
investigar sem chegar a nenhuma conclusão ratificada pelo racionalismo. Por
isso esse descrédito na capacidade do homem desprovido de fé chegar à verdade
das origens. Logo, entende-se, que a verdade sobre as origens existe. E ela
existe porque a existência de tudo é patente aos nossos sentidos. Assim, até o
presente, crentes e ateus agem pela fé; a diferença está no axioma que
fundamentam suas premissas, em um Deus Criador ou em um mito.
Daniel,
Nabucodonosor e seus sonhos
No capítulo dois do livro de Daniel
temos o sonho que sonhara Nabucodonosor e no capítulo oito registra um dos
sonhos de Daniel. Ambos os sonhos têm o mesmo significado. Segundo a bíblia, são
sonhos dados por Deus para revelar aos habitantes do planeta Terra a sucessão
de reinos de Babilônia até a segunda volta de Cristo. Os sonhos impressionaram
tanto o rei Nabucodonosor quanto o cativo Daniel, ambos ficaram atônitos diante
ao que sonharam e os dois buscaram entender aqueles aparentes enigmas. Pela fé,
através da oração, Daniel buscara respostas em Deus e Este O atendeu
confortando o rei e ele. A estátua presente no sonho de Nabucodonosor estava
dividida em, cabeça de ouro que representava o reino de Babilônia; o peito e os
braços de prata simbolizavam o futuro reino dos Medos e Persas; o ventre e as
coxas de bronze eram uma alusão ao reino da Grécia conquistado pelo macedônio
Alexandre Magno; as pernas de ferro refere-se ao poderio de Rama Pagã; e os pés
em parte de barro e parte de ferro representa Roma Cristã e o fim do
absolutismo medieval que impunham seus ideais ao mundo, desfazendo-se em nações
independentes e democráticas; a pedra cortada sem auxílio de mãos ferindo os
pés da estátua e quebrando-a em pedaços todos os metais, é uma referência a
segunda vinda de Cristo para pôr fim à história do pecado, fundando seu reino
eterno!
Daniel sonhara com um carneiro que tinha dois chifres, (o carneiro representava
o reino e os chifres os reis Dario e Ciro) um dos chifres era mais alto que o
outro, ele dava marradas para o ocidente, para o norte e para o sul onde nenhum
animal podia lhe resistir e livrar-se de seu poder, ele fazia o que tinha
vontade e se engrandecia. Enquanto considerava sobre o poder do carneiro, viu
um bode vindo do ocidente sobre a face de toda Terra, mas ele não tocava no
chão e ele tinha um chifre notável entre os olhos. O bode dirigiu-se ao
carneiro e a briga começou, furioso o bode quebrou os dois chifres do carneiro
ferindo-o até a morte. O bode engrandeceu-se, estando ele confiante em si,
aquele grande chifre entre seus olhos foi quebrado, nascendo em seu lugar
quatro chifres também notáveis que apontavam para os quatro cantos da Terra. (O
bode é uma representação do reinado da Grécia, o chifre entre os olhos é uma
referência ao principal rei, Alexandre Magno; o arrancar do chifre refere-se a
sua morte e os quatro chifres que surgiram em seu lugar aponta os generais que
dividiriam seu reino) De um daqueles quatro chifres saiu um chifre pequeno que
cresceu muito para o sul, para o oriente e para a terra formosa,
engrandecendo-se até o exército do céu lançando por terra algumas das estrelas
desse exército, e as pisou; engrandeceu-se até o príncipe do exército
tirando-lhe o holocausto contínuo, e o lugar de seu santuário foi deitado
abaixo.
Segundo Flavio Josefo, historiador judeu, após a morte de Alexandre, seu
reino foi dividido entre seus generais, ficando configurado, no início, assim: Antígono governou a Ásia Menor; Seleuco a Babilônia e nações vizinhas; Lisímaco, o Helesponto; Cassandro a Macedônia e Ptolomeu, o Egito; Como de cinco
reduziu-se a quatro? Antígono era General sátrapa ou governador, com a morte de
Alexandre ele fez-se rei tornando-se inimigo dos outros, governou por dezoito
anos a Ásia Menor. Os quatro generais, Seleuco, Cassandro, Lisímaco e Ptolomeu
se uniram e destronaram Antígono, fazendo Lisímaco rei da Ásia Menor. (JOSEFO,
p. 385)
Porém, diz a profecia: de um desses chifres
surgiria um pequeno chifre que cresceria para o sul, para o oriente e para a
terra formosa. Ou seja, de uma daquelas regiões que estavam em constantes
guerras, desenvolveria um outro chifre, pequeno no início, mas, com o passar do
tempo se engrandeceria subjugando todos os outros quatros. Esse novo chifre
começou desenvolver-se no século VIII a.C. era a Itália, futura Roma Pagã,
Cristã e Papal (atual Vaticano) que se desenvolvia em baixo do nariz de
Cassandro da Macedônia, rei da região ocidental que não percebera que um de seus
dominados tinham outra estratégia de conquistar que agradava aqueles que eles
conquistavam, os italianos ou romanos não subjugavam seus conquistados como era
costume grego, pelo contrário, assimilavam suas culturas e fazia deles soldados
aliados, concedendo-lhes alguns direitos, assim, pela “benevolência” conseguira
conquistar a todos. (CAMPOS/CLARO, p. 129) Os que deram mais trabalho foram os
de Cartago, que precisou de três batalhas para conquista-los; depois,
conquistou a Macedônia assimilando sua cultura politeísta e filosófica, a Pérsia
babilônica, o Egito, Jerusalém e todos que tentavam resistir seu avanço. Assim,
Roma se colocara como dona da verdade, senhora do mundo político, científico,
filosófico, religioso e das artes; era o Ocidente, na linguagem de Jacques Derrida,
abrindo um grande guarda-chuva para proteger todos que se curvassem ao seu
discurso solipsista. Isto é, um Ocidente desprovido de alteridade, que não
considera o outro, semelhante ou diferente, vendo-os apenas como inimigos a serem
combatidos. A data escolhida para o início do império romano pagão foi 168
a.C., esse imperialismo pagão estendeu-se até 476 d.C.; quando foi substituída
por Roma Cristã, que, como igreja Católica Apostólica Romana se tornara senhora
da religião e do Estado, período conhecido como Idade Média. Atualmente o
Vaticano representa esse espírito solipsista, onde, continua se achando representante
de Deus e dona da verdade. Aos poucos, em outros textos, analisarei o que esse
poder fez aos que tentaram rasgar o guarda-chuva que a cultura ocidental elaborara
como verdade absoluta para impor ao mundo.
Segundo a
profecia de Daniel, Roma era entendida em enigmas; grande será seu poder, mas
esse poder não vem de si mesma fazendo com que destrua os poderosos e o povo
santo; (reis, judeus e cristãos) se
levantará contra o príncipe dos príncipes (matando
Jesus Cristo), mas será quebrado sem intervir mão de homem. (Ressurreição
de Cristo pelo anjo enviado do céu). E o lugar do santuário foi deitado
abaixo. (Destruição do templo de
Jerusalém no ano setenta pelo General Tito)
Lançará as verdades bíblicas por
terra. (Alterou os dez mandamentos
bíblicos autorizando a adoração de imagens de esculturas e mudando a santidade
do sábado para o domingo) e Roma Cristã 476 – 1500 (período medieval) deu continuidade aos ideais de Roma Pagã,
perseguindo aqueles que tentassem rasgar seu guarda-chuva, fosse em nome de seguir
princípios bíblicos ou de um novo ideal filosófico.
Quanto as duas mil e trezentas tardes
e manhãs disse o anjo: cerra a visão, porque se refere a dias mui distantes.
Daniel adoeceu, sarou e foi tratar dos negócios do rei, pois não havia quem
entendesse a visão das duas mil trezentas tardes e manhãs.
Filosofia Clássica e Deus
O Deus bíblico fez-se presente na
antiguidade através dos Hebreus-Israel-e-Judá. Ele, pelo seu poder impressionou
reis de tal forma que não tiveram outra saída a não ser confirmar Sua
existência metafísica. O próprio Alexandre Magno Também O reconheceu como o
Deus do universo.¹
______________
¹ Então os judeus reuniram-se em redor de Alexandre e
elevaram a voz, para desejar-lhe toda sorte e felicidade e de prosperidade. Mas
os reis da Síria e os outros grandes, que o acompanhavam ficaram surpresos, de
tal espanto que julgaram que ele tinha perdido o juízo. Parmênio, que gozava de
grande prestígio, perguntou-lhe como ele, que era adorado em todo o mundo,
adorava o grão-Sacrificador dos judeus. Não é a ele, respondeu Alexandre, ao
Grão-Sacrificador, que eu adoro, mas é a Deus de quem ele é ministro. [...] antes desse encontro, segundo o próprio Alexandre,
também tivera um sonho da parte de Deus que o animara a continuar em suas
conquistas. (JOSEFO, p. 380)
Como os filósofos da natureza não chegaram e nenhuma conclusão sobre as
origens pelas hipóteses propostas na época, a própria filosofia viu-se obrigada
a mudar de estratégia para continuar questionando o Deus bíblico. Foi esse o
motivo que levaram Sócrates, Platão e Aristóteles elegerem uma forma conceitual
de deus para fechar a lógica de seus ideais filosóficos.
Para Sócrates, mestre em definir, pela maiêutica, um conceito,
isolando-o de seus atributos e adjetivos; Deus era uma Inteligência superior,
estava acima do politeísmo grego; por isso Sócrates falava contra os deuses
gregos, corrompendo, assim, a juventude. Tentou moralizar os políticos de
Atenas, cobrando deles postura ética, justiça ao tratar com o outro e com os
negócios da Polis. Por esse zelo moralizante em nome desse Deus, foi condenado
a morte, o que se concretizou ao tomar cicuta.
Para Platão, discípulo de Sócrates, Deus era o demiurgo, aquele que cria
através da manipulação da matéria existente, não por meio do Logos, Sua
palavra. Após a morte de Sócrates Platão fugiu de Atenas temendo a mesma
condenação. Fugindo, passou pelo Ocidente e chegando ao Oriente, conheceu o
espiritualismo desenvolvido através da imortalidade da alma em relação à morte
do corpo que os pitagóricos acreditavam; após doze anos voltou para Atenas,
fundou sua Academia e filosofou através das ideias místicas dos pitagóricos;
para isso ele criou o mundo das ideias, mundo das formas perfeitas, das quais,
nosso mundo é uma cópia. Para Platão, o mundo das ideias é o lugar para onde as
almas vão após a morte, lá, elas passam mil anos e depois reencarnam em outro
corpo, meio pelo qual a alma faz o novo corpo relembrar o que há no mundo das
formas perfeitas, por isso, para Platão, aprender é relembrar (reminiscência).
Assim, por meio de Platão, a filosofia oriental chegou ao ocidente, foi
adaptada ao cristianismo e muitos crentes católicos espíritas e protestantes
acreditam que a imortalidade da alma é uma doutrina bíblica ou religiosa, mas,
são apenas ideias filosóficas orientais adaptadas ao cristianismo.
Aristóteles, discípulo de Platão, não concordou com o mundo das ideias
desenvolvido por seu mestre, ele preferiu repensar a filosofia da natureza que
representava a realidade que se iludir com ideais místicos. Mesmo assim,
racionalizou o conceito de alma platônico defendendo que existe a alma vegetal,
a irracional e a racional. Para Aristóteles Deus é um motor imóvel. Isto é, um
Ser que colocou tudo em movimento, assim que acabara, abandonou-o à
estabilidade das leis naturais. Logo, Deus é um motor imóvel que moveu tudo sem
se mover. Aristóteles preferiu continuar na análise do mundo elaborando o
método científico, que, como seu mestre, ficar preso à metafísica filosófica-religiosa.
O que precisamos ter consciência é, que, os filósofos clássicos, apesar de
admitir a existência de Deus, não significa que eles tinham fé nesse Deus, era
apenas um conceito para fechar o raciocínio lógico, não fugindo da máxima que
influenciava as massas e os governantes da época. Em nome de Deus, a filosofia desenvolveu
sua metafísica fundamentando-a em um conceito de “Ser ontológico”; não é por
acaso que a metafísica é o maior período filosófico, estendo dos clássicos até
René Descartes; quando ela abandona a Deus e se volta para o sujeito que pode
conhecer independente desse Deus, Ser supremo apresentado na bíblia.
A literatura bíblica, principalmente a profética, é a prova incontestável
de que Deus é Onisciente. Para os que a estudam, é a luz que guia entre as
trevas espirituais, morais, políticas, filosóficas e religiosas de todas as
épocas. Por isso, “Não havendo profecia,
o povo se corrompe”. Os filósofos e
cientistas que se gabam de defender a verdade baseados na visão do todo ou pela
empiria, se eles não conhecem as profecias bíblicas, o porquê e para quê delas,
jamais concluirão suas hipóteses, confirmando ou negando as verdades sobre as
origens. Logo, terão, necessariamente, que eleger um filósofo ou cientista para
admira-lo e defender seus pontos de vistas, sendo, como os religiosos, apenas
um cordeiro de rebanho. E os religiosos que não fazem questão de estudar para
compreender o mundo, achando que a fé cega é o caminho da salvação, correm o
mesmo risco; pois, tanto o que conhece como o ignorante que não quer conhecer
se fecha em si, desenvolvendo um solilóquio, discurso próprio, como se ele
fosse a própria verdade; impossibilitando assim, até mesmo a ação do Espírito
Santo em sua mente.
Nada é fácil e simples neste mundo de
pecado. “Se ficar, o bicho pega; se correr, o bicho come”. Então, seja um sábio!
Filósofo Isaías Correia Ribas
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BÍBLIA, João Ferreira de Almeida, Ed. Imprensa Bíblica
Brasileira. Daniel capítulos 2 e 8
FLAVIO JOSEFO, HISTÓRIA DOS HEBREUS. V. III, Ed. Das Américas
– São Paulo, 1956
FLAVIO DE CAMPOS E REGINA CLARO. A Escrita da História V I. Ed.
Escala – São Paulo 2010