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domingo, 20 de abril de 2014

FILOSOFIA: CÍRCULO FECHADO EM SI MESMO


     Além da definição clássica, amor ao conhecimento, filosofia é sistematização do antropocentrismo. Para que o idealismo filosófico desse certo, por princípio, tudo que fosse de outra origem epistemológica teria que ser descartada como verdade ou validade filosófica. Isto é, qualquer argumentação e fundamentação teria que ser filosófica, se assim não for não serve como filosofia e nem como crítica à filosofia. Essa estratégia era necessária porque a filosofia nascera para impor novo conhecimento à humanidade, para tanto, a verdade e/ou validade teria que estar fechada em um só idealismo. Isso era necessário porque a epistemologia teocêntrica e mitológica que sustentava todo discurso até o nascimento da filosofia teria que ser inutilizado. Passados dois séculos após o nascimento do antropocentrismo filosófico, isto é, após os Pré-Socráticos, os filósofos clássicos, perceberam que a mitologia já era criação antropocêntrica, frutos das inspirações dos antigos poetas, assim, decidiram continuar fazendo uso dos mitos para ilustrar alguma possível verdade filosófica. Sobrou como oposição ao discurso filosófico a fé dos judeus que acreditavam na existência de um Deus criador e mantenedor de todo o universo segundo os relatos bíblicos, e assim, até hoje, a filosofia continua com seu idealismo primeiro: anular a fé no Deus bíblico em nome da razão, ou do racionalismo-antropocêntrico.
Filosofia após Jesus:
     Nos seis primeiros séculos que antecederam o nascimento do prometido salvador Jesus Cristo, segundo as profecias bíblicas, o discurso filosófico conseguiu impor-se à fé dos judeus ofuscando sua esperança a tal ponto que os judeus preferisse um líder que os libertassem do jugo romano, que um salvador que morresse pelos seus pecados; por isso, em comum acordo com os líderes romanos consentiram matar o Filho de Deus segundo profetizara Isaías e outros profetas. A partir desses acontecimentos históricos a filosofia se viu vitoriosa por conseguir de algum modo frustrar a fé dos judeus e de outros que aguardavam o Salvador. Era a razão se impondo e anulando a fé. Com a morte de Cristo, Sua ressurreição e volta ao céu a história política, as estratégias filosóficas e religiosa tiveram que mudar de perspectiva, pois algo muito significativo acontecera que as coisas não podiam mais continuar como era antes. Um novo espírito religioso surgiu na história, em consequência, a política teve que ter novas atitudes em frente ao movimento religioso que nascera, e os filósofos, como idealistas de uma nova epistemologia, tiveram que fazer alguma coisa junto aos políticos para minar a força religiosa que surgira com a presença do filho de Deus neste planeta.
Posição política:
     Roma Pagã continuou com o mesmo espírito que tivera para com o filho de Deus: matar quem quer que fosse que não andasse segundo as leis romanas. Foi esta a posição de Roma, matar os seguidores de Cristo. Os cristãos tinham que fugir constantemente, pois, se pegos, eram jogados aos leões e outras feras, servindo como espetáculo nas arenas aos romanos. Todos os discípulos foram mortos pela política romana, se não me engano, apenas João que escreveu o Apocalipse, apesar de ser jogado dentro de um tambor de óleo fervendo, mas saindo ileso foi deportado para ilha de Patmos, onde escreveu o Apocalipse, lembro-me ter lido que ele saiu da ilha, mas não sei como foi que ele morreu; todos os conversos que eram capturados tinham a mesma sorte, a morte. Essa perseguição durou enquanto Roma Pagã governava o mundo de então. Mais ou menos trezentos anos após o assassinato de Cristo.
Estratégia filosófica:
     Várias escolas filosóficas com diferentes filosofias de vida influenciava aquela sociedade. Para a filosofia, o ideal de homem-cidadão segundo os atenienses já não fazia mais parte de seus discursos, predominava, independente da escola, o ideal de indivíduo-cidadão. Paralelo a essas escolas, a filosofia de Platão, especialmente o “mundo das ideias”, estava passando por uma readaptação, isto é, sua filosofia estava tomando o status de teologia, com essa estratégia, os filósofos vestiram-se de religiosos e dominaram o discurso cristão. Assim ficou fácil, para eles adulterar os escritos bíblicos, redirecionado a fé do povo a qualquer outra coisa que não fosse o Deus bíblico que enviara Seu filho para salvar aqueles que O aceitasse como seu Salvador.
O judeu Filon, que nasceu em Alexandria entre 10 e 15 a. C., desenvolvendo suas atividades na primeira metade do século I d. C., pode ser considerado o precursor dos padres, pelo menos em certa medida. Dentre suas numerosas obras, destaca-se a série de tratados que constituem um comentário alegórico do Pentateuco (devemos recordar, sobretudo, A criação do mundo, As alegorias das leis, O herdeiro das coisas divinas, A migração de Abraão e a mutação dos nomes, que estão entre os mais belos).
O mérito histórico de Filon está em ter tentado pela primeira vez na história uma fusão entre filosofia grega e teologia mosaica, criando uma “filosofia mosaica”. O método com qual Filon operou a mediação foi o da “alegorese”. Ele sustenta que a bíblia tem a) um significado literal, que, no entanto, não é o mais importante, e b) um significado oculto segundo o qual os personagens e eventos bíblicos são símbolos de conceitos de verdades morais, espirituais e metafísicas. Essas verdades subjacentes (que se colocam em diferentes níveis) requerem particular disposição de espírito (quando não, até mesmo, a verdadeira inspiração) para que se possa captá-las. A interpretação alegórica iria alcançar grande êxito, tornando-se um verdadeiro método de leitura da bíblia para a maioria dos padres da igreja e transformando-se assim por longo tempo numa constante na história da patrística. (REALE/ANTISERI, p. 402)
     Outro filósofo que se tornara cristão foi Aurélio Agostinho (354-430) de Tagasta, pequena cidade da Numídia, Africa. Aurélio Agostinho, após sua conversão tornou-se Santo Agostinho; antes de se converter era maniqueísta. Segundo os maniqueístas, encontram-se no mundo duas forças: a do bem ou da luz, e a do mal, ou da escuridão, consideradas princípios absolutos, em permanente e eterno confronto.
Para os maniqueístas Cristo foi revestido somente de carne aparente e, portanto, também foram aparentes a sua morte e ressurreição. Moisés não foi inspirado por Deus, sendo um dos príncipes das trevas, razão pela qual se devia rejeitar o antigo testamento. A promessa do Espírito Santo feita por Cristo ter-se-ia realizado em Mani (fundador do maniqueísmo). Em seu dualismo extremo, os maniqueístas chegavam até a não atribuir o pecado ao livre-arbítrio do homem, mas sim ao princípio universal do mal que atua também em nós. (REALE/ANTISERI, p. 430)
     O catolicismo cristão defende que Santo Agostinho, principal padre filósofo da patrística, abandonou a filosofia maniqueísta, sua postura diante dos escritos bíblicos nega esse discurso da igreja. Pois, o principal ataque da igreja é contra os escritos de Moisés, principalmente aos dez mandamentos da lei de Deus escritos por Ele no monte Sinai e dado a Moisés que o levaria à humanidade através da nação de Israel.
Citarei os dez mandamentos segundo a bíblia e segundo o catolicismo para que o leitor tenha consciência das alterações feitas, e reflita sobre quem seguir: se os filósofos trajados de religiosos e políticos, ou, o que Deus revelara através de seus profetas:
Dez mandamentos segundo a bíblia:
1° - Não terás outros deuses diante de mim.
2° - Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que há em cima no céu, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás diante delas, nem as servirás; porque eu, o senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que vizito a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira geração e quarta geração daqueles que me odeiam, e uso de misericórdia com milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos.
3° - Não tomarás o nome do senhor teu Deus em vão; porque o senhor não terá por inocente aquele que tomar o seu nome em vão.
4° - Lembra-te do dia do sábado para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás todo o teu trabalho; mas o sétimo dia é o sábado do senhor teu Deus. Nesse dia não farás trabalho algum, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o estrangeiro que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez o senhor o céu e a terra, o mar e tudo o que neles há, e no sétimo dia descansou; por isso o senhor abençoou o dia do sábado e o santificou.
5° - Honra o teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o senhor teu Deus te dá.
6° - Não matarás.
7° - Não adulterarás.
8° - Não furtarás.
9° - Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.
10° - Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo. (Êxodo 20: 3-17)
Dez mandamentos segundo o catecismo católico:
1° - Amar a Deus sobre todas as coisas
2° - Não tomar o seu santo nome em vão
3° - Guardar domingos e festas
4° - Honrar pai e mãe
5° - Não matar
6° - Não pecar contra a castidade
7° - Não furtar
8° - Não levantar falso testemunho
9° - Não desejar a mulher do próximo
10° - Não cobiçar as coisas alheias.
(Princípios, p. 217)

As alterações feitas demonstram que o catolicismo filosófico continua com o mesmo ideal da filosofia grega: eliminar do consciente da humanidade a existência de um Deus criador e mantenedor do universo segundo ensina a bíblia. O quarto mandamento que pede que os homens honrem e reconheçam a Deus cultuando-O no dia de sábado, foi mudado para guardar domingos e festas. Há outras mudanças que o amigo pode perceber facilmente, concluindo que, queiramos ou não, há neste mundo uma guerra entre o bem (Deus) e o mal (Satanás), e ambos estão interessados na humanidade, Deus quer salvar-nos através do sacrifício de Seu filho Jesus Cristo. E Satanás quer levar-nos juntamente com ele para a morte eterna, para isso usa de todos os meios epistemológicos e a própria ignorância para enganar o maior número possível de pessoas.
RETERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Bíblia.
PRINCÍPIOS DE VIDA. CASA PUBLICADORA BRASILEIRA. Tatuí, São Paulo, 1988.
REALE, Geovanni/ANTISERI, Dario. História da Filosofia. Antiguidade e Idade Média. V. I, Ed. Paulus. São Paulo, 8° edição 2003.
Filósofo Isaías Correia Ribas


segunda-feira, 14 de abril de 2014

CETICISMO E ECLETISMO, OS JUDEUS E JESUS CRISTO


CETICISMO
Pirro (365 – 270 a. C.), da cidade Élida, foi quem criou o novo verbo “cético”, dando condições a um novo modo de pensar e nova atitude espiritual aos ocidentais. Para os estoicos, a piedade, a compaixão e a misericórdia são paixões e por assim ser, os estoicos deve extirpá-las de si, como se lê neste testemunho: “A misericórdia é parte dos defeitos e vícios da alma: misericordioso é o homem estulto (bobo, besta) e leviano. (...) O sábio não se comove em favor de quem quer que seja; não condena ninguém por uma culpa cometida. Não é próprio dos fortes deixar-se vencer pelas imprecações e afastar-se da justa severidade”.
     Para Pirro tudo é apenas aparência. As coisas naturais são em si mesmas, indiferentes, incomensuráveis e indiscerníveis; e que, em “consequência disso”, os sentidos e opiniões não podem dizer nem o verdadeiro nem o falso. Em suma, são as coisas que, como se disse, tornam os sentidos e a razão incapazes de verdade e falsidade e não o contrário. Assim, Pirro negou o ser e os princípios do ser e resumiu tudo na aparência. Os céticos posteriores transformou o “fenômeno aparência” como sendo aparência de algo que está além do aparecer, uma “coisa em si”. Um fragmento de Timon nos revela que a posição de Pirro era mais complexa: “Ora, direi como me parece ser: que eterna é a natureza do divino e do bem, dos quais deriva para o homem a vida mais igual”. As coisas, segundo Pirro, acabam sendo mera aparência. Para Cícero (106-43 a. C.), político, filósofo e orador romano, Pirro e Ariston nunca foram céticos, mas sim os mais rigorosos dos estoicos. Além da posição de Cícero temos a posição de Enesídemo: “Um seguidor de Pirro, Numênio, tenha afirmado que Pirro ‘também dogmatizava”, ou seja, tinha “alguma certeza”. Pois, aqueles que se dizem céticos não devem emitir opiniões, abster-se de julgar, pois, opinar é julgar, logo, deve viver sem nenhuma inclinação, ou seja, não se deixar comover por algo, isto é, permanecer indiferente. Pirro foi estimado e honrado em sua terra a ponto de ser eleito sacerdote: e Tímon, seu principal discípulo chegou a contá-lo como “semelhante a um Deus”.
     Carnéades (III-II a. C.) foi maior representante da academia cética, segundo ele, não existe nenhum critério de verdade. Carnéades opôs-se não só aos estoicos, mas a todos os filósofos que o precederam dizendo que todas as coisas nos enganam. Só que essa de que todas as coisas nos enganam já era uma máxima filosófica. Faltando um critério absoluto e geral de verdade, desaparece também toda possibilidade de encontrar qualquer verdade particular.
Ecletismo:
     Ecletismo (termo derivado do grego ek-léghein, que significa: “escolher e reunir”, tomando de várias partes), que visava reunir e fundir o melhor (ou que era considerado tal) das várias escolas.
As causas que produziram esse fenômeno são numerosas: a) a exaustão da vitalidade das escolas singulares; b) a polarização unilateral de sua problemática; c) a erosão de muitas barreiras teóricas operada pelo ceticismo; d) o probabilismo difundido da Academia; e) a influência do espírito prático romano e a valorização do senso comum.
O ecletismo foi introduzido oficialmente na Academia por Filon de Larissa por volta de 87 a. C.. Ecletismo é, de certo modo, um ceticismo. O cético não pode dizer “a verdade existe, eu é que não a conheço”, mas só pode dizer “não sei se a verdade existe; sou eu, em todo caso, quem não a conheço”.
     Palavras de Filon que Cícero faz suas: “não é necessário suprimir totalmente a verdade, mas é necessário admitir a distinção entre verdadeiro e falso; todavia, não temos um critério que nos leve a esta verdade e, assim, à certeza, mas temos somente aparências, que conduzem à probabilidade. Não chegamos à percepção certa da verdade objetiva, mas nos avizinhamos dela com evidência do provável”.
Consolidação do ecletismo:
     Filon e Antíoco foram os principais representantes do ecletismo na Grécia e Cícero foi o mais característico representante do ecletismo em Roma.
Segundo C. Marchesi: “Cícero não deu novas ideias ao mundo (...). O seu mundo interior é pobre pelo fato de dar ouvidos a todas as vozes.” A sua maior contribuição reside, pois, na difusão e divulgação da cultura grega e, neste âmbuto, é verdadeiramente uma figura essencial na história espiritual do Ocidente. Continua Marchesi: “Também aqui se manifesta a força divulgadora e animadora do engenho latino, porque nenhum grego teria sido capaz de difundir o pensamento grego pelo mundo como fez Cícero.”
Desenvolvimento das ciências particulares:
     As ciências particulares, ou especializações das diversas ciências se deram em Alexandria. A construção dessa cidade iniciou-se em 332 a. C. porque Alexandre desejara construir uma cidade dedicada a seu nome. Habitantes de várias partes daquele mundo dirigiam-se àquela grande metrópole que pretendia ser o centro cultural de pesquisa científica, a maioria de seus habitantes eram judeus. Mas o elemento grego era dominante. Com a morte precoce de Alexandre, Ptolomeu Lago recebeu o Egito e seus sucessores o mantiveram durante longo tempo, conservando as tradicionais estruturas sociopolíticas que haviam assegurado ao país uma cultura milenar. Assim, impediram a helenização do Egito, com exceção de Alexandria. Atenas continuou o seu primado no campo da filosofia, mas Alexandria tornou-se o grande centro da cultura científica, o que houve de mais esplêndido foi sua biblioteca.
Ciências desenvolvidas na época:
filologia; as matemáticas de Euclides e Apolônio; a mecânica de Arquimedes e Héron; Astronomia: geocentrismo tradicional dos gregos, a tentativa heliocêntrica de Aristarco e a restauração geocêntrica de Hiparco; A medicina helenística de Erófilo e Erasístrato e sua posterior involução; a geografia de Eratóstenes. O pano de fundo que impedia a evolução tecnológica eram as condições socioeconômicas da época que, baseava-se na mão de obra escrava, por isso, não se investia na construção de máquinas para aliviar a mão de obra escrava.
Influência do pensamento filosófico à religiosidade dos judeus:
Havia entre nós três seitas diversas, relativas às ações humanas. A primeira, a dos fariseus: a segunda, a dos saduceus e a terceira a dos essênios. Os fariseus atribuem certas coisas ao destino, não, porém, todas e creem que as outras dependem de nossa liberdade, de sorte que nós podemos fazê-las ou não fazê-las. Os essênios afirmam que tudo geralmente depende do destino e de que nada nos acontece a não ser que ele determina. Os saduceus, ao contrário, negam absolutamente o poder do destino, dizem que ele é quimera e que nossas ações dependem tão absolutamente de nós, que nós somos os únicos autores de todos os bens e males que nos acontecem, segundo nós seguimos um bom ou mau conselho. (JOSEFO, p. 137 e 138)
Percebemos por esse fragmento aforístico que uma nação que fora fundada sob as orientações de um Deus criador e mantenedor de tudo, que tinha como Seu mensageiro muitos profetas que estavam acima dos reis e juízes; essa nação fora desviada de seu caminho teocêntrico pelo poder do discurso filosófico que os gregos inventaram. Porém, é bom ressaltar que, nos últimos quatrocentos anos que antecederam o nascimento de Cristo, não houve profeta entre os judeus. Vemos aqui a força do antropocentrismo epistemológico filosófico sujeitando todos os povos, eliminando do consciente da humanidade a ideia de que tudo o que existe fora criado por um Deus que ainda mantem todas as coisas do universo segundo a Sua vontade. Então, o que podemos deduzir disso é: quando os homens negam sua fé nos escritos proféticos como sendo verdades divinas, estão sujeitos as ideias antropocêntricas que, apesar de ser conclusões de análises argumentativas e empíricas acadêmicas, o homem de fé, não deve esquecer que acima de tudo isso há uma guerra que não vemos, mas o fato de não a vermos não significa que ela não existe, logo, o mal não está em compreender tudo o que há, mas ignorar que há um Deus que vai pôr fim a toda essa história temporal fazendo valer Sua legislação universal.
Jesus Cristo nasceu nesse contexto onde imperava todo tipo de antropocentrismo filosófico, político, científico e religioso. Os judeus perderam de vista qual era o propósito do nascimento de Cristo, eles esperavam um líder político judeu que os libertassem do jugo romano, quando perceberam que Cristo convidava-os para um novo modo de vida e que Ele viera para dar-lhes a possibilidade de vida eterna se O aceitassem como O Salvador do mundo que caíra em pecado. Assim, os judeus em comum acordo com os romanos preferiram mata-Lo que aceita-lo como Salvador do mundo. Cristo viera para morrer, e certamente Satanás O mataria, mas não precisava ser como foi. O que não podemos esquecer é: todo homem independente de que nação seja depende de aceitar o plano de salvação providenciado por Deus para ganhar a vida eterna que Cristo nos garantiu com Seu sacrifício na cruz do calvário. Para isso, não é preciso ignorar o conhecimento antropocêntrico, até porque, é conhecendo a origem de todo conhecimento que podemos escolher e entender todas as tramas epistemológicas e seus propósitos. Pois, o conhecimento possibilita a refutação do que está errado com fundamentação, mostrando ser um evangelizador que conhece, possibilitando até mesmo um proselitismo de qualidade, evitando as apelações grosseiras que se vê entre os evangélicos. Na história da filosofia essa submissão ao pensamento filosófico de todos os povos, é conhecida como: “Submissão da fé à razão.”
Deus se fez carne:
“O ver se fez carne a habitou entre nós, (...) cheio de graça e de verdade.” Mas os que Cristo veio salvar, não quiseram saber dEle. “Veio para os seus e os seus não O receberam.” S. João 1: 14 e 11. Entregando-se ao domínio de Satanás rejeitaram o messias, e buscaram oportunidade para O matar.

     Satanás e seus anjos resolveram tornar o mais humilhante possível a morte de Cristo. Encheram o coração dos guias judeus de sentimentos de amargo ódio ao Salvador. Dominados pelo inimigo, sacerdotes e príncipes instigaram a multidão a postar-se contra o filho de Deus. Além das declarações de Sua inocência por parte de Pilatos, ninguém disse em Seu favor uma única palavra. E o próprio Pilatos, conhecendo-Lhe a inocência, entregou-O às afrontas de homens dominados por Satanás. (WHITE p. 392)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
JOSEFO, Flavio, História dos Hebreus. Vol. IV. Ed. das Américas 1956.
REALE/ANTISERI. História da Filosofia, V. I,. Antiguidade e Idade Média. Ed. Paulus. São Paulo, SP, 8° edição, 2003.
WHITE, G. Ellen. Testemunhos Seletos V. III, p. 392. Ed. Casa - Tatuí - São Paulo, 1985.

Filósofo Isaías Correia Ribas

   

terça-feira, 1 de abril de 2014

ESCOLAS FILOSÓFICAS HELENÍSTICAS



     Após a conquista de Alexandre magno (o grande), da Macedônia, sobre os Medos e Persas findou-se também o projeto de homem-cidadão, iniciando o projeto de homem indivíduo. Alexandre pretendia fundar uma monarquia divina universal, que deveria reunir não só as diversas cidades, mas também países e raças diversas; deu um golpe mortal na antiga concepção de cidade-estado. Alexandre não conseguiu realizar seu projeto por causa de sua morte precoce ocorrida em 323 a. C., e talvez também porque os tempos ainda não estavam maduros para tal projeto. No entanto, depois de 323 a. C., formaram-se os novos reinos do Egito, Síria, Macedônia e Pérgamo. Os novos monarcas concentraram o poder em suas mãos e as cidades-estados perderam pouco a pouco sua liberdade e autonomia, deixaram de fazer história como haviam feito no passado.
     As novas escolas filosóficas da época helenísticas são: cinismo, epicurismo, estoicismo, ceticismo e ecletismo. Aconteceu também nessa época o grande florescimento das ciências particulares. Essas escolas queriam findar com o ideal de cidadão ateniense para formar cidadãos-indivíduos do mundo, por isso as atitudes dos filósofos eram chocantes, e nem poderia ser diferente, pois, para quebrar paradigmas faz-se necessário chocar a cultura estabelecida. Nesse texto analisarei três dessas escolas.
     Já disse, não poucas vezes, que o projeto primordial da filosofia é criticar os deuses mitológicos e o Deus bíblico. Porém, os filósofos naturalistas ou Pré-Socráticos, não conseguiram concluir seu ideal, mas, a filosofia com seu projeto epistemológico antropocêntrico, aliada à mitologia e ao conceito de deus continuam firmes em seu projeto peculiar: eliminar do consciente da humanidade a revelação bíblica de que há um Deus criador e mantenedor de tudo o que há no universo. Digo também, que sua estratégia não é simples de ser diagnosticada, por isso, ainda hoje, a humanidade continua sendo enganada pelo discurso filosófico.
Os gregos consideravam os bárbaros, “por natureza”, incapazes de cultura e de atividades livres, por isso eram considerados escravos por natureza. Aristóteles defendia essas ideias. Alexandre provou que essa teoria estava errada educando milhares de jovens “bárbaros” nas técnicas gregas e autorizou-os a casarem com mulheres persas. Os filósofos dessas novas escolas também contestaram essa antiga visão grega. Os estoicos ensinaram que a verdadeira escravidão é a da ignorância e que a liberdade do saber pode libertar quer o escravo, quer o seu senhor, pois, aquele que escraviza também é escravo da ignorância.
Cinismo:
     O principal cínico foi Diógenes. Segundo seus escritos, o homem, para ser feliz tem que viver sem metas impostas pela sociedade como sendo necessárias, sem morada fixa e sem conforto oferecido pelo progresso; viver conforme a natureza, como vivem os animais. Certa vez durante um banquete alguns lhe jogaram ossos como a um cão; Diógenes andando por ali urinou sobre os ossos como fazem os cães quando estão sem fome. Outra vez alguém o introduziu numa casa suntuosa e proibiu-lhe de escarrar, ele limpou bem forte a garganta e escarrou-lhe no rosto, dizendo não ter encontrado lugar pior. Os cínicos desprezavam os prazeres. Liberdade e virtude são: exercício e fadiga. Eles proclamavam-se cidadãos do mundo. Certa vez Alexandre Magno disse-lhe: pede-me o que quiseres e eu lhe darei, respondeu Diógenes: afasta-te do meu sol que estás a fazer-me sombra; para que trabalhar para construir novas cidades se outro Alexandre irá destruí-las. Para que guardar dinheiro para educação dos filhos, se eles se tornarem filósofos iria distribuir ao povo, pois filósofos não têm necessidade de nada. Nos últimos dois séculos da era pagã (III e IV d. C.), o cinismo enfraqueceu por opressão social e imposição da política romana que repugnavam a doutrina e a vida cínica, pois, para eles nada pode ser reto e nada é honesto.
Os índios, habitantes das Américas são exemplos incontestáveis de que eles descenderam da vida cínica, motivo pelos quais eles não se deixaram escravizar pelos europeus, amantes de uma sociedade construída à luz do antropocentrismo que escraviza em nome do viver em sociedade organizada (grifo do autor).
Epicurismo:
     A felicidade dá-se na falta de dor e perturbação; Para atingir a felicidade e a paz, o homem só precisa de si mesmo; não lhe serve absolutamente de nada as cidades, as instituições, os nobres, as riquezas, todas as coisas e nem mesmo os deuses; o homem é perfeitamente “autárquico”, autônomo, livre. O homem deixou de ser homem-cidadão para tornar-se homem-indivíduo. “De todas as coisas que a sabedoria busca, em vista de uma vida feliz, o maior bem é a conquista da amizade”; “a amizade anda pela terra anunciando a todos que devemos acordar para dar alegria uns aos outros”.
Os quatro remédios e o ideal do sábio:
1)      Que são vãos os temores em relação aos deuses e ao além;
2)      Que o pavor em relação à morte é absurdo, pois ela não é nada;
3)      Que o prazer, quando o entendemos corretamente, está à disposição de todos;
4)      Que o mal dura pouco, ou, é facilmente suportável.
Sócrates e Epicuro:
Ambos são paradigmas de duas grandes fés, duas religiões leigas: Sócrates, a fé e a religião da “justiça”; Epicuro, a fé e a religião da vida.
Os epicuristas e os cínicos são naturalistas, isto é, mundanos. Para eles o mundo e todo que o compõe se basta; e o homem sábio busca viver segundo essa lógica, sem os deuses e sem fé no que está além mundo, e, religião é ligar-se à justiça segundo ensinou Sócrates, ou, à vida segundo Epicuro.
Estoicismo:
     Principal filósofo, o estoico Zenão, o semita. Ele ignorava toda metafísica e qualquer tipo de transcendência. Os estoicos e epicuristas, de modos diferentes, eram materialistas. Os estoicos foram os fundadores do Panteísmo. Spinoza, Baruch (1632-1677), de família judia portuguesa, de Amsterdã, Holanda, foi quem “refez” o panteísmo e divulgou-o à modernidade.
“Segundo os estoicos são dois os princípios do universo: um ativo e um passivo; o passivo é a substância sem qualidade, a matéria. O ativo é a razão na matéria, isto é, Deus. É Deus quem é demiurgo criador de todas as coisas no processo da matéria.” Os discípulos de Zenão concordaram em sustentar que Deus penetra em toda realidade, que ora é inteligência, ora alma, ora natureza [...]. O Deus dos estoicos era Deus- Physis-Logos, como o fogo artífice, segundo filosofou Heráclito, “raio que tudo governa” ou ainda como o pneuma, que é “sopro ardente”, ou seja, ar dotado de calor. O fogo, com efeito, é a origem de todo nascimento, crescimento e, em geral, de toda forma de vida. O logos é como o sêmem de todas as coisas. Uma fonte antiga diz: Os estoicos afirmam que Deus é inteligente, fogo artífice, que metodicamente procede a geração do cosmo e que inclui em si todas as razões seminais, segundo as quais as coisas são geradas segundo o fado (destino). Deus é [...] a razão seminal do cosmo.
A providência estoica afirma: nada tem a ver com a providência de um Deus pessoal. É o finalismo universal que faz com que cada coisa (mesmo a menor das coisas) seja feita como é bom e como é melhor que seja. É uma providência imanente e não transcendente, que coincide com o artífice imanente (o que pertence ao interior do ser), como a alma do mundo.
Segundo Sêneca (4 a.C.- 65 d.C.), fado, ou destino: “conduz quem quer e arrasta quem não quer”. Para os estoicos a alma sobrevive à morte do corpo, pelo menos por certo período; segundo alguns estoicos, as almas dos sábios sobrevivem até a próxima conflagração (guerra, conflito). Para os estoicos e epicuristas: “a felicidade se dá vivendo conforme a natureza”. O bem verdadeiro é a virtude e mal o vício.
     Pois bem, analisando os fundamentos filosóficos dessas três escolas já é possível perceber que o objetivo da filosofia é enaltecer a natureza e eliminar a ideia bíblica de que existe um Deus criador e mantenedor de toda ordem cosmológica. Suas conclusões filosóficas estão fundamentadas em Heráclito e no mundo das ideias de Platão. (grifo do autor) (REALE, Giovanni\ANTISERI, Dario. História da Filosofia, Antiguidade e Idade Média. V. I. Ed. Paulus, São Paulo).

Filósofo Isaías Correia Ribas