Além da definição clássica, amor ao conhecimento, filosofia é
sistematização do antropocentrismo. Para que o idealismo filosófico desse
certo, por princípio, tudo que fosse de outra origem epistemológica teria que
ser descartada como verdade ou validade filosófica. Isto é, qualquer argumentação
e fundamentação teria que ser filosófica, se assim não for não serve como
filosofia e nem como crítica à filosofia. Essa estratégia era necessária porque
a filosofia nascera para impor novo conhecimento à humanidade, para tanto, a
verdade e/ou validade teria que estar fechada em um só idealismo. Isso era necessário
porque a epistemologia teocêntrica e mitológica que sustentava todo discurso até
o nascimento da filosofia teria que ser inutilizado. Passados dois séculos após
o nascimento do antropocentrismo filosófico, isto é, após os Pré-Socráticos, os
filósofos clássicos, perceberam que a mitologia já era criação antropocêntrica,
frutos das inspirações dos antigos poetas, assim, decidiram continuar fazendo
uso dos mitos para ilustrar alguma possível verdade filosófica. Sobrou como
oposição ao discurso filosófico a fé dos judeus que acreditavam na existência
de um Deus criador e mantenedor de todo o universo segundo os relatos bíblicos,
e assim, até hoje, a filosofia continua com seu idealismo primeiro: anular a fé
no Deus bíblico em nome da razão, ou do racionalismo-antropocêntrico.
Filosofia após Jesus:
Nos seis primeiros séculos que antecederam
o nascimento do prometido salvador Jesus Cristo, segundo as profecias bíblicas,
o discurso filosófico conseguiu impor-se à fé dos judeus ofuscando sua
esperança a tal ponto que os judeus preferisse um líder que os libertassem do
jugo romano, que um salvador que morresse pelos seus pecados; por isso, em
comum acordo com os líderes romanos consentiram matar o Filho de Deus segundo
profetizara Isaías e outros profetas. A partir desses acontecimentos históricos
a filosofia se viu vitoriosa por conseguir de algum modo frustrar a fé dos
judeus e de outros que aguardavam o Salvador. Era a razão se impondo e anulando
a fé. Com a morte de Cristo, Sua ressurreição e volta ao céu a história
política, as estratégias filosóficas e religiosa tiveram que mudar de
perspectiva, pois algo muito significativo acontecera que as coisas não podiam
mais continuar como era antes. Um novo espírito religioso surgiu na história,
em consequência, a política teve que ter novas atitudes em frente ao movimento
religioso que nascera, e os filósofos, como idealistas de uma nova
epistemologia, tiveram que fazer alguma coisa junto aos políticos para minar a
força religiosa que surgira com a presença do filho de Deus neste planeta.
Posição política:
Roma Pagã continuou com o mesmo
espírito que tivera para com o filho de Deus: matar quem quer que fosse que não
andasse segundo as leis romanas. Foi esta a posição de Roma, matar os seguidores
de Cristo. Os cristãos tinham que fugir constantemente, pois, se pegos, eram
jogados aos leões e outras feras, servindo como espetáculo nas arenas aos romanos.
Todos os discípulos foram mortos pela política romana, se não me engano, apenas
João que escreveu o Apocalipse, apesar de ser jogado dentro de um tambor de
óleo fervendo, mas saindo ileso foi deportado para ilha de Patmos, onde
escreveu o Apocalipse, lembro-me ter lido que ele saiu da ilha, mas não sei
como foi que ele morreu; todos os conversos que eram capturados tinham a mesma
sorte, a morte. Essa perseguição durou enquanto Roma Pagã governava o mundo de
então. Mais ou menos trezentos anos após o assassinato de Cristo.
Estratégia filosófica:
Várias escolas filosóficas com diferentes filosofias de vida
influenciava aquela sociedade. Para a filosofia, o ideal de homem-cidadão segundo
os atenienses já não fazia mais parte de seus discursos, predominava,
independente da escola, o ideal de indivíduo-cidadão. Paralelo a essas escolas,
a filosofia de Platão, especialmente o “mundo das ideias”, estava passando por
uma readaptação, isto é, sua filosofia estava tomando o status de teologia, com
essa estratégia, os filósofos vestiram-se de religiosos e dominaram o discurso
cristão. Assim ficou fácil, para eles adulterar os escritos bíblicos,
redirecionado a fé do povo a qualquer outra coisa que não fosse o Deus bíblico
que enviara Seu filho para salvar aqueles que O aceitasse como seu Salvador.
O judeu Filon, que nasceu em Alexandria
entre 10 e 15 a. C., desenvolvendo suas atividades na primeira metade do século
I d. C., pode ser considerado o precursor dos padres, pelo menos em certa
medida. Dentre suas numerosas obras, destaca-se a série de tratados que
constituem um comentário alegórico do Pentateuco (devemos recordar, sobretudo,
A criação do mundo, As alegorias das leis, O herdeiro das coisas divinas, A
migração de Abraão e a mutação dos nomes, que estão entre os mais belos).
O mérito histórico de Filon está em ter
tentado pela primeira vez na história uma fusão entre filosofia grega e teologia
mosaica, criando uma “filosofia mosaica”. O método com qual Filon operou a
mediação foi o da “alegorese”. Ele sustenta que a bíblia tem a) um significado
literal, que, no entanto, não é o mais importante, e b) um significado oculto
segundo o qual os personagens e eventos bíblicos são símbolos de conceitos de
verdades morais, espirituais e metafísicas. Essas verdades subjacentes (que se
colocam em diferentes níveis) requerem particular disposição de espírito
(quando não, até mesmo, a verdadeira inspiração) para que se possa captá-las. A
interpretação alegórica iria alcançar grande êxito, tornando-se um verdadeiro
método de leitura da bíblia para a maioria dos padres da igreja e
transformando-se assim por longo tempo numa constante na história da
patrística. (REALE/ANTISERI, p. 402)
Outro filósofo que se tornara cristão foi Aurélio Agostinho (354-430) de
Tagasta, pequena cidade da Numídia, Africa. Aurélio Agostinho, após sua
conversão tornou-se Santo Agostinho; antes de se converter era maniqueísta. Segundo os maniqueístas,
encontram-se no mundo duas forças: a do bem ou da luz, e a do mal, ou da escuridão,
consideradas princípios absolutos, em permanente e eterno confronto.
Para os maniqueístas Cristo foi
revestido somente de carne aparente e, portanto, também foram aparentes a sua
morte e ressurreição. Moisés não foi inspirado por Deus, sendo um dos príncipes
das trevas, razão pela qual se devia rejeitar o antigo testamento. A promessa
do Espírito Santo feita por Cristo ter-se-ia realizado em Mani (fundador do
maniqueísmo). Em seu dualismo extremo, os maniqueístas chegavam até a não
atribuir o pecado ao livre-arbítrio do homem, mas sim ao princípio universal do
mal que atua também em nós. (REALE/ANTISERI,
p. 430)
O catolicismo cristão defende que Santo Agostinho, principal padre filósofo
da patrística, abandonou a filosofia maniqueísta, sua postura diante dos
escritos bíblicos nega esse discurso da igreja. Pois, o principal ataque da
igreja é contra os escritos de Moisés, principalmente aos dez mandamentos da
lei de Deus escritos por Ele no monte Sinai e dado a Moisés que o levaria à
humanidade através da nação de Israel.
Citarei os dez mandamentos segundo a
bíblia e segundo o catolicismo para que o leitor tenha consciência das
alterações feitas, e reflita sobre quem seguir: se os filósofos trajados de
religiosos e políticos, ou, o que Deus revelara através de seus profetas:
Dez mandamentos segundo a bíblia:
1° - Não terás outros deuses diante de
mim.
2° - Não farás para ti imagem esculpida,
nem figura alguma do que há em cima no céu, nem em baixo na terra, nem nas
águas debaixo da terra. Não te encurvarás diante delas, nem as servirás; porque
eu, o senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que vizito a iniquidade dos pais nos
filhos até a terceira geração e quarta geração daqueles que me odeiam, e uso de
misericórdia com milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos.
3° - Não tomarás o nome do senhor teu
Deus em vão; porque o senhor não terá por inocente aquele que tomar o seu nome
em vão.
4° - Lembra-te do dia do sábado para o
santificar. Seis dias trabalharás, e farás todo o teu trabalho; mas o sétimo
dia é o sábado do senhor teu Deus. Nesse dia não farás trabalho algum, nem tu,
nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu
animal, nem o estrangeiro que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias
fez o senhor o céu e a terra, o mar e tudo o que neles há, e no sétimo dia
descansou; por isso o senhor abençoou o dia do sábado e o santificou.
5° - Honra o teu pai e a tua mãe, para
que se prolonguem os teus dias na terra que o senhor teu Deus te dá.
6° - Não matarás.
7° - Não adulterarás.
8° - Não furtarás.
9° - Não dirás falso testemunho contra o
teu próximo.
10° - Não cobiçarás a casa do teu
próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua
serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo. (Êxodo 20: 3-17)
Dez
mandamentos segundo o catecismo católico:
1° - Amar a Deus sobre todas as coisas
2° - Não tomar o seu santo nome em vão
3° - Guardar domingos e festas
4° - Honrar pai e mãe
5° - Não matar
6° - Não pecar contra a castidade
7° - Não furtar
8° - Não levantar falso testemunho
9° - Não desejar a mulher do próximo
10° - Não cobiçar as coisas alheias.
(Princípios, p. 217)
As alterações feitas demonstram que o
catolicismo filosófico continua com o mesmo ideal da filosofia grega: eliminar
do consciente da humanidade a existência de um Deus criador e mantenedor do
universo segundo ensina a bíblia. O quarto mandamento que pede que os homens
honrem e reconheçam a Deus cultuando-O no dia de sábado, foi mudado para
guardar domingos e festas. Há outras mudanças que o amigo pode perceber
facilmente, concluindo que, queiramos ou não, há neste mundo uma guerra entre o
bem (Deus) e o mal (Satanás), e ambos estão interessados na humanidade, Deus
quer salvar-nos através do sacrifício de Seu filho Jesus Cristo. E Satanás quer
levar-nos juntamente com ele para a morte eterna, para isso usa de todos os
meios epistemológicos e a própria ignorância para enganar o maior número
possível de pessoas.
RETERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Bíblia.
PRINCÍPIOS DE VIDA. CASA PUBLICADORA
BRASILEIRA. Tatuí, São Paulo, 1988.
REALE, Geovanni/ANTISERI, Dario.
História da Filosofia. Antiguidade e Idade Média. V. I, Ed. Paulus. São Paulo,
8° edição 2003.
Filósofo Isaías Correia Ribas