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terça-feira, 13 de agosto de 2013

OS PERÍODOS FILOSÓFICOS A PARTIR DE SEUS PROBLEMAS: FILOSOFIA X BÍBLIA


     A filosofia sempre foi um esforço antropocêntrico para resolver problemas levantados pelos homens em diferentes períodos e culturas; por isso, seu discurso tem que ser claro e racional, logo, não deve ser obscuro. Então, conhecer o problema é condição necessária para se compreender o filósofo e sua filosofia. No entanto, nem sempre, os estudiosos da filosofia se preocuparam com esse método; preferindo analisar os diferentes períodos filosóficos conectados aos diversos eventos históricos, sem, na maioria das vezes, se preocuparem com os problemas filosóficos. Mas esse método histórico não é o melhor para se compreender a filosofia, seus problemas, e sua divisão em períodos. Nessa dissertação de conclusão da disciplina: “Linguagem e Fenomenologia I”; vou analisar os diferentes períodos filosóficos a partir de seus problemas.
Período I – Natural (Physis)
     Antes de se preocupar com metafísica filosófica, precisa-se entender o que foi a filosofia natural, ou filosofia Pré-Socrática e seus problemas. A filosofia, por aproximadamente dois mil anos se preocupou com o problema do ser, mas o ser não foi o primeiro problema filosófico, e sim, a gênese do ser; isto é, como tudo surgiu no planeta Terra, os seres animados, inanimados e o próprio Cosmos. Era esse o problema que precisava de respostas dos filósofos da Physis, os naturalistas. Queriam eles, para questionar a fé judaica, a mitologia e criar outro meio de explicar o que existe encontrar uma substância ou elemento natural que fosse a origem de tudo. Para isso, levantaram algumas hipóteses como sendo a água, por Tales de Mileto (640-548 a. C.); o apeiron, por Anaximandro (610-547 a. C.); o ar, por Anaxímenes (588-524 a. C.); o fogo, por Heráclito (sécs. VI-V a. C.); os números de Pitágoras (séc. IV a. C.); e a combinação de alguns desses elementos com a terra, no entanto, a terra não foi elencada como um desses elementos. Por dois séculos os filósofos da Physis analisaram a natureza e o cosmos em busca de uma resposta natural ao problema da gênese, porém, não foram capazes de resolver o problema levantado. Inferiram por meio de Heráclito: tudo é movimento, uma sucessão entre ser e não ser existentes concomitantemente na coisa, logo, nada é; tudo é apenas movimento: geração e corrupção, nascer e morrer, uma passagem. Parmênides, contemporâneo de Heráclito criticou o absurdo antagônico dessa conclusão e formulou a teoria do ser: “O ser é, o não ser não é”, criando assim, a ontologia. Dessa visão naturalista, e por causa das frustrações filosóficas, a ciência moderna inventou as diversas teorias sobre a origem do universo e da vida. E a filosofia, para continuar no seu desafiou primeiro, voltou-se ao próprio homem, à sua religiosidade e à mitologia, redirecionando assim o conhecimento antropocêntrico.
Período II - Metafísico
     Principais nomes que corresponde à filosofia antiga, medieval e início da moderna: Sócrates, Platão, Aristóteles, Santo Tomás de Aquino e (René Descartes); a disciplina chave foi a Metafísica e o conceito chave o “Ser”. A partir das frustrações filosóficas da Physis, mudou-se a pergunta: qual é a gênese do ser para o que é o ser? E esse “Ser” não poderia ser temporal, finito, pois todas as possibilidades da gênese estar em um ente finito e natural já haviam sido analisadas, logo, o Ser teria que ser eterno e atemporal. Para Sócrates, o “Ser” era uma “inteligência superior”, para Platão “o demiurgo plasmador”, aquele que plasma a partir da matéria existente e não um criador que cria através do logos (a palavra), como ensinava Deus através dos Hebreus. E para Aristóteles, “o motor imóvel que move todas as coisas sem se mover; o causador de todas as causas sem ser causado”.
     Platão, com uma jogada filosófica genial, induziu a filosofia a ir além do físico, da matéria, estabelecendo outro mundo, o mundo das ideias; e colocou esse mundo no espaço ideal, denominando-o “hiperurânio”, mundo das formas perfeitas, no qual apenas as almas tinham acesso após a morte do indivíduo. Para isso ser lógico, dividiu o indivisível indivíduo em duas partes, o corpo-físico, mortal; e a alma-intelectiva, imortal; e todo o conhecimento dependia da alma que visitava o mundo das formas perfeitas, que, após a reencarnação ensina o indivíduo em desenvolvimento. O mundo das ideias de Platão aos pouco atingiu o status de teologia; no Império romano, o neoplatonismo, sob a capa do cristianismo, infiltrou-se no interior do paganismo, e Constantino (séc. IV), para amenizar a crise generalizada que se instalara em Roma, aproximou-se desse poder filosófico-cristão que se desenvolvia como força política e converteu-se. Enquanto a filosofia platônica conquistava o império por dentro, os “bárbaros” o conquistava pelas fronteiras. E assim, o Império romano do Ocidente caiu. Desse casamento entre a filosofia cristã e o poder político iniciou a Idade Média e a organização da igreja católica que dominara a política, a religião e a educação no mundo ocidental por mil anos. Em posse de todo o poder eclesiástico e político foi possível anular partes da bíblia, principalmente alguns de seus mandamentos, a moral bíblica, e em seu lugar estabeleceu as tradições filosóficas-neoplatônicas; as tradições católicas foram e estão tão bem alicerçadas que a maioria das igrejas protestantes e espiritualistas atuais, as tem como verdades bíblicas.
     Aristóteles, discípulo de Platão, discordou da filosofia de seu mestre, do mundo das ideais, percebera que antes de definir o ser, ou, o que é o ser? Era preciso entender as categorias do ser antes de predicá-lo. Definiu assim as categorias existentes além do próprio sujeito (substância ou essência): a quantidade, a qualidade, a relação, o tempo, o lugar, o peso, a situação, a ação, a paixão e a possessão. Essas são supremas ao ser, logo, metafísicas, o que está além da física.
     No final da Idade Média, com os filósofos escolásticos, o transcendental referia-se, ir além das categorias aristotélicas. Os transcendentais seriam, assim, o ser verdadeiro, o bem e o belo, caracterizando tudo aquilo que é, sendo no fundo aspectos da mesma coisa, o *Ser.
Período III - Epistemológico
     O início da Idade Média deu-se seguido à queda do Império romano do Ocidente, e seu fim, com a queda do Império Bizantino (1453), antigo Império romano do Oriente. É o nascimento da modernidade, do Humanismo, do Renascimento, da cultura e do conhecimento antropocêntrico em geral, e assim, a filosofia também apresenta novas perspectivas fundamental para o conhecimento. O período epistemológico ou transcendental corresponde ao início da Idade Moderna, Descartes e Kant foram os principais filósofos; a disciplina chave foi a epistemologia, teoria transcendental; e o conceito chave foi: verdade-objetividade-validez. (PORTA, Mario Ariel González. A Filosofia a Partir de Seus Problemas. Ed. Loyla, São Paulo, SP, 2002)
     Descartes, René (1596-1650), provocou a virada filosófica sobre o que é o ser, para, como é possível conhecer o ser? Nasce assim o período epistemológico, a possibilidade de entender e fundamentar o conhecimento das coisas, os objetos, a ciência. Descartes é o filósofo que está com um dos pés na ciência e outro na metafísica religiosa, pretendendo provar a existência de Deus cientificamente ou racionalmente. Para ele “toda filosofia é como uma árvore cujas raízes são a metafísica e as ciências os ramos”; “o bom senso (ou razão) é o que existe de mais bem repartido no mundo”; “jamais devemos admitir alguma coisa como verdadeira a não ser o que conhecemos evidentemente como tal”; “a proposição Penso, logo existo é a primeira e mais certa que se apresenta àquele que conduz seus pensamentos com ordem”. Toda obra de Descartes visa mostrar que o conhecimento requer, para ser válido, um fundamento metafísico. Ele parte da dúvida metódica: se duvido até mesmo das verdades matemáticas, não posso duvidar de que tenho consciência de duvidar, portanto, de que existo enquanto tenho essa consciência. O *cogito é, pois, a descoberta para o fundamento da metafísica e cuja evidência fornece o critério da ideia verdadeira. Assim, a metafísica é fundadora de todo saber verdadeiro. A epistemologia dá-se na relação entre mente e corpo; sujeito e objeto; dessas relações, como é possível o conhecimento?
Dualismo substancial
     As substancias são o corpo e a mente: corpo, coisa extensa (res extensa); mente: coisa pensante (res cogito). Queria ele provar cientificamente sua existência, a de Deus e da alma. O grande problema para Descartes era encontrar algo que fizesse a ligação entre a matéria extensa e a pensante; para isso criou a hipótese da existência de uma glândula pineal, mas essa glândula não foi encontrada no corpo humano.
O cogito ergo sum (penso, logo existo) é o primeiro princípio episstemológico, inaugurando uma revolução que consiste em partir da presença do pensamento e não da presença do mundo. Isto é, o que se pensa é superior ao que existe, logo, para a existência se concretizar dependia do ato de pensar. A proposição: eu sou, eu existo, é necessariamente verdadeira todas as vezes que a pronuncio ou que a concebo em meu espirito. (HILTON Japiassú e DANILO Marcondes; Dicionário Básico de filosofia. Ed. Zahar, Rio de Janeiro, RJ. 1989)
     Descartes elaborou um novo método de se chegar à verdade, fez isso porque deduziu que sempre fora enganado, logo, seu objetivo era superar os escolásticos. Para ele, o homem precisa desfazer-se de todas as suas opiniões anteriores a fim de ter condições de “estabelecer de firme e de certo o que há nas ciências”. Para isso resolveu duvidar de tudo: sua dúvida era voluntária, radical (duvidar de sua própria existência) e “hiperbólica” (exagerada), tem que ser assim porque trata como absolutamente falso tudo aquilo que é duvidoso e porque rejeita universalmente, como sempre enganador aquilo pelo qual ele foi algumas vezes enganado. Os graus dessa dúvida vão do conceito sensível às matemáticas, ao sonho e, enfim, a ação do gênio maligno.
Descartes, influenciado por Santo Agostinho: Temos acesso à realidade por meio de cópias; a mente é uma caixa fechada que interpreta o mundo. Isto é, por meio da sensibilidade captamos as imagens dos objetos e a mente ou consciência interpreta-os, e assim, conhecemos a realidade. Logo, a relação do homem com o mundo externo é por meio de cópias ou imagens. A imagem está na mente e não o objeto, então, quando olha, vê-se a imagem e não o objeto. As ideias não envelhecem, não sofrem a ação do tempo, são diferentes dos sensíveis. As ideias são eternas; onde está a verdade das ideias? Na mente de Deus, logo, acesso a Deus pelas ideias. Mas como O acesso? Pelo espírito, porque Deus é espírito e nós também temos o espírito, logo, essa comunicação é possível. O sensível deixa de existir, as ideias são eternas, logo, são mais reais.
Em Descartes, Deus ainda desempenha um papel essencial na fundamentação do conhecimento. Essa característica da modernidade começa com Descartes e culmina com Kant, com quem adquire sua forma mais pura. Em Kant, a fundamentação do conhecimento não está em nenhuma instância externa, mas em si próprio. No período epistemológico não se discursa mais sobre os objetos, mas como se conhece os objetos; não se pergunta mais sobre o que há, mas ao saber do que há; se posso conhecer o que há; dentro de que limites, de que forma, sob quais fundamentos (a experiência ou uma fonte não empírica, a razão, a intuição pura, etc.), o que é a verdade etc.? A pergunta epistemológica passa a ser mais fundamental que a metafísica, já que esta supõe logicamente aquela. A ética também deixa de fundar-se em um princípio externo (em Deus) e passa a fundar-se na razão. Com Kant nasce o iluminismo, “suplantando de vez” a ética bíblica, pondo acima a razão e o conhecimento antropocêntrico como o guia infalível para a humanidade.
     Kant, Immanuel (1724-1804) foi um dos filósofos que mais profundamente influenciou a formação da filosofia contemporânea. O seu método transcendental não é mais um discurso sobre os objetos, mas sobre a “objetividade”, ou seja, sobre as condições de possibilidade do objeto. “Um discurso que não fala acerca dos objetos, mas das condições de possibilidade da objetividade é o que em filosofia costuma ser qualificado de “transcendental”. Um discurso transcendental procura a fundamentação das aspirações de validez universal, seja no conhecimento, seja na ética; seja com respeito à verdade do que é, seja com respeito à legitimidade do que deve ser”. (PORTA, Mario Ariel Gonzáles. A Filosofia a Partir de Seus Problemas. P. 162. Ed. Loyola, SP, 2002)
Com Kant a filosofia alcança a pureza antropocêntrica, razão pura; como os filósofos da natureza pretendiam. Segundo ele, conhecemos somente os fenômenos, mas não a coisa em si. Mas a crítica levantada foi: se capto as imagens das coisas pelos sentidos como não conhecê-las em si? Kant caiu em contradição. Ou a coisa em si referida por Kant não são as coisas temporais, da natureza?
Período IV – Contemporâneo
     A filosofia contemporânea não têm escolas, mas diversos seguimentos filosóficos e psicológicos, da Alemanha surgiram os principais ícones da filosofia do século XIX e XX. Com Kant e Hegel, ícones do idealismo alemão, a filosofia parece ter chegado às últimas consequências do conhecimento a priori. Até então, entendia-se, que, só podíamos conhecer o que estava na mente, é o mesmo que dizer, a existência do mundo depende de minha mente, do meu modo de pensar; o que estava fora, à realidade, não se tinha acesso, isto é, à coisa em si, mas somente às suas imagens. Porém, quem concebe a ideia de que quando se vê uma árvore não a vê em si, mas somente sua imagem? Este era o problema aparentemente insolúvel do período epistemológico: interpretamos o mundo e as coisas dele segundo o que está em nossa mente. Inquestionavelmente esse modo de ver o mundo, as coisas e objetos que nele existe cai-se no imanentismo, no solipsismo e consequentemente no subjetivismo. Então, precisava-se de uma teoria do conhecimento que superasse a imanência e o subjetivismo. Surge assim, o psicologismo, a hermenêutica, a fenomenologia e a analítica.
Psicologismo
     Psicologismo: base de todas as ciências, estas são explicáveis pela psicologia, tudo, a lógica, a metafísica e a experiência estética, podiam ser reduzidas à forma do pensamento humano; aos modos de operar da mente. Porta, Ariel Mario Gonzáles: O termo “psicologismo” tem uma infinidade de sentidos; e o chamado “problema do psicologismo” contém, na realidade, vários problemas”. Pode-se diferenciar três tipos de psicologismo: o lógico, o “semântico” e o “epistemológico”.
Lógico
     A redução da lógica ao psicologismo nega a existência de entidades e estruturas propriamente lógicas.
Semântico
     O psicologismo semântico reduz as significações linguísticas a entidades psicológicas.
Epistemológico
     Reduz o conhecimento a um processo psicológico. Enfim, a psicologia pretendia desbancar a filosofia reduzindo tudo ao psicologismo.
     Frege, Gottlob (1848-1925), criador da lógica matemática é um dos críticos ao psicologismo metódico: a lógica se ocupa com o pensamento em sentido objetivo; e a psicologia se ocupa do ato de pensar como evento. O psicologismo reduz o lógico ao psicológico porque reduz o objetivo ao subjetivo. A consequência disto é o idealismo, o solipsismo e, em definitivo, o ceticismo. O motivo fundamental da crítica fregueana ao psicologismo é, pois, epistemológico: o psicologismo conduz a uma negação da objetividade. Logo, o psicologismo não é fruto de uma mera confusão; é uma teoria falsa. (PORTA, Ariel Mario González. A POLÊMICA EM TORNO AO PSICOLOGISMO DE BOLZANO A HEIDEGGER. PUC – SP, 2004)
     A analítica e a hermenêutica-fenomenológica são dois movimentos contemporâneos que têm em comum o sentido; são movimentos independentes, porém, compatíveis. O problema filosófico contemporâneo é superar o psicologismo e o modo de conhecer desenvolvido no período epistemológico. Então, para finalizar essa dissertação, analisarei como se deu esse processo com a fenomenologia de Husserl, Edmundo (1859-1938), o conceito fundamental para a virada é a intencionalidade.
     Intencionalidade vem de intensão, porém, não é a intensão entendida como no senso comum: intensão de terminar a graduação, de ir tomar banho ou de fazer um passeio no parque etc., mas, como intensão de conhecer, logo, intensão como teoria do conhecimento. E esta não pode ser subjetiva, pois, tudo que é subjetivo é apenas opinião, do sujeito; muito menos imanente, porque emana do sujeito. Logo, a teoria do conhecimento tem que superar todo tipo de individualismo, precisa ser uma regra aplicada a todos, onde cada um pode tirar suas conclusões; é um processo que emana do “geral” para o comum. A “intencionalidade” é um novo modo de ver e interpretar o mundo físico e metafísico, baseado nas vivências sensíveis e nas isentas de sensação, logo, as vivências têm origem na sensibilidade que tenho do mundo externo e das vivências que tenho em minha mente, as que emanam de meu corpo; as vivências sempre me dá consciência de alguma coisa. Exemplos: quando tenho sensação tenho sensação de algo: sinto se o objeto é duro ou não, se é de ferro ou de madeira, tenho a noção de seu tamanho, de sua cor e forma, enfim, pelas vivências das sensações mentais do mundo exterior tenho consciência de algo; quando sinto angústia, tristeza, alegria etc., são vivências sensíveis internas, são minhas vivências, e se são minhas, ninguém mais têm acesso, apenas eu tenho consciência de minhas vivências. Mas a angústia, a tristeza e a alegria também podem ser vivências do outro, mas jamais será a mesma da minha, até porque as causas são diferentes. E esse mesmo princípio aplica-se também às vivencias sensíveis: Quando várias pessoas olham para um mesmo objeto, cada um tem vivências diferentes daquele objeto, jamais captamos os mesmos aspectos, até porque cada um está em diferentes ângulos em relação ao mesmo objeto. Então, temos consciência de que há dois mundos que causam vivências conscientes em mim, um mundo interno e outro externo, e ambos causam vivências conscientes em mim. Logo, a existência do mundo não depende de minha existência, tudo existe independente de mim, enquanto estou no mundo, tenho vivências de estar e de viver como parte do mundo. Então, é possível conhecer a coisa em si? Sim, tanto físico quanto o metafísico. Por exemplo: a árvore é física e a angústia é metafísica. Mas a questão é, qual é a coisa em si que a filosofia sempre questionou? Essa coisa em si filosófica é Deus, o Criador. A filosofia apenas nunca explicitou isso, mas está implícita em todo discurso filosófico e esse sempre foi o maior problema de algumas filosofias, questionar o inquestionável, fazer a pergunta errada, e se a questão é errada as respostas sempre serão falaciosas. Mas como posso ter vivências de Deus, pode ser a questão? Quando estou lendo um livro estou tendo vivências do livro e do que está escrito nele. Como sei que Napoleão Bonaparte viveu e fez tudo o que fez? Pela historicidade; do mesmo modo sei que Nero existiu e que Pilatos, Moisés, Babilônia, Mesopotâmia, Jericó, rio Nilo, dilúvio, Adão, Abraão, Isaque, Jacó e Jesus Cristo, o Deus encarnado entre outros existem. Logo, para tudo existir e sua veracidade não é necessário que eu veja, mas tenho vivências históricas. O único problema é que tenho que ter vivências conscientes, pois, é possível estar no mundo, ter vivências e não torna-las conscientes, vivências conscientes têm que ser experimentadas, vividas intensamente; e elas são possíveis física e metafisicamente.
Viver Autêntico
Compreender a teoria do conhecimento, segundo a intencionalidade fenomenológica consciente husserliana, capacita a um viver autêntico e consciente de “ser” e estar no mundo, pois, o estar consciente livra-nos de muitos males provocados pela ignorância cognitiva e dogmas que buscam alienar-nos de ser um indivíduo de consciência do mundo e do que nele há. Qualquer profissional sem consciência do que faz, não executa seu trabalho com prazer e quando o faz nessas condições não tem consciência do que faz. Ter consciência de que é preciso estar consciente no mundo é o primeiro passo para a evolução cognitiva da sociedade contemporânea, caso contrário, a sociedade mundial poderá agir inconscientemente, sofrendo assim, uma interferência segundo os modos da Idade Média.
Vivências Sem e Com Sentido
Todos os animais também têm vivências sensitivas, porém, suas vivências são destituídas de sentido e consciência. Quando eles veem qualquer coisa, vê-as como vemos um borrão qualquer, não os interpreta e nem busca dar sentido como o homem dá às artes. A todo o momento tenho um turbilhão de vivências, mas escolho quais ou qual será uma vivência consciente. Nesse momento que digito em meu notebook tenho muitas vivências, da mesa e do que está sobre ela, do armário ao lado, do fogão, da pia, da geladeira, das cadeiras, micro-ondas, mas, nesse momento, a minha vivência consciente é digitar sobre as vivências, logo, tenho uma vivência consciente de escrever sobre o que são as vivências intencionais ou, intencionalidade em Husserl. Porém, é possível viver e agir no mundo sem a devida consciência, mas nem por isso deixo de ter vivências, pois, é mais cômodo "ignorar" as vivências que trazê-las à consciência, assim, tenho a impressão de agir sem responsabilidade para comigo, com o outro e com o todo em geral. E essa, creio eu, é a tendência da maioria das pessoas do mundo contemporâneo.
     

Filósofo Isaías Correia Ribas