A filosofia sempre foi um esforço antropocêntrico para resolver problemas
levantados pelos homens em diferentes períodos e culturas; por isso, seu
discurso tem que ser claro e racional, logo, não deve ser obscuro. Então,
conhecer o problema é condição necessária para se compreender o filósofo e sua
filosofia. No entanto, nem sempre, os estudiosos da filosofia se preocuparam
com esse método; preferindo analisar os diferentes períodos filosóficos
conectados aos diversos eventos históricos, sem, na maioria das vezes, se
preocuparem com os problemas filosóficos. Mas esse método histórico não é o
melhor para se compreender a filosofia, seus problemas, e sua divisão em
períodos. Nessa dissertação de conclusão da disciplina: “Linguagem e Fenomenologia I”; vou analisar os diferentes períodos
filosóficos a partir de seus problemas.
Período I – Natural (Physis)
Antes de se preocupar com metafísica filosófica, precisa-se entender o
que foi a filosofia natural, ou filosofia Pré-Socrática e seus problemas. A
filosofia, por aproximadamente dois mil anos se preocupou com o problema do ser,
mas o ser não foi o primeiro problema filosófico, e sim, a gênese do ser; isto
é, como tudo surgiu no planeta Terra, os seres animados, inanimados e o próprio
Cosmos. Era esse o problema que precisava de respostas dos filósofos da Physis,
os naturalistas. Queriam eles, para questionar a fé judaica, a mitologia e
criar outro meio de explicar o que existe encontrar uma substância ou elemento
natural que fosse a origem de tudo. Para isso, levantaram algumas hipóteses
como sendo a água, por Tales de Mileto (640-548 a. C.); o apeiron, por
Anaximandro (610-547 a. C.); o ar, por Anaxímenes (588-524 a. C.); o fogo, por
Heráclito (sécs. VI-V a. C.); os números de Pitágoras (séc. IV a. C.); e a
combinação de alguns desses elementos com a terra, no entanto, a terra não foi
elencada como um desses elementos. Por dois séculos os filósofos da Physis
analisaram a natureza e o cosmos em busca de uma resposta natural ao problema
da gênese, porém, não foram capazes de resolver o problema levantado. Inferiram
por meio de Heráclito: tudo é movimento, uma sucessão entre ser e não ser
existentes concomitantemente na coisa, logo, nada é; tudo é apenas movimento:
geração e corrupção, nascer e morrer, uma passagem. Parmênides, contemporâneo
de Heráclito criticou o absurdo antagônico dessa conclusão e formulou a teoria
do ser: “O ser é, o não ser não é”,
criando assim, a ontologia. Dessa visão naturalista, e por causa das
frustrações filosóficas, a ciência moderna inventou as diversas teorias sobre a
origem do universo e da vida. E a filosofia, para continuar no seu desafiou
primeiro, voltou-se ao próprio homem, à sua religiosidade e à mitologia,
redirecionando assim o conhecimento antropocêntrico.
Período II - Metafísico
Principais nomes que corresponde à filosofia antiga, medieval e início
da moderna: Sócrates, Platão, Aristóteles, Santo Tomás de Aquino e (René
Descartes); a disciplina chave foi a Metafísica e o conceito chave o “Ser”. A
partir das frustrações filosóficas da Physis, mudou-se a pergunta: qual é a
gênese do ser para o que é o ser? E esse “Ser”
não poderia ser temporal, finito, pois todas as possibilidades da gênese estar
em um ente finito e natural já haviam sido analisadas, logo, o Ser teria que ser eterno e atemporal. Para
Sócrates, o “Ser” era uma “inteligência superior”, para Platão “o demiurgo plasmador”, aquele que plasma a partir da matéria existente e não
um criador que cria através do logos (a palavra), como ensinava Deus através dos
Hebreus. E para Aristóteles, “o motor
imóvel que move todas as coisas sem se mover; o causador de todas as causas sem
ser causado”.
Platão, com uma jogada filosófica genial, induziu a filosofia a ir além
do físico, da matéria, estabelecendo outro mundo, o mundo das ideias; e colocou
esse mundo no espaço ideal, denominando-o “hiperurânio”,
mundo das formas perfeitas, no qual apenas as almas tinham acesso após a morte
do indivíduo. Para isso ser lógico, dividiu o indivisível indivíduo em duas
partes, o corpo-físico, mortal; e a alma-intelectiva, imortal; e todo o
conhecimento dependia da alma que visitava o mundo das formas perfeitas, que,
após a reencarnação ensina o indivíduo em desenvolvimento. O mundo das ideias
de Platão aos pouco atingiu o status de teologia; no Império romano, o
neoplatonismo, sob a capa do cristianismo, infiltrou-se no interior do
paganismo, e Constantino (séc. IV), para amenizar a crise generalizada que se
instalara em Roma, aproximou-se desse poder filosófico-cristão que se desenvolvia
como força política e converteu-se. Enquanto a filosofia platônica conquistava
o império por dentro, os “bárbaros” o conquistava pelas fronteiras. E assim, o
Império romano do Ocidente caiu. Desse casamento entre a filosofia cristã e o
poder político iniciou a Idade Média e a organização da igreja católica que
dominara a política, a religião e a educação no mundo ocidental por mil anos. Em
posse de todo o poder eclesiástico e político foi possível anular partes da
bíblia, principalmente alguns de seus mandamentos, a moral bíblica, e em seu lugar
estabeleceu as tradições filosóficas-neoplatônicas; as tradições católicas
foram e estão tão bem alicerçadas que a maioria das igrejas protestantes e
espiritualistas atuais, as tem como verdades bíblicas.
Aristóteles, discípulo de Platão, discordou da filosofia de seu mestre,
do mundo das ideais, percebera que antes de definir o ser, ou, o que é o ser?
Era preciso entender as categorias do ser antes de predicá-lo. Definiu assim as
categorias existentes além do próprio sujeito (substância ou essência): a
quantidade, a qualidade, a relação, o tempo, o lugar, o peso, a situação, a
ação, a paixão e a possessão. Essas são supremas ao ser, logo, metafísicas, o que está além da física.
No final da Idade Média, com os filósofos escolásticos, o transcendental
referia-se, ir além das categorias aristotélicas. Os transcendentais seriam,
assim, o ser verdadeiro, o bem e o belo, caracterizando tudo aquilo que é,
sendo no fundo aspectos da mesma coisa, o *Ser.
Período III - Epistemológico
O início da Idade Média deu-se seguido à queda do Império romano do
Ocidente, e seu fim, com a queda do Império Bizantino (1453), antigo Império
romano do Oriente. É o nascimento da modernidade, do Humanismo, do
Renascimento, da cultura e do conhecimento antropocêntrico em geral, e assim, a
filosofia também apresenta novas perspectivas fundamental para o conhecimento. O
período epistemológico ou transcendental corresponde ao início da Idade
Moderna, Descartes e Kant foram os principais filósofos; a disciplina chave foi
a epistemologia, teoria transcendental; e o conceito chave foi:
verdade-objetividade-validez. (PORTA, Mario Ariel González. A Filosofia a
Partir de Seus Problemas. Ed. Loyla, São Paulo, SP, 2002)
Descartes, René (1596-1650), provocou a virada filosófica sobre o que é
o ser, para, como é possível conhecer o ser? Nasce assim o período
epistemológico, a possibilidade de entender e fundamentar o conhecimento das
coisas, os objetos, a ciência. Descartes é o filósofo que está com um dos pés
na ciência e outro na metafísica religiosa, pretendendo provar a existência de
Deus cientificamente ou racionalmente. Para ele “toda filosofia é como uma
árvore cujas raízes são a metafísica e as ciências os ramos”; “o bom senso (ou
razão) é o que existe de mais bem repartido no mundo”; “jamais devemos admitir
alguma coisa como verdadeira a não ser o que conhecemos evidentemente como
tal”; “a proposição Penso, logo existo é
a primeira e mais certa que se apresenta àquele que conduz seus pensamentos com
ordem”. Toda obra de Descartes visa mostrar que o conhecimento requer, para ser
válido, um fundamento metafísico. Ele parte da dúvida metódica: se duvido até
mesmo das verdades matemáticas, não posso duvidar de que tenho consciência de
duvidar, portanto, de que existo enquanto tenho essa consciência. O *cogito é, pois, a descoberta para o
fundamento da metafísica e cuja evidência fornece o critério da ideia
verdadeira. Assim, a metafísica é fundadora de todo saber verdadeiro. A
epistemologia dá-se na relação entre mente e corpo; sujeito e objeto; dessas
relações, como é possível o conhecimento?
Dualismo substancial
As substancias são o corpo e a mente: corpo, coisa extensa (res
extensa); mente: coisa pensante (res cogito). Queria ele provar cientificamente
sua existência, a de Deus e da alma. O grande problema para Descartes era
encontrar algo que fizesse a ligação entre a matéria extensa e a pensante; para
isso criou a hipótese da existência de uma glândula pineal, mas essa glândula
não foi encontrada no corpo humano.
O cogito
ergo sum (penso, logo existo) é o primeiro princípio episstemológico,
inaugurando uma revolução que consiste em partir da presença do pensamento e
não da presença do mundo. Isto é, o que se pensa é superior ao que existe,
logo, para a existência se concretizar dependia do ato de pensar. A proposição:
eu sou, eu existo, é necessariamente
verdadeira todas as vezes que a pronuncio ou que a concebo em meu espirito.
(HILTON Japiassú e DANILO Marcondes; Dicionário Básico de filosofia. Ed. Zahar,
Rio de Janeiro, RJ. 1989)
Descartes elaborou um novo método de se chegar à verdade, fez isso
porque deduziu que sempre fora enganado, logo, seu objetivo era superar os
escolásticos. Para ele, o homem precisa desfazer-se de todas as suas opiniões
anteriores a fim de ter condições de “estabelecer de firme e de certo o que há
nas ciências”. Para isso resolveu duvidar de tudo: sua dúvida era voluntária,
radical (duvidar de sua própria existência) e “hiperbólica” (exagerada), tem
que ser assim porque trata como absolutamente falso tudo aquilo que é duvidoso
e porque rejeita universalmente, como sempre enganador aquilo pelo qual ele foi
algumas vezes enganado. Os graus dessa dúvida vão do conceito sensível às
matemáticas, ao sonho e, enfim, a ação do gênio maligno.
Descartes, influenciado por Santo
Agostinho: Temos acesso à realidade por meio de cópias; a mente é uma caixa
fechada que interpreta o mundo. Isto é, por meio da sensibilidade captamos as
imagens dos objetos e a mente ou consciência interpreta-os, e assim, conhecemos
a realidade. Logo, a relação do homem com o mundo externo é por meio de cópias
ou imagens. A imagem está na mente e não o objeto, então, quando olha, vê-se a
imagem e não o objeto. As ideias não envelhecem, não sofrem a ação do tempo,
são diferentes dos sensíveis. As ideias são eternas; onde está a verdade das
ideias? Na mente de Deus, logo, acesso a Deus pelas ideias. Mas como O acesso?
Pelo espírito, porque Deus é espírito e nós também temos o espírito, logo, essa
comunicação é possível. O sensível deixa de existir, as ideias são eternas,
logo, são mais reais.
Em Descartes, Deus ainda desempenha
um papel essencial na fundamentação do conhecimento. Essa característica da
modernidade começa com Descartes e culmina com Kant, com quem adquire sua forma
mais pura. Em Kant, a fundamentação do conhecimento não está em nenhuma
instância externa, mas em si próprio. No período epistemológico não se discursa
mais sobre os objetos, mas como se conhece os objetos; não se pergunta mais
sobre o que há, mas ao saber do que há; se posso conhecer o que há; dentro de
que limites, de que forma, sob quais fundamentos (a experiência ou uma fonte
não empírica, a razão, a intuição pura, etc.), o que é a verdade etc.? A
pergunta epistemológica passa a ser mais fundamental que a metafísica, já que
esta supõe logicamente aquela. A ética também deixa de fundar-se em um
princípio externo (em Deus) e passa a fundar-se na razão. Com Kant nasce o
iluminismo, “suplantando de vez” a ética bíblica, pondo acima a razão e o
conhecimento antropocêntrico como o guia infalível para a humanidade.
Kant, Immanuel (1724-1804) foi um dos filósofos que mais profundamente
influenciou a formação da filosofia contemporânea. O seu método transcendental
não é mais um discurso sobre os objetos, mas sobre a “objetividade”, ou seja,
sobre as condições de possibilidade do objeto. “Um discurso que não fala acerca dos objetos, mas das condições de
possibilidade da objetividade é o que em filosofia costuma ser qualificado de
“transcendental”. Um discurso transcendental procura a fundamentação das
aspirações de validez universal, seja no conhecimento, seja na ética; seja com
respeito à verdade do que é, seja com respeito à legitimidade do que deve ser”.
(PORTA, Mario Ariel Gonzáles. A Filosofia a Partir de Seus Problemas. P.
162. Ed. Loyola, SP, 2002)
Com Kant a filosofia alcança a pureza
antropocêntrica, razão pura; como os filósofos da natureza pretendiam. Segundo
ele, conhecemos somente os fenômenos, mas não a coisa em si. Mas a crítica
levantada foi: se capto as imagens das coisas pelos sentidos como não
conhecê-las em si? Kant caiu em contradição. Ou a coisa em si referida por Kant
não são as coisas temporais, da natureza?
Período IV – Contemporâneo
A filosofia contemporânea não têm
escolas, mas diversos seguimentos filosóficos e psicológicos, da Alemanha
surgiram os principais ícones da filosofia do século XIX e XX. Com Kant e
Hegel, ícones do idealismo alemão, a filosofia parece ter chegado às últimas
consequências do conhecimento a priori.
Até então, entendia-se, que, só podíamos conhecer o que estava na mente, é
o mesmo que dizer, a existência do mundo depende de minha mente, do meu modo de
pensar; o que estava fora, à realidade, não se tinha acesso, isto é, à coisa em
si, mas somente às suas imagens. Porém, quem concebe a ideia de que quando se
vê uma árvore não a vê em si, mas somente sua imagem? Este era o problema
aparentemente insolúvel do período epistemológico: interpretamos o mundo e as
coisas dele segundo o que está em nossa mente. Inquestionavelmente esse modo de
ver o mundo, as coisas e objetos que nele existe cai-se no imanentismo, no
solipsismo e consequentemente no subjetivismo. Então, precisava-se de uma
teoria do conhecimento que superasse a imanência e o subjetivismo. Surge assim,
o psicologismo, a hermenêutica, a fenomenologia e a analítica.
Psicologismo
Psicologismo: base de todas as ciências, estas são explicáveis pela
psicologia, tudo, a lógica, a metafísica e a experiência estética, podiam ser
reduzidas à forma do pensamento humano; aos modos de operar da mente. Porta,
Ariel Mario Gonzáles: “O termo “psicologismo” tem uma infinidade de sentidos; e o chamado
“problema do psicologismo” contém, na realidade, vários problemas”. Pode-se
diferenciar três tipos de psicologismo: o lógico, o “semântico” e o
“epistemológico”.
Lógico
A redução da lógica ao psicologismo
nega a existência de entidades e estruturas propriamente lógicas.
Semântico
O psicologismo semântico reduz as significações linguísticas a entidades
psicológicas.
Epistemológico
Reduz o conhecimento a um processo psicológico. Enfim, a psicologia
pretendia desbancar a filosofia reduzindo tudo ao psicologismo.
Frege, Gottlob (1848-1925), criador da lógica matemática é um dos
críticos ao psicologismo metódico: a lógica se ocupa com o pensamento em
sentido objetivo; e a psicologia se ocupa do ato de pensar como evento. O
psicologismo reduz o lógico ao psicológico porque reduz o objetivo ao
subjetivo. A consequência disto é o idealismo, o solipsismo e, em definitivo, o
ceticismo. O motivo fundamental da crítica fregueana ao psicologismo é, pois,
epistemológico: o psicologismo conduz a uma negação da objetividade. Logo, o
psicologismo não é fruto de uma mera confusão; é uma teoria falsa. (PORTA, Ariel Mario González. A POLÊMICA
EM TORNO AO PSICOLOGISMO DE BOLZANO A HEIDEGGER. PUC – SP, 2004)
A analítica e a
hermenêutica-fenomenológica são dois movimentos contemporâneos que têm em
comum o sentido; são movimentos independentes, porém, compatíveis. O problema
filosófico contemporâneo é superar o psicologismo e o modo de conhecer
desenvolvido no período epistemológico. Então, para finalizar essa dissertação,
analisarei como se deu esse processo com a fenomenologia de Husserl, Edmundo
(1859-1938), o conceito fundamental para a virada é a intencionalidade.
Intencionalidade vem de intensão, porém, não é a intensão entendida como
no senso comum: intensão de terminar a graduação, de ir tomar banho ou de fazer
um passeio no parque etc., mas, como intensão de conhecer, logo, intensão como
teoria do conhecimento. E esta não pode ser subjetiva, pois, tudo que é
subjetivo é apenas opinião, do sujeito; muito menos imanente, porque emana do
sujeito. Logo, a teoria do conhecimento tem que superar todo tipo de
individualismo, precisa ser uma regra aplicada a todos, onde cada um pode tirar
suas conclusões; é um processo que emana do “geral” para o comum. A “intencionalidade” é um novo modo de
ver e interpretar o mundo físico e metafísico, baseado nas vivências sensíveis
e nas isentas de sensação, logo, as vivências têm origem na sensibilidade que
tenho do mundo externo e das vivências que tenho em minha mente, as que emanam
de meu corpo; as vivências sempre me dá consciência de alguma coisa. Exemplos:
quando tenho sensação tenho sensação de algo: sinto se o objeto é duro ou não,
se é de ferro ou de madeira, tenho a noção de seu tamanho, de sua cor e forma,
enfim, pelas vivências das sensações mentais do mundo exterior tenho
consciência de algo; quando sinto angústia, tristeza, alegria etc., são
vivências sensíveis internas, são minhas vivências, e se são minhas, ninguém
mais têm acesso, apenas eu tenho consciência de minhas vivências. Mas a
angústia, a tristeza e a alegria também podem ser vivências do outro, mas
jamais será a mesma da minha, até porque as causas são diferentes. E esse mesmo
princípio aplica-se também às vivencias sensíveis: Quando várias pessoas olham
para um mesmo objeto, cada um tem vivências diferentes daquele objeto, jamais
captamos os mesmos aspectos, até porque cada um está em diferentes ângulos em
relação ao mesmo objeto. Então, temos consciência de que há dois mundos que
causam vivências conscientes em mim, um mundo interno e outro externo, e ambos
causam vivências conscientes em mim. Logo, a existência do mundo não depende de
minha existência, tudo existe independente de mim, enquanto estou no mundo,
tenho vivências de estar e de viver como parte do mundo. Então, é possível
conhecer a coisa em si? Sim, tanto físico quanto o metafísico. Por exemplo: a
árvore é física e a angústia é metafísica. Mas a questão é, qual é a coisa em
si que a filosofia sempre questionou? Essa coisa em si filosófica é Deus, o
Criador. A filosofia apenas nunca explicitou isso, mas está implícita em todo
discurso filosófico e esse sempre foi o maior problema de algumas filosofias,
questionar o inquestionável, fazer a pergunta errada, e se a questão é errada
as respostas sempre serão falaciosas. Mas como posso ter vivências de Deus,
pode ser a questão? Quando estou lendo um livro estou tendo vivências do livro
e do que está escrito nele. Como sei que Napoleão Bonaparte viveu e fez tudo o
que fez? Pela historicidade; do mesmo modo sei que Nero existiu e que Pilatos,
Moisés, Babilônia, Mesopotâmia, Jericó, rio Nilo, dilúvio, Adão, Abraão,
Isaque, Jacó e Jesus Cristo, o Deus encarnado entre outros existem. Logo, para
tudo existir e sua veracidade não é necessário que eu veja, mas tenho vivências
históricas. O único problema é que tenho que ter vivências conscientes, pois, é
possível estar no mundo, ter vivências e não torna-las conscientes, vivências
conscientes têm que ser experimentadas, vividas intensamente; e elas são
possíveis física e metafisicamente.
Viver Autêntico
Compreender a teoria do conhecimento,
segundo a intencionalidade fenomenológica consciente husserliana, capacita a um
viver autêntico e consciente de “ser” e estar no mundo, pois, o estar
consciente livra-nos de muitos males provocados pela ignorância cognitiva e
dogmas que buscam alienar-nos de ser um indivíduo de consciência do mundo e do
que nele há. Qualquer profissional sem consciência do que faz, não executa seu
trabalho com prazer e quando o faz nessas condições não tem consciência do que
faz. Ter consciência de que é preciso estar consciente no mundo é o primeiro
passo para a evolução cognitiva da sociedade contemporânea, caso contrário, a
sociedade mundial poderá agir inconscientemente, sofrendo assim, uma
interferência segundo os modos da Idade Média.
Vivências Sem e Com Sentido
Todos os animais também têm vivências
sensitivas, porém, suas vivências são destituídas de sentido e consciência.
Quando eles veem qualquer coisa, vê-as como vemos um borrão qualquer, não os
interpreta e nem busca dar sentido como o homem dá às artes. A todo o momento tenho
um turbilhão de vivências, mas escolho quais ou qual será uma vivência consciente.
Nesse momento que digito em meu notebook tenho muitas vivências, da mesa e do
que está sobre ela, do armário ao lado, do fogão, da pia, da geladeira, das
cadeiras, micro-ondas, mas, nesse momento, a minha vivência consciente é
digitar sobre as vivências, logo, tenho uma vivência consciente de escrever
sobre o que são as vivências intencionais ou, intencionalidade em Husserl. Porém, é possível viver e agir no mundo sem a devida consciência, mas nem por isso deixo de ter vivências, pois, é mais cômodo "ignorar" as vivências que trazê-las à consciência, assim, tenho a impressão de agir sem responsabilidade para comigo, com o outro e com o todo em geral. E essa, creio eu, é a tendência da maioria das pessoas do mundo contemporâneo.
Filósofo Isaías Correia Ribas