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domingo, 2 de junho de 2013

OS FILÓSOFOS E SUAS FRUSTRAÇÕES III


Hume, David (1711 – 1776)
     Hume, filósofo e historiador francês, ícone na história da filosofia por suas críticas aos métodos de operação do entendimento praticados pela ciência e a metafísica. Para ele, seus fundamentos são falaciosos; suas críticas parou, por alguns anos, a produção do pensamento filosófico; a ciência, apesar de seu fundamento epistemológico ser falacioso, não interrompeu suas investigações e produção técnica.
     Fundamento epistemológico da ciência Clássica e Moderna: universal e necessário. Clássica (da Grécia a modernidade apesar das diferenças); universal (vale para todos); necessário (de tal maneira que não pode ser de outro modo). Primeiro problema: se é necessário não pode ser contingente; e se é contingente pode ser e não ser, como a ciência é contingente, não pode ser universal e necessária. Segundo: o princípio universal aplica-se a todos, e nenhum experimento científico é capaz desse feito. Logo, causa e efeito deduz-se pelo hábito, por um número finito de verificações e não pela universalidade. Então, a maior prova de que o fundamento científico está no hábito e não no universal e necessário é que a produção não parou apesar da falácia do fundamento.
     A maioria dos cientistas eram também filósofos. Descartes, Spinoza, Leibniz, Wolff e outros. Eles, por meio da lógica formal, achavam-se capazes de provar a existência de Deus pelo raciocínio puro, lógico, pensavam assim porque isso é possível na matemática e na geometria. O fundamento da lógica está fundamentado no princípio de contradição, isto é, “nada pode ser e não ser ao mesmo tempo e sobe a mesma relação (ou um juízo não pode ser verdadeiro ou falso)”. Numa linguagem popular fica assim: só pode ser assim, se for de outro modo, cai-se em contradição. Logo, o princípio de contradição é insustentável, porque desqualifica todo pensamento, que se torna uma opinião sem valor de verdade. Foi essa contradição que Hume contestou; é impossível a metafísica provar a existência de Deus por dedução lógica. Deus existe, mas pode não existir. Logo, cientistas e metafísicos, segundo Hume, não têm nenhuma certeza absoluta. Assim, a filosofia entrou em crise, e agora, como sair desta crise conceitual?
     A filosofia, como já deu para perceber, é um jogo de conceitos. Há dois conceitos que irá nos ajudar a entender o que estava acontecendo naqueles dias: a priori e a posteriori; desses dois, kant deduziu os seus: analítico e sintético.
 a priori e o a posteriori:
a priori (o que é possível conhecer sem a experiência), conhece-se pela análise do próprio conceito, logo, razão pura. Analisemos o conceito triângulo: por análise deduz-se que, o que ele é, está contido no próprio triângulo (têm três lados e três ângulos), pensar diferente disso cai-se em contradição, isto é, nunca o triângulo terá quatro lados. Então, a priori deduz-se pela análise, logo, analítico.
A posteriori (aquilo que só possível conhecer após a experiência), se Deus, após criar Adão, e nada lhe informasse sobre as propriedades do imã, Adão jamais iria deduzir das propriedades do imã pela análise do conceito imã, para inferir alguma propriedade teria que aproximá-lo de outros metais, ou parti-lo em dois ou mais pedaços. Então, isso só era possível pela síntese, análise das partes. Logo, sintético.
Então, conclui-se que, a priori e a posteriori, pertencem a universos diferentes; e o que estava fazendo os filósofos cientistas quando pretendia provar a metafísica por meio da análise do conceito Deus? Caiam em contradição. Então, o problema que ficou para a filosofia resolver foi: Como são possíveis juízos sintéticos a priori? Chamo a atenção que, o sintético está ligado ao empirismo (experiência), e o analítico, não precisa da experiência. Juízos analíticos a priori eram o que os filósofos faziam até Hume, assim, pretendiam eles, provar a existência de Deus, ou extrair dessa análise propriedades divinas, mas, como vimos, caiam em contradição; não passando de um esforço lógico que passava a ilusão “verdadeira” que provara a existência de Deus.    
Kant, Emmanuel (1724 – 1804)
     O primeiro elemento do problema kantiano é a física, o segundo a metafísica. Mas o que é a metafísica para Kant? É a metafísica racionalista. Descartes, como sabemos, tem por título uma obra, Meditações Metafísicas, nela, ele propõe resolver, de modo definitivo, problemas tais como a existência de Deus ou a imaterialidade da alma humana. Leibniz, Spinoza e outros racionalistas do período também tentam.
Para Kant “a metafísica pretende, pois, ser conhecimento puramente racional, ou seja, conhecimento por meio da razão pura. Os racionalistas consideram que a metafísica é possível como ciência, isto é, que é possível conhecer, por meio da razão pura, verdades que transcendem toda experiência possível”. Tanto Descartes como Leibniz trabalham naquele projeto, comum à ciência moderna, de matematizar o universo. Ambos vinculam estreitamente suas físicas com suas metafísicas. Se suas físicas são diferentes é, em boa medida, porque as metafísicas, a serviço das quais se encontram, são diferentes. (Ariel, Mario Gonzáles Porta; A filosofia a partir de seus problemas. Ed. Loyola, São Paulo, 2002)
     A física que Kant leva em consideração, que servirá de fundamento para resolver o problema causado por Hume, é a física de Isaac Newton (1642-1727) que, “resultou um quadro unitário do mundo e uma efetiva e sólida reunião da física terrestre e da física celeste. Caía definitivamente por terra o dogma de uma diferença essencial entre os céus e a terra, entre a mecânica e a astronomia, esfacelando-se também aquele ‘mito da circularidade’ que por mais de um milênio condicionara o desenvolvimento da física e que exercera seu peso até sobre o discurso de Galileu: os corpos celestes se movem segundo órbitas elípticas, porque sobre eles age uma força que os afasta continuamente da linha reta na qual, por inércia, eles continuariam o seu movimento”. (Paolo Rossi) (Giovanni Reale – Dario Antiseri; História da filosofia, vol. II; pág. 304, Paulus, são Paulo, 1989.)
A ciência matemática e mecânica newtoniana é o gancho no qual Kant se apoia para apresentar a solução do problema: como são possíveis juízos sintéticos a priori?
1.      Se a mecânica newtoniana é ciência.
2.      E ciência é conhecimento universal e necessário,
3.      Então a mecânica newtoniana é conhecimento universal e necessário.
4.      Todavia, conhecimento universal e necessário não pode ser jamais empírico, mas a priori.
5.      Portanto, se a mecânica newtoniana é possível como ciência, então o conhecimento a priori é possível. (Porta, pág. 110)
     Kant, pelo raciocínio lógico, de início já demonstra que sua tese é possível, logo, deve ser levada em consideração. Após dez anos pensando resolver o problema aparentemente insolúvel para Hume e os filósofos da época, apresenta sua solução na Crítica da Razão Pura. Na Grécia antiga, Platão, como sabemos, enfrentou semelhante problema após as críticas de Heráclito, mas, passados doze anos, com uma manobra genial, unindo-se à metafísica, “resolveu o problema da física”, filosofia da natureza. Agora o problema se inverte, Kant une-se à física de Newton para resolver o problema metafísico-teológico-mitológico, que Platão implantara.
Síntese da solução:
     Kant, semelhante a Platão, por meio de uma arquitetura conceitual, joga com a teoria do conhecimento e às formas de obtê-lo. Para Platão, o conhecimento dependia de uma alma imortal que conhece a “coisa em si” que, após a reencarnação, pela reminiscência, (lembrança), ensina o indivíduo mortal.
Kant se vale também do maior engano filosófico-científico de todos os tempos formulado por Aristóteles e Ptolomeu que, sem questionamentos de seus contemporâneos, deduziram que a Terra era o centro do universo, e todos os planetas e satélites giravam em seu entorno. Essa teoria é conhecida como geocentrismo.
     Copérnico, Nicolau (1473-1543), foi o primeiro a questionar o Geocentrismo; Galileu Galilei (1564-1642), com sua luneta apontada para o céu reafirmou as desconfianças de Copérnico no geocentrismo, estabelecendo, depois de muitas discussões com a igreja, o heliocentrismo (sol no centro de nosso sistema planetário); a Terra como os demais planetas, giraria em torno do sol (revolução) e em torno de si mesma (rotação). Com essa inversão copernicana tornou-se possível o conhecimento de nosso sistema planetário e outros fenômenos astronômicos. Então, segundo Kant, o próprio método para se conhecer o objeto ou a coisa estava invertido: o objeto estava no centro e a pessoa que conhece, ou buscava o conhecimento, girava em torno do objeto recebendo passivamente o que existe em si mesmo, no objeto, então, o objeto dava o conhecimento para o sujeito. Logo, se o conhecimento é dado, é impossível um conhecimento a priori. A questão é: se é dado, como pode o sujeito saber algo acerca de um objeto? Então, “a única forma de explicar a possibilidade do conhecimento a priori é admitir que o sujeito não é passível no conhecimento do objeto ( que não é meramente determinado por este) mas é ativo, colaborando, de alguma forma (pelo menos em parte) na sua constituição. Logo, o sujeito só pode conhecer a priori aquilo que ele “produz”, e que, em  consequência depende dele de algum  modo ou, na perspectiva inversa, que o sujeito não pode conhecer a priori aquilo que não dependa dele de modo algum. Assim, o sujeito só pode conhecer a priori aquilo que, de uma forma ou de outra, depende do seu conhecimento e não, ao contrário, aquilo que existe independente do seu conhecimento. A realidade, tal como ela é “em si”, é algo diferente do modo como ela aparece diante de mim enquanto sujeito cognoscente. A realidade  tal como é em si, me é incognoscível; o que posso conhecer dela é o modo como me aparece. O modo do seu aparecimento, porém, dependerá não só dela mas também “de mim”. Justamente por tal razão, eu posso saber algo a priori dela. Exprimindo o nosso resultado em termos Kantiano, digamos que o sujeito só pode conhecer (e só pode conhecer a priori) os fenômenos, mas não a “coisa em si” (Dinge na sich).  (Porta)
     Agora estamos em condições de entender porque o conhecimento a priori é possível na física e não na metafísica: porque enquanto a física se ocupa unicamente com os fenômenos, a metafísica trata das coisas em si (de um absoluto).
Kant descarta a possibilidade de conhecer a coisa em si ou Deus, por meio de qualquer conhecimento ou método humano. Conhecemos a priori apenas os fenômenos, e desses, o sujeito tem que estar consciente, logo, o conhecimento é para quem o busca, ele nunca é dado; não vem sem a participação do sujeito, seja o conhecimento dos fenômenos ou da coisa em si, de Deus.
     Kant, para chegar a essas conclusões partiu de uma dimensão teórica (epistemológica) e outra prática (ética). Antes de Kant, a fundamentação da ética e do conhecimento era metafísica e/ou teológica. A partir dele houve a desvinculação, a ética fundou-se no sujeito sem Deus. “O ser livre não é aquele que age sem lei alguma, mas aquele que se impõe a si mesmo a sua própria lei. Em consequência, um ser livre é um ser racional e vice versa. A vontade é um modo de causalidade próprio dos seres racionais. A liberdade é uma propriedade da vontade. A vontade é livre quando se autodetermina. Uma vontade livre é uma vontade autônoma. Vontade livre e vontade submetida às leis morais são para Kant a mesma coisa. A lei moral não é outra coisa que a legalidade de uma vontade livre”. (porta)
     Então, assim como na ética Kant não baseia o dever em Deus (ou em qualquer instância transcendente), mas na própria razão, ou seja, no “sujeito prático”, assim ele funda a possibilidade do conhecimento a priori, teórico, no próprio sujeito que conhece.
     Os filósofos sempre estão a serviço dos governos e das principais instituições religiosas, construindo utopias e mitos para iludir a sociedade que pouco ou nada conhece. Pelo comportamento da sociedade, os líderes políticos e religiosos vão avaliando as teorias filosóficas. A partir de Kant tem-se outro paradigma para impor à sociedade: a liberdade de ação sem o temor de Deus, a vontade do sujeito está livre com o aval do Estado. Nietzsche (1844-1900), as verdades que devem conduzir o sujeito são seus sentimentos e paixões. Analise o comportamento da sociedade atual e perceberás que, apesar de se falar tanto em Deus, suas verdades bíblicas não têm mais efeitos sobre nosso comportamento, cada um, sem temor de Deus e das leis do Estado, segue destemidamente sua visão de verdade. Tanto Kant quanto Nietzsche, ao propor suas máximas, fez confiando numa educação de qualidade para todos, pois, entendiam eles, que o indivíduo responsável e consciente dependia de boa formação escolar.
     Concluo com a reflexão: toda estrutura filosófica e o conhecimento antropocêntrico em geral, culmina no niilismo institucional e pessoal. A fé em Deus segundo ensina a bíblia não é mais perceptível no ser humano. Dentro desse contexto, Deus, em cumprimento às suas promessas bíblicas, para qualificar seu povo dos últimos dias e para dar uma respostas ao racionalismo por meio da fé, chamou mais uma profetisa para alertar a humanidade do iminente risco que corre por dar mais ouvidos às vans filosofias, abandonando o assim diz o Senhor. Ellen G, White (1827-1915) e seus escritos, creio eu, é a última profetisa a alertar aqueles que querem herdar a salvação. Ignorar seus conselhos é ignorar a sabedoria e amor de Deus. Trata-la como mera escritora norte americana ou psicóloga é o mesmo que nega-la como profetisa.
     Toda estrutura metafísica antropocêntrica entrou em decadência. A questão é: como dar uma resposta ao mundo se a própria igreja não consegue crer na providência divina? está na hora de acordarmos como instituição religiosa-acadêmica e como pessoas de fé.
Filósofo Isaías Correia Ribas.