Pesquisar este blog

domingo, 26 de maio de 2013

PLATÃO E O CONHECIMENTO



     Conhecimento, este, é a preocupação primeira da filosofia, e para conhecer a coisa é preciso analisa-la, para tanto, segundo Heráclito, a coisa tem que estar parada, estática; mas, o Universo e tudo que o compõe é movimento, além do movimento externo, há o interno para a própria manutenção e desenvolvimento do ser da coisa, onde esta é um constante ser e não ser antagônico, e se tudo flui antagonicamente (sendo e não sendo), é impossível à análise para se conhecer.
     Parmênides, contemporâneo de Heráclito, resolveu o problema do movimento criando a ontologia (teoria de ser). Assim, conseguiu por fim ao movimento estabelecendo o ser, não o ser físico que se movimenta naturalmente, mas o ser dialético, as ideias; o logos (palavras e raciocínios), dando assim, condições dialéticas para a filosofia continuar no seu propósito primeiro: acabar com a influência das revelações bíblicas e da mitologia no conhecimento e propósitos do Deus criador para a humanidade. Resolvido o problema do movimento Platão teve condições de elaborar sua teoria do conhecimento.
Platão
     Após a morte de seu mestre Sócrates, Platão, temendo a mesma sorte fugiu de Atenas; viajou por aproximadamente doze anos conhecendo outras constituições e diversas filosofias, principalmente a dos discípulos de Pitágoras, os pitagóricos. De volta, aos quarenta anos, fundou sua Academia em Atenas. Platão escreveu na forma de diálogo, e seu personagem principal foi seu mestre Sócrates, o mestre das ideias convincentes. Platão falava por meio de Sócrates em homenagem ao mestre, personagem rejeitado e admirado em Atenas.
Segundo Platão, “a ideia é mais que um conhecimento verdadeiro: ela é o ser mesmo, a realidade verdadeira, absoluta e eterna, existindo fora e além de nós, cujos objetos visíveis são apenas reflexos”.
Pitágoras
     “A palavra filosofia foi inventada por Pitágoras. Ele deixou duas doutrinas célebres: a divindade do número e a crença na metempsicose (migração das almas de corpo em corpo). Para ele, o corpo é a prisão da alma. Após a morte, a alma retorna em outro corpo, onde encontra um destino em conformidade com suas virtudes e vícios anteriores. Por outro lado, os números constituem a essência de todas as coisas” [...]. (dicionário de filosofia)
     Platão é o mais célebre filósofo do Ocidente. A quem diga que toda filosofia pós-Platão é filosofia de rodapé platônica. Digo mais, não só a filosofia, mas a política e 99% de toda teologia Católica, Protestantes e Espiritualistas bebem nessa fonte, que, ao longo da história, com uma boa trama filosófica judaico-cristã, adquiriu o status de teologia; passando assim, na Idade Média a comandar, sob a batuta da igreja Católica toda política ocidental, influenciando a vida religiosa das pessoas, assim, sob o manto da “religião bíblica”, alteraram os principais princípios e ensinos bíblicos que tem por objetivo conscientizar-nos de que há um plano de salvação elaborado pelo próprio criador do Universo.  
     Platão, ao propor o método para se conhecer teria que saber jogar com as palavras; o projeto de conhecimento antropocêntrico, naquele momento, dependia de sábias estratégias e argumentos filosóficos bem elaborados; que agradasse os orgulhosos doutos e que sabiamente enganasse agradavelmente a população desprovida de conhecimento. E mais, a filosofia natural, transparente e desafiadora do politeísmo mitológico e do monoteísmo bíblico, entrara em crise. A tradição filosófica é consciente de que o verdadeiro espírito filosófico morreu juntamente com os Pré-Socráticos; então, para continuar viva, a filosofia ou o seu espírito desafiador somente unindo-se à oposição: ao espírito religioso e mitológico. E foi isso que Platão conseguiu fazer da filosofia, uma falsa teologia Universal. O desafio primeiro da filosofia, de encontrar um elemento natural que fosse o originador de tudo ficou a cargo da ciência que, aos pouco foi se tornando conhecimento “verdadeiro”, conhecimento fundamentado nas causas e efeitos comprovados empiricamente (pela experiência), por isso, todas as teorias sobre a origem do Universo têm o respaldo científico e “toda” teologia o respaldo filosófico e científico. A fé no Criador, essa, tornou-se banal, foi direcionada às instituições religiosas ou a “pastores”, padres e guias espirituais que interpretam o assim diz o Senhor; logo, as revelações bíblicas ficaram subordinadas a interpretações teológicas, filosóficas e científicas. Então, diante de tamanha estratégia bem sucedida da filosofia e sua união com o místico, a salvação prometida na bíblia passou a depender de grande exercício intelectual, investigação cultural, espiritual e de muita fé na palavra de Deus. Enganam-se os que pensam que uma mera união com denominações religiosas lhe garantirá a salvação. Cada um de nós precisa fazer uma autoanálise para perceber quem eu sou e o que estou fazendo pela salvação do outro.  Se assim não for, quem alcançará a vida eterna neste atual mundo construído, a partir das interpretações humanas, um mundo de falácias políticas, filosóficas, teológicas, científicas e pessoal?   
Como conhecer o objeto ou a coisa segundo Platão:
     Platão, não esqueçamos, filosofou a partir da razão, da mitologia e do misticismo, logo, o antropocentrismo, razão pura, daquele momento em diante buscou transformar todo conhecimento mítico, místico e bíblico em razão pura. O papa Emérito Josef Ratzinger, no livro, Deus Existe? Declara, “cristianismo é antropocentrismo”. Então, Nietzsche (1844-1900), ao afirmar que cristianismo é platonismo estava certo. E ao dizer que o verdadeiro cristão morreu na cruz e que é possível e necessário que os atuais cristãos seja como Ele (Jesus Cristo), é uma verdade indiscutível para os que se dizem seguidores de cristo.  
Segundo Platão: à coisa ou o ser, ao objeto em si não temos acesso, somente às suas imagens. A coisa em si é eterna e imutável, sua forma é perfeita e está além, fora de nosso alcance sensível. A realidade para Platão é essa coisa em si; o mundo que temos acesso pelos sentidos é ilusório porque é constituído de imagens da coisa em si. Logo, a realidade de Platão está fora de nosso alcance físico-sensível. Platão não tinha noção da existência da mente, tudo era cérebro e este era apenas um órgão comum. Logo, para ter acesso à realidade, à coisa em si, dependia-se de algo além do homem e esse algo só poderia ser a alma, ser imortal que, segundo Pitágoras, migrava para outros corpos após deixar o cárcere, seu corpo.
Metafísica platônica: Idealismo X Materialismo
Idealismo em Platão: algo que não esta na mente; é a realidade das formas perfeitas que estão no mundo idealizado, o hiperurânio, habitat das almas migratórias; o que existe são os universais, as formas perfeitas. Para ele, de tudo o que existe no mundo sensível há um modelo, forma perfeita que habita o hiperurânio.
Materialismo: Não existe mente, existe o cérebro. Logo, não temos acesso ao hiperurânio sem auxílio externo, por isso a necessidade de uma alma imortal além do corpo. A metafísica de Platão é a realidade inatingível pelos sentidos, e a realidade sensível, de nosso habitat, o planeta Terra, é ilusória. Logo, não temos acesso à verdade Universal. A partir desses fundamentos Platão filosofou e construiu sua teoria do conhecimento. Após a reencarnação da alma o dualismo corpo e alma são possíveis, e os dois existem concomitantemente até a morte do corpo. Por meio da alma que teve acesso as forma perfeitas, pela reminiscência (lembrança), na medida que o indivíduo vai se desenvolvendo e contemplando nosso mundo ilusório a alma vai relembrando o que vira no mundo das formas perfeitas. Ela relembra porque quando estava vindo para se reencarnar bebeu da água do rio do esquecimento. Logo, aprender para Platão é relembrar por meio da alma.
Imagens da coisa em si
     Para cada coisa há três elementos que nos permitem adquirir a ciência delas: o nome, a definição, e a imagem; e o quarto é a ciência. Peguemos como exemplo o círculo, esse é o nome; a definição: o que tem sempre a mesma distância entre as extremidades e o centro; tal é a definição do que denominamos redondo, circunferência e círculo. Em terceiro lugar vem a imagem que se desenha e apaga, ou que se fabrica no torno e pode ser destruída, enquanto o círculo em si mesmo, a que tudo isso se refere, nada sofre por ser de todo em tudo diferente. Isto é, como a forma do círculo é imutável e eterna e não pertence ao mundo sensível não é afetada por nossas interpretações racionais e técnicas. O quarto é a ciência: a inteligência, a opinião verdadeira, relativa a esses mesmos objetos. O quinto é a essência, a coisa em si, o que faz da coisa o que ela é, a inteligência e a sabedoria, por afinidade e semelhança são os que mais se aproximam dela por meio da alma; os demais, nome, definição e imagem estão muito afastados.
     A partir desses fundamentos Platão, direta e indiretamente, influenciou a todos em todas as épocas. A teoria que o eternizou foi a da imortalidade das almas; para tanto, o homem bíblico deixou de ser uma alma (pessoa) vivente, para ter um corpo mortal e uma alma imortal; com essa jogada racional, mítica, mística e filosófica a fé em Deus foi sendo redirecionada e anulada. Por isso o próprio Cristo indagou: “Por ventura quando vier o filho do homem achará fé na terra”? Mas supomos que a fé ainda esteja presente em mim, a questão é, onde deposito a minha fé? Em Deus e Suas revelações ou nas instituições e pessoas que se dizem representantes de Deus? A salvação depende dessa direção da fé.
Filósofo Isaías Correia Ribas







domingo, 19 de maio de 2013

OS FILÓSOFOS E SUAS FRUSTRAÇÕES II



     Os filósofos da natureza, naquele momento, dialogavam com os poetas e com os profetas judaicos. Os poetas eram os responsáveis pela fundamentação dos mitos, segundo eles, eram inspirados pelos deuses e por isso deviam ser cridos que suas poesias eram a verdade. Os profetas dos judeus, diferente dos poetas, fundamentavam sua fé na palavra revelada por Deus, o criador do Universo, por isso, eram monoteístas (fé num único Deus). A filosofia nasceu para contestar essas fontes de verdades; queriam eles, pela observação e na capacidade sensível de investigação da natureza e do cosmos, ser capaz de, independente de crenças mitológicas e revelações proféticas, construir um conhecimento legitimamente humano, antropocêntrico.
Heráclito de Éfeso (VI e V a. C.) e sua irracionalidade 
     Heráclito foi o primeiro a entrar em crise existencial filosófica. Para ele é impossível apreender coisa alguma para analisá-la, pois tudo está em movimento, nada está estático na Terra e no Universo, pior, tudo é um constante ser e não ser, logo, tudo é contradição. O que é gerado corrompe-se (tudo que nasce morre), logo, apreender o que do Universo se tudo é movimento ilusório? Heráclito foi o primeiro a descrer do projeto filosófico naturalista. Ele e a filosofia eram obscuros e contraditórios, logo, irracionais.
Parmênides de Eléia (VI e V a. C.)
     A Physis (filosofia da natureza) entrou em crise; nenhum elemento natural foi encontrado para ser o princípio da criação; o Deus dos judeus apresentou-se indestrutível, como também seu opositor, o politeísmo mitológico. Então, o que restou a filosofia? Como diz o ditado: “se não pode vencê-los, une-se a eles”. E foi esta a saída que Parmênides encontrou para construir sua ontologia (teoria do ser). “Parmênides põe a doutrina do seu poema na boca de uma deusa que o acolhe benignamente. Ele imagina ser levado à deusa puxado por velozes cavalos e em companhia das filhas do sol: alcançando primeiro o portão que leva às sendas da noite e do dia, convencem a justiça, severa guardiã, a abri-lo e depois, ultrapassando a marca fatal, é guiado até a meta final”.
     A deusa (que, sem dúvida, simboliza a verdade que se revela), no fim do prólogo, diz de modo solene e programático:
“É preciso que aprendas tudo: 1) da verdade robusta o sólido coração; 2) e dos mortais as opiniões, em que não há certeza veraz; 3) ademais, também isto aprenderás: quem, em todos os sentidos, tudo indaga precisas admitir a existência das aparências”. (Giovanni Reale\Dario Antiseri. História da filosofia, vol. I; pág. 50. Ed. Paulus, 1990)
A partir do princípio mítico-místico, Parmênides, fazendo uso da racionalidade como fazem os poetas, redireciona o “racionalismo” filosófico. Então, acaba naquele momento o projeto primeiro da filosofia de construir um conhecimento antropocêntrico, mas o desafio de suplantar o Deus bíblico estava e continua vivo, só que, doravante, unidos ao misticismo. E assim, Parmênides mostra o princípio de sua verdade filosófica: “o ser é e não pode não ser; o não ser não é e não pode ser de modo algum”. “É necessário dizer e pensar que o ser seja: com efeito, o ser é; o nada não é”. “Um só caminho resta ao discurso: o que o ser é”. “Ser” e “não ser” são tomados em seu significado integral e unívoco (que se aplica a muitas coisas do mesmo gênero, com o mesmo sentido, ainda que distintas): “o ser é positivo puro e o não ser é negativo puro, um é absoluto contraditório do outro”. E assim, de mãos dadas, filosofia e mitologia encontraram uma saída para continuar no seu projeto de anulação do pensamento bíblico e da fé num Deus que tudo criou e que quer salvar.  Então, conclui-se, que, Parmênides de Eléia, foi o primeiro filósofo idealista. Por que idealista? Porque com o fim da busca de um elemento natural para a gênese do Universo e da vida, ele deslocou o foco da physis (natureza) para as ideias, o discurso lógico coerente.
Sócrates (470/469-399 a. C.)
     O pai de Sócrates era escultor e sua mãe parteira. Sócrates não escreveu nenhum tratado filosófico, tudo que sabemos dele veio através de seus admiradores e discípulos, principalmente o destacado filósofo Platão. Apesar de ser contemporâneo de Parmênides e Heráclito, não foi influenciado por nenhum deles. Percebendo o fim da filosofia da Physis e suas complicações, criou seu próprio método filosófico: a “maiêutica“, assim, indagando seus interlocutores mostrava-lhes que nada sabiam do que diziam saber. Por isso sua máxima filosófica: “Conhece-te a ti mesmo”. Sócrates ignorou a investigação da natureza e a mística teoria do ser de Parmênides, voltando-se a psique (psicologia), dispôs-se a entender o homem e sua moral política e religiosa. As ruas e as ágoras (praças públicas) eram seu palco para conscientizar seus contemporâneos das injustiças políticas e da inutilidade dos deuses mitológicos. Os jovens estavam entendendo o discurso filósofo ambulante; incomodados, os líderes políticos e os sofistas (professores que cobravam para ensinar) resolveram silenciar o revolucionário filósofo das ruas. Levado à corte de Atenas foi condenado à morte; teve oportunidade de fugir e foi aconselhado a sair da cidade, porém, para ser coerente à sua moral, crença e filosofia, democraticamente tomou o copo de cicuta e morreu após a paralisação de seus órgãos vitais. Sócrates acreditava num único Deus “Inteligência superior” e, creio eu, esse Deus deu-lhe forças para suportar as injustiças por sua coerência aos ideais morais, religiosos e filosóficos; por isso não vacilou diante do martírio. Diz Platão: “o homem mais justo de seu tempo foi condenado à morte sob a acusação de impiedade e de corrupção da juventude”.  Sócrates, primeiro marte da filosofia.
Filósofo Isaías Correia Ribas


sexta-feira, 17 de maio de 2013

OS FILÓSOFOS E SUAS FRUSTRAÇÕES I



     A filosofia ocidental nasceu na Grécia antiga por volta do século VII a. C., para fundar um conhecimento desmistificado, logo, antropocêntrico. O conhecimento mítico e bíblico judaico, até então, eram os fundamentos que orientava todo conhecimento. Insatisfeitos com esse fundamento místico, os primeiros filósofos decidiram construir um conhecimento fundamentado na Physis (natureza), segundo as percepções sensíveis do homem, questionando assim, o politeísmo mítico-místico e o monoteísmo bíblico. Para tanto, iniciaram a busca de um elemento natural que fosse a causa de tudo o que existe na Terra, seja animados (que tem vida) e inanimados (que não tem vida).
Problemas fundamentais da filosofia antiga
     No começo, a totalidade do real era vista como Physis e como cosmos. Assim, o problema filosófico por excelência era a questão cosmológica. Os primeiros filósofos chamados precisamente de “físicos”, “naturalistas” ou cosmólogos, propuseram-se os seguintes problemas: Como surgiu o cosmos? Quais são as fases e os momentos de sua geração? Quais são as forças originárias que agem no processo?
O princípio de todas as coisas à luz da filosofia
     Tales de Mileto, da região jônica, viveu nas últimas décadas do século VII a primeira metade do VI a. C., além de filósofo, foi cientista político destacado. Foi o iniciador da filosofia da Physis, o primeiro a afirmar a existência de um princípio originário único, causa de todas as coisas que existem, sustentando que esse princípio é a água. Por princípio (arché), entende-se: a) a fonte de todas as coisas; b) a foz ou termo último de todas as coisas; c) o sustentáculo permanente que mantém todas as coisas (a “substância”, usando um termo posterior). Em suma, o “princípio” pode ser definido como aquilo do qual provêm, aquilo no qual se concluem e aquilo pelo qual existem e subsistem todas as coisas.
     Giovanni Reale, “Mas não se deve acreditar que a água de Tales seja o elemento físico-químico que bebemos. A água de Tales deve ser pensada em termos totalizantes, ou seja, como a Physis líquida originária da qual tudo deriva e da qual a água que bebemos é apenas uma das manifestações. Tales é “naturalista” no sentido antigo do termo e não “materialista” no sentido moderno e contemporâneo. Com efeito, a sua “água” coincidia com o divino: dizia ele que “Deus é a coisa mais antiga, porque incriada”, ou seja, porque princípio. Desse modo, se introduz no pensamento uma nova concepção de Deus: trata-se de uma concepção na qual predomina a razão, destinada, enquanto tal, a logo eliminar todos os deuses do politeísmo fantástico-poético dos gregos”.  
     “Com Tales, o logos humano rumou com segurança pelo caminho da conquista da realidade em seu todo (a questão do princípio de todas as coisas) e em algumas de suas partes (as que constituem o objeto as “ciências particulares”, como hoje as chamamos)”.
    Anaximandro de Mileto, provável discípulo de Tales, logo, seu contemporâneo, organizou um tratado sobre a natureza, dele chegou-nos um fragmento. Neste, percebe-se que a problemática do princípio se aprofundou: ele sustenta que a água já é algo derivado e que, ao contrário, o “princípio” (arché) é o infinito, ou seja, uma natureza (phiysis) infinita e in-definida da qual provêm todas as coisas que existem.
O que é privado de limites, Anaximandro denominou-o a-peiron. Assim sendo, esse princípio abarca, governa e sustenta todas as coisas, nele con-sistindo e sendo. Esse infinito parece com o divino, pois é imortal e indestrutível, logo, sustentador e governador de tudo.
     Anaxímenes de Mileto (VI a. C.), discípulo de Anaximandro, pensa que o “princípio” deve ser infinito, mas que deve ser pensado como ar infinito; substância aérea ilimitada. Exatamente como a "nossa alma", ou seja, o princípio que dá a vida, que é ar, se sustenta e se governa, assim também o sopro e o ar abarcam o cosmos inteiro, e mais, ele é sem forma e sem limites, diferente dos corpos, é invisível.
     Heráclito de Éfeso (VI e V a. C.) também escreveu um tratado sobre a natureza, deste chegou-nos vários fragmentos. Para ele, o fogo é o princípio fundamental, pois, à ação deste, tudo se transforma. Por isso, tudo está em movimento, são e não são concomitantemente. Tudo está no devir, destinado à contínua passagem de um contrário ao outro: Deus é dia-noite, é inverno verão, é guerra e paz, é saciedade e fome.
     Os pitagóricos atribuíram ao número o “princípio” de tudo.  Nenhum filósofo naturalista pensou a terra como o princípio de tudo. Chegaram a pensar na união de vários elementos, entre esses, a terra, para compor a argamassa como princípio de tudo.
     Nos dois séculos da filosofia da natureza, percebemos o embate filosófico para determinar a arché de todas as coisas naturais e cosmológicas, mas não passou de pretensões racionalistas, logo, o logos, a palavra ou o raciocínio lógico não passou de hipóteses para estabelecer o deus filosófico, que assumiria, se tudo desse certo, o lugar do Deus criador, segundo as escrituras bíblicas.
Porém, nem tudo foi perdido, dessa busca frustrada para estabelecer um deus à visão-lógica racional, fundou-se o princípio e o rigor que passou a orientar o espírito filosófico e científico.
A prova de que nada mudou com a investida filosófica naturalista é que, ainda hoje, a mitologia, o politeísmo, o misticismo e o monoteísmo bíblico estão vivos como nunca.
Filósofo Isaías Correia Ribas.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

COMO DETERMINAR CRITÉRIOS DE VALIDADE EM FILOSOFIA?



    Granger, neste capítulo, “Filosofar Sobre a Filosofia”, do livro: Por um Conhecimento filosófico, busca mostrar-nos que esse esforço é fazer filosofia. Para isso faz sua argumentação em quatro tópicos.
1)                 Filosofar Sobre a Filosofia
2)                 A Filosofia não é uma Ciência
3)                 A Filosofia não é uma das Belas-Artes
4)                 Como Determinar Critérios de Validade em Filosofia?
Filosofar sobre a filosofia
     Para muitos, filosofar é andar em círculo, como alguém que quer fugir da realidade. Porém, não esqueçamos que filosofar é pensar, pensar o que é possível apreender do Universo pela observação, construindo assim, um conhecimento geral-antropocêntrico. Pensar contrário a isso só é possível aos que não pensão com o propósito de entender a vida e como buscar meios para vivê-la melhor. Mesmo o pensar para a ciência, exige-se o retrocesso, o (“andar em círculo”) não à gênese, mas até definir, cada um em sua área, quando parar sem cometer erros. Logo, se para a ciência que busca o conhecimento específico, baseado no empirismo (experiência), exige-se o rigor metódico, quanto mais para a filosofia que tem a perspectiva do conhecimento geral. Então, pensar sobre a filosofia metodicamente, é filosofar.
     Não há “metafilosofia”. A filosofia é “metadisciplina”. A metafísica seria “o estudo do método filosófico”, isso, segundo alguns pensam e dão à filosofia o status de ciência. Mas, o objeto da filosofia é a própria filosofia. Porém, entre os métodos científico e filosófico há semelhanças, ambos são: exegéticos, hipotéticos, dedutivos, interativos e cumulativos. Então, em relação à ciência, a filosofia pode ser modos de conhecimentos válidos e verdadeiros, permanecendo irredutível e insubstituível; pois ambas desenvolvem seu metaconhecimento, suas metodologias: a ciência é empírica, baseia-se na experiência, e a base da filosofia é o raciocínio lógico a priori, o que não depende da experiência, logo, razão pura.
     Não se pretende provar como a ciência é possível, mas reconhecer como é possível a filosofia ser um conhecimento racional sem ser uma ciência e sem cair no transcendentalismo da razão. Os dados filosóficos, considerados como sendo os fenômenos culturais de um tempo histórico, produtos do pensamento de pessoas em ato, estão condicionados à complexidade do meio, logo, é possível uma sociologia, uma psicologia e uma história concreta dos fatos filosóficos. Tal conhecimento, quando alcançável, seria um conhecimento científico. Porém, o propósito dessa pesquisa é mostrar essa diferença entre ciência e filosofia. Para tanto, primeiro, veremos o que a filosofia não é.
A filosofia não é uma ciência
      Se partirmos de uma visão escolástica, a filosofia seria a mais científica das ciências. Não existe nenhuma regra linguística que se oponha a denominação de ciência à produção filosófica. Toda produção racional é conhecimento, contudo, o denominar ciência a essa produção, não tem a finalidade de causar um paradoxo e nem de destruir a linha limite entre o cientificismo e a filosofia. Previamente, parece-nos, que a filosofia distingue-se irremediavelmente dos outros conhecimentos que têm o nome de ciência.
      As ciências buscam construir modelos abstratos dos fenômenos. Porém, nem todo conhecimento da natureza tem a capacidade de representa-los, principalmente quando estes estão distante do vivido. Assim, nem toda área do conhecimento “científico”, embora busque esse ideal, conseguem tal status. A filosofia, ao contrário, nunca chegou a propor verdadeiros modelos de fenômenos, pela simples razão de que este não pode ser seu objetivo. Todos os que tentaram fracassaram, então, está aberta a vaga para esse gênio.
     A filosofia, contrária às diversas ciências, não pretende explicar “fatos”. Para a ciência não há uma definição universal do “fato”. Então, o conhecimento científico limita-se a uma determinação regional do “fato”, e este, está em constante evolução, porque a cada momento histórico, cada ramo da ciência delimita a classe de “fato” que quer explicar segundo os meios materiais e conceituais que possa dispor. Por contraste, a filosofia diante de um “fato”, apenas indaga: o que é um “fato”? Mesmo que algum filósofo determinasse a noção dum “fato”, não teria determinado “fato” algum que pudesse explorar como faz os cientistas.
 A filosofia não tem um objeto à análise. Não há objetos filosóficos. A crença difundida de que a filosofia fala de tudo é perfeitamente correta. O campo de aplicação de seu exercício é o conjunto da experiência humana.
A filosofia não é uma das belas-artes
     No subtítulo está claro: “a filosofia não é uma das belas-artes”. Porém, muitos oponentes e adeptos invocam Platão, Nietzsche e as vezes Bergson, como defensores de uma filosofia obra de arte, mas, trata-se de erros de interpretação das obras filosóficas desses autores. A arte apenas cria objetos. Há artes com suporte material (esculturas), e outras criadas no tempo (a música), mas todas são obras concretas, criações de artistas que as pensou e materializou-as. Uma das belas-artes que poderia parecer filosófica seria a arte da linguagem como são as dos poetas e romancistas. Porém, a filosofia não se utiliza da linguagem para criar diretamente conceitos. A atividade do filósofo se aproxima mais do matemático, no entanto, os conceitos filosóficos não produzem fenômenos sentimentais e nem imagens. Logo, são irredutíveis aos de qualquer ciência, mesmo aos da matemática. Então, se existe um conhecimento filosófico, este só pode se manifestar nas próprias obras filosóficas.
Como determinar critérios de validade em filosofia?
    A conclusão de Granger neste capítulo passa a ideia de que a verdade possa ser corretamente aplicada em filosofia. Em ciência sim, mesmo que essa verdade seja temporal, pois a mesma é passível de verificação, certificação empírica, logo, possível ampliação. Então, as verdades científicas são passíveis de evoluções clarificantes e significantes dos conceitos.
Em filosofia não é possível verificação empírica. As teses filosóficas não são provisórias, pois as mesmas partem da perspectiva que o filósofo tem de sua própria experiência com e do mundo. Assim sendo, tudo é válido em filosofia, ou quase tudo, é justamente nesse quase que se encontra a gênese de toda atividade filosófica.
 Em filosofia só é possível validade. Granger, ciente de que sua argumentação neste capítulo não oferece uma resposta plausível, termina-o com a indagação: Enfim, que é verdade, em filosofia? Como outro mortal qualquer, suas proposições estão sob os critérios de validade e verdade, logo, pode estar certo ou errado.  
Particularmente não concordo com algumas de suas afirmações, mas não vou explicitá-las porque o espaço em páginas para esse trabalho de conclusão de disciplina é limitado. Porém, em poucas linhas sintetizarei o que é validade e verdade em filosofia.
A verdade filosófica e científica são verdades temporais, e não há como ser diferente, uma vez que seus criadores são entes finitos, mortais. Então, a ideia de uma verdade absoluta e dogmática está descartada. Uma das fontes de verdades absolutas é a bíblia. No entanto, as verdades bíblicas são alvos de interpretações de diversas instituições religiosas, essas, geralmente buscam submeter o que é absoluto à visão do temporal; tais conclusões devem ser submetidas aos critérios de verdades científico-filosóficas. Logo, as produções literárias antropocêntricas são passíveis de críticas e análises filosóficas. Para Kant, Immanuel (1724-1804), “a metafísica não é possível como ciência, ele não tem dúvida alguma de que os problemas que ela levanta são importantes e, inclusive, muito mais importantes que os da física (ciência). Se os corpos caem a 9,8 ou 9,9 metros por segundo nada muda, porém, muda muito se existe ou não existe Deus, [...] Contudo, as questões colocadas pela metafísica não são para Kant unicamente relevantes, elas são necessárias”.
Critérios de validade e verdade em filosofia:
          A validade lógica não implica, necessariamente, uma verdade. Mas, às vezes, coincide que um argumento válido possa ser verdadeiro; e, outras vezes, argumentos válidos podem ser falsos. Então, toda proposição, ou afirmação, tem valor de verdade, podendo ser verdadeira ou falsa. Mas de que verdade ou falsidade está-se falando? Da sentença, do afirmado e escrito, nada mais que isso. A proposição chama-se, em lógica, premissa, logo, as premissas podem ser falsas ou verdadeiras. Então, o que interessa à filosofia é a validade e veracidade do raciocínio lógico e sua coerência. 
Se as premissas de um enunciado são verdadeiras, a conclusão certamente será verdadeira. Exemplo clássico: Todo homem é mortal; Sócrates é homem. Logo, Sócrates é mortal. Todo silogismo são compostos de duas premissas e uma conclusão. Na lógica Moderna não há limites de premissas, porém, a regra é a mesma. Se entre milhares de premissas verdadeiras houver uma falsa, todo argumento pode ser falacioso.
Exemplo de argumento válido falacioso: Todo animal que come capim é uma vaca; o cavalo come capim. Logo, o cavalo é uma vaca. Como verificar se esse argumento é verdadeiro ou falso? Indo a um pasto e perceber que cavalo, apesar de comer capim, não é uma vaca. E por que ele é válido? Por causa de sua estrutura lógica: a premissa dois deriva da primeira e a conclusão dá-se dessa derivação. Então, quando se busca a verdade lógica baseando-se apenas na validade do argumento, pode cair-se em falácias. Advogados geralmente usam essa argumentação para defender os fora da lei.
Só há uma condição para um argumento ser inválido: Quando as premissas são verdadeiras e a conclusão for falsa.
As verdades absolutas e o juízo final
No dia do juízo, quem se salvará? Os que guardam os mandamentos de Deus segundo estão na bíblia; aceitam a Jesus como seu salvador pessoal e fazem o bem, esses, serão salvos. João, esposo de Maria e pai de Francisco; guarda os mandamentos; faz o bem, mas não aceita a Jesus como seu salvador. Logo, João está perdido. Maria só faz o bem. Logo, Maria está perdida. Francisco guarda os mandamentos segundo as escrituras, aceita a Jesus como seu salvador pessoal e faz o bem. Logo, Francisco será salvo. Este argumento é válido e verdadeiro segundo sua estrutura lógica. Quando a argumentação parte de verdades absolutas contidas na bíblia, é fácil detectar as falácias religiosas e teológicas. Por isso Cristo não teve problemas para rejeitar as instituições de seus dias. Como verificar a veracidade desse argumento no presente mundo? Impossível, por isso, as atitudes de fé devem ser verdadeiras, honestas. Segundo as verdades bíblicas, após o juízo final não haverá outra oportunidade.
Filósofo Isaías Correia Ribas.