Conhecimento, este, é a preocupação
primeira da filosofia, e para conhecer a coisa é preciso analisa-la, para tanto,
segundo Heráclito, a coisa tem que estar parada, estática; mas, o Universo e
tudo que o compõe é movimento, além do movimento externo, há o interno para a
própria manutenção e desenvolvimento do ser da coisa, onde esta é um constante
ser e não ser antagônico, e se tudo flui antagonicamente (sendo e não sendo), é
impossível à análise para se conhecer.
Parmênides, contemporâneo de Heráclito,
resolveu o problema do movimento criando a ontologia (teoria de ser). Assim, conseguiu
por fim ao movimento estabelecendo o ser, não o ser físico que se movimenta
naturalmente, mas o ser dialético, as ideias; o logos (palavras e raciocínios),
dando assim, condições dialéticas para a filosofia continuar no seu propósito
primeiro: acabar com a influência das revelações bíblicas e da mitologia no
conhecimento e propósitos do Deus criador para a humanidade. Resolvido o
problema do movimento Platão teve condições de elaborar sua teoria do
conhecimento.
Platão
Após
a morte de seu mestre Sócrates, Platão, temendo a mesma sorte fugiu de Atenas;
viajou por aproximadamente doze anos conhecendo outras constituições e diversas
filosofias, principalmente a dos discípulos de Pitágoras, os pitagóricos. De
volta, aos quarenta anos, fundou sua Academia em Atenas. Platão escreveu na
forma de diálogo, e seu personagem principal foi seu mestre Sócrates, o mestre
das ideias convincentes. Platão falava por meio de Sócrates em homenagem ao
mestre, personagem rejeitado e admirado em Atenas.
Segundo Platão, “a
ideia é mais que um conhecimento verdadeiro: ela é o ser mesmo, a realidade
verdadeira, absoluta e eterna, existindo fora e além de nós, cujos objetos
visíveis são apenas reflexos”.
Pitágoras
“A palavra filosofia foi inventada por
Pitágoras. Ele deixou duas doutrinas célebres: a divindade do número e a crença
na metempsicose (migração das almas de corpo em corpo). Para ele, o corpo é a
prisão da alma. Após a morte, a alma retorna em outro corpo, onde encontra um
destino em conformidade com suas virtudes e vícios anteriores. Por outro lado,
os números constituem a essência de todas as coisas” [...]. (dicionário
de filosofia)
Platão
é o mais célebre filósofo do Ocidente. A quem diga que toda filosofia
pós-Platão é filosofia de rodapé platônica. Digo mais, não só a filosofia, mas a
política e 99% de toda teologia Católica, Protestantes e Espiritualistas bebem
nessa fonte, que, ao longo da história, com uma boa trama filosófica judaico-cristã,
adquiriu o status de teologia; passando assim, na Idade Média a comandar, sob a
batuta da igreja Católica toda política ocidental, influenciando a vida
religiosa das pessoas, assim, sob o manto da “religião bíblica”, alteraram os principais
princípios e ensinos bíblicos que tem por objetivo conscientizar-nos de que há
um plano de salvação elaborado pelo próprio criador do Universo.
Platão, ao propor o método para se
conhecer teria que saber jogar com as palavras; o projeto de conhecimento
antropocêntrico, naquele momento, dependia de sábias estratégias e argumentos
filosóficos bem elaborados; que agradasse os orgulhosos doutos e que sabiamente
enganasse agradavelmente a população desprovida de conhecimento. E mais, a
filosofia natural, transparente e desafiadora do politeísmo mitológico e do
monoteísmo bíblico, entrara em crise. A tradição filosófica é consciente de que
o verdadeiro espírito filosófico morreu juntamente com os Pré-Socráticos;
então, para continuar viva, a filosofia ou o seu espírito desafiador somente
unindo-se à oposição: ao espírito religioso e mitológico. E foi isso que Platão
conseguiu fazer da filosofia, uma falsa teologia Universal. O desafio primeiro
da filosofia, de encontrar um elemento natural que fosse o originador de tudo
ficou a cargo da ciência que, aos pouco foi se tornando conhecimento
“verdadeiro”, conhecimento fundamentado nas causas e efeitos comprovados
empiricamente (pela experiência), por isso, todas as teorias sobre a origem do
Universo têm o respaldo científico e “toda” teologia o respaldo filosófico e
científico. A fé no Criador, essa, tornou-se banal, foi direcionada às
instituições religiosas ou a “pastores”, padres e guias espirituais que
interpretam o assim diz o Senhor; logo, as revelações bíblicas ficaram
subordinadas a interpretações teológicas, filosóficas e científicas. Então, diante
de tamanha estratégia bem sucedida da filosofia e sua união com o místico, a
salvação prometida na bíblia passou a depender de grande exercício intelectual,
investigação cultural, espiritual e de muita fé na palavra de Deus. Enganam-se
os que pensam que uma mera união com denominações religiosas lhe garantirá a
salvação. Cada um de nós precisa fazer uma autoanálise para perceber quem eu sou
e o que estou fazendo pela salvação do outro. Se assim não for, quem alcançará a vida eterna
neste atual mundo construído, a partir das interpretações humanas, um mundo de
falácias políticas, filosóficas, teológicas, científicas e pessoal?
Como conhecer o objeto ou a coisa segundo Platão:
Platão, não esqueçamos,
filosofou a partir da razão, da mitologia e do misticismo, logo, o antropocentrismo, razão pura,
daquele momento em diante buscou transformar todo conhecimento mítico, místico
e bíblico em razão pura. O papa Emérito Josef Ratzinger, no livro, Deus Existe?
Declara, “cristianismo é antropocentrismo”. Então, Nietzsche (1844-1900),
ao afirmar que cristianismo é platonismo estava certo. E ao dizer que o
verdadeiro cristão morreu na cruz e que é possível e necessário que os atuais
cristãos seja como Ele (Jesus Cristo), é uma verdade indiscutível para os que
se dizem seguidores de cristo.
Segundo Platão: à coisa ou o ser, ao
objeto em si não temos acesso, somente às suas imagens. A coisa em si é eterna
e imutável, sua forma é perfeita e está além, fora de nosso alcance sensível. A
realidade para Platão é essa coisa em si; o mundo que temos acesso pelos
sentidos é ilusório porque é constituído de imagens da coisa em si. Logo, a realidade
de Platão está fora de nosso alcance físico-sensível. Platão não tinha noção da
existência da mente, tudo era cérebro e este era apenas um órgão comum. Logo,
para ter acesso à realidade, à coisa em si, dependia-se de algo além do homem e
esse algo só poderia ser a alma, ser imortal que, segundo Pitágoras, migrava
para outros corpos após deixar o cárcere, seu corpo.
Metafísica platônica: Idealismo X Materialismo
Idealismo em Platão: algo
que não esta na mente; é a realidade das formas perfeitas que estão no mundo
idealizado, o hiperurânio, habitat das almas migratórias; o que existe são os
universais, as formas perfeitas. Para ele, de tudo o que existe no mundo
sensível há um modelo, forma perfeita que habita o hiperurânio.
Materialismo: Não existe
mente, existe o cérebro. Logo, não temos acesso ao hiperurânio sem auxílio
externo, por isso a necessidade de uma alma imortal além do corpo. A metafísica
de Platão é a realidade inatingível pelos sentidos, e a realidade sensível, de
nosso habitat, o planeta Terra, é ilusória. Logo, não temos acesso à verdade
Universal. A partir desses fundamentos Platão filosofou e construiu sua teoria
do conhecimento. Após a reencarnação da alma o dualismo corpo e alma são
possíveis, e os dois existem concomitantemente até a morte do corpo. Por meio
da alma que teve acesso as forma perfeitas, pela reminiscência (lembrança), na
medida que o indivíduo vai se desenvolvendo e contemplando nosso mundo ilusório
a alma vai relembrando o que vira no mundo das formas perfeitas. Ela relembra
porque quando estava vindo para se reencarnar bebeu da água do rio do
esquecimento. Logo, aprender para Platão é relembrar por meio da alma.
Imagens da coisa em si
Para cada coisa há três elementos que nos permitem
adquirir a ciência delas: o nome, a definição, e a imagem; e o quarto é a
ciência. Peguemos como exemplo o círculo, esse é o nome; a definição: o que tem
sempre a mesma distância entre as extremidades e o centro; tal é a definição do
que denominamos redondo, circunferência e círculo. Em terceiro lugar vem a
imagem que se desenha e apaga, ou que se fabrica no torno e pode ser destruída,
enquanto o círculo em si mesmo, a que tudo isso se refere, nada sofre por ser de
todo em tudo diferente. Isto é, como a forma do círculo é imutável e eterna e
não pertence ao mundo sensível não é afetada por nossas interpretações
racionais e técnicas. O quarto é a ciência: a inteligência, a opinião
verdadeira, relativa a esses mesmos objetos. O quinto é a essência, a coisa em
si, o que faz da coisa o que ela é, a inteligência e a sabedoria, por afinidade
e semelhança são os que mais se aproximam dela por meio da alma; os demais,
nome, definição e imagem estão muito afastados.
A partir desses fundamentos Platão, direta
e indiretamente, influenciou a todos em todas as épocas. A teoria que o
eternizou foi a da imortalidade das almas; para tanto, o homem bíblico deixou
de ser uma alma (pessoa) vivente, para ter um corpo mortal e uma alma imortal;
com essa jogada racional, mítica, mística e filosófica a fé em Deus foi sendo redirecionada
e anulada. Por isso o próprio Cristo indagou: “Por ventura quando vier o filho
do homem achará fé na terra”? Mas supomos que a fé ainda esteja
presente em mim, a questão é, onde deposito a minha fé? Em Deus e Suas
revelações ou nas instituições e pessoas que se dizem representantes de Deus? A
salvação depende dessa direção da fé.
Filósofo Isaías Correia Ribas