No helenismo novas escolas filosóficas surgiram, algumas questionaram
alguns pontos da filosofia clássica, mas, ao mesmo tempo, fizeram da filosofia
um exercício espiritual. A filosofia platônica dá essa abertura para a ascese.
As principais escolas filosóficas helenísticas foram: cinismo, epicurismo,
estoicismo, ceticismo e ecletismo. Novas ciências particulares nasceram; e novos
paradigmas para direcionar o conhecimento natural e sobrenatural que
influenciava a população de modo geral foram conceituados. Conviviam juntos,
monoteístas (judeus), politeístas mitológicos, cientistas e filósofos. O individualismo
nascia e novas religiosidades se formavam, isto é, o monoteísmo fora de tal
forma contaminado que a doutrina judaica dividira-se e novas crenças surgira. Filósofos e teólogos racionalistas platônicos contaminaram a pura fé monoteísta.
Era o racionalismo filosófico se impondo ao monoteísmo, dessa união resultou a
divisão social entre os judeus, num total de três, a saber: a) Fariseus: a
grande massa urbana; b) Saduceus: os sábios, a elite burocrática; c) Essênios:
os lavradores; havia também os Dácios, outra seita fundada por Judas, suas
crenças eram parecidas a dos fariseus, porém, eram mais zelosos.
“Havia entre nós três seitas diversas, relativas às ações humanas. A
primeira, a dos fariseus: a segunda, a dos saduceus e a terceira a dos
essênios. Os fariseus atribuem certas coisas ao destino, não, porém, todas e
creem que as outras dependem de nossa liberdade, de sorte que nós podemos
fazê-las. Os essênios afirmam que tudo geralmente dependem do destino e de que
nada nos acontece a não ser o que ele determina. Os saduceus, ao contrário,
negam absolutamente o poder do destino, dizem que ele é uma quimera e que
nossas ações dependem tão absolutamente de nós, que nós somos os únicos autores
de todos os bens e dos males que nos acontecem, segundo nós seguimos um bom ou
mau conselho”. “Mas eu tratarei particularmente desta matéria no segundo livro
das guerras dos judeus” (Flávio Josefo. HISTÓRIA DOS HEBREUS Vol. IV. pág.
137-138. Ed. Das Américas, 1956).
Os fariseus: seu modo de viver era
simples, respeitavam os mais velhos que nem ousavam contradizê-los, atribuem
certas coisas ao destino, mas não eliminam o consentimento humano; mesmo tudo
sendo feito por ordem de Deus, depende de nós, cedermos ou não ao vício. As
almas são imortais e são julgadas em outro mundo, recompensadas ou castigadas
segundo os vícios e virtudes; umas são eternamente prisioneiras nesse outro
mundo e outras voltam a esta vida.
Os saduceus: acreditavam que as almas morrem com os corpos; são obrigados
a observar a lei e é um ato de virtude não pretender saber mais que os que
ensinam. Negam o poder do destino e afirmam: “tudo o que acontece com o homem
depende absolutamente dele, tanto o bem quanto o mal”.
Os essênios: atribuem e entregam todas as coisas, sem exceção, à
providência de Deus. As almas são imortais e acham que tudo devem fazer para
praticar a justiça, porém, contentam-se em enviar as ofertas sem precisar ir ao
templo para sacrificá-las; possuem todos os bens em comum, sem que os ricos
tenham maior parte que os pobres; não tem mulheres nem criados, eles acham que
as mulheres não contribuem para o descanso da vida; quanto aos criados, é
ofender a natureza, que fez todos os homens iguais.
Os dácios, seguidores de Judas: que não é o traidor de Jesus, seu modo de
vida e crenças é parecido a dos fariseus, mas são mais zelosos, mais pacientes,
desprezam as dores, são mais corajosos, afirmam que há um só Deus, ao qual se
deve reconhecer por senhor e rei e amam a liberdade.
Os plistes, que vivem entre os dácios têm um modo de viver parecido ao
dos essênios. O número dos seguidores dessa seita era de aproximadamente quatro
mil.
A seita dos essênios é uma mistura de judaísmo com a filosofia dos
pitagóricos. A dos fariseus misturou-se com os platônicos e aos seguidores de
Judas somam o desprezo pelas dores dos estoicos. Os saduceus, a sua minoria,
eram os únicos que estavam de acordo com os legítimos princípios bíblicos. Do
exposto, deduz-se: o pensamento filosófico desenvolvido até então, estava influenciando
toda aquela sociedade que antecedera o nascimento de Cristo.
Quando Jesus nasceu Herodes era
o rei dos Judeus, mas Herodes não era judeu. Seu pai Antípatro, era da Iduméia,
casado com uma árabe de nome Cipron. Tiveram quatro filhos e uma filha: Fazael,
Herodes, José, Feroras e a filha Salomé. O que Herodes mais temia era perder o
reinado sobre os judeus, pois ele sabia que os judeus não o aceitavam no trono,
porque não descendia deles e muito menos da linhagem de Davi. Ele estava sempre
atento ao surgimento de legítimos príncipes judeus que poderiam tomar-lhe o
trono. Por isso matou afogado Aristóbulo, filho de Alexandra que descendia da
linhagem de Davi com apenas dezoito anos. Matou seus próprios filhos Alexandre
e Aristóbulo estrangulados porque buscavam assumir o trono enquanto ele ainda
vivia.
Quando os magos e os pastores vieram visitar o menino Jesus, “rei dos
judeus”, que acabara de nascer, buscaram com Herodes informações, o que causou
preocupações ao rei que jamais aceitou perder o poder absoluto que tinha sobre
os judeus. Disposto a matar Jesus, pediu aos visitantes que lhe informasse o
exato lugar que nascera que queria também adorá-lo. Deus, por meio do anjo
avisou-os da falsidade de Herodes e os fez voltar por outro caminho e a José,
“pai” de Jesus, aconselhou-o a fugir para o Egito e lá ficar até segunda ordem.
Flavio Josefo (38-103 d. C.), soldado e historiador judeu: “Nesse mesmo tempo apareceu JESUS, que era
um homem sábio, se devemos considerá-lo simplesmente um homem, tanto suas obras
eram admiráveis. Ele ensinava os que tinham prazer em ser instruídos na verdade
e foi seguido não somente por muitos judeus, mas mesmo por muitos gentios. Era
o CRISTO. Os mais ilustres da nossa nação acusaram-no perante Pilatos e ele o
crucificou. Os que o haviam amado durante a vida não o abandonaram depois da
morte. Ele lhes apareceu ressuscitado e vivo no terceiro dia, como os santos
profetas o tinham predito e que ele faria muitos outros milagres. É dele que os
cristãos, que vemos ainda hoje, tiraram seu nome”. Idem Vol. V, pág. 275.
Isaías Correia Ribas, filósofo e
professor.