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terça-feira, 5 de abril de 2011

LIBERDADE FILOSÓFICA E RELIGIOSA

O pensamento filosófico surgiu como mais uma forma de pensar e explicar o universo a partir de uma visão exclusivamente antropocêntrica. À aproximadamente Três mil anos, o racionalismo filosófico e posteriormente o científico, questionam a origem do universo segundo as revelações bíblicas. E assim, esse embate travado durante esse período trouxe mais confusão que esclarecimentos às pessoas. Por isso, já é passada hora de pensarmos o universo a partir da visão do todo, de Buscar compreender as causas de tantas angústias e do crescimento de tantas catástrofes naturais. Nós, habitantes desse planeta precisamos entender e compreender nosso habitat, analisando-o a partir de um olhar ao sobrenatural e ao natural. Penso eu que a partir da compreensão dos conceitos liberdade, livre-arbítrio e contingência, teremos dado um passo fundamental para a evolução cognitiva filosófica e teológica.
A liberdade na eternidade relaciona-se ao atemporal, quando as escolhas estavam dentro de um contexto de escolher somente entre o que é bom. Quando a mente Criadora ou o Deus criador, criou entes à sua semelhança, criou-os livres para o bem, o bom, o belo, o sublime, etc. A liberdade é o fundamento do Criador universal, e ela não está imposta, determinada. Se assim fosse, não seria liberdade. Como também não estava determinado que um ente celestial tivesse a pretensão de igualdade com o seu criador. Os anjos, criaturas celestiais, dotadas de razão, eram semelhantes ao criador, estavam envoltos do bom, do belo, do sublime e do bem divino. Na eternidade, não havia o lícito e o ilícito, o bem e o mal, o antagonismo não estava presente. Logo, somos livres quando não temos nenhum perigo a evitar. O egoísmo surgiu na mente de um ente que queria ser mais que semelhante, não se contentou em ser ente criado, não estava contente em desfrutar da harmonia que envolvia o universo, ele queria ser igual ao criador. Isto é, ter a vida em si, ser capaz de criar como fizera Deus. Esse ente, a bíblia denomina-o, Lúcifer (anjo de luz), após suas ambições egocêntricas e a perda de seu posto no céu, vários nomes são lhes dado: Satanás, Serpente, Diabo, etc. Logo após decidir que queria ser igual a Deus, começou a espalhar a dúvida entre os anjos, dizendo que Deus era um ditador, egocêntrico, enfim, aquilo que ele queria ser, dissera ser Deus. E assim surgiu o antagonismo, o egoísmo, a dúvida, o mal, o pecado e tudo o que possa ser contrário à harmonia universal. Deus em sua misericórdia mostrou a Lúcifer quais seriam as conseqüências de seus ideais, mas lúcifer rejeitou tais apelos e decidido a conquistar o posto de igualdade a Deus seguiu em sua voluntariosidade. Segundo a bíblia ele conquistou a terça parte dos anjos e levou-os à rebelião, e assim, juntos foram lançados ao planeta Terra.
Nosso planeta foi adaptado à vida após essa intriga celestial e o primeiro casal, Adão e Eva veio à existência dentro do contexto da eternidade, eram entes perfeitos, à semelhança do divino. Porém, como o Cosmos já havia sido contaminado pela dúvida e a ambição de Lúcifer, nem tudo neste planeta, ao ser criado, poderia ser perfeito, por isso, entre todas as coisas boas o símbolo da imperfeição, do antagonismo, da mentira, teria que estar presente e lá estava representada pela árvore do conhecimento do bem e do mal. Com a mesma astúcia que usara no céu, Satanás usou para enganar Adão e Eva. Disse à Eva que eles poderiam ser iguais a Deus e assim, dialogando implantou a dúvida, e ambos, a semelhança da terça parte dos anjos, também duvidaram e conseqüentemente pecaram. Após a entrada do pecado, a eternidade para os terrestres foi interrompida dando lugar à mortalidade. Dentro desse contexto foi possível criar o conceito de livre-arbítrio, isto é, o homem escolhe entre o bem e o mal, o justo e o injusto, o bom e o ruim, o que fazer e o não fazer, surgindo assim o mundo das contingências, e o mais dramático é que ninguém pode escolher pelo outro, por isso, Kierkegaard (1813-1855), teólogo e filósofo diz: “fazer escolhas é angustiante”. Queiramos ou não, somos escravos de nossas escolhas. O que há de bom dentro desse contexto das contingências é que estamos ainda vivendo sob o período da graça, isto é, ainda podemos escolher ao lado de quem estaremos na eternidade, do criador que quer dar-nos o bem eterno ou ao lado de Satanás, recebendo com ele a morte eterna. Somos livres, ou melhor, precisamos escolher, pois as escolhas refletirão na eternidade.
Com a consolidação do pecado, o planeta Terra tornou-se o mundo das contingências. O bem e o mal passaram a fazer parte da natureza humana, distanciando-a da plena paz. Doravante a angústia é a nossa companheira e a paz é o nosso ideal. Nesse contexto dual o homem é paixão e razão, mas há uma força imanente que move o indivíduo a realizar os apelos das paixões e da razão, essa força chama-se vontade. Artur Schopenhauer (1788-1860), filósofo alemão, defende a tese de que o homem é apenas vontade, pois esse é um sentimento que nunca se esgota e não se cansa. Friedrich Nietzsche (1844-1900), também filósofo alemão, defende a tese de que a vontade é a força em potência que movimenta todo o devir do Cosmos. Nietzsche é o filósofo contemporâneo que procura eternizar a filosofia natural dos pré-socráticos. Ellen G. White (1827-1915) profetiza cristã, fala sobre esse domínio volitivo, mas soma às paixões e à razão, o poder do Espírito Santo, força divina à disposição do homem que atua na vontade para levá-lo a desejar o bem supremo, a paz e a liberdade em meio às contingências mundanas. Todo indivíduo consciente entende que há no homem a atuação dessas duas forças porfiando pelo controle da vontade, e ela não respeita faixas etárias e nem os gêneros. Mas há muitos indivíduos sábios que conseguem fazer com que a sua vontade seja racionalizada e dê equilíbrio às suas ações, não permitindo ser controlados pelas paixões. Esse domínio racional é possível a qualquer pessoa. A obra do Espírito Santo está para além do racional. Se permitirmos, Ele qualificar-nos para a eternidade, onde voltaremos possuir à semelhança divina.
A liberdade em Cristo está inserido no contexto de compreensão do plano de salvação que Deus disponibilizou-nos desde a queda de Adão e Eva. É impossível alguém ser salvo sem compreendê-lo. Pois o amor de Deus não pode ser desculpa para a ignorância proposital. Os teólogos da atualidade e pregadores cristãos banalizam o plano de salvação, tornando-o simplista e mercadológico. Só será possível o retorno à eternidade se entendermos o processo, é de graça, porém, envolve um retorno de cento e oitenta graus no nosso modo de vida. Qual modo de vida? O de antes e o depois de compreender o plano divino. Compreendido, nossa vontade começa a desejar o bom que Deus quer nos dar, só que nossa vontade é mundana, e ela tende a atender naturalmente aos apelos das paixões, e assim, trava-se o conflito espiritual. Não é mais paixão e razão e sim a quem desejamos atender, aos apelos mundanos ou aos divinos. Agora, esse novo indivíduo deve pedir que Deus opere mudanças em sua vontade, e assim, inicia-se o processo de santificação, isto é, quanto mais se aprofunda na compreensão da graça salvadora, mais nossa vontade busca um caráter semelhante ao de Cristo, nossa natureza mundana encontra outro sentido para a vida, a vontade tende ao divino e fica mais fácil para vencer aos apelos carnais das paixões. É assim que se processa a liberdade em Cristo, quando permitimos a sua intervenção em nossa vontade, o nosso desejo mais profundo é fazer a Sua vontade e fazendo-a, verdadeiramente seremos livres.
Nota: para a maioria dos cristãos o ente satanás não existe, o que existe é o mal e este é, segundo santo Agostinho (354-430), a ausência do bem. Agostinho, Padre da igreja Católica, errou filosoficamente e teologicamente ao admitir o bem como Deus e o mal como a ausência do bem. Biblicamente, ambos, bem e mal possuem personalidade.

Isaías Correia Ribas, filósofo e professor de filosofia


Referências bibliográficas:

Bíblia.
Confissões. Santo Agostinho. Nova Cultural. Coleção os Pensadores. 2000.
História da Redenção. Ellen G. White. Ed. Casa Publicadora Brasileira. 2008.
História da Filosofia. Giovanni Reale/Dario Antiseri. Paulus. 2003.
Kierkegaard. Coleção os Pensadores.
Mente Caráter e Personalidade. White. Ed. Casa P. Brasileira. 1989.