Expulsos do Éden, aos poucos, o casal
passara compreender as consequências do pecado e o porquê dos objetivos de
Satanás em destruir o que Deus criara. Todos os dias uma nova experiência fazia
parte de seu aprendizado nessa escola que não contava mais com a presença
diária do Criador. Pois Deus, após o pecado, dar as últimas instruções e
advertências, passou ser silêncio, mais um dos meios para o exercício da fé e
comprovar a fidelidade dos racionais. O próprio casal teria a função de dizer à
sua descendência o que acontecera com eles, o porquê do mal, da morte e o que
fazer para voltar à perfeição edênica que eles perderam; mas isso seria
possível às pessoas que fossem fieis às leis de Deus. O ato de fé no plano de
salvação naqueles dias que antecederam o nascimento de Jesus, além de observar
os dez mandamentos e outras leis, teria que ser demonstrado por meio do
sacrifício de animais segundo Deus instruíra. O animal sacrificado era queimado
sobre um altar; assim, por meio daquela didática sangrenta, as pessoas
demonstravam ter ou não fé na existência de Deus e em seu plano de salvação,
ensinando às gerações futuras as consequências do pecado até que Jesus nascesse
e se oferecesse como sacrifício para substituir o sangrento cerimonial. Com o
nascimento, vida, morte e ressurreição de Jesus na cruz do Calvário, chegou o
fim das leis cerimoniais; pois, Jesus, passara ser o
Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo. Dentro desse
contexto, a família do casal crescia em número, na expectativa de que um dos
filhos do casal seria o prometido Messias que esmagaria a cabeça da serpente.
Caim e Abel
Caim, o primeiro filho do casal tornou-se
lavrador, e Abel, seu irmão, pastor de ovelhas. Já adultos e responsáveis por
seus atos, em condições de apresentar ofertas individuais, reconhecendo que era
pecador e compreendera o plano de salvação; ambos, no horário determinado para
o sacrifício, construíram seus altares segundo orientara e fazia Adão. Abel
trouxe um cordeiro de seu rebanho; Caim, que era lavrador, achou-se no direito
de expor os frutos de sua lavoura sobre o altar em reconhecimento de seus
pecados. Abel, percebendo a ousadia do irmão em ofertar algo estranho ao que
Deus pedira, repreendeu-o. Após as ofertas serem apresentadas, Deus aceitou a
de Abel e rejeitou a de Caim que irou pela repreensão do irmão e desaprovação
de Deus. Diante da ousadia e falta de fé de Caim, Deus quebrou o silêncio e
interviu na situação dizendo a Caim que se mostrara voluntarioso:
Porventura se procederes bem, não se
há de levantar o teu semblante? E se não procederes bem, o pecado jaz à porta;
mas sobre ele tu deves dominar. (Gênesis, 4:7)
Neste verso percebemos claramente que
possível ao ser humano, através do conhecimento e poder do Espírito Santo
exercer fé racional na palavra de Deus, único meio de vencer as tentações de
Satanás que trabalha para nos levar agir contrário à vontade do Criador
explícita na Bíblia. O viver em oposição às orientações de Deus depende
unicamente de como cada indivíduo decide agir, demonstrando ter ou não fé no
plano de salvação. Mas o que é fé? Fé é fazer a vontade de Deus
independentemente das circunstâncias.
Ora, sem fé é impossível agradar a
Deus, porque é necessário que aquele que se aproxima Dele creia que Ele existe
e que é galardoador dos que O buscam. (Hebreus,
11: 06)
A
partir da decisão de Caim em ignorar a palavra de Deus, ficou claro que a
vontade é uma força em potência, que, caso o sujeito não a controle, ela
subjugará a razão. Por isso concluíram os filósofos Artur Schopenhauer e seu
compatriota alemão Friedrich W. Nietzsche que disseram: “a razão é serva da vontade”, ou
seja, a vontade é a força em potência que anula a razão que elabora meios para
os seres humanos fazer valer a sua vontade em detrimento da razão que deve nos
orientar a fazer o que é certo destemidamente. Nietzsche foi mais a fundo
dizendo que os religiosos continuam matando Deus em nome do próprio Deus quando
negam a validade de Suas leis, preferindo seguir os ideais dos líderes
religiosos que ignoram O Criador e Suas leis. Nietzsche, como filósofo
conhecedor dos escritos bíblicos, já poderia ter direcionado a humanidade a
reconhecer Deus como o criador de tudo, digno de ser reverenciado pelos
cristãos; mas preferiu continuar questionando em nome da fama conferida aos
filósofos. Por isso, Nietzsche é o filósofo mais admirado e seguido por todos
os céticos que preferem viver a vida como se Deus não existisse. Para
Nietzsche, o corpo é a grande razão; ou seja, o cérebro é o órgão que está a
serviço da vontade e das pulsões corporais, responsável por elaborar meios para
melhor satisfaze-los, comendo e bebendo sem pensar nas consequências, fazendo da
sociedade atual uma das mais ousadas de todos os tempos na prática de negar os
princípios bíblicos, vivendo voluntariosamente como fez Lúcifer no céu e Caim
na terra. Escreveu Nietzsche:
Não existe a coisa em si da metafísica
e nem força em si, já que só faz sentido, em Nietzsche, tratarmos de força em
relação a outra força, pois na força em relação é que existe a vontade de
potência. A vida não precisa de alguém para colocar nela um sentido. Viver a
vida sem recorrência ao além metafísico já é suficiente a ela que, com a natureza e como natureza, segue a
mudança eterna qual tudo está continuamente em transformação. Para esse tipo
forte a um dizer sim à existência, mesmo que tivesse que viver cada momento de
uma vida de luta, em um eterno retorno do mesmo. É preciso resgatar o corpo e
deixar a alma para lá, onde ela habita. A alma que fique no lugar que lhe cabe
dentro das crenças religiosas. Mas nós não vivemos sem o corpo. “A crença no
corpo é mais fundamental do que a crença na alma.
[...] (Nietzsche. Fragmentos finais, aforismo 2 [102]. Trad.
Flávio R Kothe. 202, p. 64)
Dr. Mauro de Souza, um de meus professores
na graduação e estudos avançados sobre Nietzsche do instituto “Sedes Sapientiae”,
defensor das conclusões filosóficas de Nietzsche diz:
O corpo é a grande razão. Toda luta do
corpo é para um “a mais” de vida, para mais força, disso, podemos compreender
corpo como VP (vontade de potência) e a filosofia de Nietzsche como
altamente experimental, com valores que serve a vida, o valor dos valores,
porque vida enquanto referencial de todos os valores, enquanto VP. Nesse
sentido é que podemos superar a nós mesmos e deixar de ser metafísicos,
racionalistas, racistas alienados deste mundo em nome de um mundo no além.
Devemos construir nossos novos valores assentados em nossas experiências vitais
com relação ao corpo como nossa maior riqueza e o mundo como aquele que
proporciona essa nossa riqueza, a nossa própria vida terrena, a única que temos
e livre de qualquer especulação de ordem metafísica. A “grande escola” é aquela
que educa para a “grande razão” e essa grande razão é o próprio corpo. Uma boa
escola não prepara o intelecto (pequena razão) em detrimento do corpo (...). A
razão é apenas um brinquedo do corpo. (Sousa,
Mauro Araujo de. Nietzsche: Viver intensamente, tornar o que se é. Pág. 74, ed.
Paulus, São Paulo. 2009)
Agora é possível entender porque a
sociedade dos séculos XX e XXI tem como objetivo valorizar e expor o corpo a
serviço da sensualidade, da pornografia, da homossexualidade e todas as
práticas contrárias às leis formadoras de comportamentos morais e éticos. O
carnaval é um momento de expressão maior do pensamento nietzschiano que
incentiva a exposição erótica do corpo em detrimento do comportamento moral.
Atualmente, homens e mulheres, mesmos vestidos, no dia a dia, buscam expor a
sensualidade corporal, causa do crescimento de adultérios, pornografias,
pedofilias e separações conjugais. Voltemos à história de Abel e Caim.
Para Deus não há nada que justifique o
pecado. Até porque, se pudéssemos justifica-lo não seria pecado. Eva, antes de
pecar, diante da argumentação da serpente, achou que o pecado poderia ser
justificado, Adão também cedeu aos argumentos de sua companheira achando o
mesmo, seu filho Caim caiu na mesma armadilha, tentando justificar que oferta é
oferta mesmo que seja contrário ao pedido de Deus. E assim, ainda hoje, muitos
entre aqueles que dizem ser cristãos, cai na mesma armadilha, tentando
justificar suas atitudes anticristãs fundamentando-as em suas próprias opiniões
e em retóricas filosóficas, achando-se capazes de contestar e alterar o que
está explícito na Bíblia, buscando fazer a sua vontade em detrimento da do
Criador. Por isso, os seres humanos, mesmo os religiosos, questionam o que Deus
estabelecera como princípio e mandamentos, exaltando a vontade humana que deve
estar acima do “está
escrito”. E assim, através de ideologias elaboradas por filósofos e
líderes religiosos, os escritos bíblicos são adaptados à vontade das pessoas e
não as pessoas à vontade de Deus explícita na Bíblia, único meio de construir e
manter seus impérios do engano em nome de Deus, das religiões e denominação
religiosas.
Caim mata Abel
Caim, cheio de orgulho próprio, achando-se
dono da verdade, partiu para cima de seu irmão Abel, assassinando-o. Adão e Eva
já haviam visto as consequências do pecado; mas, creio eu, nada os haviam
atingido como o que acabara de acontecer. A morte chegara à sua casa e nada
podiam fazer para reverter tamanha tragédia. Caim caiu no vazio, no nada, ou “niilismo”, conceito elaborado por Nietzsche.
Mas Caim ainda tinha duas saídas: arrepender-se e confessar seus pecados,
continuando no seio da família ou, cheio de orgulho próprio, abandonar a
família, fundando para si um novo modo de viver segundo sua vontade em
detrimento da de Deus. Caim optou por fugir e viver segundo seus desejos,
tornando-se voluntarioso, continuando na prática de que a verdade é relativa,
preferindo viver fazendo a sua vontade, consequentemente a de Satanás que faz
oposição a Deus e suas leis.
E perguntou o Senhor a Caim: Onde está
Abel, teu irmão? E ele respondeu, não sei; e perguntou: sou eu guardador de meu
irmão? Perguntou Deus: Que fizeste? A voz do sangue de teu irmão clama a mim
desde a terra. E agora maldito és tu desde a terra que abriu a sua boca para
receber da tua mão o sangue de teu irmão. Então, quando lavrares a terra, não
te dará mais a sua força; fugitivo e errante serás na terra. Então, disse Caim
ao Senhor: É maior a minha maldade que a eu possa ser perdoada. Eis que hoje me
lanças da face da terra, e da tua face me esconderei; e serei fugitivo e
errante na terra, e será que todo aquele que me achar me matará. O senhor,
porém, disse-lhe: Portanto, qualquer que matar a Caim sete vezes será
castigado. E pôs o Senhor um sinal em Caim, para que não o ferisse qualquer que
o achasse. (Gênesis, 4: 9 – 15)
Por outro lado, Deus deixou claro que não
há pecado que se cometa ao próximo que não possa ser perdoado aos que se
arrepende. Menos o pecado contra o Espírito Santo que nos capacita viver
fazendo a vontade de Deus.
Portanto, eu vos digo: Todo pecado e
blasfêmia se perdoarão aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito Santo não
será perdoada aos homens. E, se alguém disser alguma coisa contra o Filho do
Homem, ser-lhe-á perdoado, mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não
lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro.
(Mateus, 12: 31 e 32)