“De fato, nós filósofos e “espíritos livres” sentimo-nos, a notícia de
que o velho Deus está morto”, como que iluminados pelos raios de uma nova
aurora; nosso coração transborda de gratidão, assombro, pressentimento,
expectativa – eis que enfim o horizonte nos aparece livre outra vez, posto que
não esteja claro, enfim podemos lançar outra vez ao largo nossos navios,
navegar a todo perigo, toda ousadia do conhecedor é outra vez permitida, o mar,
nosso mar, está outra vez aberto, talvez dantes houve tanto “mar aberto”. (NIETZSCHE, p, 212)
As revelações contidas nos escritos bíblicos sempre foram problemas para
o racionalismo antropocêntrico impor seu modo de interpretar o mundo à
sociedade. Essa guerra epistemológica, iniciou com o poeta Hesíodo no final do
século VIII e início do VII a.C. com o mito “Caos”:
“Do Caos surgiu Gaia, ou Géia (a Terra, elemento primordial), sozinha,
deu origem a Urano (o céu). Em seguida, uniu-se a Urano, gerando os deuses e as
divindades femininas. Um de seus filhos é Cronos (Tempo), que toma o poder do
pai e é destronado pelo filho Zeus”.
Essa foi a primeira tentativa do espírito antropocêntrico de lançar dúvidas
epistemológicas às revelações bíblicas. Todas as hipóteses filosóficas e
científicas quanto a origem da vida e do universo baseiam-se nas informações
contidas nesse mito. O que deduzimos dessa intriga entre razão e fé é que ambas
precisam de fé para aceitá-las. Ainda hoje, a origem da vida no planeta Terra e
do próprio universo, é uma incógnita para o racionalismo científico-filosófico.
Logo, afirmar que Deus morreu é anteceder as conclusões, são afirmações baseadas em hipóteses, assim
sendo, Nietzsche, seus cúmplices e seguidores estão delirando, doentes.
Três mil anos de embate
Segundo a cronologia bíblica, antes
de Hesíodo criar seu mito, passaram-se dois mil e trezentos anos. Antes do
racionalismo epistemológico lançar suas dúvidas às revelações bíblicas, já
haviam pessoas que não seguiam os princípios e regras dadas por um Deus.
Segundo a própria bíblia, Caim, filho de Adão foi o primeiro a duvidar quando
ofereceu a Deus uma oferta segundo a sua visão de adoração em oposição a
orientação divina. Dessa dúvida, gerou a intriga entre Caim e seu irmão Abel
que culminou o primeiro assassinato, causando a separação entre seguidores e
opositores às revelações de Deus.
Essa guerra entre obedientes e desobedientes ultrapassa os limites do
globo terrestre, é uma guerra que se estende ao mundo metafísico, isto é, Deus
e o Diabo. Nessa trama há os interesses de Deus e de Satanás. Um quer nosso bem
e felicidade eterna, o outro, nossa infelicidade e morte eterna. Deus é o
criador de todas as coisas que há na Terra e no universo; Satanás é uma
criatura divina que corrompeu-se por desejar ser igual a Deus; para isso se
rebelou e espalhou a dúvida entre as criaturas que haviam no céu, com sua
astúcia cognitiva conseguiu enganar a terça parte dos seres que habitavam o céu.
Como Satanás e muitos dos anjos que o seguiam não aceitaram a graça divina para
receber o perdão, caso voltassem atrás, foram expulsos do céu. Porém, a dúvida
permanecera, por isso, Deus deu um tempo para suas criaturas inteligente tirar
suas próprias conclusões quanto ao amor de Deus e a rebeldia de Satanás. É
nesse contexto, segundo a bíblia, que todas as coisas boas e ruins acontecem no
planeta Terra. Logo, nada acontece por acaso; esse planeta é um palco onde
todos nós somos atores, ou melhor, guerreiros do bem ou do mal, representantes
de Deus ou de Satanás, seja nas intrigas bélicas ou epistemológicas, religiosas
ou ateístas. O pior é que não há espaço para elementos neutros, seja por causa
da ignorância ou pelo excesso de saber.
Israel, o povo de Deus
Por volta do ano dois mil antes de
Cristo, Deus elegeu um povo como Seu representante na Terra. Era uma tentativa
de, por meio da obediência de um homem de fé, formar uma nação politicamente
organizada que O representasse por meio da fé. Abraão nasceu em 1948 a.C. e
Sara, sua esposa, em 1938 a.C.; da descendência de Abraão nasceu Jesus Cristo.
Os judeus são os semitas descendentes de Sem, filho de Noé.
Jacó, filho de Abraão e sua descendência, quando houve fome em sua
região, desceram até o Egito em busca de alimento. Nessa época um de seus
filhos, José, havia sido vendido por seus irmãos aos ismaelitas que o venderam a
faraó dos Hicso que governava o Egito, e, por sua fidelidade ao seu Deus, fora
feito governador do Egito. Por influência de José todos os que desceram com
Jacó gozaram de privilégios. Quando os Hicsos perderam o governo, e, com a
morte de Jacó e José que o novo governo não conhecera, a descendência de Abraão
fora escravizada pelo novo Faraó egípcio. Após quatrocentos anos de escravidão,
os israelitas foram libertados por Moisés, um hebreu que fora criado e educado
pela filha do Faraó. A partir do êxodo o povo de Israel volta a ficar em
evidência entre todos os povos por causa dos feitos de Deus entre Seu povo
livrando-os do poder de Faraó. Nessa época todos os primogênitos do reino de
faraó foram mortos e seus guerreiro e carruagens foram destruídos pelas águas
do rio vermelho quando eles tentavam alcançar os israelitas para vingá-los pelo
o que acontecera aos egípcios. Durante a peregrinação pelo deserto de volta à
terra prometida, Deus dá, por escrito os dez mandamentos de Sua santa lei, o
código áureo de todo o universo. O povo hebreu deixou o Egito por volta de 1500
a.C.; O Estado de Israel era teocrático, isso significa que quem o governava
era o próprio Deus através dos profetas e Sua lei dada no Sinai, porém, quando
o povo se estabeleceu na terra prometida, viram que os outros povos tinham reis
que os governavam, então, os israelitas pediram que fossem governados por um
rei e não mais por Deus através dos profetas. Assim, Israel elegeu um rei para
os governar, é o início da monarquia em Israel; seu primeiro rei foi Saul, o
segundo foi Davi e o terceiro, Salomão. Com Saul iniciou a decadência, ou apostasia
da nação. Após a morte de Salomão o reino de Israel foi dividido. Os israelitas
eram divididos em doze tribos, essas representavam os doze filhos de Jacó. Por
ocasião da divisão, dez tribos ficaram sendo Israel, parte norte; e as duas
outras tribos, Judá, na parte sul. A capital de Judá era Jerusalém e a de
Israel Siquém, posteriormente Samaria. Essa divisão ocorreu logo após a morte
de Salomão que se deu por volta de 900 a.C.
Fim da tribo de Israel
Passados dois séculos, a tribo de Israel, por causa de sua desobediência
aos mandamentos e conselhos divinos dados através dos profetas, o reino foi
atacado pelos assírios em 734 -732 a.C. fazendo os habitar entre seus povos, com a
miscigenação entre Israelitas e assírios, acabou com a identidade dos
israelitas, é o fim desse reino. Assim, Judá passa a ser o único representante
de Deus na Terra.
VIII a.C.
Com o fim de Israel, o poder e
existência de um Deus como criador e mantenedor do universo é colocado em
dúvida por Hesíodo. É nesse contexto que ele cria seu mito da origem da vida e
do universo. Está decretada a batalha epistemológica entre antropocentrismo e
teocentrismo. Essa guerra continua até hoje por meio da argumentação filosófica
que não mede esforços para negar que a bíblia é um livro revelado. De mãos
dadas com a filosofia temos hoje as ciências humanas e exatas tentando provar
que Deus é um mito como o de Hesíodo. Para os atuais filósofos o velho “Deus
morreu”. Com Hesíodo começou a batalha epistemológica entre os povos,
dividindo-os entre os fiéis aos escritos bíblicos e aqueles que negam a
veracidade desses escritos como sendo revelações de um Deus Criador e mantenedor
do universo. Agora, diz Nietzsche, o mar está aberto para se navegar, livre para
detonar Deus e seus seguidores. No século XX, por influência da filosofia de
Nietzsche, todos os filósofos, cientistas, graduados, graduandos e o povo sem fé, seus seguidores, sentem-se
livres para ousadamente zombar de Deus e daqueles que O seguem por meio dos
escritos bíblicos. Mas nada está comprovado, tanto a filosofia quanto as
ciências e acadêmicos que tratam da origem cosmológicas continuam questionando
sem fundamento a-posteriori. Suas afirmações não têm nenhuma garantia, pois,
estas continuam baseadas em hipóteses, e, como tais, são apenas posições a-priori,
isto é, sem nenhuma conclusão definitiva. Logo, não passam de falácias. Então,
assim sendo, a intriga entre racionalistas e teocráticos continua baseando-se
apenas em crenças, uns no racionalismo antropocêntrico e outros nos escritos
bíblicos. A saga continua rumo ao apogeu definitivo. Segundo os escritos
bíblicos, o fim desse conflito dar-se-á com a segunda volta de Cristo!
Propósito do autor
Nos próximos textos postados nesse
blog irei mostrar como a filosofia encabeçou ao longo desses quase três mil
anos o propósito de eliminar o Deus bíblico do consciente da humanidade e as
dificuldades que eles sempre encontraram na tentativa de ganhar essa guerra
epistemológica
Filósofo Isaías Correia Ribas
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Nietzsche. Os Pensadores. Ed. Abril Cultural – São Paulo.
1978