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segunda-feira, 10 de março de 2014

ÁPEIRON, PRINCÍPIO DE TODO O UNIVERSO

INTRODUÇÃO
     A incógnita sobre a origem da vida orgânica e do universo inorgânico continua sendo a preocupação primeira e máxima da ciência empírica e da argumentação a priori dos grandes temas filosóficos. Essa incógnita é a genitora fundamental das crenças e descrenças existentes no passado e no presente. Os dois grandes fundamentos geradores das polêmicas sobre as origens são: os escritos bíblicos dos hebreus e as hipóteses do racionalismo filosófico. A filosofia surgiu para criar outra epistemologia. Mas, para isso, teria que criticar, e, se possível, eliminar do consciente da humanidade às crenças na mitologia grega (criadas por Homero e Hesíodo nos séculos XII-VIII a. C.) e no monoteísmo defendido pelos judeus. Graças a essa intensão filosófica, a partir de uma epistemologia antropocêntrica, todas as ciências exatas e humanas desenvolveram-se; e assim, foi possível chegar ao atual desenvolvimento tecnológico, possibilitando aproximar-se mais por respostas conclusivas sobre a origem da vida e do universo. Por isso, creio eu, continua sendo pertinente investigar as hipóteses criadas pelos pensadores do primeiro período filosófico (Physis). Assim sendo, investigarei a hipótese elaborada por Anaximandro que, segundo ele, o ápeiron é o elemento originador da vida e do universo.
  
Problema: Qual a origem da vida orgânica e inorgânica no universo?

  Hipótese de Anaximandro: o ápeiron
     A questão é: O que levou ou o que deu condições para Anaximandro propor o ápeiron como sendo *o princípio, num momento em que os filósofos estavam buscando na natureza um elemento físico como o *Princípio de tudo? Por meio da linguagem aprendemos expressar nossa capacidade intelectual, assim, o homem descobriu que é possível, através do raciocínio lógico criar infinitas possibilidades para propor problemas, para, deduzir destes alguma coisa. Assim, como naqueles dias o que mais lhes preocupavam era entender como tudo veio à existência, resolveram propor algumas hipóteses para nortear suas pesquisas. Assim, alicerçada nessas possibilidades, a filosofia continua, a priori, avançando em buscas de respostas sobre tudo o que há e como veio a ser no universo, seja, propondo problemas e as devidas soluções, bem entendido que, paralelo à filosofia estão às investigações empíricas; assim, filosofia e tecnologia científica têm demonstrado que é possível continuar avançando em busca de respostas sobre as origens sem o afã de destruir os mitos e a fé; nesta busca a ética é fundamental para a tolerância das diferenças.
Objetivo:
     Propor uma reflexão filosófica, científica e religiosa sobre as hipóteses postas nesses quase três mil anos de questionamentos à teologia bíblica e aos mitos Pré-Socráticos. É impossível não reconhecer que tais questionamentos não provocaram uma revolução epistemológica e tecnológica que têm possibilitado à humanidade grandes conquistas nos mais diversos campos do saber. Porém, as hipóteses com relação ao princípio de todas as coisas continuam precisando ser confirmadas ou negadas cientificamente. 
Justificativa:
Analisarei neste trabalho a hipótese proposta por Anaximandro de Mileto. (610-547 a. C.) Geógrafo, matemático, astrônomo e político. Segundo os relatos doxográficos, ele escreveu um livro intitulado Sobre a Natureza, tido pelos gregos como a primeira obra filosófica no seu idioma, restando deste apenas um fragmento e noticias de filósofos e escritores posteriores. “Ampliando a visão de Tales de Mileto, foi o primeiro a formular o conceito de uma lei universal presidindo o processo cósmico total”. Por aproximadamente dois séculos os filósofos da natureza (Physis) ou Pré-Socráticos, propuseram várias hipóteses em busca de um elemento natural que fosse a causa das origens de tudo o que há. Alguns desses elementos foram: a água, o ar, o fogo e a possibilidade de ser uma mistura de água com a terra e outros elementos. Anaximandro, embora esteja entre os naturalistas, sua hipótese está além da física, logo, metafísica; aquilo que é privado de limites. Além dos elementos que compõe as quatro raízes elementares, outros filósofos do período apresentaram outras hipóteses: para os pitagóricos o número é o princípio; para Anaximandro o ápeiron; para Empédocles a água, a terra, o ar e o fogo são as quatro raízes de todas as coisas, ou, o suporte que sustenta tudo o que há; para Anaxágoras “tudo está em tudo” ou ainda “em cada coisa há parte de cada coisa”; (Spinoza, Baruch (1632-1677) bebeu em Anaxágoras para filosofar sobre o panteísmo) (grifo do autor) com Lêucipio e Demócrito deu-se a última tentativa de responder aos problemas propostos no âmbito da filosofia da physis ao descobrirem o conceito de átomo; o átomo não é perceptível pelos sentidos, mas somente pela inteligência.
O átomo, portanto, é a forma visível do intelecto. É claro, para ser pensado como “pleno” (de ser), o átomo pressupõe necessariamente o “vazio” (de ser; portanto, o não ser). Assim, o vazio é tão necessário como o pleno: sem vazio, os átomos-formas não poderiam se diferenciar nem se mover. Átomos, vazio e movimento constituem a explicação de tudo. [...]: (REALE e ANTISERI, 1990, p. 67)
     O princípio de tudo é um problema universal. Logo, interessa-se a todos. Por isso decidi analisar o princípio proposto por Anaximandro, ele apresenta algo além dos elementos naturais.
Metodologia:
Minha pesquisa será fundamentalmente em análises literárias de autores consagrados, sobre o que eles escreveram e entenderam sobre a hipótese de Anaximandro. Esses autores são: Giovanni Reale (15 de Abril 1931)/Dario Antiseri (1940), Friedrich Nietzsche (1844-1900) e Martin Heidegger (1889-1976). Antagonizando o racionalismo antropocêntrico, utilizarei a posição teológica da profetisa e escritora Ellen G. White (1827-1915) que, segundo profecias apocalípticas, um (a) profeta seria levantado para orientar os cristãos que estariam dispostos a ser fiel a Deus próximo da segunda vinda de Cristo; grande parte de seus escritos são resultados de revelações que tivera para orientar os cristãos de “Laodicéia”, nome simbólico que corresponde ao último período das igrejas do apocalipse, 3: 14-22. Seguindo a tradição bíblica, Deus, independente da igreja institucionalizada, usa o dom de profecia para revelar Sua vontade e autoridade àqueles que professam segui-Lo; como sempre fizera com a nação de Israel que, embora fosse uma nação politicamente organizada, a palavra dos profetas correspondia à vontade e autoridade de Deus e não a dos reis e juízes. Deduz-se, então, que, White G. Ellen é a profetisa contemporânea, capaz de refutar o crescente racionalismo que cria teorias hipotéticas para minar a fé nos escritos bíblicos. Seus escritos estão sob os cuidados da Igreja Adventista do Sétimo Dia que iniciou suas atividades organizacionais em 1863 nos USA. Resultado do apogeu do movimento milerita que ocorrera em 1844.

TEMA
“O PRINCÍPIO OS ENTES E A LINGUAGEM”
     A linguagem humana é fundamental para propor problemas e resolvê-los. Porém, Cientificamente falando, até o presente, não se sabe como o ser humano aprendeu a falar, a pesar de já terem levantado algumas hipóteses além da bíblica. Para Herder, os sons primitivos da linguagem foram os gritos e gemidos instintivos. Para outros, a linguagem foi possível porque o homem é um animal social, ente eles Aristóteles que defende a tese de que o homem é um animal político (social); Para Süssmilich a origem da linguagem é teológica (divina). Cientificamente, a origem da linguagem é aporética, isto é, sem solução.  Para Humboldt, a linguagem é racionalidade prática, razão voltada à razão, uma circularidade, isto é, sem a linguagem significativa é impossível até mesmo o pensamento. Para a filosofia contemporânea é impensável chegar-se a verdade argumentativa sem o rigor de análise da linguagem. Pois, sem esta, é impossível propor qualquer hipótese a priori. Além da linguagem verbal, todo o nosso ser físico e metafísico se expressam de muitos modos significativos; assim sendo, as conclusões verdadeiras de nossas pressuposições não são de fáceis deduções. Imaginem em se tratando do princípio das estruturas orgânicas e inorgânicas e do ser originador dessas estruturas. Atualmente é possível analisar essa problemática graças à evolução da filosofia da linguagem, onde, a filologia e a filosofia, juntas, são capazes de criticar as antigas estruturas filosóficas, avançando assim, sobre patamares mais firmes, no progresso revolucionário das mais diversas epistemologias até então postas.
Iniciarei depois destes passos fundamentais à pesquisa, àquilo que propus analisar neste trabalho.
  
1 – A-PEIRON SEGUNDO GEOVANNI REALE/DARIO ANTISERI
     Dos três filósofos citados como base para esta pesquisa somente Reale grafa ápeiron com hífen e sem acento agudo. Com o termo a-peiron a problemática do princípio se aprofundou. Para Anaximandro a água que Tales de Mileto propôs como princípio originário único, causa de todas as coisas que existem não se sustenta porque a água já é algo derivado e que, ao contrário, o “princípio” (arché) é o infinito, ou seja, uma natureza (physis) infinita e in-definida da qual provêm todas as coisas que existem. (REALE/ANTISERI, 1990, p. 31)
     A-peiron significa: aquilo que é privado de limites, tanto externos (ou seja, aquilo que é infinito espacialmente e, portanto, quantitativamente) como internos (ou seja, aquilo que é qualitativamente indeterminado) E, por ser quantitativa e qualitativamente i-limitado é que o princípio ápeiron pode dar origem a todas as coisas, delimitando-se de vários modos. Esse princípio abarca e circunda, governa e sustenta tudo, justamente porque, como delimitação e de-terminação dele, todas as coisas dele se geram, nele con-sistindo e sendo. (Ibid., p. 32.)
     Esse infinito “parece-se com o divino, pois é imortal e indestrutível”. Por enquanto, Anaximandro e o seu a-peiron se iguala a tradição mítica de Homero: atribuindo aos deuses a imortalidade e o poder de sustentar e governar tudo. Mas ele vai além, ou seja, a imortalidade do princípio deve ser tal a ponto de não apenas não admitir um fim, mas tão pouco um início. Os deuses de Homero não morriam, mas nasciam. Já o divino de Anaximandro, da mesma forma como não morre, também não nasce. (por não nascer, o a-peiron vai além da teogonia de Hesíodo, ou seja, toda crença depositada na mitologia grega é questionada por um dos ilustres gregos) (grifo do autor)
“Esses princípios filosóficos Pré-socráticos são “naturalistas” no sentido de que não veem o divino (o princípio) como algo diferente do mundo, mas como a essência do mundo. Entretanto, não têm nada a ver com concepções do tipo materialista- ateizante.””
     Anaximandro propôs a questão: “Como e por que da derivação de todas as coisas do princípio”? O fragmento de seu tratado que chegou até nós contém a resposta para esse problema: “De onde as coisas extraem o seu nascimento aí também é onde se cumprem a sua dissolução segundo a necessidade; com efeito, reciprocamente sofrem o castigo e a culpa da injustiça, segundo a ordem do tempo.” (Ibid., p. 32.)

     O fragmento fala de castigo, culpa e injustiça. Como a obra de Anaximandro se perdeu, supõe-se, que ele pensava que o mundo era constituído de contrários que tendem a dominar um sobre o outro (calor e frio, seco e úmido etc.) A injustiça consistiria precisamente nessa predominância. O tempo é visto como o juiz, enquanto estabelece um limite a cada um dos contrários, pondo fim no predomínio de um em favor do outro e vice versa. Mas a justiça não se dá pela alternância dos contrários, mas pelo fato de serem contrários, pois para cada um deles o nascimento implica imediatamente na contraposição ao outro contrário. E, como o mundo nasce da cisão dos contrários, nisso se identifica a primeira injustiça que deve ser explicada com a morte (o fim) do próprio mundo, que, depois, renasce ainda segundo determinados ciclos de tempo infinitamente. Segundo os estudiosos do assunto essa teoria tem sua ideia central no orfismo. (Ibid., p. 33-34) 
2 – Nietzsche e o Ápeiron:
     Anaximandro, discípulo de Tales de Mileto, fala mais claro que o mestre que se delineia em neblinas. Frase por frase, cada uma testemunha de uma nova iluminação e expressão do demorar-se em contemplações sublimes. O pensamento e sua forma são marcos de milha na senda que conduz àquela sabedoria altíssima. Diz Anaximandro uma vez: “De onde as coisas têm seu nascimento, ali também devem ir ao fundo, segundo a necessidade; pois têm de pagar penitência e de ser julgados por suas injustiças, conforme a ordem do tempo”. Enunciado enigmático de um verdadeiro pessimista, inscrição oracular sobre a pedra limiar da filosofia grega, como te interpretaremos? ¹
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¹  As citações dos Pré-socráticos são todas traduzidas do alemão: interessa reproduzir fielmente a tradução que Nietzsche lhes dá, para compreender sua interpretação. (N. do T.) p. 17
     Nietzsche entende o enunciado como enigmático oracular; (porém, precisa-se levar em conta o contexto histórico de Anaximandro: além das influencias míticas e místicas, a influência do monoteísmo judaico não era pequena entre aqueles povos. Nabucodonosor acabara de destruir o templo que Salomão construíra; orgulho dos judeus, admirado e cobiçado por todos os povos. Os judeus naquele momento estavam sob o domínio babilônio e alguns de seus jovens foram levados para a corte de Nabucodonosor para serem educados segundo a mística babilônica; lá resolveram ser fieis ao seu Deus que submeterem à educação de babilônia. Por essa decisão de fidelidade, Seu Deus foi honrado na corte diversas vezes, e assim a religião monoteísta judaica foi influenciando todos os povos, e, sem dúvida, os filósofos. Por isso, entendo que o ápeiron de Anaximandro é parecido com o Deus dos judeus.) (grifo do autor)
     As quatro raízes, terra, água, ar e fogo possuem propriedades determinadas. E, se são determinadas não podem ser a origem e princípio das coisas; o que é verdadeiramente, conclui Anaximandro, não pode possuir propriedades determinadas, senão teria nascido, como todas as outras coisas, e teria que ir ao fundo. Para que o vir a ser não cesse, o ser originário tem de ser indeterminado. “A imortalidade e a eternidade do ser originário não está em sua infinitude e inexauribilidade como comumente admite os comentadores de Anaximandro – mas em um ser destituído de qualidades determinadas que levam a sucumbir: e é por isso, também, que ele traz o nome de “indeterminado”. ² [...] Matriz de todas as coisas, como algo a que não pode ser dado nenhum predicado do mundo do vir-a-ser que aí está, e poderia, por isso, ser tomada como equivalente à “coisa em si” kantiana.” (Ibid., p. 18)
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² Esta tradução de ápeiron – habitualmente: o sem limite, o ilimitado ou “o infinito” (Diels) – legitima-se, pelo menos, na tradição do idealismo pós kantiano, que estabelece a estrita equivalência entre determinação (Bestimmung) e limite (Grenze). Repare-se que é essa indeterminação que permite aproximá-lo da coisa-em-si de Kant. (N. do T.) (Ibid., p.18)
     Anaximandro deu um salto, já não mais tratou a perguntar sobre a origem deste mundo de maneira puramente física, mas metafísica. Como pode perecer algo que tem direito de ser! De onde vem àquele incansável vir-a-ser e engendrar, de onde vem aquela contorção de dor na face da natureza, de onde vem o infindável lamento mortuário em todo o reino do existir? Desse mundo do injusto, do insolente declínio da unidade originária das coisas. Anaximandro refugiou-se em um abrigo metafísico, do qual se debruça agora, deixa o olhar rolar ao longe, para enfim, depois de um silêncio meditativo, dirigir a todos a pergunta:
O que vale vosso existir? E, se nada vale, para que estais aí? Por vossa culpa, observo eu, demorais-vos nessa existência. Com a morte tereis de espiá-la. Vede como murcha vossa terra; os mares se retraem e secam; a concha sobre a montanha vos mostra o quanto já secaram; o fogo, desde já, destrói vosso mundo, que, no fim, se esvairá em vapor e fumo. Mas sempre de novo, voltará a edificar-se um tal mundo de inconstância: quem seria capaz de livrar-vos da maldição do vir-a-ser? (Ibid., p. 18)
     Mais uma vez observo: (O ápeiron de Anaximandro se parece com o Deus dos judeus; os conceitos: princípio, infinito, morte expiatória, maldição, injustiça diante da existência e da morte, e o fim do mundo são conceitos bíblicos, exceto o eterno vir a ser de Nietzsche que está interpretando mais que traduzindo o fragmento que restou dos escritos de Anaximandro.) (grifo do autor) “Pela fé entendemos que os mundos, pela palavra de Deus foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente.” (WHITE p. 258) 
3 – Heidegger, Martin e o ápeiron
     Martin Heidegger é um dos pensadores do século XX – ao lado de Russell, Wittgenstein, Popper, e Foucault – quer pela recolocação do ser e pela refundação da ontologia à luz da linguagem.
Gramaticalmente a sentença consiste em duas proposições. A primeira começa assim: ex hõn dè he génesís esti tõis õusi ... Os ónta estão em questão; tà ónta significa, traduzido literalmente: os entes. O neutro plural nomeia tá pollá a multitude no sentido da multiplicidade dos entes. Mas tà ónta não se refere a uma multiplicidade qualquer ou ilimitada, mas tà pánta, à totalidade do ente. Por isso significa tà ónta o ente múltiplo, em sua totalidade. A segunda proposição começa: didónai gár autá, retoma o tõis õusi da primeira proposição.
     A sentença fala do ente múltiplo em sua totalidade. Mas do ente não fazem apenas parte as coisas. De maneira alguma são as coisas apenas coisas da natureza. Também os homens e as coisas produzidas pelo homem e os estados produzidos pelo agir e não agir humano e as circunstâncias provocadas fazem parte do ente. Também as coisas demoníacas e divinas fazem parte do ente. Tudo isto não apenas é também, mas é mais ente que as simples coisas. (Ibid., p. 24)
     “O ser” que Nietzsche pensa é o “eterno retorno do mesmo”. Este eterno retorno é o modo da constância, na qual a vontade de poder se quer ela mesma e assegura sua própria presença como ser do devir. Na extrema consumação da metafísica, emerge da palavra o ser do ente”. (Heidegger)
 Diz a sentença de Anaximandro segundo a tradução de Nietzsche: “De onde as coisas têm seu nascimento, para lá também devem afundar-se na perdição, segundo a necessidade; pois elas devem expiar e ser julgadas pela sua injustiça, segundo a ordem do tempo”. (p. 19)
Assim traduziu Diels dedicando sua obra a Wilhelm Dilthey: “Ora, aquilo de onde as coisas se engendram, para lá também devem desaparecer segundo a necessidade; pois elas se pagam umas às outras castigo e expiação pela sua criminalidade segundo o tempo fixado”.
As traduções de Nietzsche e Diels são, quanto a seu impulso e à sua intenção, de origem diversa. Entretanto, elas se distinguem mal e mal uma da outra. Em mais de um ponto, a tradução de Diels é mais literal; mas enquanto uma tradução é apenas literal ela ainda não precisa ser, em sua essência, fiel. Ela é fiel apenas quando suas palavras são palavras que falam a partir da linguagem da coisa em questão. (Heidegger, p. 20)
     Tradução da sentença por Heidegger: “Ora, a partir daquilo do qual a geração é para as coisas, também o seu desaparecer para dentro disto se engendra segundo o necessário; pois eles se dão justiça e penitência reciprocamente pela injustiça, segundo a ordem do tempo”.
     Independente das traduções, a sentença fala sobre o aparecer e desaparecer das coisas, retornando de onde vieram. Da natureza? Do ilimitado “divino” e eterno ápeiron?
Abstrair pura e simplesmente das representações posteriores não conduz a nada, se não procurarmos antes ver mais de perto como se situa a questão que, na tradução de uma língua para a outra, deve ser vertida. Ora, a questão de que aqui se trata, é a questão do pensar. Mesmo tomando cuidado com a linguagem filologicamente esclarecida, devemos primeiro concentrar o pensamento na questão. É por isso que, na tentativa de traduzir a sentença deste pensador primórdio, somente os pensadores podem prestar auxílio. É claro que procuramos em vão, quando vamos em busca de tal auxílio. Mas, se quisermos entender como é necessário o que diz a sentença, que regras nos conduzem na tentativa de traduzi-la? Como poderemos atingir o que foi dito pela sentença, para que isto guarde a tradução diante arbítrio?
     Estamos ligados à nossa linguagem e à experiência de sua essência. Este laço vai muito mais longe e é mais vigoroso, mas também menos aparente que as medidas de todos os fatos filológicos e históricos, os quais têm apenas sua realidade do fato, graças à prodigalidade daquele vínculo ou ligação. Enquanto não aprendermos este vínculo, qualquer tradução da sentença aparecerá como simples arbítrio. (Heidegger, p. 20 e 23) 
4 – Antagonismo de Ellen G. White
A força potente que atua por meio de toda a Natureza e sustenta todas as coisas não é, como alguns cientistas descrevem, simplesmente um princípio dominante, uma energia impulsionante. Deus é espírito; não obstante é um ser pessoal, pois o homem foi criado à sua imagem.
A Natureza não É Deus
As coisas de feitura divina na Natureza não são o próprio Deus na Natureza. As coisas da Natureza são uma expressão do caráter divino; por meio delas podemos compreender o Seu amor, Seu poder, e Sua glória; mas não devemos considerar a Natureza como sendo Deus. A perícia artística dos seres humanos produz obras muito belas, coisas que deleitam os olhos, e essas coisas nos dão em parte um vislumbre de quem as ideou; mas a obra feita não é o homem. Não é a obra, mas o obreiro que é considerado merecedor de honra. Assim, conquanto a Natureza seja uma expressão do pensamento de Deus, não a Natureza, mas o Deus da Natureza é que deve ser exaltado...
Um Deus Pessoal Criou o Homem
Na criação do homem foi manifesta a intervenção de um Deus pessoal. Ao fazer Deus o homem à Sua imagem, a forma humana estava perfeita em toda a sua distribuição, mas sem vida. Então, um Deus pessoal que tem vida em Si mesmo, soprou nessa forma o fôlego de vida, e o homem tornou-se um ser vivente, respirando e dotado de inteligência. Todas as partes do organismo humano entraram em ação. O coração, as artérias, as veias, a língua, as mãos, os pés, os sentidos, as percepções da mente – todos começaram a funcionar, e todos ficaram sujeitos a uma lei. O homem tornou-se alma vivente.
Por meio de Jesus Cristo, um Deus pessoal criou o homem, e dotou-o de inteligência e vigor.
Nossa matéria não estava escondida dEle quando fomos feitos misteriosamente. Seus olhos viram a nossa matéria, se bem que imperfeita; e no Seu livro todos os nossos membros estavam escritos, quando nenhum deles havia.
Acima de todas as ordens de seres inferiores, Deus pretendia que o homem, a obra prima de Sua criação, expressasse o Seu pensamento e lhe revelasse a glória. Porém não deve o homem axaltar-se como se fora Deus. [...] (Ibid., p. 262 e 263) 
5 – CONCLUSÃO:
     O ser humano é o único entre todos os entes terrestres que se mostra capaz de pensar e executar o pensado; de eternizar seus feitos e aprendizados através da cultura e da escrita; de evoluir tecnicamente para melhorar seu modo de interferir na natureza, modificando-a para transforma-la, tornando-se, assim, capaz de conquistar, se possível, todo o universo astral. Todo esse empenho milenar e os milhões gastos se justificam porque queremos entender de onde viemos e para onde vamos depois da degeneração da matéria que compõe nosso organismo. E, para o racionalismo científico-filosófico, esse conhecimento tem que estar destituído de qualquer tipo de fé, um conhecimento estritamente antropocêntrico, dependente da razão e da linguagem, logo, estruturas criadoras dos ideais humanos em "detrimento do poder do logos divino, criador de todas as coisas (entes). O maior problema proposto pelos seres humanos se resume nessa maior de todas as questões: Qual a lógica da existência diante do poder da morte? Porém, como a ciência e a filosofia ainda não têm respostas conclusivas sobre ambas às questões; este objetivo que começou à quase três mil anos continua vivo na mente dos atuais pensadores e pesquisadores, a busca por algo que comprove cientifica e filosoficamente de onde viemos e para onde vamos. Durante este período milenar muitas hipóteses (suposições) foram levantadas por grandes pensadores, cientistas e filósofos, mas, até os dias atuais essas suposições continuam como hipóteses, porém, é graças a essas suposições que as evoluções e revoluções tecnológicas continuam construindo aparelhos que melhoram nosso bem estar físico, os meios de transportes e de comunicações que aproximam e integram as pessoas de todo o planeta. Devemos ter o cuidado para não atribuir a essas suposições hipotéticas como sendo verdades pelo fato das conquistas científicas enquanto se busca o objetivo maior (como se deu nossa origem). Concluir que, por tais conquistas menores enquanto se busca a conclusão da hipótese macrocósmica, seja esta verdadeira, é um erro científico-filosófico. Por enquanto continuam como hipóteses apesar dos grandes benefícios conquistados enquanto se trilha o caminho hipotético pela grande busca epistemológica das origens e fins de todas as coisas. Independentemente dos objetivos serem postos pela academia científico-filosófica, qualquer um que tem consciência de sua existência se preocupa com o porquê da existência e com o fim da mesma; por isso se justifica tantos investimentos na busca da confirmação ou negação da hipótese macrocósmica sem nenhum questionamento popular e acadêmico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
WHITE, G. Ellen, Testemunhos Seletos V. III. São Paulo, p. 262 e 263. Ed. Casa Publicadora Brasileira, 1985.
NIETZSCHE, Friedrich e HEIDEGGER, Martin. Pré-Socráticos. Os Pensadores, p. 14-47. Ed. Abril Cultural, 1978.
REALE, Geovanni/ANTISERI, Dario. História da Filosofia, V. I. São Paulo. p. 32-35. Ed. Paulus, 1990, 8° edição, 2003.

Filósofo Isaías Correia Ribas