Hume, David (1711 –
1776)
Hume, filósofo e historiador francês,
ícone na história da filosofia por suas críticas aos métodos de operação do
entendimento praticados pela ciência e a metafísica. Para ele, seus fundamentos
são falaciosos; suas críticas parou, por alguns anos, a produção do pensamento
filosófico; a ciência, apesar de seu fundamento epistemológico ser falacioso,
não interrompeu suas investigações e produção técnica.
Fundamento
epistemológico da ciência Clássica e Moderna: universal e necessário. Clássica
(da Grécia a modernidade apesar das diferenças); universal (vale para
todos); necessário (de tal maneira que não pode ser de outro modo). Primeiro
problema: se é necessário não pode ser contingente; e se é contingente
pode ser e não ser, como a ciência é contingente, não pode ser universal e
necessária. Segundo: o princípio universal aplica-se a todos, e nenhum
experimento científico é capaz desse feito. Logo, causa e efeito deduz-se pelo
hábito, por um número finito de verificações e não pela universalidade. Então,
a maior prova de que o fundamento científico está no hábito e não no universal
e necessário é que a produção não parou apesar da falácia do fundamento.
A maioria dos
cientistas eram também filósofos. Descartes, Spinoza, Leibniz, Wolff e outros.
Eles, por meio da lógica formal, achavam-se capazes de provar a existência de
Deus pelo raciocínio puro, lógico, pensavam assim porque isso é possível na
matemática e na geometria. O fundamento da lógica está fundamentado no princípio
de contradição, isto é, “nada pode ser e não ser ao mesmo tempo e
sobe a mesma relação (ou um juízo não pode ser verdadeiro ou falso)”. Numa
linguagem popular fica assim: só pode ser assim, se for de outro
modo, cai-se em contradição. Logo, o princípio de contradição é insustentável,
porque desqualifica todo pensamento, que se torna uma opinião sem valor de
verdade. Foi essa contradição que Hume contestou; é impossível a metafísica
provar a existência de Deus por dedução lógica. Deus existe, mas pode não existir.
Logo, cientistas e metafísicos, segundo Hume, não têm nenhuma certeza absoluta.
Assim, a filosofia entrou em crise, e agora, como sair desta crise conceitual?
A filosofia, como
já deu para perceber, é um jogo de conceitos. Há dois conceitos que irá nos
ajudar a entender o que estava acontecendo naqueles dias: a priori e a posteriori;
desses dois, kant deduziu os seus: analítico e sintético.
a priori e o a
posteriori:
a priori (o que é possível conhecer sem a experiência), conhece-se
pela análise do próprio conceito, logo, razão pura. Analisemos o conceito
triângulo: por análise deduz-se que, o que ele é, está contido no próprio
triângulo (têm três lados e três ângulos), pensar diferente disso cai-se em
contradição, isto é, nunca o triângulo terá quatro lados. Então, a priori
deduz-se pela análise, logo, analítico.
A posteriori (aquilo que só possível conhecer após a experiência), se
Deus, após criar Adão, e nada lhe informasse sobre as propriedades do imã, Adão
jamais iria deduzir das propriedades do imã pela análise do conceito imã, para
inferir alguma propriedade teria que aproximá-lo de outros metais, ou parti-lo
em dois ou mais pedaços. Então, isso só era possível pela síntese, análise das
partes. Logo, sintético.
Então, conclui-se que, a priori e a posteriori, pertencem a
universos diferentes; e o que estava fazendo os filósofos cientistas quando
pretendia provar a metafísica por meio da análise do conceito Deus? Caiam em
contradição. Então, o problema que ficou para a filosofia resolver foi: Como
são possíveis juízos sintéticos a priori? Chamo a atenção que, o sintético
está ligado ao empirismo (experiência), e o analítico, não precisa da
experiência. Juízos analíticos a priori eram o que os filósofos faziam até
Hume, assim, pretendiam eles, provar a existência de Deus, ou extrair dessa
análise propriedades divinas, mas, como vimos, caiam em contradição; não passando
de um esforço lógico que passava a ilusão “verdadeira” que provara a existência
de Deus.
Kant, Emmanuel (1724 – 1804)
O primeiro
elemento do problema kantiano é a física, o segundo a metafísica. Mas o que é a
metafísica para Kant? É a metafísica racionalista. Descartes, como sabemos, tem
por título uma obra, Meditações Metafísicas, nela, ele
propõe resolver, de modo definitivo, problemas tais como a existência de Deus
ou a imaterialidade da alma humana. Leibniz, Spinoza e outros racionalistas do
período também tentam.
Para Kant “a metafísica pretende, pois, ser
conhecimento puramente racional, ou seja, conhecimento por meio da razão pura.
Os racionalistas consideram que a metafísica é possível como ciência, isto é,
que é possível conhecer, por meio da razão pura, verdades que transcendem toda
experiência possível”. Tanto Descartes como Leibniz trabalham naquele
projeto, comum à ciência moderna, de matematizar o universo. Ambos vinculam
estreitamente suas físicas com suas metafísicas. Se suas físicas são diferentes
é, em boa medida, porque as metafísicas, a serviço das quais se encontram, são
diferentes. (Ariel, Mario Gonzáles Porta; A filosofia a partir de seus
problemas. Ed. Loyola, São Paulo, 2002)
A física que Kant leva
em consideração, que servirá de fundamento para resolver o problema causado por
Hume, é a física de Isaac Newton (1642-1727) que, “resultou um quadro unitário do
mundo e uma efetiva e sólida reunião da física terrestre e da física celeste.
Caía definitivamente por terra o dogma de uma diferença essencial entre os céus
e a terra, entre a mecânica e a astronomia, esfacelando-se também aquele ‘mito
da circularidade’ que por mais de um milênio condicionara o desenvolvimento da
física e que exercera seu peso até sobre o discurso de Galileu: os corpos
celestes se movem segundo órbitas elípticas, porque sobre eles age uma força
que os afasta continuamente da linha reta na qual, por inércia, eles
continuariam o seu movimento”. (Paolo Rossi) (Giovanni Reale – Dario
Antiseri; História da filosofia, vol. II; pág. 304, Paulus, são Paulo, 1989.)
A ciência matemática e mecânica newtoniana é o gancho no qual
Kant se apoia para apresentar a solução do problema: como são possíveis juízos
sintéticos a priori?
1.
Se a mecânica newtoniana é ciência.
2.
E ciência é conhecimento universal e necessário,
3.
Então a mecânica newtoniana é conhecimento universal e necessário.
4.
Todavia, conhecimento universal e necessário não pode ser jamais
empírico, mas a priori.
5.
Portanto, se a mecânica newtoniana é possível como ciência, então o
conhecimento a priori é possível. (Porta, pág. 110)
Kant, pelo
raciocínio lógico, de início já demonstra que sua tese é possível, logo, deve
ser levada em consideração. Após dez anos pensando resolver o problema
aparentemente insolúvel para Hume e os filósofos da época, apresenta sua
solução na Crítica da Razão Pura. Na Grécia antiga, Platão, como sabemos,
enfrentou semelhante problema após as críticas de Heráclito, mas, passados doze
anos, com uma manobra genial, unindo-se à metafísica, “resolveu o problema da
física”, filosofia da natureza. Agora o problema se inverte, Kant une-se à física
de Newton para resolver o problema metafísico-teológico-mitológico, que Platão
implantara.
Síntese da solução:
Kant, semelhante a Platão, por meio
de uma arquitetura conceitual, joga com a teoria do conhecimento e às formas de
obtê-lo. Para Platão, o conhecimento dependia de uma alma imortal que conhece a
“coisa em si” que, após a reencarnação, pela reminiscência, (lembrança), ensina
o indivíduo mortal.
Kant se vale também do maior engano filosófico-científico de
todos os tempos formulado por Aristóteles e Ptolomeu que, sem questionamentos
de seus contemporâneos, deduziram que a Terra era o centro do universo, e todos
os planetas e satélites giravam em seu entorno. Essa teoria é conhecida como
geocentrismo.
Copérnico, Nicolau (1473-1543), foi o primeiro
a questionar o Geocentrismo; Galileu Galilei (1564-1642), com sua luneta
apontada para o céu reafirmou as desconfianças de Copérnico no geocentrismo,
estabelecendo, depois de muitas discussões com a igreja, o heliocentrismo (sol
no centro de nosso sistema planetário); a Terra como os demais planetas,
giraria em torno do sol (revolução) e em torno de si mesma (rotação). Com essa
inversão copernicana tornou-se possível o conhecimento de nosso sistema planetário
e outros fenômenos astronômicos. Então, segundo Kant, o próprio método para se
conhecer o objeto ou a coisa estava invertido: o objeto estava no centro e a
pessoa que conhece, ou buscava o conhecimento, girava em torno do objeto
recebendo passivamente o que existe em si mesmo, no objeto, então, o objeto
dava o conhecimento para o sujeito. Logo, se o conhecimento é dado, é
impossível um conhecimento a priori. A questão é: se é dado, como pode o
sujeito saber algo acerca de um objeto? Então, “a única forma de explicar a
possibilidade do conhecimento a priori é admitir que o sujeito não é passível
no conhecimento do objeto ( que não é meramente determinado por este) mas é
ativo, colaborando, de alguma forma (pelo menos em parte) na sua constituição. Logo,
o sujeito só pode conhecer a priori aquilo que ele “produz”, e que, em consequência depende dele de algum modo ou, na perspectiva inversa, que o
sujeito não pode conhecer a priori aquilo que não dependa dele de modo algum.
Assim, o sujeito só pode conhecer a priori aquilo que, de uma forma ou de
outra, depende do seu conhecimento e não, ao contrário, aquilo que existe
independente do seu conhecimento. A realidade, tal como ela é “em si”, é algo
diferente do modo como ela aparece diante de mim enquanto sujeito cognoscente.
A
realidade tal como é em si, me é
incognoscível; o que posso conhecer dela é o modo como me aparece. O modo do
seu aparecimento, porém, dependerá não só dela mas também “de mim”. Justamente
por tal razão, eu posso saber algo a priori dela. Exprimindo o nosso resultado
em termos Kantiano, digamos que o sujeito só pode conhecer (e só pode conhecer
a priori) os fenômenos, mas não a “coisa em si” (Dinge na sich). (Porta)
Agora estamos em
condições de entender porque o conhecimento a priori é possível na física e não
na metafísica: porque enquanto a física se ocupa unicamente com os fenômenos, a
metafísica trata das coisas em si (de um absoluto).
Kant descarta a possibilidade de conhecer a coisa em si ou
Deus, por meio de qualquer conhecimento ou método humano. Conhecemos a priori
apenas os fenômenos, e desses, o sujeito tem que estar consciente, logo, o
conhecimento é para quem o busca, ele nunca é dado; não vem sem a participação
do sujeito, seja o conhecimento dos fenômenos ou da coisa em si, de Deus.
Kant, para chegar
a essas conclusões partiu de uma dimensão teórica (epistemológica) e outra
prática (ética). Antes de Kant, a fundamentação da ética e do conhecimento era
metafísica e/ou teológica. A partir dele houve a desvinculação, a ética
fundou-se no sujeito sem Deus. “O ser livre não é aquele que age sem lei
alguma, mas aquele que se impõe a si mesmo a sua própria lei. Em consequência,
um ser livre é um ser racional e vice versa. A vontade é um modo de causalidade
próprio dos seres racionais. A liberdade é uma propriedade da vontade. A
vontade é livre quando se autodetermina. Uma vontade livre é uma vontade
autônoma. Vontade livre e vontade submetida às leis morais são para Kant a
mesma coisa. A lei moral não é outra coisa que a legalidade de uma vontade
livre”. (porta)
Então, assim como
na ética Kant não baseia o dever em Deus (ou em qualquer instância transcendente),
mas na própria razão, ou seja, no “sujeito prático”, assim ele funda a
possibilidade do conhecimento a priori, teórico, no próprio sujeito que
conhece.
Os filósofos
sempre estão a serviço dos governos e das principais instituições religiosas,
construindo utopias e mitos para iludir a sociedade que pouco ou nada conhece. Pelo
comportamento da sociedade, os líderes políticos e religiosos vão avaliando as
teorias filosóficas. A partir de Kant tem-se outro paradigma para impor à
sociedade: a liberdade de ação sem o temor de Deus, a vontade do sujeito está
livre com o aval do Estado. Nietzsche (1844-1900), as verdades que devem
conduzir o sujeito são seus sentimentos e paixões. Analise o comportamento da
sociedade atual e perceberás que, apesar de se falar tanto em Deus, suas
verdades bíblicas não têm mais efeitos sobre nosso comportamento, cada um, sem
temor de Deus e das leis do Estado, segue destemidamente sua visão de verdade.
Tanto Kant quanto Nietzsche, ao propor suas máximas, fez confiando numa
educação de qualidade para todos, pois, entendiam eles, que o indivíduo responsável
e consciente dependia de boa formação escolar.
Concluo com a reflexão: toda estrutura
filosófica e o conhecimento antropocêntrico em geral, culmina no niilismo
institucional e pessoal. A fé em Deus segundo ensina a bíblia não é mais
perceptível no ser humano. Dentro desse contexto, Deus, em cumprimento às suas
promessas bíblicas, para qualificar seu povo dos últimos dias e para dar uma respostas ao racionalismo por meio da fé, chamou mais uma profetisa para alertar a humanidade do
iminente risco que corre por dar mais ouvidos às vans filosofias, abandonando
o assim diz o Senhor. Ellen G, White (1827-1915) e seus escritos, creio eu, é a
última profetisa a alertar aqueles que querem herdar a salvação. Ignorar seus
conselhos é ignorar a sabedoria e amor de Deus. Trata-la como mera escritora norte americana ou psicóloga é o mesmo que nega-la como profetisa.
Toda estrutura metafísica antropocêntrica entrou em decadência. A questão é: como dar uma resposta ao mundo se a própria igreja não consegue crer na providência divina? está na hora de acordarmos como instituição religiosa-acadêmica e como pessoas de fé.
Filósofo Isaías Correia Ribas.