O fundamental para entendermos essa
afirmação bíblica é compreendermos os dois conceitos: *IMAGEM E SEMELHANÇA.
IMAGEM: Para alguns
filósofos a imagem mental não representa o real. “A ideia é uma imagem mental
do objeto externo, isto é, um retrato ou figuração desde que aparece em nossa
mente”. E a discussão acaba quando se pede a definição real de virtude, já que
temos a imagem de uma pessoa virtuosa em nossa mente. “Para os psicólogos o
termo “imagem” designa toda representação sensível (auditiva, tátil ...). Assim,
podemos ter a imagem de uma melodia em nossa cabeça, ou imagem de nosso corpo.
Essa imagem (objeto do espírito), se distingue desse outro objeto do espírito
que é a ideia, na medida em que possui um ponto de partida uma percepção
sensorial. A faculdade de produzir imagens mentais constitui a *imaginação. Até
aqui, baseando-se em imagens mentais, não é possível aplicá-la para defendermos
o relato bíblico de que fomos criados à imagem de Deus.
A arte que trabalha com as cópias
(mimética), pode nos ajudar nessa definição, pois um bom artista mimético
define-se pela sua capacidade de representar a realidade a partir da imitação
daquilo que já existe na natureza. Deus, o artífice por excelência, decidiu
povoar o planeta Terra com entes criados a partir de sua própria forma, por
isso criou-nos à sua imagem, cópia. Mas que prova há de que somos cópias da
forma divina? A encarnação de Cristo, o Deus tornando-se homem e vindo habitar
entre nós. “Quem vê a mim vê o Pai”; “Eu e o pai somos um”. Então, o Cristo
histórico que morreu na cruz é a prova racional de que somos a imagem (cópia) fiel
de Deus.
O filósofo Friedrich W. Nietzsche (1844-1900),
Ateu, defensor de que somos produtos da natureza, sendo esta autogerada e
geradora de tudo sem finalidade alguma, diz assim sobre o Cristo: “Somente a
prática cristã, uma vida como a dele, que morreu na cruz, é cristã... Ainda uma
vida assim é possível, para alguns homens até necessária: o cristianismo
verdadeiro, o original, será possível em todas as épocas... Não uma fé, mas um
agir, sobretudo não-fazer-muitas-coisas, ser de outra forma [...] Reduzir o ser
cristão à cristandade, ao ter-por-verdadeiro, a uma fenomenologia da
consciência significa negar o cristianismo”. (No contexto nietzschiano ele
está condenando o cristianismo platônico).
O Cristo que morreu na cruz ressuscitou
dentre os mortos e após quarenta dias subiu ao céu é, para os que têm fé, o Deus
encarnado que veio revelar o pai e demonstrar Seu amor aos pecadores. Para outros
Ele foi apenas um revolucionário e para a maioria, um homem fora do comum. Independente
de nossas conclusões particulares Ele existiu e está confirmado na história, inclusive pelos racionalistas filosóficos.
SEMELHANÇA: este segundo
conceito vai completar a semelhança (outros atributos divinos) à imagem, cópia
do Criador, o homem. Somos semelhantes a Ele porque pensamos, raciocinamos,
projetamos e executamos o projetado. Temos o *logos (palavra), a
capacidade de falar, explicar e criar raciocínios, de dominar sobre todas as
outras criaturas irracionais e às outras formas de vida, dominamos porque Deus
nos criou semelhantes a Ele, e para isso Ele nos deu inteligência!
Mas alguém questionou: Se somos
criados à imagem e semelhança de Deus, como aceitar essa argumentação se Deus é
espiritual e nós somos carnais, não deveria ser o homem também um ente
espiritual, vestido de luz? Sim, e foi assim mesmo que aconteceu, o casal estava
vestido de luz, falavam pessoalmente com o Criador! O pecado levou-os, de
imediato, a perderem essa característica divina, percebendo prontamente que
estavam nus, Deus, que os visitava diariamente percebeu que o casal se escondia
Dele, foi quando vestiu-os com falhas de palmeiras e até hoje, para cobrir nossa
nudez fazemos nossas roupas, suamos para ganhar nosso alimento diário e as
mulheres passaram a ter dores de parto...
Contrariando a argumentação de que a humanidade
está melhorando com o passar do tempo diz Nietzsche: “A humanidade não representa uma
evolução para melhor, para o mais forte ou o mais elevado, da forma como
costuma-se acreditar atualmente. O “progresso” é apenas uma ideia Moderna, isto
é uma ideia falsa. O europeu de hoje permanece em seu valor abaixo do europeu
da Renascença. O desenvolvimento progressivo não constitui simplesmente, de
forma necessária, elevação, crescimento, fortalecimento. Num outro sentido, nos
mais diversos cantos da terra e vindo das mais diversas culturas, existe um êxito
constante de casos isolados, em que se manifesta, de fato, um tipo superior:
algo que em comparação com toda a humanidade é uma espécie de super-homem. Tais
ocorrências ocasionais de grande êxito têm sido sempre possíveis e, talvez,
sempre continuem possíveis. E mesmo gerações inteiras, tribos, povos podem sob
certas circunstâncias representar um desses acertos afortunados”.
Deus é o autor da fé e da razão, logo,
fé e razão completam-se, explicam, se harmonizam. Sábio é quem busca o
conhecimento para prestar a Deus um “culto racional”. A história do pecado é
apenas um parêntese na eternidade. A restauração da imagem e semelhança edênica
dar-se-á por ocasião da 2ª volta de Cristo ao planeta Terra!
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: NIETZSCHE, O
Anticristo, Maldição do Cristianismo. 1905-1906. CLÁSSICOS ECONÔMICOS NEWTON.
Filósofo e professor Isaías
Correia Ribas.