Para entender a finalidade da filosofia é preciso ter em mente que a sua proposta cognitiva é conclusiva a partir da visão do todo, pois segundo ela, o olhar somente à fração, ao particular, tende à miopia cognitiva e às falácias, ao erro. Então, se os investigadores que estão em busca de verdades fixarem seu olhar a partir dos gregos, ignorando o passado, indubitavelmente suas conclusões são passíveis de dúvidas. A filosofia ocidental surgiu no (século VII a. c.), então, não devemos nos esquecer que segundo o calendário bíblico já havia passado aproximadamente três mil anos, logo, todas as culturas passadas têm que ser consideradas e se assim não for, as conclusões filosóficas, teológicas e alegóricas estarão erradas. A filosofia grega nasceu para questionar o criacionismo bíblico e a mitologia. Antes do antropocentrismo filosófico as explicações quanto ao conhecimento e o modo como se conhecia eram fundamentados na revelação e nas alegorias míticas, estórias criadas pelos místicos gregos. As alegorias já eram o resultado da precariedade antropocêntrica proposta contra o criacionismo bíblico. A mitologia é extensão modificada do politeísmo bíblico. O politeísmo já era a forma de questionar os adeptos do monoteísmo que tinha como representante maior Adão e sua fiel descendência, tais deuses não eram antropomórficos, eram imagens compostas de elementos naturais que eram expostas nos bosques ou em elevadas topografias, e o Olimpo, o mais alto monte da Grécia antiga fora dedicado aos seus deuses. Com a mitologia grega, ao politeísmo foi dada a forma humana e suntuosos templos foram lhes dedicados. A mística grega era formada por uma elite sacerdotal e esta ensinava a população que as grandes conquistas bélicas, desportivas e catástrofes naturais eram conseqüência direta da intervenção de seus deuses mitológicos.
Os primeiros filósofos eram pessoas transparentes, explícitas e a proposta deles era provar por meio do empirismo sensível, que tanto a teoria do criacionismo quanto as explicações mitológicas não tinham fundamentos, e que tudo o que havia no Cosmo havia surgido espontaneamente, e Deus o Criador não era nada mais que um conceito.
O primeiro período filosófico é o da Physis (natureza), ou Pré-Socráticos. Começou no séc. VII a.C. e findou no V, por duzentos anos esses desafiadores buscaram provar suas hipóteses, porém, foram incapazes diante de tamanha pretensão. Algumas das questões de seus compatriotas eram: Como é possível o mármore e os diversos metais surgirem da água? E o animal racional, por que somente o homem evoluiu em meio a tantos outros irracionais? Logo, deduz-se que a proposta filosófica dos naturalistas morreu com aqueles gregos, eles não foram capazes de eliminar a influência e o propósito do Deus criador e da mitologia ou o politeísmo do imaginário humano.
O conceito ‘alma’ no hebraico é pessoa. Porém, a conceituação filosófica busca descaracterizá-lo. O ‘logos’ bíblico é palavra, mas, a filosofia interpreta o logos como sendo Deus, o ‘logos’ é a palavra de Deus, não o ser que tudo cria como querem os racionalistas. A jogada é a seguinte: dar Status à palavra e eliminar o Deus da palavra que é extensão do poder do próprio Deusa. “E disse Deus”... (Gênesis: 1). E ainda, a filosofia valoriza a alma em detrimento do corpo.
Alguns filósofos Pré-Socráticos: Tales de Mileto (séc. VII – VI a. C) foi o primeiro filósofo desse período, ele trabalhou com a hipótese de ser a água ou a umidade a origem da vida no Cosmo. Seus contemporâneos Anaximandro e Anaxímenes compunham o trio da escola de Mileto. Pitágoras de Samos (580-497 a. C.), pai da matemática foi o principal adepto da religiosidade órfica, de Orfeu, que cultuava Dionísio, originário da Trácia. Os órficos acreditavam na imortalidade da alma e na transmigração através de vários corpos, a fim de efetivar sua purificação. Pitágoras tornou-se figura legendária na própria antiguidade. No lugar de Dionísio colocou a matemática. “A grande novidade introduzida, certamente pelo próprio Pitágoras, na religiosidade órfica foi a transformação do processo de libertação da alma num esforço inteiramente subjetivo e puramente humano. A purificação resultaria do trabalho intelectual, que descobre a estrutura numérica das coisas e torna, assim, a alma semelhante ao cosmo, em harmonia, proporção e beleza. Pitágoras teria chegado a concepção de que todas as coisas são números através, inclusive, de uma observação no campo musical” (Os Pensadores. Pré-Socráticos. Tradução: Prof. José Cavalcante de Souza. Pág. 17e18, Ed. Nova Cultural Ltda. SP.
“O orfismo ensina a divindade da alma e a impureza do corpo. A morte é uma libertação. O centro de suas preocupações é a vida futura” (Dicionário Básico de Filosofia. Hilton Japiassú/Danilo Marcondes. Ed. Zahar. RJ)
Heráclito de Éfeso, filósofo obscuro, para ele todo o Cosmo está em movimento constante em ser e não ser, e esse movimento é a causa de toda ordem inorgânica e orgânica, sendo esta conseqüência das forças inorgânicas, e a morte é o simples retorno ao inorgânico. Heráclito foi quem afirmou primeiro: tudo é apenas uma construção conceitual e que o Deus criador pregado pelos hebreus não passa de um conceito, e esse conceito divino é o ‘logos’. Nietzsche, Friedrich (1844-1900) é o filósofo Contemporâneo defensor da filosofia de Heráclito. Parmênides de Eléia (final do séc. VI e início do V), contestou Heráclito afirmando que o ser é, e o não ser, não é. Nada pode ser e não ser ao mesmo tempo, logo, Parmênides é o pai da Ontologia (estudo do ser). Da filosofia Pré-Socrática saiu os atuais quatro elementos da natureza: Água, ar, fogo e terra, porém, Deus o criador e a mitologia continuam desafiando aqueles que querem eliminá-los do consciente humano. Da Physis restou apenas ciência, herdeira da proposta filosófica Pré-Socrática que continuam insistindo na não existência do Deus criador, mantenedor e possuidor do plano de salvação no qual, Jesus Cristo é o principal responsável, junto com o pai e o Espírito Santo. A ciência gaba-se de sua exatidão porque trabalha com as frações e estas estão limitadas aos conceitos e metodologias puramente humanas, mas as mesmas, se aplicadas à natureza não são precisas. Logo, os cientistas trabalham com o limitado e a teologia pensa e tem fé a partir do ilimitado, sobrenatural.
Após a filosofia da natureza surgiu os clássicos que tem como seus principais representantes Sócrates, Platão e Aristóteles. Foram esses os responsáveis por toda cultura ocidental. Esses, despreocupados em filosofar a natureza, voltam-se à psique, buscam compreender o universo a partir da razão e dessa premissa desenvolve-se a política, a ética (código morais), a metafísica, o idealismo, em fim, uma nova filosofia construída a partir de diversas formas de pensar, uma confusão racional, mística, mítica e metafísica disfarçada de sobrenatural. Deus, a partir desse período não é mais uma referência ao criador bíblico, mas sim, ao deus racionalizado, pensado pelos diferentes filósofos. Sócrates cria em uma inteligência superior ordenadora do cosmo; O deus de Platão era o demiurgo, deus plasmador, aquele que cria a partir da matéria; e o deus de Aristóteles era o motor imóvel que move todas as coisas sem se mover.
Isaías Correia Ribas, filósofo e professor de filosofia