Deus está na mente de todas as pessoas. Logo, ele existe. No início de
todo ano letivo e ao longo dele, dependendo do assunto em discussão em sala de
aula essa pergunta sempre é feita: professor você crê em Deus? Se digo que sim,
de pronto vem a próxima pergunta: se Ele existe, porque não O vemos? Você já O
viu? Nesse caso, sou tido como um tolo qualquer. Se digo que não, “todos” ficam
espantados passando a ignorar as aulas de filosofia, pois o professor é ateu e
nós somos cristãos. Isso se dá porque nossa cultura científica prega que o que
existe aparece de uma forma ou de outra e as religiões prega que Deus existe,
mas só podemos vê-lo pelos olhos da fé. Como Deus não é percebido pelos limitados
meios científicos, a dúvida quanto a sua existência paira na mente de todos e
até mesmo dos ditos cristãos que não sabem direcionar sua fé ao conhecimento. Porém,
se está na mente Ele existe mesmo que seja em forma de dúvida, pois o fato de
duvidarmos de algo, não significa que esse algo não existe. Nesse caso, são as
pessoas que decidem o que fazer com o que está em sua mente. Se ignoramos o que
está em nossa mente, estamos escolhendo ser o mais limitado entre as pessoas,
mas aqueles que buscam compreender o que está em sua mente com certeza estarão
acima das limitações científicas e religiosas. “Esses serão filósofos, um sapio, eu saboreio, sapiens, o degustador, sisyphos,
o homem de gosto mais apurado; um
apurado degustar e escolher, um significativo discernimento constitui, pois,
segundo a consciência do povo, a arte própria do filósofo”. (NIETZSCHE, p. 32
ou aforismo 3)
A ciência é determinista, isto é, determina segundo os seus métodos o
que existe e o que não existe. Logo, a ciência não é autossuficiente para
tratar do que é indeterminado. E mesmo as religiões que não reconhecem todos os
escritos bíblicos como vigentes na atualidade colaboram para que as dúvidas
pairam na mente da humanidade.
“Para que o vir-a-ser não
cesse, o ser primordial tem de ser indeterminado. A imortalidade e eternidade
do ser primordial não estão em sua infinitude e inexauribilidade (inflexibilidade, insensibilidade) ___ como costumam admitir os
comentadores de Anaximandro ___, mas em ser destituído de qualidades determinadas,
que levam a sucumbir; e é por isso também que ele leva o nome de “o indeterminado”.
O ser primordial assim denominado está acima do vir-a-ser. É certo que essa
unidade última naquele “indeterminado”, matriz de todas as coisas, só pode ser
designada negativamente pelo homem, como algo que não pode ser dado nenhum
predicado do mundo do vir-a-ser que aí está, e poderia por isso ser tomada como
congênere à “coisa em si” Kantiana. (NIETZSCHE p. 34)
Fé
Semelhante a existência de Deus;
a fé é inerente à todas as pessoas, isto é, está na mente de todos, faz parte
de nossa constituição físico-metafísica. O problema que enfrentamos é no que ou
em quem depositamos nossa fé para desenvolvê-la corretamente, isto é, para que
seja uma aliada a nosso desenvolvimento ou embrutecimento com relação ao
indeterminado. Assim sendo, quando oriento minha fé às limitações científicas anulando
o que é indeterminado, opto pelo viver duvidando pelo duvidar, pelo ignorar do
todo. Quando o indeterminado é objeto de minha fé estou no caminho do saber
elevado, pois, compreender o Ilimitado é o meu ideal. Aí, fé e saber se
completam. Agora sim, a lei de Deus passa a ser o objeto de meu deleite, o
princípio de toda sabedoria. E aí, sua fé te leva à obediência aos escritos bíblicos
incluindo os dez mandamentos da lei de Deus? não? Então está na hora de rever
seus conceitos religiosos, pois, com certeza, há algo errado na direção de sua
fé. Assim sendo, sua religião não está te religando com Deus, mas às teorias
falaciosas sobre Deus e ao ateísmo religioso.
Filósofo, Isaías Correia Ribas
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
NIETZSCHE – OS PENSADORES. Abril
Cultural. 1978