A filosofia ocidental nasceu na Grécia por volta do (séc. VII a. C.) com Tales de Mileto. Foi a partir dessa época que o modo de pensar e explicar a realidade começou a sofrer alterações, ou podemos dizer, surgia mais uma forma de explicar a vida, a existência, o que é real. Opondo-se as explicações míticas e monoteístas, a filosofia olha, ou podemos dizer, o homem volta-se exclusivamente à physis (natureza) como sendo o único objeto pelo qual podemos chegar à verdade da existência. Há grandes filósofos Contemporâneos que defende essa tese naturalista, Friedrich Nietzsche (1844-1900) é o maior deles. Mas, para decepção dos filósofos naturalistas, conhecidos como pré-socráticos, suas conclusões da análise da natureza foram frustrantes, não conseguiram explicar a gênese, o existir e a manutenção da realidade universal analisando apenas na natureza. Heráclito (séc. VI e V a. C.), um dos principais filósofos naturalista concluiu que tudo o que há no universo surgiu de causa natural, de um movimento sem causa primeira, o próprio movimento de geração à corrupção, nascimento e morte, oscilando em ser e não ser simultâneo, é a causa e a manutenção do equilíbrio universal.
Esse modo de pensar filosófico deu ao mundo ocidental uma nova perspectiva para entender e explicar o que existe, o que é o real. Daí, para nós ocidentais, o que existe é o que se “vê”, que podemos “pegar”, “sentir”, seja concreto ou abstrato. Por isso Parmênides, contemporâneo de Heráclito, questionou-o ao formular a filosofia ontológica (estudo do ser), concluindo que o ser é, e o não ser não é, contrapondo a filosofia obscura de Heráclito que afirmava que as coisas são e não são ao mesmo tempo.
Vem desse novo modo de pensar ocidental a nossa dificuldade para aceitarmos a existência daquilo que não vemos e não sentimos a sua concretude. Partindo da filosofia naturalista, tanto os pré-socráticos quanto os empiristas renascentistas a contemporâneos, questionam a existência de um Deus criador e mantenedor do universo: é impossível a existência daquilo que não vemos, que não podemos apalpar, afirmam eles. Logo, Deus não existe. É lamentável, mas os empiristas e cientistas em geral, optaram pelo pensamento limitado, valorizando apenas as finitudes naturais, esquecendo que o homem não é apenas físico, mas um composto de polis-físicos, emocionais, psíquicos racionais, que até hoje os pensadores buscam compreender. Cada indivíduo é um composto de limitadas forças com infinitas possibilidades de combinações potenciais.
René Descartes (1596-1650), com o seu cogito ergo sum, “penso, logo existo”, já questionava essa limitação empirista. Charles Sanders Pierce (1839-1914), por meio de sua arquitetura filosófica fundamentada na semiótica (teoria dos signos), nos tira dessas limitações ocidental: o que existe está além daquilo que vemos e apalpamos, concluindo: Deus não existe, porém, é real. Isto é, a existência de algo não pode estar limitada a concretude física, aos laboratórios. Fazendo isso o homem está anulando seus sentimentos, sua razão, inferiorizando-se, buscando “compreender” somente o que é sensível, negando assim, sua inteligência.
Os sentimentos que há em nós como o amor, a tristeza, o ódio, a felicidade são qualidades que estão além do que vemos e apalpamos, porém, são reais e ninguém duvida disso. Logo, podemos afirmar que os sentimentos não existem, porém, são reais. Eles fazem parte de uma conclusão lógica, indubitável. É justamente nesta esfera que se encontra Deus, o criador do universo, defendido pelo pensamento bíblico. Por isso o apóstolo João diz: Deus é amor. (I São João 4:8). Então, podemos concordar e afirmar, Deus não existe à nossa realidade filosófica, porém, é real.
Os orientais não têm essa dificuldade para compreender e aceitar a realidade metafísica porque não foram, até o momento, limitados pela filosofia ocidental.
Isaías Correia Ribas, filósofo e professor de filosofia.